Mundo
Mesmo com incêndios, Austrália resiste em reduzir emissões
Premier Scott Morrison ignora alertas da comunidade científica e não reconhece ligação entre fogo e mudanças climáticas
Melbourne e Sydney — O governo conservador da Austrália se mantém firme na defesa de que não há ligação entre as mudanças climáticas e os incêndios florestais que devastam o país, a despeito de críticas da população, da angústia de vítimas e alertas de cientistas.
O primeiro-ministro, Scott Morrison, e seu ministro de Redução de Emissões, Angus Taylor, afirmam que o país não precisa cortar emissões de carbono de maneira mais agressiva para frear o aquecimento global.
Além da tragédia sem precedentes, a Austrália vive uma seca intensa há três anos. Morrison e Taylor, por outro lado, afirmam que o país — que emite 1,3% das emissões de carbono do mundo e é o segundo maior emissor per capita, atrás apenas dos Estados Unidos — deveria ser “premiado” por atingir as metas previstas para 2020.
“Quando se trata de reduzir as emissões globais, a Austrália deve cumprir e está seguindo suas metas. Incêndios florestais devem ser uma ocasião em que as comunidades devem se unir, e não se dividir”, disse o ministro de Redução de Emissões à Reuters, por e-mail, em razão de sua agenda de combate ao fogo no estado de Nova Gales do Sul.
O governo de Canberra argumenta que ampliar os esforços de redução das emissões dos gases de efeito estufa afetaria a economia, especialmente as exportações de carvão e gás. Em 2019, a Austrália superou o Qatar e se tornou o maior exportador de gás natural liquefeito.
“Na maioria dos países, não seria aceitável adotar políticas de redução de emissões que aumentem substancialmente o custo de vida, destruam postos de trabalho, reduzam o lucro e impeçam o crescimento. Essa é a razão pela qual não adotaremos as metas sem base econômica, que destruiriam nossa economia, propostas pelo Partido Trabalhista (de oposição)”, escreveu Taylor em um artigo publicado no The Australian, um dos principais veículos australianos.
Críticas na COP-25
O ministro não detalhou, no entanto, como a redução de emissões aumentaria o custo de vida. A resposta foi direcionada às críticas recebidas pelo país na 25ª Conferência sobre o Clima das Nações Unidas (COP-25). A Austrália, junto do Brasil e dos Estados Unidos, foi tida como um dos principais obstáculos à definição de um consenso em torno dos mercados de carbono.
Em meio ao debate, a população tem criticado que, em razão de um vácuo na política energética do país, o preço da energia subiu vigorosamente nos últimos anos. O peso foi sentido pela renda familiar, embora produtores de energia estejam gradualmente aderindo a fontes renováveis, que são mais baratas.
Grupos ambientalistas avaliam que o país só atingirá suas metas de redução de emissões se contabilizar, como deseja o governo, créditos de carbono a partir do Protocolo de Kyoto, assinado em 1992.
Além disso, cientistas alertam que as mudanças climáticas são um fator crucial no poderio dos incêndios florestais.
“Um dos pontos-chave da intensidade do fogo e da velocidade que ele se espalha é a temperatura. Na Austrália, acabamos de registrar recordes de temperaturas altas”, explica Mark Howden, diretor do Instituto de Mudanças Climáticas da Universidade Nacional Australiana.
Prejuízo em dobro
Os incêndios também representam prejuízo em dobro ao meio-ambiente, uma vez que aumenta a quantidade de carbono expelido na atmosfera que, por sua vez, demorará décadas para serem repostas na natureza, lembra David Homles, diretor do Centro de Pesquisas de Comunicação das Mudanças Climáticas da Universidade Monash.
Pep Canadell, diretor do Global Carbon Project, estima que 350 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) tenham sido liberados na atmosfera em razão dos incêndios. O número, estimado com base em satélites da Nasa, a agência espacial americana, é equivalente a dois terços das emissões australianas.
O líder do Partido Trabalhista australiano, Anthony Albanese, compartilhou nas redes sociais uma carta escrita em 22 de novembro na qual encorajava o premier a agir para prevenir desastres.
“A temporada de incêndios está começando mais cedo e terminando mais tarde, e referências em emergências concordam que os eventos climáticos extremos só aumentarão na gravidade e a frequência em razão das mudanças climáticas”, escreveu Albanese.
Contenção do fogo
Nesta terça-feira, bombeiros aproveitaram uma trégua nos termômetros para fortalecer linhas de contenção do fogo em diferentes regiões atingidas pelo fogo. As áreas atingidas já ultrapassam a marca de 10,3 milhões de hectares — o equivalente à área da Coreia do Sul — desde setembro.
Duas pessoas que eram tidas como desaparecidas no estado da Nova Gales do Sul foram encontradas com vida. Na próxima quarta-feira, 48 bombeiros dos Estados Unidos devem chegar à Austrália e se juntarão aos 39 agentes americanos que já atuam no país. No mesmo dia está prevista a chegada de 18 especialistas em desastres dos EUA e do Canadá.
Segundo Morrison, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também ofereceu ajuda à Austrália, mas não deu maiores detalhes. O premier participou nesta terça-feira do funeral do brigadista Andrew O’Dwyer, que morreu junto do colega Geoffrey Keaton após o caminhão em que estavam capotar após a queda de uma árvore queimada sobre o veículo.
Segundo as autoridades, 132 focos de incêndio ainda estão ativos em Nova Gales do Sul, enquanto o estado de Vitória, também no Sudeste australiano, registra 39. Mais de 1.900 residências foram destruídas em ambas as regiões administrativas. O prejuízo está estimado em 700 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 1,9 bilhão).
Falta de energia e segurança
Nas comunidades mais afetadas, alguns moradores voltaram para casa, enquanto as empresas de eletricidade gradualmente restauravam o fornecimento de energia. Em localidades mais afetadas, como a cidade de Cobargo, a recuperação levará muito mais tempo.
Há danos generalizados na infraestrutura que fornece energia da zona da subestação para os moradores de Cobargo”, declarou a concessionária Essential Energy em nota. “As equipes de trabalhadores se locomovem em helicópteros para fazer os reparos necessários. Mas os cortes devem continuar”, completou.
Enquanto isso, a polícia prendeu três pessoas por supostos saques nas áreas afetadas. O comissário de Serviços de Emergência, David Elliott, afirmou que uem tenta tirar proveito dos infortúnios alheios “deve esperar toda força da lei”:
“Não estamos morando na Síria. Esta é a costa sul de Nova Gales do Sul”.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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