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Rio Tietê expõe calamidade do saneamento — que pode estar prestes a mudar

Infraestrutura estatal atende só metade dos 200 milhões de brasileiros, enquanto tramite lei para gerar melhoras com concorrência e setor privado

Poluição no Rio Tietê (Bitenka/Thinkstock)

A apenas 30 quilômetros do Itaim Bibi, coração financeiro e bairro chique de São Paulo, fica o rio mais poluído do Brasil.

A água do Tietê é cinza. Os peixes não sobrevivem. O cheiro é insuportável. No entanto, é a água que se vê da janela da cozinha da casa de Adriana Santos, 29 anos, seu marido e seus três filhos, e que é usada para tomar banho e cozinhar.

Eles estão entre as centenas de famílias que moram no Chácara Três Meninas, uma área de estradas de terra, casas mal conservadas, crianças doentes e infestações de tudo, de cobras a insetos e ratos – resultado de quase nenhum saneamento básico.

O Tietê e as favelas em suas margens são apenas um retrato do sistema de saneamento do país, considerado um dos piores do mundo. A infraestrutura estatal atende a apenas metade dos 200 milhões de brasileiros, após décadas de investimento insuficientes.

Cerca de 33 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, o que prejudica a saúde do país e impede o desenvolvimento social e econômico.

Mas a situação pode estar prestes a mudar. O Congresso, com o apoio do governo Bolsonaro tenta alterar a legislação para privatizar o setor, uma medida que pode abrir US$ 200 bilhões em investimentos. Empresas como a Brookfield Asset Management Inc., China Communications Construction Co. e a Alberta Investment Management Corp. estão prontas para isso.

“São 6.000 piscinas olímpicas de esgoto bruto sendo colocadas nos rios por dia”, disse Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental, empresa de saneamento de propriedade majoritária da Brookfield. “Todo real investido em saneamento representa 4 reais em economia em saúde. É uma agenda ganha-ganha.”

O Problema

O saneamento é responsabilidade de duas dúzias de empresas estatais, que fazem a coleta e as obras de tratamento de esgoto de 2.245 das 5.570 cidades do país. Muitas dessas empresas têm orçamento limitado para investimento e suas pesadas folhas de pagamentos se traduzem em recursos escassos para universalizar o saneamento, e ainda, garantir manutenção do sistema existente.

O saneamento é uma atribuição das prefeituras e regulado por dezenas de agências diferentes e não em nível nacional centralizado. Isso desestimula os investidores privados que precisam de estruturas legais estáveis ​​para fazer o tipo de investimentos de longo prazo.

O investimento privado representou apenas US$ 500 milhões dos US$ 2,75 bilhões investidos em saneamento em 2018 e está em apenas 325 cidades. O baixo percentual de adesão do setor privado no saneamento ocorre fundamentalmente por insegurança jurídica.

“Investimos muito pouco e muito mal”, disse Diogo Mac Cord, secretário de Desenvolvimento e Infraestrutura do Ministério da Economia. “É impossível para o modelo estatal universalizar o esgoto e o tratamento de água no Brasil.”

A solução

A legislação que está sendo discutida pelo Congresso tem amplo apoio das equipes econômica e de infraestrutura do governo, que vêm trabalhando para reduzir o tamanho do estado. Com a maior economia da América Latina ainda emergindo lentamente da pior recessão de sua história, os investimentos privados são essenciais para recuperar o crescimento.

“Aprovar esta lei será muito importante porque impulsionará a atividade econômica e irá gerar muitos empregos. Existe demanda e espaço para investimentos relevantes no setor de saneamento”, diz o secretário de Fazenda de São Paulo e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista.

Um dos principais avanços da lei é garantir maior concorrência. Os municípios passarão a estar obrigados a fazer licitações para contratar empresas de coleta e tratamento do esgoto. Atualmente, as empresas estatais detêm o monopólio efetivo dos contratos oferecidos pelos municípios.

O projeto também estabelece condições iguais para empresas públicas e privadas e um órgão regulador forte e centralizado, para evitar abusos relacionados à cobrança de impostos e ajudar a equilibrar os preços, evitando altos custos para as comunidades pobres.

