Mundo
Trump preferiu ignorar o vírus “mortal”, revela livro lançado nos EUA
Em entrevistas que compõem obra do jornalista Bob Woodward, o presidente Donald Trump reconheceu que sabia da letalidade da covid-19, mas decidiu minimizar a crise, “para não criar pânico”. Especialistas em saúde e em ciência admitem a gravidade das declarações
Semanas antes da confirmação da primeira morte pela covid-19 nos Estados Unidos, Donald Trump tinha conhecimento de que o novo coronavírus era “mais mortal” do que uma gripe extenuante e que podia ser transmitido pelo ar. As declarações foram dadas a Bob Woodward, em uma série de 18 entrevistas que compõem o novo livro do jornalista, intitulado Rage. Todo o trabalho foi gravado, sob a autorização do magnata. O conteúdo explosivo (leia Trechos) tornou-se público nesta quarta-feira (9/9), a 55 dias das eleições de 3 de novembro. Em 7 de fevereiro, Trump disse a Woodward que o contágio pelo Sars-CoV-2 ocorre por via aérea, o que torna o novo coronavírus “muito delicado” e “bastante complicado”. “Ele é mais mortal do que sua gripe extenuante”, afirmou. O republicano fez uma revelação ao jornalista: “Eu sempre quis minimizar isso (a pandemia); ainda gosto de minimizar, pois não quero criar pânico.” Até o fechamento desta edição, o novo coronavírus tinha infectado 6.354.869 norte-americanos e matado 190.589.
O impacto das gravações foi imediato. Joe Biden, candidato à Casa Branca pelo Partido Democrata, acusou Trump de enganar a nação. “Donald Trump sabia. Ele mentiu para nós por meses. E, enquanto uma doença mortal devastava nossa nação, ele fracassou em fazer seu trabalho — de propósito”, escreveu Biden no Twitter, ao qualificar o incidente como “uma traição de vida ou morte ao povo americano”. “Prometo que, se eleito, sempre direi a verdade. Eu escutarei os especialistas e farei tudo o que puder para conter o vírus. E sempre colocarei a saúde e a segurança em primeiro lugar, não importa o custo político”, acrescentou.
Donald Trump knew that COVID-19 was dangerous. He knew it was deadly. And he purposely downplayed it.
Now, nearly 200,000 Americans are dead.
It’s unconscionable. pic.twitter.com/SLqqhmWy8E
— Joe Biden (@JoeBiden) September 10, 2020
A porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, garantiu que a motivação de Trump era tranquilizar a população. “É importante expressar confiança, calma. O presidente nunca mentiu sobre a covid-19”, assegurou. O fato de Woodward ter guardado as entrevistas para o livro, em vez de divulgar as declarações no começo da pandemia nos EUA, suscitou um debate ético sobre a conduta do jornalista que ajudou a tornar público o caso Watergate — o escândalo levou Richard Nixon à renúncia, em 1974.
Sem estratégia
Marc Limpsitch, professor de epidemiologia da Universidade de Harvard e um dos mais conceituados especialistas em Sars-CoV-2 , lembrou ao Correio que, entre janeiro e fevereiro, estudiosos advertiram que a covid-19 era uma ameaça “excepcionalmente séria”. “Governos ao redor do mundo tomaram medidas decisivas e concertadas, enquanto Trump tratou de minimizar a doença em público. Perdemos um tempo precioso”, lamentou. “Nunca houve uma estratégia abrangente. Em consequência dessas decisões políticas, sofremos mais do que qualquer outro país, apesar de nossos excepcionais recursos financeiros e científicos.”
Professor de medicina e de saúde pública da Universidade da Califórnia (Ucla), Jeffrey Klasuner classificou Trump como um “mentiroso patológico” e afirmou à reportagem que o mandatário “falhou de todas as formas possíveis” na liderança em relação à covid-19. “Ele cometeu vários erros. Não manteve atividades importantes de resposta pandêmica criadas por governos anteriores; fracassou em ser honesto com o povo; falhou na mobilização de testatagem, no isolamento, na quarententa e no rastreamento de contatos. Não protegeu os mais vulneráveis, incluindo os idosos em asilos. Gastou milhões de dólares em drogas ineficazes, como a hidroxicloroquina.” Klasuner entende que Woodward tinha a obrigação de partilhar as informações.
