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Por que as pessoas estão tomando menos vacina

As baixas taxas de vacinação contribuem para que doenças sob controle voltem a circular no Brasil. Entenda as causas por trás disso e o que fazer

Entre outras coisas, as vacinas são vítimas do próprio sucesso. (Foto: Westend61/Getty Images)

Foi durante uma conversa com uma ordenhadora de vacas que o médico britânico Edward Jenner (1749-1823) teve a brilhante ideia de criar uma vacina contra a varíola, doença marcada por mal-estar e erupções na pele. A camponesa dissera a ele que, apesar de contagiosa, jamais pegaria a moléstia porque já tinha contraído sua versão bovina. Intrigado, o médico resolveu testar a teoria da moça. Em maio de 1796, inoculou o vírus da varíola bovina em um garoto de 8 anos, que logo apresentou sintomas brandos. Dois meses depois, com o menino já curado, o infectou novamente com o vírus da varíola humana. E, para sua surpresa, ele não adoeceu. Logo, Jenner constatou que a exposição à varíola bovina, de baixa gravidade, tinha imunizado o garoto contra o tipo mais letal da doença.

Nascia, aí, o conceito de vacina, que, dois séculos depois, permitiria que a mesma varíola fosse erradicada da face da Terra. O último caso registrado ocorreu em 1977, na Somália. “Até poucas décadas atrás, doenças como pólio, sarampo e difteria eram ameaçadoras. Quando não matavam, deixavam sequelas. Graças às vacinas, a expectativa de vida da população aumentou em 30 anos”, explica o médico Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Tem vírus que até podia tomar o caminho da varíola, mas voltou das sombras. É o caso do sarampo. Em março, o Brasil perdeu o status de país livre da doença, conferido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em 2016.

De fevereiro de 2018 a fevereiro de 2019, registramos 10 374 casos, com 12 mortes. E o que está por trás disso? “A queda nos índices de vacinação provoca o retorno de doenças já eliminadas ou controladas”, responde a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunização. “Há uma percepção equivocada de que algumas vacinas já não são mais necessárias”, observa. Cenário propício para vírus e bactérias reemergirem, espalhando doenças que (só) pareciam coisa do passado.

A vacina tríplice viral, que nos defende de sarampo, caxumba e rubéola, é uma das sete destinadas a crianças que estão com a cobertura abaixo do ideal, segundo dados do Ministério da Saúde. Entre os imunizantes infantis, somente a BCG, que combate a tuberculose, bateu a meta proposta — especialistas acreditam que ela obteve êxito porque tem dose única e é aplicada na maternidade. Entre as vacinas que não chegaram lá estão as versões para poliomielite, hepatite A e pneumonia.

Por que as pessoas estão se vacinando menos

São muitas as hipóteses que ajudam a entender esse preocupante declínio. A primeira delas soa até irônica: as vacinas são vítimas de seu próprio sucesso.

“Muitos pais nunca ouviram falar de pólio, rubéola e difteria. Por essa razão, não levam os filhos para se proteger”, nota o pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim). Além disso, nosso calendário é tão completo — ao todo, são 19 imunizantes, que previnem 28 doenças — que, só no primeiro ano de vida da criança, os pais são obrigados a ir ao posto nove vezes. E tem quem reclame disso. “Alguns se esquecem ou deixam para depois”, relata Cunha.

Até mudanças no mercado de trabalho têm um dedo nessa história. “Cada vez mais mulheres passaram a trabalhar fora. Como os postos de saúde só funcionam de segunda a sexta, das 8 às 17 horas, nem elas nem os pais têm tempo de imunizar os filhos”, aponta Cristina Albuquerque, chefe de Saúde e Desenvolvimento Infantil do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil.

A crise econômica também bagunçou as coisas. “Muitas famílias não têm condições de levar os pequenos até o posto”, conta Cristina.

