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Desidratados, idosos que estavam em situação de risco continuam internados

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Depois de encontrado por funcionária de prédio, casal morador do Cruzeiro é encaminhado para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) com sinais de desidratação e de descuido. Filha do casal responderá por falta de assistência

“A senhorinha estava com a boca aberta pedindo água, mas não conseguiu nem sugar o canudo. Foi aí que chamei um morador, que é médico, para prestar assistência”

Maria Antônia Aparecida,

funcionária do prédio
A Polícia Civil investiga o suposto abandono de um casal de idosos, moradores do Cruzeiro. A mulher tem 79 anos, e o marido, 87. Os dois vivem sozinhos em um apartamento da Quadra 1.405, mas ontem vizinhos os encontraram sujos, com sinais de desidratação e famintos. A filha do casal, Luziane Campos, 51 anos, foi autuada por deixar de prestar assistência, crime previsto no Estatuto do Idoso. Entre janeiro e maio do ano passado, o Distrito Federal registrou 1.102 delitos contra idosos, um aumento de 508,8% em relação ao mesmo período de 2017.

No caso mais recente, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorreu o casal e o encaminhou para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Eles permanecem internados por desidratação, mas o estado de saúde é estável. A filha prestou depoimento ontem na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), mas foi liberada por se tratar de um crime de menor potencial ofensivo.

A primeira pessoa a socorrer as vítimas foi a mulher do zelador do prédio, Maria Antônia Aparecida, 51 anos. Ela vai até o apartamento do casal rotineiramente para checar se está tudo bem. Ontem pela manhã, quando subiu, a mulher de 79 anos estava com sede. “A senhorinha estava com a boca aberta pedindo água, mas não conseguiu nem sugar o canudo. Foi aí que chamei um morador, que é médico, para prestar assistência”, contou.O vizinho faz residência em geriatria e constatou sinais de desidratação. Foi ele quem acionou o Samu. Segundo Maria Antônia, o casal mora no prédio há 14 anos e sempre viveu sozinho, mas, há 20 dias, a idosa ficou mais debilitada. Além disso, o marido apresentava ferimentos de um tombo, na sexta-feira. “Eu liguei para a filha deles no sábado e disse para ela tomar alguma providência, levá-los ao médico. Ela foi, mas, se chamou socorro, ninguém viu”, afirmou.

A mulher do zelador sugeriu que a filha contratasse um profissional para cuidar do casal. “Ela dizia que, nesse momento, não podia chamar ninguém. Ontem mesmo (sábado), o meu marido falou com ela que, se não aparecesse, acionaria a síndica para tratar do caso deles em uma reunião com os outros moradores”, disse. Depoimento

A filha do casal negou o abandono. Professora aposentada da rede pública por invalidez, Luziane garantiu que visita os pais todos os dias. “Eles só dormem sozinhos porque eu também cuido da minha filha, que tem abscesso pulmonar”, alegou. Ela acrescentou que, no sábado, após ser acionada pela mulher do zelador, passou a noite com os idosos. “Eu faço compras para eles todos os dias. Não há sinais de abandono. Eles são bem cuidados, alimentados”, ressaltou.

Luziane, no entanto, minimizou os sinais de desidratação e a falta de higiene do casal. “A minha mãe foi parando de se alimentar há duas semanas, mas, ontem (sábado), eu dei água de coco para ela. O meu pai não deixa eu cortar as unhas dele, e as da minha mãe são muito grossas. Eu não estava conseguindo encontrar um alicate que eu pudesse utilizar”, justificou. A professora confirmou a queda do pai, na sexta-feira. “Ele caiu na quina da cozinha, mas como eu vou impedir que isso aconteça?”, questionou. “Apesar disso, ele está bem. Só está com o problema de coluna devido à queda”, avaliou.

O delegado plantonista da 5ª DP lavrou um termo circunstanciado, e o documento será encaminhado à Justiça. Outra parte da ocorrência seguirá para a 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro). A unidade policial será responsável por dar continuidade à investigação.

Para saber mais

Quase 330 mil idosos na capital
A estimativa da Companhia de Planejamento (Codeplan) é de que, no Distrito Federal, vivam 328,3 mil idosos, ou seja, mais de 11% da população da capital é composta por pessoas acima dos 60 anos. Essa população tende a aumentar nos próximos anos. Dados da Projeção da População 2018, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, em 2060, a capital será a segunda unidade da Federação com mais idosos, sendo dois para cada jovem. No Brasil, um quarto da população (25,5%) deverá ter mais de 65 anos naquele ano. 

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