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Brasília

Três mulheres contam como aprenderam a aceitar e conviver com o vitiligo

Elas têm diferentes histórias sobre vitiligo, mas um objetivo em comum: quebrar preconceitos e fazer com que cada vez mais pessoas se amem como são.

“Hoje em dia, para mim, a sua pele é como um céu cheio de nuvenzinhas. Dá para a gente brincar de achar desenhos nela”, disse certa vez a mãe da criadora de conteúdo Bruna Sanches, enquanto usava uma caneta para contornar – e, enfim, ressignificar – as manchas brancas presentes em todo o corpo da filha.

Mas aceitar o vitiligo, que surgiu pela primeira vez na pele de Bruna, de 32 anos, quando ela ainda tinha 18, não foi um processo fácil, seja física ou psicologicamente falando. Ela conta,  que desde criança, por pura desinformação, tinha medo de algum dia apresentar a doença – um parente e um vizinho com os quais ela convivia tinham vitiligo.

E foi aí que Bruna, após notar que uma manchinha havia aparecido no canto de sua boca, e logo em seguida obter o diagnóstico positivo de uma dermatologista um tanto quanto indelicada, entrou em desespero.

Eu comecei a tremer, a chorar. Meu pai não sabia o que fazer, e ao mesmo tempo a médica falou que eu não poderia mais tomar sol, me machucar, tingir o cabelo, fazer tatuagem… No final da consulta ela disse que a culpa era minha, porque eu estava ansiosa, então eu tinha que parar de ser ‘assim’. Tudo foi muito agressivo, descobrir uma doença que eu tinha medo, que já odiava quando era criança, que não tinha cura, que eu não sabia o que poderia acontecer, que de um dia para o outro eu poderia ter muito mais vitiligo… A partir dali eu ficaria feia, gastaria dinheiro com tratamentos e ainda teria de conviver com esse peso de que a culpa era minha”, desabafa.

Após anos convivendo com as manchinhas, Bruna criou o projeto “Minha Segunda Pele”, com blog e canal no YouTube, para quebrar o preconceito em torno do vitiligo e ajudar cada vez mais pessoas que sofrem com a doença

Após anos convivendo com as manchinhas, Bruna criou o projeto “Minha Segunda Pele”, com blog e canal no YouTube, para quebrar o preconceito em torno do vitiligo e ajudar cada vez mais pessoas que sofrem com a doença (Cleber Barbosa/Divulgação)

A partir daí as coisas ficaram mais complicadas para ela, que era abordada com frequência nas ruas e no transporte público por desconhecidos – eles perguntavam sobre as manchas ou davam pitacos sobre tratamentos que ela “deveria” fazer, sem falar nos olhares de reprovação.

Bruna passou, então, a tentar de tudo para remover e fazer com que as manchas parassem de surgir em seu corpo: usou pomadas, tomou medicamentos, fez procedimentos com laser (que machucavam muito) e tem sequelas disso até hoje. A pele de sua mão, por exemplo, é extremamente sensível, faz cortes e machucados de maneira muito fácil por conta de tanta cortisona que ela já usou. Ela chegou até a marcar uma cirurgia para fazer enxerto, que tiraria células de uma região saudável da pele e as implantaria nas áreas com vitiligo, mas desistiu da ideia a poucos dias do procedimento.

“Foi o ápice para eu me aceitar e virar totalmente a ‘chavinha’. Naquele dia eu fiz um post no Facebook dizendo que não iria mais me machucar ou fazer tratamentos agressivos, e que eu me amaria. A resposta foi tão positiva, foi tão importante. Foi muito interessante, pois no momento em que eu me aceitei parece que eu fiz as pazes com o mundo externo. Meus amigos que me passavam tratamentos todo ano começaram a me passar referências e bons exemplos [de quem tem vitiligo], eu estava colecionando várias fotos de vitiligo. Foi aí que comecei meu projeto”, assume.

