Tecnologia
Temos mais dados do que nunca. Como usá-los a nosso favor?
Com 40 trilhões de gigabytes de dados gerados no mundo no último ano, profissionais com habilidade para traduzir informações em decisões estratégicas serão essenciais dentro das empresas
Durante os próximos seis minutos, tempo estimado para a leitura desta reportagem, o mundo terá gerado 9,1 mil terabytes de dados. Isso significa mais de dois milhões de stories publicados, 1,2 milhão de pessoas em conferência via Zoom, 400 mil aplicações para vagas de emprego no LinkedIn e 250 milhões de mensagens trocadas no WhatsApp. É o que estimaram, no ano passado, o Instituto Gartner e a plataforma de gestão de dados Domo.
Com mais dados à disposição do que nunca, o grande desafio das empresas e seus executivos é pinçar quais evidências são relevantes e estratégicas para mudar o ponteiro do negócio. A princípio, as escolhas orientadas pela ciência da informação sempre foram o ponto de partida para a tomada de decisão, mas a forma como as companhias e seus times absorveram o volume de dados não aconteceu de forma proporcional ao seu crescimento desenfreado.
O avanço tecnológico deu às companhias ferramentas e recursos poderosos, capazes de coletar e processar dados em uma escala nunca antes imaginada e tempo recorde. “O efeito dessa transformação se assemelha ao de um tsunami: invade a empresa por todos os lados e tudo que existe é mudado”, diz Fernando Americano, cofundador da Le Wagon Latam e professor do curso Data Driver, que ensina como tomar decisões baseadas em dados, lançado recentemente pela Future Dojo.
É como se a matemática, a estatística e as incontáveis planilhas manuais dessem vez à ciência de dados para transformar grandes quantidades de informação em insights de criação de valor. Isso não exclui, é claro, a importância do fator humano. Os profissionais da área, segundo um relatório de 2018 da McKinsey, são fundamentais para uma operação analítica eficiente e o principal elo para traduzir os dados no mundo de hoje.
Mais do que mapear riscos, prever tendências ou validar hipóteses nos mais variados cenários, a leitura correta de dados sobre o negócio, segmento ou mercado pode garantir, além de vantagem competitiva, cerca de 35% menos custos em manutenção preventiva, 15,5% menos investimento em marketing e 3% menos fraudes, conforme indicou estudo da mesma consultoria, realizado com mais de 100 empresas no intervalo de um a três anos.
Na prática
Para transformar essa grande quantidade de dados em melhores decisões, cabe às empresas a escolha de tornar seus times aptos a traduzirem os dados coletados em alternativas de rotas seguras para o negócio.
José Borbolla, Gerente Sênior de Data Science e Diretor de Data Powerhouse na Bayer, que também integra o time de professores do curso Data Driver, explica que não basta adquirir as ferramentas e dispositivos mais modernos. “É preciso capacitar equipes e lideranças, em todos os níveis hierárquicos, com um repertório analítico mais amplo”, explica.
De acordo com especialista, somente quando todas as áreas tiverem uma maior capacidade de ler, interpretar, analisar de maneira crítica e traduzir aqueles dados e informações em melhores decisões, será possível extrair todo o potencial disponível deles.
A realidade é que, independente da área de atuação, a alfabetização de dados será uma habilidade esperada pelas empresas de seus talentos. Borbolla apresenta um raciocínio básico: se não há conhecimento sobre a natureza do desafio de negócio, detalhes sobre seu contexto, conhecimentos estatísticos, capacidade analítica e aptidão na tradução desse processo, não adianta querer ler dados por ler.
Ao traçar um paralelo, é como se a leitura de dados fosse comparada à forma como um médico trabalha. O paciente chega com uma questão a ser resolvida – que pode ser um exame de rotina ou a busca por tratamento – e o especialista faz uma série de perguntas para entender a fundo seus sintomas e histórico. Com esse levantamento de informação, é possível conceber uma hipótese diagnóstica, a qual guiará quais exames (ou dados) precisam ser coletados. Os resultados serão interpretados, levando em conta o contexto do paciente, para uma conclusão assertiva sobre qual método deve ser adotado na resolução do problema.
Na prática, é sabido, nem tudo acontece como esperado e, às vezes, o paciente não tem clareza sobre seus sintomas. Para esses casos, mesmo que os dados mudem caso a caso, o método para elencá-los é quase sempre o mesmo.
