Duas das vítimas foram atropeladas, sendo que, em um dos casos, o motorista estava alcoolizado. Em uma batida entre dois caminhões, um dos condutores foi carbonizado. Ao todo, 23 pessoas ficaram feridas nesta sequência de acidentes
Uma carreta pegou fogo e o motorista morreu queimado após bater na traseira de outra, parada na pista da direita da BR-020, em Samambaia (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Ao menos cinco pessoas morreram e 23 ficaram feridas em acidentes de trânsito no Distrito Federal, em 48 horas. A média é inferior a uma morte por dia. No mais recente caso fatal, no começo da tarde de ontem, a vítima, Débora Rutkoski Cavalcante, 14 anos, estava em um carro que atropelou uma menina de 9 anos, na DF-015, no Paranoá. Após atingir a criança, o Ford KA bateu em uma árvore. A passageira adolescente sofreu uma parada cardiorrespiratória. Socorristas tentaram reanimá-la, sem sucesso. A criança atropelada teve corte na cabeça e algumas escoriações. O motorista sofreu uma fratura na perna esquerda. Os dois foram encaminhados ao Hospital Regional do Paranoá.
O dia começou com uma batida entre duas carretas, na BR-060, em Samambaia. Um dos veículos pegou fogo e o motorista morreu carbonizado. O outro não se feriu. Ele estava em um caminhão Volvo modelo FH440, carregado de areia e parado na pista da direita devido a problemas mecânicos, que foi atingido na traseira pela carreta VW 19300CTC, que levava mercadorias variadas e onde estava o motorista que ficou preso e não conseguiu escapar das chamas. O acidente aconteceu por volta das 2h. O trânsito foi totalmente fechado para o combate ao incêndio e parcialmente liberado às 6h30.
Ainda em Samambaia, um pedestre morreu atropelado por um ônibus da empresa Urbi, na noite de segunda-feira. O acidente ocorreu em frente a um supermercado. Outro acidente com ônibus deixou um morto e 19 feridos, na tarde de domingo. O coletivo levava 22 garis de uma empresa prestadora de serviços do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), quando tombou, na BR-020, em Planaltina. Passageira, Crisângela da Cruz Silva, 41 anos, morreu no local. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista tentou frear e, como a pista estava escorregadia devido à chuva, o veículo deslizou e caiu em um barranco. Um dos feridos, uma gari, estava em estado grave, até a noite de ontem.
Bebeu e dirigiu
Ainda no domingo, o ciclista Luiz Deo de Castro, 60 anos, morreu atropelado no Recanto das Emas. O motorista do carro que atingiu a bicicleta estava sob efeito de álcool. Mesmo com o teste do bafômetro atestando a presença de 0,21 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões (mg/l), o condutor não foi preso em flagrante por estar abaixo do índice (3,4 mg/l) que resulta em um processo criminal.
A primeira parente a saber da morte de Luiz foi a irmã dele, a corretora de imóveis Peggia Castro, 57. Segundo ela, a vítima havia passado o domingo na casa de uma das filhas, no Riacho Fundo 2. No momento do atropelamento, ele voltava para casa, em Samambaia. “O meu irmão adorava andar de bicicleta. Rodava toda essa Brasília sob duas rodas. Naquele dia, não foi diferente. Infelizmente, ele teve a vida interrompida em uma tragédia”, desabafou.
Luiz Deo morava com a mulher, de 58 anos, com quem era casado havia mais de uma década. Ele tinha sete filhos, todos de um relacionamento anterior. O homem deixou ainda 13 netos e oito irmãos. “A nossa família está arrasada, ainda sem acreditar nesse episódio. A minha irmã mais velha, de 82 anos, está sob o efeito de remédios. É duro aceitar”, comentou Peggia.
Uma passageira de 14 anos morreu após o carro em que estava atropelar uma criança e atingir uma árvore; vítima atropelada teve só escoriações (foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)
Excesso de velocidade
As imprudências no trânsito aumentaram em rodovias federais que passam pelo DF, em janeiro. Agentes da PRF aplicaram mais de 8,8 mil multas no mês, 260 a mais do que no mesmo período do ano passado. A infração mais cometida foi de excesso de velocidade. Porém, a que mais aumentou foi a de motoristas sem cinto de segurança. O número de acidente também subiu: passou de 120 em janeiro de 2018 para 136 em 2019. Por outro lado, os acidentes graves diminuíram 22%.
Excesso de velocidade também é a infração mais flagrada nas vias da capital: agentes do Departamento de Trânsito (Detran-DF) aplicaram 1.718.289 de multas em 2018. Estacionar em local proibido e avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de parada obrigatória aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente, entre as infrações mais cometidas. Em quarto, estão os motoristas que transitam em faixa exclusiva para ônibus e táxis. Dirigir sem cinto de segurança aparece em quinto.
Com uma frota de 1.773.290 veículos (registrados até dezembro), a violência no trânsito da capital é turbinada pelo consumo de bebidas alcoólicas: 9,8% dos motoristas admitem dirigir alcoolizados, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. O hábito é maior entre os homens. Outra pesquisa, da Universidade de Brasília (UnB), revelou que 25% dos alunos da instituição dirigem após beber. No ano passado, 21.584 motoristas brasilienses foram multados por dirigirem embriagados. Desses, 1.788 foram presos em flagrante. Em 2008 —quando a Lei Seca entrou em vigor —, houve 2.633 multas e 936 detenções.