Brasil
Operação Hamelin: Prefeitos em SP são suspeitos de cobrar propina para favorecer empresa da coleta de lixo, diz MP
Casas e gabinetes dos chefes do Executivo em Franca, Guaíra e Batatais foram alvos de mandados de busca e apreensão nesta quarta-feira (9). Força-tarefa também investiga ex-prefeitos de Orlândia, Morro Agudo e Guaíra.
Alvos da Operação Hamelin, deflagrada nesta quarta-feira (9) pelo Ministério Público e pela Procuradoria-Geral de Justiça, os prefeitos Gilson de Souza (DEM), de Franca (SP), Zé Eduardo (PSDB), de Guaíra (SP), e José Luis Romagnoli (PSD), de Batatais (SP), são suspeitos de corrupção.
Segundo a Promotoria, eles teriam exigido propina em troca de favorecer a empresa Seleta em licitações ou manter contratos já firmados com ela para serviços como coleta de lixo e limpeza urbana.
O dinheiro ilícito era usado para patrocinar campanhas eleitorais ou garantir vantagens indevidas aos políticos ainda no cargo.
“O que se pode dizer é que os prefeitos estabeleceram uma relação bastante espúria com esse tipo de empresário, no sentido de negociar com eles ou a contratação ou a permanência deles, caso já estivessem contratados. ‘Eu te contrato se você me dar tanto’ ou ‘se você não me der tanto, eu encerro seu contrato e trago outro’”, diz o promotor André Vitor de Freitas.
A força-tarefa também investiga ex-prefeitos de Orlândia (SP), Morro Agudo (SP) e Guaíra (SP) pelas mesmas suspeitas.
Alvos da investigação
- Gilson de Souza (DEM): prefeito de Franca;
- José Eduardo Coscrato Lélis, o Zé Eduardo (PSDB): prefeito de Guaíra;
- José Luis Romagnoli (PSD): prefeito de Batatais;
- Rodolfo Tardeli Meirelles: ex-prefeito de Orlândia;
- Oswaldo Ribeiro Junqueira Neto, o Vado (MDB): ex-prefeito de Orlândia;
- José Carlos Augusto: ex-prefeito de Guaíra;
- Sérgio de Melo: ex-prefeito de Guaíra;
- Gilberto Barbeti: ex-prefeito de Morro Agudo.
Nesta quarta-feira, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas casas e nos gabinetes dos prefeitos em exercício, e contra os ex-chefes do Executivo. As ordens foram expedidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e pelas comarcas.
“Foram apreendidos celulares e equipamentos eletrônicos, documentos indicativos de fraudes, inclusive de possíveis atos de lavagem de dinheiro, e R$ 37,5 mil na casa do ex-prefeito de Orlândia”, diz Freitas.
Esquema
Segundo o promotor, as investigações se baseiam em interceptações telefônicas e telemáticas e na análise de processos de contratação mediante dispensa de licitação.
As suspeitas surgiram em 2017, quando foi deflagrada a Operação Purgamentum, que investigava fraudes envolvendo a Seleta e a Prefeitura de Passos (MG).
Empresários firmaram um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, que já foi homologado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), e detalharam o esquema com prefeituras no interior de SP. Em Batatais, as irregularidades tiveram início em 2012, segundo o MP.
Só em Franca, o valor total dos contratos fraudados é de cerca de R$ 29,5 milhões. Em Orlândia, Guaíra e Batatais, a soma chega a R$ 13,5 milhões.
Além de propina, os prefeitos também teriam exigido que a empresa contratasse pessoas próximas a eles. De acordo com Freitas, no caso de Franca, há indícios de que Gilson de Souza tenha solicitado vantagem indevida logo após a eleição em 2016.
“Quando ele já estava eleito, embora ainda não tivesse assumido o cargo, e, no curso do seu mandato, em 2017, solicitações de contratação de pessoas próximas a ele. Ele intercedia, junto à empresa Seleta, para que a empresa Seleta contratasse essas pessoas. Era uma troca de favores.”
De acordo com o Ministério Público, desde que o acordo com a Seleta foi firmado, a empresa devolveu R$ 10 milhões aos cofres públicos.
Dois investigados disputaram a reeleição
Atual prefeito de Franca, Gilson de Souza disputou a reeleição em 15 de novembro, mas foi derrotado no primeiro turno.
O prefeito de Guaíra, Zé Eduardo, recebeu a maioria dos votos. No entanto, a candidatura dele está sob análise judicial, porque foi denunciada à Justiça Eleitoral por supostas irregularidades.
Nesta quarta-feira, Zé Eduardo também foi alvo da Operação Golpe Baixo, que apura fraudes em licitações da Secretaria de Esportes. Ele foi afastado do cargo e o vice-dele, Renato Cesar Moreira, foi preso.
O que dizem os prefeitos investigados
Gilson de Souza informou que está à disposição da Justiça para esclarecer o caso. Anotações da Prefeitura e o celular dele foram apreendidos.
“Todas as informações solicitadas nós informamos. Estamos prontos para prestar todas as informações. É muito importante que a gente possa ter a verdade, para mim e para a população. Eu estou absolutamente tranquilo.”
Em Batatais, por meio da assessoria de imprensa, o prefeito José Luis Romagnoli negou as irregularidades.
“Nós podemos garantir que não tem nada irregular. Não há nada contra nenhum membro da prefeitura e cumprindo seu papel de investigar, o Ministério Público levou toda a documentação para ser analisada. Estou no final do meu quarto mandato, são 16 anos, e a população sabe da minha integridade”, disse.
Em Guaíra, Zé Eduardo informou que não conhece o teor das acusações, mas que respeita a Justiça e vai provar a inocência.
“Respeito a Justiça brasileira, mas tenho tranquilidade na minha transparência e índole. Tudo será esclarecido logo após tiver conhecimento dos autos desse processo, onde devemos provar a nossa isenção de qualquer situação investigada, mesmo não as conhecendo.”
Ex-prefeitos também se pronunciam
Rodolfo Tardeli Meirelles, que chefiou a prefeitura de Orlândia de 2009 a 2012, disse que a Seleta prestou serviços nos dois últimos meses da gestão dele. Ele informou que os promotores apreenderam um celular e um notebook, e que vai procurar um advogado para entender o caso.
O advogado de Vado, Leandro Cezar Gonçalves, informou que ainda não teve acesso aos autos e que o ex-prefeito não possui nenhum vínculo com a Seleta.
As defesas dos ex-prefeitos de Guaíra José Carlos Augusto e Sérgio de Melo não foram localizadas.
Gilberto Barbeti, que teve o mandato cassado pela Câmara dos Vereadores em 2019 após denúncia de corrupção, não atendeu as ligações.
O que diz a Seleta
A Seleta, que não é alvo da investigação, informou, em nota, que a transparência faz parte de seu programa de rigidez legal frente aos órgãos públicos.
A empresa disse que, desde 2018, foram feitas várias transformações para garantir a execução de um programa de rigidez legal com mudança na alta gestão, criação do departamento de compliance, canais de denúncia terceirizados, garantindo o compromisso de transparência com os órgãos de Justiça.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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