O projeto de Bruna leva o nome de “Minha Segunda Pele” e atualmente conta com perfil no Instagram, que fornece conteúdos diários sobre vitiligo, blog e canal no YouTube, o primeiro do Brasil a falar exclusivamente sobre a doença. As motivações para que ela tirasse a ideia do papel, além de seu amor pela fotografia, foram em grande parte a influência de amigos e pessoas queridas e, principalmente, a oportunidade de ajudar quem também descobriu o vitiligo em suas vidas:

“Fazer o projeto foi o ápice da minha libertação. A partir disso eu comecei a me amar muito como sou, e vejo que hoje em dia o vitiligo me abriu muitas portas. Eu tive muito mais acesso a conhecer mulheres superempoderadas, cada uma na sua militância, e fazer parte desse movimento é muito rico. Entendi que, para mim, não era um castigo como eu achava que era, e sim uma missão. Eu tinha que usar a minha pele da melhor forma possível para ajudar outras pessoas a também se aceitarem. Hoje eu enxergo que esse meu ‘céu’ [citado no início do texto] é exatamente isso: quando eu estou muito triste ou preocupada, meu céu fica nublado, cheio de novas nuvens, e quando eu estou feliz e solar parece que eu nem percebo, eu lido muito bem, acho desenhos novos, coraçõezinhos”, diz.

Afinal, o que é vitiligo

As dermatologistas Daniela Neves, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e Denise Chambarelli, dermatologista diretora da clínica que leva seu nome, explicam que o vitiligo nada mais é do que uma alteração cutânea caracterizada pela perda da cor da pele, dos pelos ou dos cabelos nas áreas afetadas (inclusive olhos e interior da boca). A diminuição da pigmentação é gradativa, e ocorre por conta de uma redução na quantidade de melanócitos, células responsáveis por dar tonalidade à pele.

As causas exatas do vitiligo, que é considerada uma doença autoimune (quando os anticorpos do próprio organismo passam a destruir algumas células), ainda não foram descobertas, mas acredita-se que ela seja influenciada por fatores genéticos e externos, como estresse, ansiedade e alta exposição ao sol sem proteção, que contribuem para seu surgimento e piora.

O vitiligo não é contagioso e não apresenta nenhum tipo de risco para quem o possui. A condição pode surgir em qualquer idade, inclusive logo após o nascimento ou durante a velhice, sendo que o mais comum é que ela apareça por volta dos 20 anos. Existem diferentes tipos de vitiligo: o localizado, no qual apenas algumas lesões surgem na face ou no tronco, por exemplo, o generalizado, que acomete várias regiões do corpo, e o universal, que faz com que praticamente todo o pigmento da pele corporal seja perdido.

Não existem sintomas, e o principal sinal de que alguém possa estar com a doença são as manchinhas de cor branca (em um tom leitoso) na pele, que em alguns casos aparecem acompanhadas de dor ou coceira. Como já dissemos, o crescimento das lesões é imprevisível, e não há cura para o vitiligo – apenas tratamentos que têm o objetivo de estabilizar e repigmentá-las. De acordo com as médicas, isso pode ser feito com uso de imunossupressores, fototerapia, laser e até tratamento cirúrgico (por exemplo, transplante de melanócitos).

Vale reforçar que o impacto emocional nos paciente que têm vitiligo costuma ser dos mais altos e, caso necessário, é recomendável investir em uma abordagem de tratamento multiprofissional, com psicólogos, psiquiatras e grupos de suporte.

Vitiligo e pele negra

A história da comunicóloga e modelo Luise Beatriz Bispo, de 28 anos, é um pouquinho diferente da de Bruna. Primeiro porque Luise recebeu o diagnóstico do vitiligo na infância, aos nove anos de idade. De acordo com ela, a condição “chegou como uma visita indesejada e hoje se tornou ‘membro da família’”.

E exatamente por enxergar a despigmentação da pele com olhos inocentes de criança, ela conta que a descoberta da doença, naquele momento, não a assustou.

“Talvez por não ter muita noção da dimensão do vitiligo na época, só fui entender mesmo a minha condição à medida que as manchas aumentavam, e quando fui entrando na adolescência”, relata.

