Brasília
Mortalidade infantil é três vezes maior entre bebês com microcefalia
Médicos e familiares apontam como causa a falta de centros de reabilitação e de preparo das equipes de saúde para cuidar deles
Maria Vitória foi um dos primeiros bebês a nascer com microcefalia associada ao zika no Brasil, em setembro de 2015. Ainda na maternidade, no Recife, ela foi abandonada. A mãe biológica, pobre e cuidando de outro filho com deficiência, concluiu que não teria condições de ficar com a pequena e a colocou para adoção. Depois de sete meses vivendo em um abrigo, a menina foi adotada pela dona de casa Kely Romualdo de Oliveira, de 37 anos. A história de Maria Vitória, que parecia mudar de rumo com a chegada de uma nova família, foi breve. Com 1 ano e 9 meses, ela morreu vítima de uma infecção generalizada, após falhas na assistência médica.
Maria Vitória é uma das 218 crianças que nasceram com a chamada síndrome congênita do zika (que inclui microcefalia e outros problemas motores e cognitivos) e morreram entre novembro de 2015, quando a epidemia passou a ser oficialmente notificada, e julho de 2018, último dado disponível.
Considerando apenas crianças mortas antes de completarem o primeiro ano de vida, foram 188 óbitos, o equivalente a 5,82% de todos os 3.226 bebês que tiveram o diagnóstico de microcefalia associada ao zika confirmado no período. O índice é três vezes maior do que o observado na população em geral. Em 2016, o porcentual de bebês mortos antes do primeiro ano de vida foi de 1,27% sobre todos os nascimentos no país.
Além da gravidade do quadro de saúde dessas crianças, a falta de centros de reabilitação e de preparo das equipes de saúde para cuidar delas são apontadas por médicos e familiares como causas para o alto índice de mortes. “Minha filha começou com uma infecção urinária, a médica não quis dar antibiótico e mandou ela de volta para casa. Ela piorou. Quando voltou ao hospital, não tinha vaga na UTI. Ela acabou evoluindo para infecção generalizada e morreu”, conta a mãe de Maria Vitória.
“É tão difícil entender esse desprezo com os nossos filhos. Todo mundo sabe que eles precisam de um cuidado especial, que têm a saúde mais frágil, mas parece que fazem pouco caso. Eu acho que, se ela tivesse tido uma melhor assistência, ainda estaria aqui”, lamenta a mãe.
Coordenadora do setor de infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife, e uma das primeiras especialistas a identificar o aumento de casos de microcefalia no estado, Maria Ângela Rocha destaca que a maioria das mortes de crianças com microcefalia é por infecções, sobretudo respiratórias, e esse risco poderia ser reduzido se os bebês tivessem acesso a terapias de estimulação precoce. “Essas crianças têm dificuldades para engolir. Se não fazem acompanhamento com fonoaudiólogos e fisioterapeutas, têm facilidade para broncoaspirar líquidos e alimentos e formar secreção, o que pode levar a infecções”, explica a médica.
Terapias
Os dados do próprio Ministério da Saúde mostram que, passados três anos do início do surto, somente 35,3% dos bebês confirmados com síndrome congênita do zika estão passando por terapias de estimulação precoce.
Para Germana Soares, presidente da União de Mães de Anjos (UMA), associação que reúne familiares de crianças com a má-formação, a falta de recursos e o despreparo está em todos os níveis. “Começa pela atenção primária, que não sabe receber uma criança com deficiência. Nos hospitais, não sabem como proceder no socorro a uma criança assim. E a falha também ocorre quando não é oferecida assistência multidisciplinar”, diz. “Parece que os governos não querem gastar dinheiro com essas crianças porque acham que elas não são reabilitáveis, mas eles se esquecem que reabilitação não é só para sentar, andar, é para que elas possam ter qualidade de vida”, reclama.
Diretora do departamento de ações programáticas do Ministério da Saúde, Thereza de Lamare afirma que o governo federal aumentou o número de centros especializados em reabilitação, mas que conhecer as particularidades de uma síndrome tão nova e ofertar assistência às famílias que vivem longe dos grandes centros ainda são desafios. “Como é algo que foi descoberto em 2015, ainda estamos aprendendo sobre como cuidar da melhor forma. Essas crianças nascem com uma série de condições associadas. Precisamos nos apropriar disso e melhorar o cuidado”, diz.