No entendimento de Ana Carla Costa, gerente de produto na Wildlife Studios, o primeiro passo é definir qual métrica é determinante para o sucesso, que pode ser o lucro, o número de usuários ativos ou até mesmo a porcentagem de decisões que são feitas com base em dados. Em seguida, é necessário entender como instrumentar essa métrica de sucesso, ou seja, definir como esse dado será medido e registrado. Por fim, é preciso definir o conjunto de métricas controláveis que melhor se correlaciona com a métrica de sucesso, que nada mais é que entender quais são as alavancas que podem ser usadas para guiar as decisões de negócio no dia a dia.
A tomada de decisão
No Brasil, mais da metade das empresas usa dados para orientar a estratégia de negócio. É o que mostrou um estudo global realizado pela plataforma de business intelligence MicroStrategy em 2019. Este número representa não só uma tendência que deve crescer – com o analista de dados figurando no ranking das profissões do futuro – como também um aumento na busca das empresas por consultorias especializadas.
Aquelas que atendem a essas demandas e, de quebra, ainda trazem o olhar estratégico e 360º para o negócio, sem dúvidas, largam na frente. É o caso da SenseData, que surge como uma plataforma capaz de integrar fontes distintas de dados para garantir a melhor experiência do cliente, seja com a visão completa da empresa, seja com a geração de ações reais, com base nos indicadores.
Fornecedora de empresas como Gupy, Reclame Aqui e VR Benefícios, a startup atua de forma estratégica no gerenciamento de Customer Success – ou seja: no relacionamento entre a companhia e seus clientes. “A área de dados vem crescendo de forma exponencial nos últimos anos e, com a pandemia, o mercado foi impulsionado”, analisa Mateus Pestana, cofundador e CEO da SenseData.
Entre as projeções do especialista, sua aposta vai para a utilização de dados acionáveis, os quais são responsáveis por uma verdadeira revolução no uso de dados. Mais do que garantir insumos e embasamento para a tomada de decisão, eles compõem o agrupamento de insights e ações automatizadas para cada ponto de contato com o cliente.
Se a sua empresa ainda não faz uso dos dados a seu favor, é provável que ela fique aquém do novo mercado. E este, por sua vez, está mais digitalizado, experiente e pronto para agir em situações críticas orientado por evidências do que nunca.
Tecnologia
“Brainrot”, você tem isso? Conheça esse efeito colateral da vida digital
Termo descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido
Se você leu meu texto sobre a slopficação da internet, talvez agora você fique um pouco mais assustado. Senta que lá vem a história…
Se você é millennial, como eu, e tinha uma certa esperança que a próxima geração seria melhor e daria conta de um monte de coisas que não conseguimos, bem… nascer e crescer imerso em redes sociais parece que não está fazendo muito bem, pelo menos na construção de gosto e o que se escolhe consumir online.
Entender minimamente a GenZ (Geração Z) e a Geração Alpha tem consumido boa parte do tempo das minhas pesquisas online. Sacar os movimentos e tentar entrar na cabeça dos jovens é interessante e surpreendente, já que os valores e gostos são completamente diferentes. E olha que pra muita coisa eu sou mais Z que Y.
Mas vamos para o que interessa. Você já ouviu ou viu, em algum lugar, termos como:
- Skibidi Toilet
- Level Five Gyat
- Rizz
- Fanum Tax
- Only in Ohio
- Sigma Looksmaxxing
- Grimace Shake
Parece erro, palavras sem sentido, mas eles têm aparecido com frequência em uma série de conteúdos virais, mais especificamente memes, e que têm sido atribuídos ao tal do “brainrot”. Se você perguntar para o Google Tradutor, não vai conseguir nada. Já para o ChatGPT, ele traz uma luz. Olha só:
Acho que, com isso, você já consegue ir sacando o que é “brainrot”. Apesar desse termo ser antigo (usado desde 2004), é agora que ele está bombando em redes sociais muito usadas por jovens da GenZ, como o TikTok.
E não é pouco dizer que esses jovens internautas estão obcecados com a tal “brain rot” ou “brainrot”. Tanto que a própria viralização do termo explica muito o que estamos vivendo nos tempos atuais: “doomscrolling“, essa rolagem infinita nos nossos feeds, e também nosso estado online crônico.
Traduzido por “podridão cerebral”, “apodrecimento do cérebro” ou até “cérebro apodrecido”, o termo, ou condição, descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido, que podem afetar negativamente as habilidades cognitivas e a capacidade de pensar criticamente.