Falta de confiança e informação

Uma pesquisa da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP), lançou luz sobre as crenças e percepções de parte da população em relação à vacinação infantil. De 352 pessoas entrevistadas, 23% relataram hesitação e 7% recusa em imunizar os filhos. Entre as que demonstraram hesitação, 41% alegaram falta de confiança nas vacinas, 25% duvidaram de sua segurança ou eficácia e 24% admitiram preocupação com eventos adversos, como dor, vermelhidão e inchaço.

Ou seja, uma fração dos cidadãos, sob influência de argumentos errôneos ou fake news, está a um passo de negligenciar as vacinas para seus entes mais queridos. É problema pra família… e pra sociedade toda.

“Quando uma pessoa é imunizada, protege, de forma indireta, as que não foram. É como se formasse um escudo de proteção em torno das que, por motivo de doença ou uso de medicamentos, não podem se vacinar”, esclarece a pediatra Eliane Matos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Biomanguinhos), no Rio de Janeiro.

Doenças mais sazonais e que são evitadas por meio de vacinas também podem surfar na onda do desconhecimento e do medo das picadas. Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o risco de uma “terceira onda” de febre amarela no país. Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, o país registrou 36 casos, com oito mortes.

“Os recentes surtos revelam que certas doenças podem voltar a qualquer momento. Basta aparecerem pessoas infectadas em uma região com baixa cobertura vacinal”, alerta a microbiologista Daniela Rosa, da Sociedade Brasileira de Imunologia.

A gripe, que reaparece anualmente no período de outono e inverno, é outra encrenca que se aproveita dessa corrente de “vacina pra quê?”. Embora o índice nacional de imunização tenha sido atingido, alguns grupos de risco — pessoas com doenças crônicas, crianças e gestantes — e estados ficaram com taxas abaixo do previsto.

Entre os oito estados que não bateram a meta, os que apresentaram a mais baixa cobertura são Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Convém lembrar que a gripe pode levar a complicações graves, potencialmente fatais.

Movimento antivacina: um problema mundial

As baixas na vacinação, é preciso dizer, não são um desafio exclusivo do Brasil — país que ostenta um dos programas públicos mais bem-sucedidos do globo. Ao redor do mundo, os episódios de sarampo, por exemplo, cresceram 300% em 2019.

Diferentemente do que acontece por aqui, lá fora quem ganha força e voz é o movimento antivacina. Os anti-vaxxers, como são conhecidos, se espalham por Estados Unidos, França, Itália… E ecoam, pelas redes sociais, seu discurso para o Brasil e o resto do planeta.

Em 2017, o político italiano Massimiliano Fedriga, de 38 anos, um desses militantes antivacina, chegou a classificar como “ditatorial” o programa que torna obrigatória a imunização infantil na Itália — entre outras medidas, o governo multa os pais que não cumprem a lei e proíbe crianças não imunizadas de frequentar creches ou jardins de infância. Em março deste ano, Fedriga caiu doente e foi levado às pressas para um hospital.

Por ironia do destino, foi diagnosticado com catapora! Depois de cinco dias internado, já recuperado do susto, declarou ter mudado de ideia sobre a importância das vacinas. “Hoje em dia, um mito vale mais do que mil evidências”, critica a médica Lessandra Michelin, coordenadora do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Precisamos reeducar nossa população, reforçando que vacinas salvam vidas.”

A mãe das conspirações contra os imunizantes é obra do médico britânico Andrew Wakefield, que, em 1998, publicou um estudo fraudulento indicando que a vacina tríplice viral podia causar autismo. Movido por interesses escusos, o profissional forjou um elo do qual teve que se retratar tempos depois. O caso foi tão absurdo que Wakefield teve seu registro médico cassado em 2010. “Mesmo assim, o estrago já estava feito”, lamenta a pediatra Bárbara Furtado, gerente médica de vacinas do laboratório GlaxoSmithKline (GSK).

