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Desigualdade e alfabetização desafiam educação na pandemia da covid-19

Professores, alunos, pais e autoridades avaliam que covid-19 escancarou desigualdades e trará impactos, ainda desconhecidos, para as crianças do país

Educação: 55% das redes estaduais e 60% das redes municipais não desenharam estratégias para garantir o acesso à conteúdos durante a quarentena (Leonardo Fernandez Viloria/Getty Images)

“Estou exausto e trabalhando facilmente cerca de 15 horas diárias. No ensino à distância não é só dar a aula. Você trabalha muito fora do seu horário; são muitas demandas novas o tempo todo”.

Essa rotina foi relatada  por um professor de gramática de uma escola particular na cidade de São Paulo, mas a sensação é compartilhada entre diferentes atores educacionais. Diante da pandemia do novo coronavírus, eles se viram obrigados a adaptar, em questão de dias, o modelo secular das escolas tradicionais.

No Brasil, o avanço da covid-19 forçou o fechamento das unidades de ensino já no início de março. A atividade foi uma das primeiras a serem suspensas, por conta da orientação das autoridades de saúde indicando a urgência do distanciamento social.

Segundo monitoramento da Unesco, agência da ONU para educação, 52 milhões de estudantes brasileiros ainda estão fora das salas de aulas. Com exceção das turmas mais infantis, a maioria, contudo, enfrenta os desafios do ensino remoto. Na avaliação de especialistas, a pandemia vai mudar para sempre o modelo educacional em todo o mundo.

Mas há motivos importantes que explicam por quê até hoje, mesmo com os avanços tecnológicos, a educação básica não migrou para o ambiente virtual. Para além da discussão sobre a qualidade das aulas presenciais, o ensino à distância tem limitações para garantir o aprendizado de crianças e jovens.

A falta de acesso universal à internet e a inexperiência de professores, alunos e pais com a educação virtual, principalmente para a fase de alfabetização, são dois dos principais desafios enfrentados.

“A escolha prioritária por plataformas digitais já tende a excluir camadas da sociedade. O que a rede privada pode fazer, o setor público não pode se dar ao luxo, mesmo com o intenso e dedicado esforço dos educadores. Essa crise escancara as desigualdades que já existem no sistema de ensino”, diz Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco.

Um levantamento do Centro de Inovação para Educação Brasileira, feito com 21 estados e 3.000 municípios, revelou que 55% das redes estaduais e 60% das redes municipais não desenharam estratégias para garantir o acesso à conteúdos durante a quarentena.

Dos que adotaram medidas, há uma diversidade na distribuição de conteúdos, que vão desde plataformas online, vídeo-aulas e redes sociais até o uso da TV aberta e emissoras de rádio, entre outras.

“Dou aula para crianças na rede municipal e adultos na Escola de Adultos e Jovens. Todos têm dificuldades, seja pelas próprias famílias que são analfabetas ou pela falta de acesso à internet. Muitos não têm celular, e outros são idosos que não sabem mexer em nada”, relata a professora Catarina Lopes, que trabalha em Jundiaí, no estado de São Paulo.

Segundo ela, o WhatsApp foi a forma mais acessível que as escolas encontraram para passar pelo menos exercícios aos estudantes. Algumas, no entanto, precisaram comprar chips até para professores. “Esse mínimo de contato não vai ser perdido, mas não será possível exigir na volta à escola um avanço como se estivessem ficado nas salas de aula”, diz.

Cauê Vitorasso, de 17 anos, estuda em uma escola estadual de tempo integral em Guarulhos. Ele se prepara para prestar medicina por meio do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, e se esforça para tentar ter o mesmo desempenho nas aulas à distância que teria nas presenciais. “É cansativo e mais complicado de entender alguns conteúdos, mesmo com o suporte do professor, pois ele não está ali do seu lado”, conta.

Em sua casa, Cauê mora com mais seis pessoas, algo que desafia diariamente a sua concentração. “Preciso de fone e tentar ficar na mesa sem me distrair”. A pandemia, relata, trouxe um desequilíbrio tanto emocional quando acadêmico, mas ele tenta não ver o ensino à distância como um inimigo. “Muita gente não tem nem isso”.

Processo de alfabetização

Apesar da desigualdade educacional, há desafios em comum que escolas públicas e particulares estão enfrentando com a suspensão forçada das aulas. Crianças em idade de alfabetização é um deles.

“É importante lembrar que pai não é professor. Professor é uma profissão complexa, que demanda uma formação especializada. Hoje, vários pais estão se desdobrando e estão angustiados, porque todo o despreparo social para lidarmos com uma pandemia está dentro de casa”, diz Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Mãe solo de uma criança de sete anos e responsável por uma importante área no seu trabalho, que consome grande parte de seu dia, Aline vive essa angústia desde o início da quarentena. Seu filho, estudante de uma escola particular da cidade de São Paulo, tem tido aulas por vídeo de uma hora duas vezes por semana. Diariamente, no entanto, há tarefas que ele precisa cumprir.

“É muito pouco tempo de aula para o tanto que ele precisa fazer. Diversos assuntos eu não sei explicar e precisei pedir para que a professora me ajudasse. Me preocupo com o processo de alfabetização dele. Sou separada, dispensei a babá, tenho que cuidar da casa, acompanhar aula online, fazer a lição, cuidar do meu filho e trabalhar diariamente”, conta.

João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do Todos pela Educação, explica que o processo de alfabetização não encontra uma resposta única, já que cada criança precisa de um tipo de atividade e estímulo direcionado para avançar nesse processo. “Requer um nível de especialização que mesmo pais com boa escolaridade não têm”, diz.

O tamanho do impacto na alfabetização das crianças no Brasil, no entanto, só poderá ser medido nos próximos anos, explica o secretário de Educação do Maranhão, Felipe Camarões. Ele, que também é professor, relata estar focado no período pós-pandemia. “Nosso maior receio hoje não é a falta de avanço na educação, mas o retrocesso da aprendizagem”.

A rede estadual está disponibilizando aulas em diversos canais, como YouTube, TV aberta, rádio, podcast, Instagram, Facebook e WhatsApp, mas segundo dados coletados pela secretaria, durante a quarentena, 35% dos alunos não estão conseguindo acompanhar os conteúdos.

Os próximos anos pós pandemia da covid-19 serão de transformações sociais importantes, e a área de educação deve ser uma das mais impactadas pelas mudanças. Há oportunidades importantes que podem ser aproveitadas para diminuir o abismo das desigualdades educacionais, e um bom ensino à distância pode ser uma delas.

 

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Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos

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Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva

Joédson Alves/Agência Brasil

Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.

A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.

O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.

“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.

Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.

Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.

Agência o Globo

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Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta

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Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida

 

Plenário da Câmara dos Deputados durante a promulgação da reforma tributária ( Roque de Sá/Agência Senado)

 

Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.

Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.

Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.

“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.

Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.

Entenda o contexto

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.

O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.

O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.

O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.

Agência o Globo

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Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias

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Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado em Brasília, em 25/05/2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.

O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.

Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.

Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.

“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.

A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.

Agência Brasil

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