Além de estimular as privatizações e parcerias público privadas, a nova lei deverá estabelecer metas para as empresas públicas, que se não forem cumpridas poderão levar à perda do direito de exploração.

A Oportunidade

Vários investidores estão de olho neste mercado, porque são projetos de infraestrutura que oferecem fluxos de receita constantes de clientes que pagam suas contas – exatamente como Adriana e sua família.

As empresas estatais que lidam com o saneamento, se privatizadas integralmente, podem valer cerca de US$ 35 bilhões, segundo estimativas do governo. Este valor varia se governos estaduais preferirem fazer parcerias público-privadas, concessões ou IPOs.

A Brookfield tem planos de expandir seus investimentos, seja por meio de aquisições ou concessões, disse David Aiken, diretor de Investimentos da empresa. Mesmo sem a legislação ainda aprovada, a BRK investirá cerca de R$ 1 bilhão por ano nos próximos 10 anos, afirmou Aiken.

“Em nenhum lugar do mundo desenvolvido você poderia comprar uma empresa de abastecimento de água e ter em qualquer lugar perto do potencial de crescimento que você tem no Brasil”, disse. “Se as pessoas estão procurando uma exposição de longo prazo protegida pela inflação no Brasil, essa é uma maneira fenomenal.”

AIMCO e GIC

Outras empresas estão fazendo o mesmo. A Alberta Investment Management comprou parte da Iguá Saneamento no ano passado de olho no mercado nacional. Em viagem ao Brasil em novembro passado para a Cúpula dos Brics, o presidente da China Communications Construction Co., Liu Qitao, anunciou interesse na despoluição das águas do Tietê, mas para isso quer garantia de estabilidade política. “A palavra chave é estabilidade política, porque só isso garante o retorno que a empresa espera ao fazer esse investimento.”

O fundo soberano de Cingapura, GIC, fez investimentos na Aegea, assim como a BRK Ambiental, uma das poucas empresas privadas que investem em saneamento no Brasil.

”A grande transformação para o capital privado é ter metas”, diz o CFO da Aegea Saneamento, Flavio Crivellari. Ele prevê um boom de investimentos neste setor nos próximos cinco anos. “Investir em saneamento é rápido, barato, rentável e estável.”

A Casa de Adriana

De volta à Chácara Três Meninas, os moradores encontram maneiras de contornar suas dificuldades de saneamento.

Ademir de Oliveira, 65 anos, 24 deles morando na comunidade, é dono de uma mercearia local. Ele construiu o encanamento de sua casa e de sua loja com a ajuda dos vizinhos. Joana dos Santos, aposentada de 74 anos, toma banho o mais cedo possível todos os dias porque a água escassa se esgota.

Na casa de Adriana, o sistema de esgoto alimenta diretamente o rio. Há três canos na casa: um conecta a pia da cozinha ao Tietê; outro, o chuveiro; e o terceiro joga todos os resíduos do banheiro no rio sem nenhum tratamento.

A esperança é que os investimentos privados resolvam situações como a de Adriana e tenham repercussões sociais de longo alcance para alguns dos mais pobres do Brasil.

Estudos vincularam a epidemia do vírus Zika ao mau saneamento. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a melhora no saneamento poderia evitar 6.000 mortes de crianças a cada ano no Brasil.

“O tamanho da oportunidade que temos diante de nós é incrível”, disse Vernaglia. “As empresas estatais estão tendo dificuldades financeiras para atingir o nível de investimento necessário em um país tão considerável quanto o Brasil.”

 

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Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos

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Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva

Joédson Alves/Agência Brasil

Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.

A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.

O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.

“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.

Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.

Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.

Agência o Globo

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Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta

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Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida

 

Plenário da Câmara dos Deputados durante a promulgação da reforma tributária ( Roque de Sá/Agência Senado)

 

Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.

Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.

Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.

“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.

Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.

Entenda o contexto

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.

O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.

O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.

O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.

Agência o Globo

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Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias

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Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado em Brasília, em 25/05/2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.

O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.

Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.

Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.

“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.

A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.

Agência Brasil

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