O segundo elo frágil são os eventos que podem afetar a oferta global de alimentos. Poderia acontecer com os alimentos, por exemplo, o que ocorre com insumos médicos escassos: competição intensa entre países. Com sérios agravantes. Primeiro, a possibilidade de adaptar plantas industriais (como ocorreu com a produção de máscaras de proteção em 2020) não se aplica à produção agrícola. Segundo, uma escassez generalizada de alimentos poderia ter um grave impacto social e político. Afinal, dizem que a distância entre a civilização e a barbárie é de apenas três refeições. Como disse David Beasley, em nome da World Food Programme (WFP), ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2020: “a comida é o caminho para a paz”.
A solução prática seria produzir alimentos independentemente de condições climáticas e geográficas. O que a agricultura faz é usar energia solar para transformar carbono e nitrogênio em carboidratos e proteínas. Mas há outras formas de fazer isso, inclusive por processos industriais. A ONG The Good Food Institute desenvolve projetos para fomentar a produção de proteínas alternativas, como carne feita a partir de plantas ou de células animais cultivadas. Segundo David Denkenberger, diretor da ALLFED, há várias formas de transformar matéria vegetal não-edível (como troncos e folhas de árvores) em carboidratos comestíveis, usando tecnologias existentes ou mesmo cultivando fungos.
Talvez isso soe como não natural. No entanto, uma das grandes vantagens adaptativas de nossa espécie é a surpreendente variedade de sua dieta. A produção de nutrientes em laboratório não seria uma ruptura, mas a continuação das práticas inovadoras de nossos ancestrais, que primeiro dominaram o fogo e araram a terra, para então permitir o florescimento humano em todas as regiões do globo.