Ela ressalta, no entanto, que acredita que o índice de crianças que têm acesso a terapias de estimulação precoce é maior do que os números oficiais. “Pelo que conversamos com os estados e municípios, os índices são maiores, mas precisamos de um sistema que nos informe isso em tempo real.”
Nordeste
Ao contrário do que foi prometido pelo Ministério da Saúde em 2015, nenhum centro de reabilitação novo foi aberto na região nordeste desde o início do surto de microcefalia associada ao zika. A região concentra 63,7% de todos os casos de síndrome congênita confirmados no país nos últimos três anos.
Onze novos centros foram prometidos, mas, até agora, somente unidades já existentes foram credenciadas ou ampliadas pelo ministério para atender as crianças com a má-formação.
Segundo a pasta, 54 unidades foram habilitadas no nordeste como Centros Especializados em Reabilitação (CERs). A habilitação inclui ações de ampliação, adequação de equipes multiprofissionais, compra de novos equipamentos ou reformas. Em todo o país, o número de CERs credenciados foi de 89 no período
De acordo com Thereza de Lamare, do ministério, mesmo que os serviços já existissem, eles passaram a ofertar mais serviços para a população de crianças com microcefalia.
Motoristas que passaram pelo local estranharam a fumaça preta que sai das torres, que se trata, na verdade, de uma simulação de incêndio
Uma fumaça no Congresso Nacional assustou os brasilienses nesta sexta-feira (21/6). Quem passou pelo local, observou uma fumaça preta saindo pelas torres do órgão e se preocupou. Vídeos gravados pelos moradores da capital mostram o momento, confira:
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A fumaça se trata, na verdade, de um procedimento para exercício de enfrentamento de emergência, realizado pela Seção de Prevenção e Combate contra Incêndios do Departamento de Polícia Legislativa (Seprin/Depol) no Anexo I.
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) confirmou que a fumaça se trata da simulação.
A data da simulação não foi incialmente anunciada e terá duração de aproximadamente duas horas. A energia do edifício foi desligada e não é autorizada movimentação de veículos no estacionamento até o término da ação.
Brasília
Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS
Crédito extraordinário foi autorizado por meio de medida provisória
A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.
A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.
No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.
>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:
– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)
– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)
– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)
– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)
– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)
– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)
– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)
– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).
De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.
No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.
Por Agência Brasil
Brasília
Senador abastece carros da família com verba pública; gasto por mês daria para cruzar 4 vezes o país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) manteve perfil discreto desde que assumiu o cargo por ser suplente de Major Olímpio (do antigo PSL), que morreu em 2021 durante a pandemia vítima de Covid-19. Ele tem chamado atenção no meio político, porém, pela prestação de contas com combustíveis e seu périplo por restaurantes caros de São Paulo.
Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que gastos de mais de R$ 336 mil abasteceram carros de Giordano, de seu filho e também de uma empresa da família. Com o combustível em preços atuais, o total seria o suficiente para dar 17 voltas na Terra. A média mensal de gastos com o item, de cerca de R$ 9.000, possibilitaria cruzar o país, em uma linha reta do Oiapoque ao Chuí, quatro vezes por mês.
O senador diz não haver irregularidade nos gastos e que não utiliza toda a verba disponibilizada. Ele ainda justifica o uso de veículos particulares para economia e afirma que o STF (Supremo Tribunal Federal) já arquivou questionamento sobre gasto de combustível. A apuração, porém, não esmiuçava todos os detalhes dos gastos do senador ao longo de três anos.
Os dados no site do Senado apresentam limitações por misturar despesas com locomoção, hospedagem, combustível e alimentação uma minoria de senadores traz um detalhamento ampliado, o que não ocorre nos dados relativos a Giordano. Nessa categoria mais ampla, Giordano tem o sexto maior gasto desde que assumiu, com um total de R$ 515 mil. A reportagem localizou R$ 336 mil em despesas exclusivamente com postos de gasolina por meio da análise do nome dos estabelecimentos, que é de longe o maior entre senadores por São Paulo.