Vinte anos depois, um novo estudo, o mais completo já produzido sobre o tema, reafirma o óbvio: a tríplice viral não aumenta o risco de autismo. A conclusão vem de uma análise robusta do epidemiologista dinamarquês Anders Peter Hviid, que monitorou 657 461 crianças, todas nascidas em seu país entre 1999 e 2010. “A maioria das vacinas apresenta mais benefícios do que riscos. Os pais não devem colocar a vida dos filhos e a de outras crianças em perigo por medo do autismo. Está mais do que provado que autismo é uma condição genética”, diz Hviid.

Ainda assim, a fake news continua a circular por aí — e em má companhia. Pelas redes e grupos de WhatsApp, deparamos com mensagens como “Vacinas podem ser fatais porque seus efeitos colaterais ainda são desconhecidos”, “Vacinas são apenas uma forma de a indústria farmacêutica ganhar dinheiro” ou “Aplicar mais de uma vacina pode sobrecarregar o sistema imunológico da criança”.

É tanta notícia sem cabimento que o Ministério da Saúde elucida algumas em seu portal e disponibiliza um número de WhatsApp — (61) 99289-4640 — para esclarecer outras. “A melhor forma de combater fake news é não compartilhar fake news. Na dúvida, cheque a fonte ou consulte seu médico”, prescreve a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo.

Enquanto os gestores italianos não permitem a matrícula de alunos sem a caderneta de vacinação completa e pediatras americanos podem se recusar a atender pais com filhos não imunizados, os especialistas brasileiros sugerem medidas menos drásticas: abertura dos postos em horários alternativos (à noitinha ou nos fins de semana), instalação de pontos de vacinação em parques, clubes e igrejas e realização de mutirões em áreas carentes.

Um levantamento de 2017, encomendado pela GSK, mostra que 46% dos brasileiros relatam nunca ter recebido orientação sobre vacinas de médicos ou enfermeiros. “A ciência precisa dialogar com a população. Ninguém entende o cientifiquês. Precisamos falar a língua do povo”, ressalta a pediatra Isabella Ballalai, da SBIm. Então informe-se, vacine-se e compartilhe!

Infecções à solta ou que podem voltar diante de baixas taxas de vacinação

Sarampo: é transmitido por secreções respiratórias, como espirro ou tosse, e pode deixar sequelas, caso de surdez e cegueira. O Brasil é o recordista de novos casos nas Américas.

Causador: Morbilivirus.

Sintomas: manchas avermelhadas na pele, febre, tosse, coriza e mal-estar.

A vacinação: são duas doses. A primeira a partir do 12º mês de vida do bebê e a segunda entre o 15º e o 24º mês. Adultos que não foram vacinados e não tiveram a doença na infância devem tomar também.

Poliomielite: doença contagiosa que pode levar à atrofia dos membros inferiores. A transmissão se dá através de fezes ou secreções expelidas pela boca. O último caso no Brasil foi em 1989, em Sousa (PB).

Causador: Poliovirus.

Sintomas: febre, mal-estar, dor de cabeça, vômitos, diarreia e flacidez muscular.

A vacinação: a Sabin (gotinha) é aplicada aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses de idade. Até os 5 anos, há outro reforço anual. Já a Salk (injeção) é indicada a pessoas com baixa imunidade ou que vão viajar para áreas de risco.

Gripe: ataca o sistema respiratório geralmente quando a temperatura começa a baixar. Como o vírus sofre modificações todo ano, a vacina tem de ser aplicada anualmente. Até 1º de junho, foram registrados 1 560 casos, com 281 óbitos.

Causador: Influenza.

Sintomas: febre, calafrios, tosse, fraqueza, congestão nasal e dor de garganta.

A vacinação: qualquer pessoa pode tomar a vacina, mas alguns grupos são prioritários, caso de crianças (de 6 meses a 6 anos), gestantes, idosos e pessoas com doenças crônicas.

HPV: infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo, está ligada a tumores no útero, na garganta etc. A vacina disponível na rede pública imuniza contra quatro tipos do vírus, sendo dois de alto risco para o câncer. A adesão por aqui ainda deixa a desejar.

Causador: papilomavírus humano.