Longe de ser um termo médico ou científico, é simplesmente um efeito colateral do nosso comportamento online, principalmente em redes sociais, frequentemente motivado por um desejo compulsivo de se manter atualizado, principalmente com eventos negativos, mesmo quando isso pode ser emocionalmente desgastante ou prejudicial para a saúde mental.
Basicamente, estamos gastando mais tempo e literalmente nos entregando e absorvendo grandes quantidades de informações irrelevantes e de baixa qualidade.
Sem entrar nas questões neurodegenerativas, não precisamos de muito para entendermos que, ao consumirmos conteúdos piores, ficaremos piores. Ou seja, nossos cérebros vão trabalhar com o que recebem. Se consumimos porcarias, vamos pensar em porcarias. Simples assim.
E tem muita gente online falando que já está com “brainrot” só de ter recebido ou passado por certos conteúdos, justamente porque estão muitos expostos a eles. E assim como os “slops” causam uma certa confusão mental, os conteúdos associados ao brainrot também, desassociando imagens ou conceitos de seus contextos reais.
Um exemplo é a imagem de um soldado da Segunda Guerra Mundial com um olhar atordoado, que faz parte da pintura de Tom Lea “That 2,000 Yard Stare“, que é usado em muitos conteúdos meméticos, e que TikTokers dizem ser brainrot.
Popularização e perigos
Fazendo uma pesquisa rápida no Google Trends, percebemos que tivemos uma procura maior do termo em 2005 e 2010, mas, a partir da segunda metade de 2023 até agora, o termo explodiu. E é interessante notar que esses picos estão muito associados à cultura gamer e a jogos que contribuíram com seu uso ao longo da década de 2010.
Inclusive, “brainrot” é uma doença que os jogadores podem contrair no jogo de “2011 The Elder Scrolls V: Skyrim“. Em 2007, ano que muita gente considera o surgimento do termo, ele aparece em posts no X, nos quais os usuários descreviam reality shows de namoro, videogames e certos comportamentos, como brainrot.
Um artigo recente do NYT, Jessica Roy relata como alguns usuários do TikTok até começaram a criar paródias de pessoas que parecem “ter” essa condição, ajudando, assim, na popularização, ridicularização e adoção do termo. E, apesar de não ser um elogio falar que alguém tem brainrot, algumas pessoas demonstram um leve orgulho ao admitir a condição.
Em um quiz recente do BuzzFeed, dava até pra saber se “o seu cérebro está 1000% cozido”. Outra leva de vídeos fala que quanto mais gírias da internet uma pessoa usa, mais brainrot ela tem.
E apesar do humor que tudo isso traz, existe um lado bem ruim. Sabe quando a gente fica obcecado por algo e vê aquilo em todo lugar, ou quando gostamos tanto de um personagem ou uma celebridade e começamos a ficar parecidos com elas? Bem, consumir conteúdos de baixa qualidade pode nos deixar menos preparados a certaz situações e “menos inteligentes”, como colocam os jovens com brainrot. Muitos compartilham nas redes seu medo de ficaram “burros”.
Há muitos pesquisadores que estão se debruçando nesse tema, como o neurocientista Michel Desmurget, que tem um livro bastante controverso, assim como outros que se adentram nesse tema, “A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas crianças”.
Esse medo de ficarmos piores cognitivamente é real, porque somos o que comemos e consumimos. A “Geração Touch” e as “crianças de iPad” certamente carregam consequências disso, tanto pela tela e o aumento de miopia, muita quantidade de luz azul, que traz alterações no sono, e por aí vai, até o que é visto, assistido e lido.
Em toda a história da humanidade, acompanhamos as consequências boas e ruins das mais diversas tecnologias que foram sendo introduzidas nas nossas vidas, e se tratando de internet, hoje e sempre, independente da tecnologia em si, sabemos que “gostamos” de certos conteúdos justamente pelo modo como nosso próprio cérebro funciona.
Nem vou entrar nessa discussão, porque isso daria um outro texto, mas, no caso dos memes, eles são divertidos, rola uma conexão emocional positiva com eles, e isso dá uma ajudinha na disponibilidade de dopamina no nosso cérebro. É entretenimento puro e viciante.
Por isso mesmo, existem muitos pesquisadores interessados no assunto, tanto que, nos Estados Unidos, diversas instituições de saúde já estão estudando isso como um distúrbio. No artigo no NYT, é citada a pesquisa do Hospital Infantil de Boston, que chama essa condição de “Uso Problemático de Mídia Interativa”. E ela mostra que, conforme passamos muito tempo online, mudamos nossa percepção do espaço físico para o online, e isso tem consequências.
E a GenAI nessa história?
Brainrot está na moda hoje em dia, assim como a GenAI (inteligência artificial generativa). Mas será que a IA está ajudando a nos levar a um estado de brainrot generalizado?
Se o uso preguiçoso da GenAI pode nos fazer desenvolver menos algumas habilidades ao longo do tempo, não há dúvida. É como foi com a nossa memória, tanto que hoje não guardamos o número do celular de quase ninguém. Claro que nesse cas,o é reversível, podemos treinar e melhorar, graças a neuroplasticidade cerebral.
Mas, assim como a internet está se “slopificando”, ou seja, sendo tomada por conteúdos sem valor sendo gerados sinteticamente, nós também poderemos acabar nos deparando cada vez mais com esse conteúdo, e (por que não?) aumentando o brainrot, assim como nos enganando cada vez mais por conteúdos falsos. As consequências de longo prazo não sabemos, e muito estudo ainda será feito, mas, com certeza, uma coisa pode alimentar a outra.
Deveríamos nos preocupar com o “brainrot”?
Em certo sentido, sim, embora devamos ser cautelosos ao soar o alarme sobre o que impulsiona ou leva ao “brainrot”. É muito fácil referir-se a praticamente qualquer coisa como causadora de “brainrot”, se formos pensar.
A cultura da internet sempre traz questões e termos interessantíssimos que podem nos fazer pensar e desenvolver muitas teorias e conceitos. Brainrot ainda é uma expressão que carece de rigor científico, principalmente para descrever ou quantificar a saúde mental real. Mesmo assim, não significa que devemos ignorar ou minimizar as preocupações que estão no cerne desse termo.
Tecnologia
Tik Tok planeja lançar o Whee, plataforma de fotos ‘cópia’ do Instagram
Na plataforma, será possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos
O TikTok está trabalhando em seu próprio Instagram, afirmou o site Android Police na terça-feira, 18. O aplicativo, chamado Whee, tem como objetivo o compartilhamento de fotos com melhores amigos – uma mistura da rede de Mark Zuckerberg com o BeReal, de fotos instantâneas e não editadas. O app, que já pode ser utilizado em alguns países, ainda não chegou ao Brasil.
De acordo com as imagens vistas pelo Android Police, o Whee é um app separado do TikTok, mas também mantido pela ByteDance. Na plataforma, é possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos.
Configurações básicas como curtidas e comentários também estão presentes, em um layout bastante parecido com o do Instagram.
“Capture e compartilhe fotos da vida real que somente seus amigos podem ver, permitindo que você seja mais autêntico”, afirma a descrição do Whee no Google Play, loja de apps do Android. “Whee é o melhor lugar para amigos próximos compartilharem momentos da vida”, completam.
O TikTok e a ByteDance ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o aplicativo, mas já é possível encontrar a nova rede social em alguns países em celulares com sistema operacional Android.
Tecnologia
YouTube testa recurso que introduz “notas” de contexto em vídeos
Testes começarão nos Estados Unidos e serão feitos, inicialmente, com usuários e criadores selecionados
O YouTube anunciou, nesta segunda-feira (17), que permitirá em breve que os usuários adicionem “notas” que fornecerão contexto sobre alguns de seus vídeos. Os testes fazem parte de um novo recurso que inicialmente será lançado nos Estados Unidos.
A plataforma convidará alguns usuários e criadores de conteúdo, como parte da fase inicial de teste, para escrever notas destinadas a fornecer “contexto relevante, oportuno e fácil de entender” sobre os vídeos.
As notas, por exemplo, poderão esclarecer quando uma música é uma paródia, apontar quando uma nova versão de um produto que está sendo analisado estiver disponível ou informar aos espectadores quando imagens antigas são erroneamente apresentadas como eventos atuais.
A rede social X, antigo Twitter, possui um recurso semelhante chamado Notas da Comunidade, que permite que colaboradores selecionados adicionem contexto às publicações, incluindo tags como “enganoso” e “fora de contexto”.
O recurso de notas no YouTube será, inicialmente, disponibilizado em dispositivos móveis para usuários nos Estados Unidos e em inglês. Nessa fase, avaliadores externos classificarão a utilidade das notas, o que ajudará a treinar os sistemas, antes de um possível lançamento mais amplo, disse o YouTube.
*Com reportagem de Yuvraj Malik, em Bengaluru
CNN Brasil
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