Por sua vez, Michael Gerhardt, professor de direito constitucional da Universidade da Carolina do Norte (em Chapel Hill), acredita que a sucessão de erros de Trump possibilitou que a população se tornasse vulnerável ao novo coronavírus. Ele reforça que a responsabilidade do presidente era de proteger o país, não apenas a própria base eleitoral. “Algumas pessoas que votaram nele, em 2016, podem sentir-se traídas. Têm boas razões para sentirem-se assim”, disse ao Correio. Gerhardt não vê embate ético no fato de Woodward ter usado as entrevistas com Trump em seu livro. “Ele provavelmente fez algum acordo com Trump.”
De acordo com Allan Lichtman, especialista em história política pela American University (em Washington), questões éticas referem-se muito mais a Trump do que a Woodward. “As revelações deveriam levar à renúncia do presidente, mas, é claro, ele não fará tal coisa”, afirmou à reportagem. Lichtman crê que este é “o maior abandondo de dever de um presidente na história dos EUA”. “Ele não apenas mentiu para o povo, como fracassou em tomar medidas para combater o novo coronavírus, embora soubesse que era incrivelmente letal e transmitido pelo ar. Sua inação custou dezenas de milhares de vidas.”
Pontos de vista
Por Marc Lipsitch
Um ato deliberado
“Se correto, o relato (de Woodward) sugere que a decisão de evitar uma resposta séria ao coronavírus foi deliberada. Perdemos 150 mil vidas. Cada vez mais parece que outras pessoas sofrerão consequências de longo prazo à saúde. É difícil saber o que é pior — se isso foi feito por ignorância, quando existia tanta informação clara, ou se tratou-se de ação deliberada.”
Professor de epidemiologia da Universidade de Harvard e diretor do Centro de Dinâmica de Doenças Transmissíveis
Por Allan Lichtman
Segurança desprezada
“Cada norte-americano deve perceber que o país não pode suportar mais quatro anos de um presidente que coloca-se acima da segurança do povo. Mesmo que um número pequeno de eleitores hesitantes chegue a essa conclusão, isso poderia impactar a eleição de 3 de novembro. Lembre-se, eu previ a derrota de Trump e destaquei todas as falhas no caráter do presidente em meu livro, intitulado The case for impeachment, lançado em 2017.”
Especialista em história política pela American University (em Washington)
Por Michael Gerhardt
População enganada
“Trump está dizendo que enganou o povo americano. Não está claro por que ele fez isso, e espero que alguns de seus simpatizantes não fiquem felizes, pois acreditam em tudo o que Trump afirma. O governo federal e os funcionários de Washington tiveram de contornar a ignorância e a obstrução do presidente, a fim de enfrentar a pandemia mais séria que atingiu este país nas gerações atuais.”
Professor de direito constitucional da Universidade da Carolina do Norte (em Chapel Hill)
7 de fevereiro de 2020
Bob Woodward: “Então, sobre o que presidente Xi (Jinping, da China) falava ontem?
Donald Trump: “Oh, estávamos falando sobre o… vírus. E acho que ele ficará em boa forma, mas, você sabe, é uma situação muito complicada.”
Woodward: “Certamente o é.”
Trump: “(O vírus) Vai pelo ar, Bob. Isso é sempre mais difícil do que o toque. Você sabe, o toque, você não tem de tocar as coisas. Certo? Mas, o ar, você apenas respira o ar e é assim que ele é transmitido. (…) É mais mortal do que sua gripe extenuante.”
(….)
Trump: “Isso é mais mortal. Isso é cinco por… Você sabe, isso é 5% contra 1% e menos de 1%. Você sabe? Então, isso é uma coisa mortal.”
19 de março de 2020
Trump: “Agora, estão descobrindo que não são apenas os velhos, Bob. Hoje e ontem, alguns fatos surpreendentes foram divulgados. Não se trata apenas de vellhos — mais velhos.”
Woodward: “Sim, exatamente.”
Trump: “Pessoas jovens, também. Um punhado de jovens.”
(…)
Trump: “Bem, Bob, realmente, para ser honesto com você.”
Woodward: “Claro, quero que o senhor seja.”
Trump: “Eu quis… Eu sempre quis minimizar isso. Ainda gosto de minimizar, pois não quero criar pânico.”
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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