Conecte Conosco

Mundo

Com dengue em alta, América Latina enfrenta duas epidemias ao mesmo tempo

A chegada do coronavírus afastou a atenção e os recursos da luta contra a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti

Dengue: agente de saúde faz fumegação para combater proliferação do mosquito transmissor da dengue em escola (Jorge Adorno/Reuters)

Enquanto o coronavírus mata milhares de pessoas e domina a atenção dos governos na América Latina, outra infecção viral letal está silenciosamente afetando países da região.

A dengue é endêmica em grande parte da América Latina, mas a chegada da Covid-19 afastou a atenção e os recursos da luta contra a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, dizem médicos e autoridades.

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) prevê que 2020 seja marcado por altos índices de dengue, que podem encher unidades de terapia intensiva e matar pacientes em meio à pressão da Covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus.

Em todo o mundo, a Covid-19 afetou outras doenças de maneiras diferentes. Embora na Europa as medidas para conter o coronavírus tenham banido a gripe sazonal, na África o fechamento das fronteiras interrompeu o transporte de vacinas contra sarampo e outros suprimentos.

Na América Latina, uma epidemia de dengue que começou no final de 2018 ainda está sendo sentida. As infecções por dengue nas Américas subiram para uma alta histórica de 3,1 milhões em 2019, com mais de 1.500 mortes na América Latina e no Caribe, de acordo com a Opas.

Os casos da doença devem começar a cair no segundo semestre do ano, disse a organização.

Os surtos de dengue geralmente ocorrem três a cinco anos após a epidemia anterior. E com quatro cepas de dengue em circulação, as pessoas podem pegá-la mais de uma vez, sendo mais provável que o segundo caso seja grave.

“A Covid é a estrela no momento, então toda a atenção está sendo dedicada à Covid, mas ainda há problemas com a dengue”, disse o doutor Jaime Gomez, que trabalha em um hospital em Floridablanca, na província de Santander, na Colômbia.

Embora a dengue geralmente não seja fatal e possa ser tratada com analgésicos, alguns sofrem com sintomas persistentes como fadiga, perda de peso e depressão que afetam a capacidade de trabalhar. A dengue grave é tratada com fluidos intravenosos e aqueles que não são testados correm risco de complicações perigosas.

Esse tipo de intervenção médica não pode ser dada se os pacientes ficarem em casa, preocupados em contrair coronavírus, ou se os hospitais superlotados tiverem que recusá-los.

Com relativamente poucos casos de Covid-19 na província onde ele trabalha, Gomez disse que sua clínica viu as hospitalizações caírem pela metade, pois as pessoas temem se aventurar ao ar livre.

“Sistema em colapso”

A advogada paraguaia Sonia Fernández evitou procurar atendimento quando ela e suas duas filhas, de 11 e 8 anos, ficaram doentes com dengue no início de abril.

“Nós três tínhamos dengue, todos os sintomas, mas não fomos a uma clínica ou centro de saúde para não nos expor (à Covid-19)”, disse Sonia Fernández.

As três conseguiram se recuperar.

Os casos de dengue no Paraguai explodiram este ano. Nas primeiras 18 semanas de 2020, o país registrou 42.710 casos confirmados e 64 mortes, em comparação com 384 casos confirmados e seis mortes no mesmo período do ano anterior.

No Brasil, quando se compara a distribuição dos casos prováveis de dengue por semana epidemiológica de início dos sintomas em relação aos anos epidêmicos de 2015, 2016 e 2019, observa-se que em 2020, a curva epidêmica dos casos prováveis ultrapassa o número de casos dos anos epidêmicos de 2015 e 2019 até a semana 7 (9 a 15 de fevereiro), de acordo com boletim do Ministério da Saúde.

Entre as semanas 7 e 11, no entanto, o número de casos prováveis diminui em relação ao ano de 2015. A partir da semana 11, observa-se também uma diminuição dos casos prováveis em relação ao ano de 2019.

“Vale destacar, no entanto, que os dados ainda estão em processo de atualização e digitação, podendo contribuir para uma subnotificação dos casos nesse período”, disse o Ministério da Saúde em boletim epidemiológico.

Até o momento, foram confirmados 485 casos de dengue grave e 6.050 casos de dengue com sinais de alarme no Brasil, com 265 óbitos por dengue no país.

No Equador, onde o surto de coronavírus atingiu fortemente e os hospitais da cidade de Guayaquil ficaram sobrecarregados, uma aparente queda no número de casos de dengue pode mascarar outros problemas.

Segundo o Ministério da Saúde do Equador, os casos de dengue chegaram a 888 na semana que terminou em 14 de março, duas semanas depois que o país confirmou seu primeiro caso de Covid-19. Na semana até 4 de abril, os casos caíram para 257.

“Claramente, a dengue está sendo subnotificada”, disse Estebán Ortiz, pesquisador de saúde global da Universidade das Américas de Quito.

“Os casos não diminuíram, o diagnóstico de casos diminuiu, o que confirma que o sistema entrou em colapso total”, acrescentou.

O Ministério da Saúde do Equador informou em comunicado que o país não estava mais exposto ao duplo impacto da Covid-19 e da dengue do que qualquer outro na região, acrescentando que possui suprimentos suficientes para tratar casos da doença transmitida por mosquitos.

A dengue também aumentou muito na América Central. Casos na Costa Rica quase triplicaram até 1º de maio em comparação com um ano atrás, para mais de 2.000.

“Estamos passando por um momento difícil ao lidar com a Covid-19, mas infelizmente outras doenças continuam seu ciclo”, disse recentemente a jornalistas Rodrigo Marin, diretor da agência de vigilância sanitária da Costa Rica.

No Panamá, onde a dengue causou pelo menos duas mortes este ano, a autoridade de saúde da Cidade do Panamá Yamileth López também fez o alerta em uma entrevista à Reuters. “A dengue também mata”, disse ela.

Publicidade
Clique aqui para comentar

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mundo

Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

Por

Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

versão original

 

Continuar Lendo

Mundo

Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

Por

Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

Continuar Lendo

Mundo

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

Por

País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

Continuar Lendo

Trending

Avenida Agamenon Magalhães, 444
Empresarial Difusora – sala 710
Caruaru – PE

Redação: (81) 2103-4296
WhatsApp: (81) 99885-4524
jornalismo@agrestehoje.com.br

comercial@agrestehoje.com.br

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados