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Três meses após fuga do Talebã, afegãos tentam reinício na Europa

Durante os dias de caos no aeroporto de Cabul, afegãos que conseguiram deixar o país foram considerados de sorte

(HOSHANG HASHIMI/AFP/Getty Images)

 

Durante os dias de caos no aeroporto de Cabul, afegãos que conseguiram deixar o país foram considerados de sorte. Três meses depois, a realidade é mais complexa: muitos permanecem em campos de refugiados ou bases militares, sem saber se poderão permanecer nos países em que estão. Outros ainda lutam por vistos. Para alguns, ainda há a preocupação com a família deixada para trás.

No processo de retirada, entre os dias 15 e 30 de agosto, potências estrangeiras transportaram mais de 120 mil pessoas para fora do país. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, até o fim do ano, meio milhão de afegãos atravessem as fronteiras com os países vizinhos, Paquistão e Irã, que historicamente recebem o maior fluxo de refugiados.

Ativista e feminista, Nilofar era um alvo para o Talebã. Pouco antes do colapso de Cabul, ela começou a receber ameaças pelo Twitter.

“Fizeram photoshop e colocaram minha foto em um corpo de uma mulher sendo levada à execução pelo Talebã”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo. “Eles disseram ‘não se preocupe, quanto tomarmos Cabul vamos te matar, você não voltará a trabalhar’.” Seu escritório e suas propriedades também foram ameaçados por anônimos que diziam pertencer ao grupo extremista.

Fuga

Na madrugada de 15 de agosto, Nilofar recebeu a ligação de uma amiga que havia conseguido fugir para um país seguro. “Ela me disse para deixar o país imediatamente porque eu estava na mira e os assassinatos já tinham começado”, conta. “Eu não planejava deixar o país. Foi uma decisão muito difícil para mim, mas no fim eu não tive escolha por causa dos meus filhos.”

Nilofar é mãe de três crianças, de 5, 3 e 1 ano. Com a tomada de poder, Nilofar, suas contas bancárias foram confiscadas e suas propriedades, tomadas pelo Talebã. “Agora tudo pertence ao governo e somos os traidores”, diz.

Com ajuda de organizações internacionais, ela conseguiu fugir, com o marido e os filhos, para a Polônia. No país, refugiados podem receber proteção internacional, que inclui título de residência ilimitada e autorização de trabalho. Eles também ganham cartões de residência e um documento de viagem que permite o translado na União Europeia e outros países.

Refugiados

Desde a queda de Cabul, o país recebeu 1.137 refugiados afegãos. Parte deles foi encaminhada para acampamentos de imigrantes, como Nilofar. Por semanas, ela e a família viveram em um pequeno quarto com roupas de segunda mão. Durante este tempo, não havia certeza de que eles poderiam permanecer na Polônia. A espera terminou em meados de setembro, quando, com a ajuda de amigos, a família conseguiu um apartamento.

Ozair Akbar, de 26 anos, ainda não teve a mesma sorte. Alvo do Talebã por trabalhar com várias organizações internacionais diferentes, o financista conseguiu deixar Cabul no dia 22 de agosto com a ajuda de militares italianos.

“A semana (da tomada do poder) foi terrível. Eu não saí de casa” conta. Na noite de 21 de agosto, Ozair recebeu uma ligação para ele ir ao aeroporto. Ele conseguiu embarcar, mas não levou a família. Desde então, está na Itália, onde solicitou permanência. “Já se passaram três meses e ainda estamos esperando.”

‘Distrito em que era governadora foi o último a cair’, diz refugiada

A afegã Guljan Samar, de 31 anos, estava trabalhando em uma das províncias remotas do Afeganistão, Daikundi, onde coordenava um grupo de empresas, quando foi nomeada governadora do distrito. Após a fuga do presidente Ashraf Ghani e a queda do Afeganistão, ela esteve na guerra contra o Talebã por dois dias. “O distrito em que fui governadora foi o último a cair. Fui a última a enfrentar o Talebã com as forças sob meu comando. Defendi meu salário e minha terra. Mas infelizmente tudo acabou”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.

Ela conseguiu fugir com o marido, com ajuda de uma agência americana que trabalha para auxiliar afegãos em situações de vulnerabilidade. “Consegui escapar do cerco do Talebã usando roupas de homem. Fiquei cercada por três dias para chegar ao mais básico das minhas possibilidades. Eu não tinha comida. E consegui fugir a pé pelas montanhas com meu marido e meus cinco seguranças”, afirma Guljan.

Acampamento

Hoje, ela está em um acampamento para refugiados na Albânia enquanto aguarda para ser integrada ao país dos Bálcãs. Ela ainda não tem visto humanitário. Uma das mais jovens empreendedoras do Afeganistão, ela não tem permissão para trabalhar em seu novo país.

Além disso, teme pela segurança de sua família, que continua no Afeganistão. “Infelizmente, um de meus irmãos e dois seguranças foram capturados pelo Talebã. Não sei a informação exata, nem sei onde está o resto da minha família, meus irmãos e sobrinhos” diz.

Ondas

Da década de 1970 para cá, a diáspora afegã passou por quatro fases. A primeira, iniciada com o golpe militar do Partido Democrático do Povo do Afeganistão contra o governo Daoud, teve início em 1978 e provocou uma fuga em massa de refugiados do grupo étnico pashtun, o maior do país. Eles eram em sua maioria camponeses pobres, agricultores de subsistência, pequenos proprietários de terras e clérigos.

Russos

Com a retirada das tropas soviéticas, entre 1986 e 1989, e a consequente intensificação dos combates entre os grupos mujahideen, uma segunda leva de afegãos deixou o país. Em contraste com a primeira, esses refugiados eram principalmente empresários e profissionais urbanos. Muitos se estabeleceram no acampamento Nasir Bagh, na Província de Peshawar, no Paquistão.

A terceira fase se deu quando o Talebã tomou o poder pela primeira vez, em 1996. Durante este período, cerca de 2 milhões de refugiados afegãos fugiram para o Paquistão e cerca de 1,5 milhão foi forçado a migrar para o Irã.

O grosso dos refugiados era formado principalmente de minorias religiosas e muçulmanos xiitas.

Ataque às torres

A quarta fase aconteceu logo após os atentado de 11 de setembro de 2001, quando o medo de retaliação dos EUA, o aumento da instabilidade e desastres ambientais geraram grandes êxodo – que em sua maioria, acabaram voltando ao país nos anos seguintes.

Como consequência, o Afeganistão é hoje o terceiro país com mais refugiados pelo mundo.

De acordo com dados da UNHCR, 2,6 milhões de afegãos fugiram do país, número que perde apenas para a Síria (6,8 milhões) e Venezuela (4,1 milhões).

Mundo

Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

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Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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