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Cloroquina: com eficácia ainda em testes, DF recebeu 72 mil unidades do medicamento

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Foram três remessas feitas pelo governo federal entre abril e maio passados. Secretaria de Saúde explica que remédio é usado ‘apenas para estudos clínicos e não é considerado opção terapêutica’.

Cloroquina e Hidroxicloroquina não têm eficácia comprovada contra a Covid — Foto: Reprodução/TV Globo

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) recebeu 72 mil unidades (comprimidos) de medicamentos à base de cloroquina, do Ministério da Saúde, entre abril e maio passados. Segundo a pasta, “a substância é utilizada apenas para estudos clínicos, sem ser considerada uma opção terapêutica para os pacientes infectados pelo novo coronavírus, apesar do ministério já autorizar o uso”.

A secretaria explica que entrega a cloroquina para os hospitais para estudos clínicos. A hidroxicloroquina – considerada mais leve e com menos efeitos colaterais, segundo especialista ouvido pelo G1 (saiba mais abaixo) – não é distribuída.

Pesquisas nacionais e internacionais ainda testam a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina nos casos de Covid-19. As substâncias são usadas, originalmente, no tratamento contra a malária e doenças autoimunes, como lúpus. Um dos efeitos no organismo é o anti-inflamatório.

Em abril, o DF publicou uma portaria que regulamenta o uso da cloroquina em pacientes graves de Covid-19. O texto permite a administração do medicamento nasUnidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Dúvidas e pesquisas

Teste para coronavírus aplicado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal — Foto: Matheus Oliveira/Saúde-DF

A Universidade de Brasília (UnB) selecionou, em edital lançado em abril, cinco projetos que estudam os medicamentos contra o coronavírus. Dois meses depois, as pesquisas aguardam prazos de análise e dependem da liberação de recursos.

O professor Wagner Fontes, do Departamento de Biologia Celular da UnB, é um dos coordenadores do estudo que pretende analisar a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. Segundo ele, no entanto, o cenário da pesquisa em Brasília pode mudar.

O motivo seria uma publicação da revista científica The Lancet. Na última semana, editores divulgaram uma nota que informava que “importantes questões científicas foram levantadas sobre os dados relatados” em um estudo que pesquisou a eficácia das substâncias. À época, os autores concluíram que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina não trazia benefícios contra a Covid-19, mas levava a um risco de arritmia cardíaca.

A pesquisa publicada na “The Lancet” é considerada uma dos maiores sobre o tema, com amostras de 96 mil pessoas. Desta forma, a revisão do estudo gerou impactos em pesquisas internacionais e nacionais.

Para Fontes, com isso, “volta-se à situação anterior: não sabemos ao certo se a cloroquina e a hidroxicloroquina são eficazes ou não”.

“Então, vamos aguardar os resultados dessa avaliação de dados para ver se são válidos. Enquanto isso, nossos projetos prosseguem normalmente.”

Liberação de recursos

Um dos projetos do professor da UnB, já aprovado em comitê de ética, aguarda há cerca de um mês a liberação dos recursos para execução. “Queremos descobrir como o medicamento funciona em algumas células que atuam na inflamação”, explica.

“Um dos problemas da Covid-19 é ela causar uma inflamação muito intensa e isso causar danos no pulmão, o que leva os pacientes a precisarem de respiradores e necessitarem de UTI.”

Para ter resultado, a pesquisa da UnB não vai testar em pacientes infectados pelo coronavírus, mas usará um tipo de amostra semelhante. “Vamos fazer uma simulação, ativando células de sangue de doadores saudáveis com substâncias que disparam uma resposta inflamatória parecida com a Covid-19 e ver o efeito da hidroxicloroquina e de outros imunomoduladores [que controlam a resposta natural do corpo contra o vírus]”, diz.

“Queremos saber quais são os mais eficazes para combater a Covid-19.”

Instituto de Biologia da Universidade de Brasília — Foto: Beatriz Ferraz/ Secom UnB

A partir da liberação dos recursos, segundo o pesquisador, a previsão é concluir o estudo em até quatro meses. Wagner Fontes participa ainda de um segundo projeto, que tem como objetivo analisar os efeitos da hidroxicloroquina nos pacientes.

Neste caso, há parceria com hospitais públicos e clínicas para testar a substância associada a corticoides [hormônio de ação anti-inflamatória]. O projeto ainda depende de julgamento por parte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Prazos

Questionado se os prazos para a execução das pesquisas são obstáculos, Fontes afirma que a rapidez é importante, mas que há diversos fatores a ser considerados.”É claro que a sociedade cobra por esses prazos, e é importante que cobre. Mas, tem alguns pontos, como a aprovação em comitê de ética, que precisam ser feitos. Também é importante que os comitês de ética tenham recursos de pessoal e aporte tecnológico para poder julgar isso no prazo adequado”, afirma.

Para Fontes, o governo tem disponibilizado recursos para o desenvolvimento das pesquisas no país em função da pandemia, mas isso precisa ser feito de “forma mais expressiva e constante”.

“Nós temos pesquisadores de bom nível espalhados nas várias regiões do país que têm dificuldades para conseguir materiais e equipamentos para realizar as pesquisas. Se isso fosse feito de forma constante, provavelmente a gente estaria em um estágio mais avançado.”

Uma terceira pesquisa que tem como objetivo analisar a hidroxicloroquina em pacientes, também aguarda prazos para aprovação no comitê de ética.

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