Mundo
ONU: narcotráfico se infiltrou entre militares da Venezuela
Escritório da ONU sobre Drogas e Crime mostra que narcotraficantes transportam drogas para Europa e EUA através de portos venezuelanos
São Paulo — A ONU divulgou nesta quinta-feira, 27, um relatório afirmando, pela primeira vez, ter indícios de que grupos ligados ao narcotráfico se infiltraram nas Forças Armadas da Venezuela. O tema não é novidade, segundo militares venezuelanos que fugiram do país, mas pode ter impacto no regime de Nicolás Maduro.
O relatório do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC) mostra que narcotraficantes transportaram grandes quantidades de drogas para Europa e EUA através de portos venezuelanos, usando aeronaves leves, por meio de voos ilegais. “Há indícios de que grupos criminosos conseguiram se infiltrar nas forças de segurança e criaram uma rede informal conhecida como “Cartel dos Sóis”, para facilitar a entrada e saída de drogas ilegais”, diz o texto.
“Falamos de um Estado falido, onde as Forças Armadas mantêm Maduro no poder por várias razões, uma delas é o narcotráfico. Oficiais do alto comando desenvolveram um poder enorme dentro do governo, principalmente nomes da Guarda Nacional Bolivariana”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o tenente venezuelano José Colina, que vive há 16 anos exilado nos EUA.
Segundo analistas, é justamente esse apoio militar que pode sofrer caso o relatório seja usado para ações mais efetivas. “Com essa declaração apenas não é possível causar deserções nas Forças Armadas, mas se ela for usada para se tomar ações de maior peso, como divulgar o nome e sobrenome dos envolvidos, aí pode levar a isso”, explica Alberto Ray, especialista em segurança pública.
Ele ressalta que o relatório afeta de forma imediata a imagem dos militares, algo que eles sempre tentaram preservar. “As Forças Armadas tentam desvincular sua imagem de um grupo de criminosos e narcotraficantes. Uma denúncia desse tamanho tem um dano efetivo.”
O Insight Crime, grupo que monitora o crime organizado na América Latina, afirma que o termo “Cartel dos Sóis” foi usado pela primeira vez em 1993, quando dois generais venezuelanos foram investigados por tráfico de drogas. A partir de 2000, a definição passou a ser recorrente diante de diversos casos de envolvimento de militares no narcotráfico.
“Essa infiltração começou entre 2003 e 2004, com alguns generais e coronéis, e foi agravada entre 2008 e 2009, quando a participação dos militares no narcotráfico era muito mais aberta. Uma das primeiras coisas que Hugo Chávez fez ao chegar ao poder foi permitir que algumas regiões se tornassem zonas de proteção para grupos guerrilheiros colombianos”, afirma Colina, que era tenente da Guarda Nacional Bolivariana na fronteira com a Colômbia.
Segundo ele, em 2002, os militares recebiam ordens escritas para permitir que a guerrilha operasse na Venezuela. “Estava proibido enfrentá-los. A infiltração do narcotráfico nas Forças Armadas começa com o Cartel dos Sóis, porque vários generais do alto comando integravam o grupo, entre eles Henry Rangel Silva que foi ministro da Defesa, e o general Hugo Carvajal, que facilitavam o tráfico.”
O termo “sol” refere-se à insígnia dos oficiais generais – um sol significa general de brigada; dois, um general de divisão; três sóis, um general de Exército; e quatro sóis, um marechal.
De acordo com o Insight Crime, apesar do termo “cartel”, os grupos que atuam dentro do corpo militar venezuelano “não possuem hierarquia definida”. O grupo cita três acontecimentos significativos para a origem da infiltração do crime organizado no Estado venezuelano. Primeiro, o Plano Colômbia, que permitiu às forças colombianas usarem dinheiro dos EUA para sufocar as guerrilhas, que foram empurradas para dentro da Venezuela.
Quase ao mesmo tempo, ocorreu a tentativa de golpe contra Chávez em 2002. Desconfiado da atuação da Colômbia, o presidente venezuelano enviou o Exército para policiar a fronteira, que já estava tomada de guerrilheiros e narcotraficantes.
Os subornos, que antes eram pagos a agentes de fronteira para liberar a passagem da droga, começaram a parar nas mãos dos militares. Muitos pagamentos, porém, eram feitos em mercadoria e os próprios militares tiveram de buscar um destino para a cocaína que recebiam.
“É importante lembrar que isso é parte de um sistema que chamamos de economia criminosa. A droga, que vem principalmente de Bolívia e Colômbia, é distribuída pela Venezuela e quem facilita esse processo é um setor das Forças Armadas, junto com grupos como ELN e os dissidentes das Farc”, afirma Ray, a respeito de grupos que não se desmobilizaram após o acordo de paz de 2016.
“Chávez e Maduro sabiam e, o mais lamentável, é que permitiram essa situação. Chávez permitiu, para se manter no poder. Maduro permite por não ter nenhum tipo de controle. Os chefes do narcotráfico na Venezuela têm muito mais poder que ele”, afirma Colina.
“Isso ocorre há anos, mas agora o regime depende muito mais disso, porque a fonte de financiamento legal foi sendo cortada. O governo necessita do tráfico, da mineração de ouro ilegal e do contrabando. Isso produz dinheiro, que é usado pelo regime para se manter no poder”, conclui Ray.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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