Brasília
Ex-dono de flat admite ter instalado câmeras escondidas em imóvel alugado por deputada
Polícia Federal investiga quatro aparelhos de vigilância encontrados dentro de sensores de fumaça na sala de Dayany Bittencourt, no quarto e no banheiro do imóvel onde parlamentar residia em Brasília
A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a suposta violação de domicílio praticada contra a deputada federal Dayany Bittencourt (União-CE). O antigo proprietário do imóvel admitiu ter instalado quatro câmeras escondidas e um microfone dentro de sensores de fumaça e disparadores de água na sala, no quarto e no banheiro do flat que a parlamentar, em Brasília.
Quando registrou boletim de ocorrência, em agosto de 2023, a deputada contou na delegacia da Polícia Civil que alugou, por meio de uma imobiliária, o flat em Brasília. Em 28 de agosto daquele ano, os assessores da parlamentar teriam notado algo estranho no sensor de incêndio da sala. Quando verificaram o aparelho, descobriram que se tratava de uma câmera escondida.
A partir daí foi feita uma varredura no flat pela assessoria parlamentar, que descobriu outras câmaras, um microfone e um aparelho DVR no alçapão da cozinha, ligado a fiação do apartamento e uma espécie de transmissor. Aos investigadores, a deputada disse suspeitar de uma ação que poderia estar relacionada à sua atividade política ou a do seu marido, que atuou como deputado contra o crime organizado.
Ao ser chamada para esclarecer os fatos, a dona do flat confirmou a compra da unidade há aproximadamente quatro anos. Na ocasião do fechamento do negócio, negou ter sido informada pelo proprietário anterior sobre o circuito de câmeras. Aos policiais, ela disse não acreditar que ele tenha acessado as imagens por ser uma “pessoa idônea”.
O dono anterior do imóvel admitiu em depoimento que instalou os equipamentos e disse que esqueceu de contar sobre o sistema de vigilância para a nova dona do apartamento. Segundo ele, as câmeras foram utilizadas para gravar uma camareira que estaria “subtraindo alguns objetos”.
O ex-dono do flat negou em depoimento, porém, que tenha aprendido a acessar o sistema de vigilância corretamente para assistir aos vídeos e disse que os equipamentos “não cumpriram sua finalidade”. Como não teria chegado a utilizá-los, ele disse ter “esquecido” de contar sobre sua instalação a mulher que comprou o apartamento. Procurado, o ex-proprietário não retornou os contatos.
De acordo com a perícia realizada por profissionais do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, foram extraídos 164.325 registros audiovisuais dos aparelhos, com tamanho total de 349 GB.
O laudo atesta que, nos vídeos analisadas entre 21 e 28 de agosto de 2023, período em que a deputada residiu no imóvel, nenhuma imagem da parlamentar foi capturada, mesmo as câmeras estando “em pleno funcionamento”.
Desconfiada, a deputada pediu ao Ministério da Justiça que o caso seja investigado pela Polícia Federal. A solicitação foi atendida por determinação do secretário executivo da pasta Manoel Carlos Almeida Neto, que assumiu o ministério interinamente.
— Levo comigo a sensação de vulnerabilidade e exposição. Cada vez que olho ao redor, me sinto invadida e com medo do que pode ter sido capturado pelas câmeras do flat. A vergonha e o medo me acompanham constantemente e o pior é não saber até que ponto a minha vida e intimidade foram registradas. Compreendo que não estou sozinho nessa luta. Há inúmeras outras pessoas que compartilham desse mesmo sentimento de insegurança e vulnerabilidade. É por isso que a investigação e o esclarecimento de casos como este são de suma importância — disse Bittencourt.