Foi na adolescência, inclusive, que ela começou a perceber o preconceito – em dose dupla, já que Luise é uma mulher negra que tem vitiligo. Ela teve de enfrentar olhares alheios, perguntas indesejadas, lidar com piadinhas e apelidos destrutivos, o que fez com que Luise acabasse colocando o vitiligo como questão central de sua vida, como se suas ações e decisões girassem totalmente em torno da condição de ter um corpo “diferente”.

 “Nunca é demais lembrar que o vitiligo não é transmissível. Pode tocar, abraçar e beijar sem medo. Em nós, contagioso é só o amor”, diz Luise, em foto que integra o projeto ‘Minha Pele Flui’, de conscientização sobre a doença

“Nunca é demais lembrar que o vitiligo não é transmissível. Pode tocar, abraçar e beijar sem medo. Em nós, contagioso é só o amor”, diz Luise, em foto que integra o projeto ‘Minha Pele Flui’, de conscientização sobre a doença (José Oliveira/Minha Pele Flui/Divulgação)

Após se arriscar em diversos tratamentos para a pele (comprimidos, chás, dietas, pomadas, banhos de sol…) e ficar frustrada ao perceber que mais lesões surgiam cada vez que ela se estressava, Luise finalmente afirma ter feito as pazes com seu corpo. Ela diz, ainda, que seu olhar sobre outras pessoas também acabou mudando durante todo o processo de aceitação.

“Ser negra em uma sociedade ainda tão preconceituosa e racista faz com que cresçamos na defensiva, com a missão de termos que provar quem somos o tempo todo. Ainda que o sistema nos coloque à margem, sempre fui ensinada a respeitar minha etnia, minha ancestralidade e cultura. Todas as vezes que eu pensava na possibilidade de ‘perder a cor’, me imaginava perdendo um pouco dessa identidade que tanto me define, mas estava enganada. Nós, mulheres negras com vitiligo, não podemos nos restringir a achar que somos ‘menos negras’ por isso. Não há como deixar de ser algo quando isso é você, em sua totalidade. Em nós, as manchas são mais perceptíveis, o que faz com que sejamos mais notadas, nos fazendo sofrer um duplo preconceito. Mas isso não deve nortear o olhar que devemos ter com nossos corpos. Ter vitiligo foi a maneira que meu corpo encontrou para se expressar, e eu sou bonita assim, colorida!”, expõe.

Diversidade (sempre) importa

Já a modelo e fotógrafa Marcia Ishimoto, de 30 anos, descobriu o vitiligo aos 16, bem por acaso. A primeira mancha que surgiu em sua pele foi tratada durante um ano inteiro como se fosse uma micose e, ao perceber que ela não melhorava, foi dado o diagnóstico final do vitiligo.

Marcia conta que os três primeiros anos com a doença, para ela, foram os piores, mesmo ainda tendo pouquíssimas manchas se comparadas às dos dias atuais. Ela fala que chorava muito nessa época, sempre escondendo as marcas de outras pessoas:

“Sempre me perguntava ‘por que tinha que ser eu’, ‘por que eu não poderia ser ‘normal’ como as minhas colegas’. Quando comecei a trabalhar como modelo eu era obrigada a esconder as manchas, não existia essa de diversidade, as modelos tinham de estar dentro de um padrão exigido. Eu queria ser quem eu sou atualmente, mas a sociedade não me permitia, então eu escondia as manchas para assim conseguir trabalhar. Atualmente o preconceito direto eu não sinto, mas sei que ele existe e que ainda vai existir por muito tempo”, completa.

 Marcia, que além de fotógrafa é modelo, acredita que existe beleza em todos os tipos de corpos e cores (nós também!)

Marcia, que além de fotógrafa é modelo, acredita que existe beleza em todos os tipos de corpos e cores (nós também!) (Lorena Dini/Divulgação)

Marcia, assim como Bruna e Luise, também fez diversos tratamentos contra o vitiligo, e diz se arrepender de todos eles. Em seis anos de procedimentos distintos e, segundo ela dos mais invasisvos, não obteve resultados satisfatórios.

Por atuar como modelo, hoje Marcia pode ser vista como referência em matéria de diversidade na moda – assim como a canadense Winnie Harlow, modelo internacional e porta-voz da condição, que já protagonizou campanhas de marcas como Dior e Diesel.

