Cidades
Saída de Gaza está suspensa desde sábado após ataque a ambulância
Lista de estrangeiros não foi divulgada neste domingo, e brasileiros no enclave seguem esperando liberação
O Egito anunciou, neste domingo, que as saídas dos moradores de Gaza feridos e portadores de passaportes estrangeiros através da passagem de Rafah estão suspensas, em informação confirmada à imprensa pelo embaixador brasileiro junto à Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia, Alessandro Candeas. A suspensão ocorreu após forças israelenses atingirem um comboio de ambulâncias na sexta-feira — deixando 15 mortos e 60 feridos.
Com a decisão, as autoridades não divulgaram uma nova lista de estrangeiros liberados para a saída do território neste domingo. No sábado, mais 599 estrangeiros foram autorizados a atravessar a fronteira, nenhum deles do Brasil — segundo o Itamaraty, há 34 pessoas no aguardo: 24 são brasileiros, sete são palestinos em processo de imigração e três são parentes próximos. Ao GLOBO, o embaixador do Brasil no Egito, Paulino de Carvalho Neto, reconheceu neste domingo a possibilidade de atraso no resgate de brasileiros em Gaza.
Segundo o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, sua contraparte de Israel, Eli Cohen, garantira a ele que os brasileiros poderão cruzar a passagem de Rafah até a próxima quarta-feira. Nesta segunda-feira o governo brasileiro deverá ter uma confirmação se o prazo terá de ser estendido.
— Se continuar fechada, atrasará a saída de todos os estrangeiros, não somente dos brasileiros. Vamos ver o que acontecerá nas próximas horas, sem fazer previsões ou criar expectativas — afirmo o embaixador brasileiro no Egito.
Os americanos foram maioria no último grupo a deixar o território, com 386 cidadãos autorizados. Em seguida, havia britânicos (112), franceses (51) e alemães (50). As negociações para a retirada de civis com nacionalidade estrangeira, consideradas pouco transparentes e sem um critério claro por fontes do governo brasileiro envolvidas com o processo, envolvem Israel, Egito, Catar e EUA.
O Catar, que mediou o acordo internacional para garantir as passagens dos civis, disse esperar que a saída seja reaberta em breve, embora não tenha uma data definida para tal. Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Majed al-Ansari, citado pela CNN americana, há “muitas dificuldades no terreno que não permitem que esse ponto positivo continue, mas temos esperança de que veremos mais aberturas dessa passagem e mais pessoas saindo o mais rápido possível”.
Ele afirmou, ainda, que o ataque ao comboio de ambulâncias no sábado — ação posteriormente reconhecida por Israel, alegando que o alvo era uma célula do Hamas — “certamente não ajuda como prova de conceito para que este acordo seja bem sucedido”, acrescentando que “todas as partes, mas especialmente o Exército de ocupação [de Israel]” garantam rotas seguras para que o acordo seja respeitado.
Por que Rafah?
A única saída viável de Gaza hoje é pela passagem de Rafah, que fica no sul do enclave, na fronteira com a Península do Sinai egípcia. A passagem está sob controle do Egito desde um acordo fechado com Israel, em 2007, quando o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza e expulsou o grupo palestino laico Fatah para a Cisjordânia, onde controla a Autoridade Nacional Palestina (ANP), reconhecida pela ONU como legítima liderança dos palestinos.
Nos 16 anos seguintes, Israel e Egito mantiveram um duro controle do que (e de quem) entra e sai do território dominado pelo Hamas. Caminhões de ajuda humanitária, entretanto, ainda podem entrar na região.
A Faixa de Gaza tem apenas outras duas passagens para saída e entrada de pessoas e mercadorias. Uma é a de Erez, que fica ao norte e leva ao sul do território israelense, e foi atacada pelo Hamas na invasão do dia 7 de outubro. A outra, a de Kerem Shalom, serve apenas ao transporte de cargas e também está no sul de Gaza, na fronteira com Israel e perto do território egípcio.
As saídas por Rafah começaram na quarta-feira para permitir que detentores de passaporte estrangeiro, seus dependentes e feridos de Gaza deixassem a região. Desde então, centenas de pessoas já saíram do território, incluindo feridos que estão recebendo tratamento em hospitais no Sinai.
Pouco depois dos ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro, o governo de Israel emitiu um ultimato aos palestinos de Gaza para esvaziarem o Norte do enclave, antes de uma invasão por terra. “Saiam agora”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aos moradores da região que inclui a Cidade de Gaza, a maior e mais importante do território. Pelo menos 1 milhão de pessoas foram obrigadas a se retirar de uma vez só, em meio à destruição dos bombardeios.
Gaza é palco de bombardeios e combates terrestres entre tropas israelenses e o grupo Hamas, que lançou um ataque sem precedentes contra o Estado judeu em 7 de outubro, deixando mais de 1.400 mortos, segundo as autoridades israelenses. O governo do Hamas em Gaza afirma, por sua vez, que mais de 9.770 pessoas, a maioria civis, morreram no território devido aos bombardeios retaliatórios israelenses.