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Com falta de testes, número real sobre coronavírus no Brasil é incógnita

Situação se repete nas principais capitais da América latina; entenda o quadro geral na região

Médico anda por Paraisópolis, a segunda maior favela da cidade de São Paulo, que abriga mais de 100 mil pessoas: 7 de abril de 2020. (Alexandre Schneider/Getty Images)

Pergunte aos principais médicos das maiores cidades da América Latina se eles confiam nos números de coronavírus fornecidos pelos governos e muitos darão um veredicto vergonhoso: nem um pouco.

É como “caminhar cegamente pela floresta, porque o número oficial de casos não é real”, disse Francisco Moreno, chefe de medicina interna do Hospital ABC, na Cidade do México. “Não sabemos onde estamos na curva”, afirmou sobre os dados de seu país.

A América Latina, com mais de 620 milhões de habitantes em uma das regiões mais urbanizadas do planeta, durante várias semanas parecia – com base em dados oficiais – ter escapado do pior da pandemia. No total, os governos da região relataram cerca de 40.000 casos e 1.560 mortes.

Mas entrevistas com vários profissionais de saúde em seis países mostram o quadro de uma epidemia que – se ainda não está fora de controle – mostra um número muito baixo de testes e de casos subnotificados. Embora governos da Europa e dos EUA tenham sido criticados por não realizarem testes com rapidez suficiente, a falta de kits na América Latina é muito pior do que em países desenvolvidos e destaca os problemas enfrentados pelos governos enquanto todos competem para garantir suprimentos médicos.

Porto seguro ou ninho de infecções? Surto na América Latina pode ser muito pior do que o revelado até agora

Porto seguro ou ninho de infecções? Surto na América Latina pode ser muito pior do que o revelado até agora (Divulgação/Bloomberg)

Existem problemas em toda a região. Na Argentina, o governo acrescenta casos considerados negativos por meio de exames médicos aos confirmados por testes. E, na Venezuela, as diretrizes do governo ainda determinam que os testes sejam disponibilizados apenas para os que viajaram ao exterior ou tiveram contato com um caso suspeito ou confirmado.

Esses problemas reforçam o coro crescente de profissionais de saúde, segundo os quais o surto pode ser muito pior do que o imaginado.

Com mais de um terço das infecções da América Latina, o Brasil tem 13.700 casos confirmados, embora os testes correspondam a 258 pessoas por milhão, segundo o site de estatísticas Worldometer. O México ocupa o último lugar entre os maiores países, com apenas 159 testes por milhão.

Com base no que foi oficialmente divulgado, as curvas de crescimento não são tão agressivas quanto o acelerado aumento de casos na Itália, EUA e outros países. Elas também desmentem o que se sabe sobre um vírus que foi descrito como “insidioso” por causa da furtividade com a qual se espalha.

A subnotificação de casos na América Latina pode alimentar infecções a longo prazo

A subnotificação de casos na América Latina pode alimentar infecções a longo prazo (Divulgaçção/Bloomberg)

Perto do outro extremo do espectro está o Equador, que testa cerca de 740 por milhão de pessoas. Na semana passada, o presidente Lenin Moreno reconheceu a grande lacuna entre a realidade e os dados divulgados quando disse: “Certamente, temos dezenas de milhares de contágios”. A contagem oficial no Equador no dia do pronunciamento era de 3.163 casos.

Corpos são abandonados nas calçadas da cidade portuária de Guayaquil, já que equipes de emergência encontram dificuldade para coletar os mortos. Gabriela Reyes disse que, na sexta-feira, ela e sua família não conseguiram que ninguém retirasse o corpo do tio, que morreu em 28 de março.

“Ele está na cama da minha avó, em um quarto refrigerado com ar condicionado”, disse por telefone.

A situação é agravada por problemas profundamente enraizados que atormentam alguns países da região há décadas: sistemas de saúde saturados, instituições frágeis e tendência a maquiar a divulgação de dados e estatísticas.

Casos de coronavírus na América do Sul

Casos de coronavírus na América do Sul (Divulgação/Bloomberg)

É possível que a epidemia na América Latina não esteja se comportando da mesma maneira do que em outras regiões. Também pode ser o caso de que quarentenas decretadas logo no início do surto tenham contido a propagação. Mas, sem mais testes e dados confiáveis, disseram os entrevistados, não há como ter certeza.

Início antecipado: a maioria dos países latino-americanos adotou medidas em todo o país antes que os casos aumentassem

Início antecipado: a maioria dos países latino-americanos adotou medidas em todo o país antes que os casos aumentassem (Divulgação/Bloomberg)

No Brasil, o Ministério da Saúde disse por e-mail no final da semana passada que o governo não poderia fornecer um número exato de quantos testes foram realizados, apenas que 54.000 dos kits RT-PCR, que são mais confiáveis, foram distribuídos. A distribuição é maior dos chamados testes rápidos que verificam anticorpos em vez do vírus e não são considerados tão precisos.

“Nossa capacidade de testar a população brasileira, de 210 milhões, está muito abaixo do necessário”, disse Eliana Bicudo, infectologista e consultora médica da Sociedade Brasileira de Infectologia.

No México, pelo menos 44 turistas americanos deram positivo após visitar Los Cabos, na Baja California, durante as férias de primavera. Mas a contagem oficial do estado na época era de apenas 18 casos.

Colômbia, Peru e Chile estão entre os países que lidam melhor com a crise. Carlos Enrique Trillos, epidemiologista e professor de medicina da Universidade do Rosário, em Bogotá, descreveu as informações divulgadas pelas autoridades como “rigorosas”.

(Com a colaboração de Julia Leite, Andrea Jaramillo, Nicolle Yapur, Jorgelina do Rosario, Patrick Gillespie, Eduardo Thomson, John Quigley, Samuel Dodge, Emma Court, Simone Iglesias e Patricia Laya).

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Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos

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Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva

Joédson Alves/Agência Brasil

Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.

A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.

O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.

“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.

Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.

Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.

Agência o Globo

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Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta

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Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida

 

Plenário da Câmara dos Deputados durante a promulgação da reforma tributária ( Roque de Sá/Agência Senado)

 

Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.

Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.

Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.

“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.

Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.

Entenda o contexto

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.

O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.

O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.

O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.

Agência o Globo

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Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias

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Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado em Brasília, em 25/05/2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.

O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.

Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.

Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.

“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.

A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.

Agência Brasil

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