A brasileira afirma que faz aproximadamente cinco anos que ela passou a se aceitar como é, inclusive parando de esconder as manchas com auxílio de maquiagem.

“O tempo passa muito rápido, temos de aproveitá-lo ao máximo. Hoje eu falo abertamente sobre vitiligo, posso dizer que gosto de ser diferente e que vejo muita beleza nas minhas manchinhas. Vitiligo não é nada demais, é  apenas um charme que algumas pessoas têm. Nós temos que lutar contra esse preconceito bobo e mostrar que existe beleza em todos os corpos e cores”, finaliza.

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Motoristas que passaram pelo local estranharam a fumaça preta que sai das torres, que se trata, na verdade, de uma simulação de incêndio

 

Fumaça no Congresso assusta brasilienses – (crédito: Redes sociais)

 

Uma fumaça no Congresso Nacional assustou os brasilienses nesta sexta-feira (21/6). Quem passou pelo local, observou uma fumaça preta saindo pelas torres do órgão e se preocupou. Vídeos gravados pelos moradores da capital mostram o momento, confira:

A fumaça se trata, na verdade, de um procedimento para exercício de enfrentamento de emergência, realizado pela Seção de Prevenção e Combate contra Incêndios do Departamento de Polícia Legislativa (Seprin/Depol) no Anexo I.

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) confirmou que a fumaça se trata da simulação.

A data da simulação não foi incialmente anunciada e terá duração de aproximadamente duas horas. A energia do edifício foi desligada e não é autorizada movimentação de veículos no estacionamento até o término da ação.

Correio Brasiliense

 

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Brasília

Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS

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Crédito extraordinário foi autorizado por meio de medida provisória

 

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O governo federal liberou mais R$ 1,8 bilhão para ações de reconstrução no Rio Grande do Sul. A autorização do crédito extraordinário foi feita por meio da edição da Medida Provisória 1.223/2024, publicada na noite desta quinta-feira (23).

A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.

A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.

No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.

>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:

– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)

– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)

– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)

– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)

– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)

– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)

– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)

– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).

De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.

No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.

Por Agência Brasil

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Brasília

Senador abastece carros da família com verba pública; gasto por mês daria para cruzar 4 vezes o país

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) manteve perfil discreto desde que assumiu o cargo por ser suplente de Major Olímpio (do antigo PSL), que morreu em 2021 durante a pandemia vítima de Covid-19. Ele tem chamado atenção no meio político, porém, pela prestação de contas com combustíveis e seu périplo por restaurantes caros de São Paulo.

Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que gastos de mais de R$ 336 mil abasteceram carros de Giordano, de seu filho e também de uma empresa da família. Com o combustível em preços atuais, o total seria o suficiente para dar 17 voltas na Terra. A média mensal de gastos com o item, de cerca de R$ 9.000, possibilitaria cruzar o país, em uma linha reta do Oiapoque ao Chuí, quatro vezes por mês.

O senador diz não haver irregularidade nos gastos e que não utiliza toda a verba disponibilizada. Ele ainda justifica o uso de veículos particulares para economia e afirma que o STF (Supremo Tribunal Federal) já arquivou questionamento sobre gasto de combustível. A apuração, porém, não esmiuçava todos os detalhes dos gastos do senador ao longo de três anos.

Os dados no site do Senado apresentam limitações por misturar despesas com locomoção, hospedagem, combustível e alimentação –uma minoria de senadores traz um detalhamento ampliado, o que não ocorre nos dados relativos a Giordano. Nessa categoria mais ampla, Giordano tem o sexto maior gasto desde que assumiu, com um total de R$ 515 mil. A reportagem localizou R$ 336 mil em despesas exclusivamente com postos de gasolina por meio da análise do nome dos estabelecimentos, que é de longe o maior entre senadores por São Paulo.