Pelo mesmo recorte, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL), por exemplo, gastou por volta de R$ 10 mil em postos de gasolina e centros automotivos nos últimos três anos. Já Mara Gabrilli (PSD) gastou R$ 26 mil. No caso de Giordano, a maioria das notas está concentrada no Auto Posto Mirante (R$ 183 mil), zona norte da capital paulista, região do escritório político e empresas da família do senador. Outro posto, o Irmãos Miguel consta de reembolsos que somam por volta de R$ 122 mil. O estabelecimento fica na cidade de Morungaba, de menos de 14 mil habitantes, no interior de São Paulo.
O lugar abriga o Hotel Fazenda São Silvano, do qual Giordano é dono. O senador não detalhou por qual motivo concentra tamanho gasto em combustível na cidade. A Folha de S.Paulo também encontrou gastos em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Todas registradas em finais de semana, quatro notas, totalizam gastos de R$ 1.200 no Auto Posto Ipiranguinha, que fica na rodovia Oswaldo Cruz a reportagem localizou ação judicial do ano passado que cita um imóvel do filho de Giordano, Lucca, em condomínio a cerca de 2 km do local.
Em um dos domingos em Ubatuba, em janeiro de 2023, também foi registrado um gasto R$ 255 com um pedido de um abadejo para dois. Na época desse gasto, o Senado estava em recesso. A reportagem encontrou diversos gastos com refeições aos finais de semana, mesmo durante a pausa do Legislativo. As despesas do senador com alimentação chamam a atenção pela predileção por restaurantes caros, conforme foi revelado pelo Metrópoles.
Em março, há uma nota fiscal de R$ 681 da churrascaria Varanda Grill, na região da Faria Lima, que incluiu dois carrés de cordeiro por R$ 194 cada. Em 2022, o ressarcimento foi de R$ 810 na churrascaria Rodeio, em Cerqueira Cesar, com direito a uma picanha para dois no valor de R$ 385. A lista traz locais como Fogo de Chão, Outback, Jardim Di Napoli e Almanara.
A exigência não vai apenas para os pratos. Uma nota fiscal do restaurante Cervantes traz R$ 144 apenas em seis unidades de água, das marcas premium San Pellegrino e Panna. Em 2018, Giordano declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral. Desafeto de Ricardo Nunes (MDB), Giordano levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas na política.
O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.
SENADOR DIZ QUE USA CARROS PARTICULARES PARA ECONOMIZAR
O senador Giordano afirma que os os gastos já foram analisados pelo Senado, pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, sendo que os dois últimos arquivaram procedimento preliminar “por entenderem que não há qualquer ilegalidade nos apontamentos realizados”.
O MPF havia pedido à corte que intimasse o senador após apurar gasto de R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um só dia. O arquivamento aconteceu após explicação de que esse tipo de gasto se referia a 15 dias ou mais, e não a uma única visita.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, aceitou o argumento e ressaltou que os gastos não ultrapassam o limite mensal de R$ 15.000 para este tipo de item. Giordano diz que cota parlamentar contempla também de sua assessoria quando em atividade e afirma que “utiliza e disponibiliza para seus assessores, quando em apoio à atividade parlamentar, os veículos que possui”. Ele afirmou ainda que assessores utilizam, se necessário, os próprios veículos para deslocamentos no âmbito da atividade também.
A resposta aconteceu após a reportagem enviar quatro placas de veículos à assessoria de Giordano, no nome dele, do filho e de empresa da família, que constavam das notas. Ele justifica o uso dos automóveis para “evitar a ampliação do uso da verba de gabinete com aluguéis de veículos” e que os gastos nos postos citados ocorrem por questões logísticas. “Vale ressaltar que este parlamentar não utiliza toda a verba disponibilizada, tendo mensalmente sobras acumuladas”, afirma, em nota.
O senador ainda afirmou que atividade parlamentar não se restringe a dias úteis, “estando o parlamentar em contato constante com sua base para atender às demandas postas”. Giordano também afirmou que os gastos com alimentação ocorrem no exercício de atividades parlamentares e que as refeições mencionadas estão ligadas ao cumprimento do mandato, estando em conformidade com a lei.
A reportagem localizou recibos com placas de veículos em nome do filho do senador, Lucca Giordano, de empresa da família e do próprio parlamentar as notas citam o senador como cliente. A maioria dos comprovantes, porém, não especifica o carro abastecido.
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