Brasil
Uma história real de endometriose e a Cannabis como possibilidade
Após anos de dor constante, Adriana Grosso mostra como a Cannabis pode atuar na redução dos sintomas
Por Adriana Grosso*
Desejo que este meu texto chegue a muitos homens e mulheres e os faça refletir. Compartilho aqui um pedaço da minha história de vida onde há o famoso “e viveram felizes” após importantes dificuldades, enfrentamentos e perdas.
Ser mulher não é brincadeira ou, como cantou Rita Lee em “Cor de rosa choque/Todas as mulheres do mundo”, “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra, um sexto sentido maior que a razão”.
Por sequentes anos, na época menstrual, convivia com muitas dores, volume menstrual grande, cólicas intensas, que simples analgésicos não resolviam. Além das cólicas, enjoos, diarreia, desmaios e dores de cabeça também se instalavam. Ainda adolescente, essa situação mensal me limitava na prática de esportes e na diversão com os amigos. Confesso que ficava inconformada, pois uma condição que era tranquila para muitas mulheres me irritava, me entristecia, me excluía.
Não havia um diagnóstico médico que explicasse a situação, apenas que eu era assim e que tinha que conviver com isso, tendo que usar analgésicos, antinflamatórios e alternativas terapêuticas cada vez mais fortes ou diferentes combinações para amenizar principalmente a dor, que jamais desapareceu. Naquela época queria muito entender o que acontecia e desejava um remédio que aliviasse pelo menos as cólicas que eram a pior parte.
Aos 30 anos, aquela vontade de ser mãe bateu à porta, mas não foi fácil engravidar. Após uma batelada de exames fui diagnosticada com endometriose, aquela condição em que parte do endométrio que será expelido como menstruação segue um caminho diferente, retrógrado, passando pela parte superior do útero, tubas uterinas e cavidade abdominal, podendo ficar retido em cada um desses lugares ou se aderir em outros órgãos do abdome como os intestinos, parede externa do útero ou ovários e peritônio. O tecido do endométrio fixado em locais é ectópico e inflama com as variações hormonais típicas do ciclo menstrual feminino.
Quando o hormônio estrógeno atua nessas lesões ectópicas, faz com que se proliferem e produzam substâncias próprias da inflamação, os chamados mediadores inflamatórios, especialmente a prostaglandina e aumentam o estresse oxidativo, favorecendo o crescimento e a sustentação do tecido ectópico endometrial e o aparecimento da dor em diferentes graus.
Naquele momento eu entendia a minha condição clínica. Passei por uma cirurgia para cauterizar os focos ectópicos e fiquei seis meses sem menstruar, com a ajuda de hormônios para evitar que a endometriose não se instalasse novamente. A seguir recorri à métodos de fertilização, sem sucesso. No caminho, uma meningite quase me tirou a vida. Um sexto sentido, uma força maior e uma família maravilhosa me diziam que eu não deveria desistir. E após mais endometriose, mais cólicas anos a fio, hoje é um alívio chegar muito bem à menopausa e com uma filha de 18 anos.
Trabalho atualmente na área da saúde, provendo orientação técnica à médicos sobre os produtos de Cannabis com fins medicinais, sempre considerando a base da evidência científica.
No Brasil, uma em cada dez mulheres possui dor advinda da endometriose. Considerando as proporções continentais e a densidade populacional brasileira, o sexo feminino representa aproximadamente 51,6% da população total, isso significa que cerca de dez milhões de mulheres sofrem com a endometriose. Segundo especialistas, a doença é a principal causa de infertilidade e dor pélvica, sem falar nas complicações emocionais relacionadas.
Com números tão elevados de mulheres que compartilham dessa condição prejudicial, a qual fazem parte sintomas dolorosos crônicos das cólicas menstruais, insônia, menstruação irregular, náuseas e vômitos, dores durante as relações sexuais, dor ao defecar ou urinar; fluxo menstrual abundante, constipação ou diarreia, fadiga e exaustão e até infertilidade, a qualidade de vida e o bem-estar da mulher são colocados em xeque.
O Sistema Endocanabinoide (SEC), um dos sistemas que trabalha em prol da homeostase (equilíbrio) do organismo, está envolvido em todos os níveis da funcionalidade da reprodução feminina, possui milhares de receptores espalhados pelos tecidos do sistema reprodutor e sua função adequada precisa ser preservada, evitando distúrbios. Estudos realizados nos últimos anos mostraram que a desregulação do SEC (níveis elevados das substâncias endocanabinoides) pode estar associada ao desenvolvimento de distúrbios do trato reprodutor feminino — esses incluem a endometriose, a síndrome dos ovários policísticos e até cânceres ginecológicos.
Fitocanabinoides, alguns dos principais componentes terapêuticos dos Produtos de Cannabis com Fins Medicinais, têm surgido como uma possibilidade que atua sobre os receptores do SEC, conduzindo informações de regulação funcional, gerando efeitos analgésicos e antinflamatórios citados na literatura científica. Entre os benefícios indicados estão a redução da dor, náuseas, vômitos e problemas gastrointestinais. Também se observa melhora na qualidade do sono e redução de sintomas como depressão e ansiedade. Outra vantagem do uso de canabinóides, é a possibilidade de redução média de 50% no uso de outros medicamentos, como os opióides, comumente prescritos para essas pacientes, mas com sérios efeitos colaterais.
Não deixe de conversar com seu médico sobre essa possibilidade terapêutica. Informe-se.
Por vezes me pego pensando se tivesse tido a oportunidade de tentar os produtos de Cannabis com fins medicinais para controle daquelas cólicas menstruais e contenção da inflamação relacionada à endometriose, teria me poupado tantos anos de dor.
*Adriana Grosso é PhD e MSL da HempMeds Brasil
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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