Pelo mesmo recorte, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL), por exemplo, gastou por volta de R$ 10 mil em postos de gasolina e centros automotivos nos últimos três anos. Já Mara Gabrilli (PSD) gastou R$ 26 mil. No caso de Giordano, a maioria das notas está concentrada no Auto Posto Mirante (R$ 183 mil), zona norte da capital paulista, região do escritório político e empresas da família do senador. Outro posto, o Irmãos Miguel consta de reembolsos que somam por volta de R$ 122 mil. O estabelecimento fica na cidade de Morungaba, de menos de 14 mil habitantes, no interior de São Paulo.

O lugar abriga o Hotel Fazenda São Silvano, do qual Giordano é dono. O senador não detalhou por qual motivo concentra tamanho gasto em combustível na cidade. A Folha de S.Paulo também encontrou gastos em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Todas registradas em finais de semana, quatro notas, totalizam gastos de R$ 1.200 no Auto Posto Ipiranguinha, que fica na rodovia Oswaldo Cruz –a reportagem localizou ação judicial do ano passado que cita um imóvel do filho de Giordano, Lucca, em condomínio a cerca de 2 km do local.

Em um dos domingos em Ubatuba, em janeiro de 2023, também foi registrado um gasto R$ 255 com um pedido de um abadejo para dois. Na época desse gasto, o Senado estava em recesso. A reportagem encontrou diversos gastos com refeições aos finais de semana, mesmo durante a pausa do Legislativo. As despesas do senador com alimentação chamam a atenção pela predileção por restaurantes caros, conforme foi revelado pelo Metrópoles.

Em março, há uma nota fiscal de R$ 681 da churrascaria Varanda Grill, na região da Faria Lima, que incluiu dois carrés de cordeiro por R$ 194 cada. Em 2022, o ressarcimento foi de R$ 810 na churrascaria Rodeio, em Cerqueira Cesar, com direito a uma picanha para dois no valor de R$ 385. A lista traz locais como Fogo de Chão, Outback, Jardim Di Napoli e Almanara.

A exigência não vai apenas para os pratos. Uma nota fiscal do restaurante Cervantes traz R$ 144 apenas em seis unidades de água, das marcas premium San Pellegrino e Panna. Em 2018, Giordano declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral. Desafeto de Ricardo Nunes (MDB), Giordano levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas na política.

O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.

 

SENADOR DIZ QUE USA CARROS PARTICULARES PARA ECONOMIZAR

O senador Giordano afirma que os os gastos já foram analisados pelo Senado, pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, sendo que os dois últimos arquivaram procedimento preliminar “por entenderem que não há qualquer ilegalidade nos apontamentos realizados”.

O MPF havia pedido à corte que intimasse o senador após apurar gasto de R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um só dia. O arquivamento aconteceu após explicação de que esse tipo de gasto se referia a 15 dias ou mais, e não a uma única visita.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, aceitou o argumento e ressaltou que os gastos não ultrapassam o limite mensal de R$ 15.000 para este tipo de item. Giordano diz que cota parlamentar contempla também de sua assessoria quando em atividade e afirma que “utiliza e disponibiliza para seus assessores, quando em apoio à atividade parlamentar, os veículos que possui”. Ele afirmou ainda que assessores utilizam, se necessário, os próprios veículos para deslocamentos no âmbito da atividade também.

A resposta aconteceu após a reportagem enviar quatro placas de veículos à assessoria de Giordano, no nome dele, do filho e de empresa da família, que constavam das notas. Ele justifica o uso dos automóveis para “evitar a ampliação do uso da verba de gabinete com aluguéis de veículos” e que os gastos nos postos citados ocorrem por questões logísticas. “Vale ressaltar que este parlamentar não utiliza toda a verba disponibilizada, tendo mensalmente sobras acumuladas”, afirma, em nota.

O senador ainda afirmou que atividade parlamentar não se restringe a dias úteis, “estando o parlamentar em contato constante com sua base para atender às demandas postas”. Giordano também afirmou que os gastos com alimentação ocorrem no exercício de atividades parlamentares e que as refeições mencionadas estão ligadas ao cumprimento do mandato, estando em conformidade com a lei.

A reportagem localizou recibos com placas de veículos em nome do filho do senador, Lucca Giordano, de empresa da família e do próprio parlamentar as notas citam o senador como cliente. A maioria dos comprovantes, porém, não especifica o carro abastecido.

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