Sintomas: em geral, não há. Mas podem surgir lesões na genitália e no ânus.

A vacinação: é fornecida a meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, além de soropositivos e transplantados de 9 a 26 anos.

Meningite: é uma inflamação séria da meninge, membrana que reveste o cérebro e a medula espinhal, provocada por vírus ou bactérias. O risco de sequelas cresce à medida que se retarda o início do tratamento.

Principais causadores: meningococos (bacteriana) e enterovírus (viral).

Sintomas: incluem febre, dor de cabeça, vômito e dificuldade de encostar o queixo no peito.

A vacinação: devem ser imunizadas todas as crianças, aos 3 e aos 5 meses de idade, com uma dose de reforço aos 12 meses.

Pneumonia bacteriana: é uma infecção respiratória grave que, em alguns casos, precisa de internação e, quando não tratada corretamente, pode levar à morte. Idosos, crianças pequenas e pessoas com doenças crônicas são mais vulneráveis.

Causador: Streptococcus pneumoniae.

Sintomas: febre alta, tosse, dor no tórax, falta de ar e calafrios.

A vacinação: o imunizante se destina a todas as crianças aos 2, 4 e 6 meses de vida, com reforço entre 12 e 15 meses. Há versões para o público mais velho.

Brasil

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Motoristas que passaram pelo local estranharam a fumaça preta que sai das torres, que se trata, na verdade, de uma simulação de incêndio

 

Fumaça no Congresso assusta brasilienses – (crédito: Redes sociais)

 

Uma fumaça no Congresso Nacional assustou os brasilienses nesta sexta-feira (21/6). Quem passou pelo local, observou uma fumaça preta saindo pelas torres do órgão e se preocupou. Vídeos gravados pelos moradores da capital mostram o momento, confira:

A fumaça se trata, na verdade, de um procedimento para exercício de enfrentamento de emergência, realizado pela Seção de Prevenção e Combate contra Incêndios do Departamento de Polícia Legislativa (Seprin/Depol) no Anexo I.

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) confirmou que a fumaça se trata da simulação.

A data da simulação não foi incialmente anunciada e terá duração de aproximadamente duas horas. A energia do edifício foi desligada e não é autorizada movimentação de veículos no estacionamento até o término da ação.

Correio Brasiliense

 

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Brasília

Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS

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Crédito extraordinário foi autorizado por meio de medida provisória

 

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O governo federal liberou mais R$ 1,8 bilhão para ações de reconstrução no Rio Grande do Sul. A autorização do crédito extraordinário foi feita por meio da edição da Medida Provisória 1.223/2024, publicada na noite desta quinta-feira (23).

A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.

A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.

No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.

>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:

– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)

– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)

– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)

– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)

– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)

– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)

– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)

– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).

De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.

No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.

Por Agência Brasil

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Brasília

Senador abastece carros da família com verba pública; gasto por mês daria para cruzar 4 vezes o país

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) manteve perfil discreto desde que assumiu o cargo por ser suplente de Major Olímpio (do antigo PSL), que morreu em 2021 durante a pandemia vítima de Covid-19. Ele tem chamado atenção no meio político, porém, pela prestação de contas com combustíveis e seu périplo por restaurantes caros de São Paulo.

Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que gastos de mais de R$ 336 mil abasteceram carros de Giordano, de seu filho e também de uma empresa da família. Com o combustível em preços atuais, o total seria o suficiente para dar 17 voltas na Terra. A média mensal de gastos com o item, de cerca de R$ 9.000, possibilitaria cruzar o país, em uma linha reta do Oiapoque ao Chuí, quatro vezes por mês.

O senador diz não haver irregularidade nos gastos e que não utiliza toda a verba disponibilizada. Ele ainda justifica o uso de veículos particulares para economia e afirma que o STF (Supremo Tribunal Federal) já arquivou questionamento sobre gasto de combustível. A apuração, porém, não esmiuçava todos os detalhes dos gastos do senador ao longo de três anos.

Os dados no site do Senado apresentam limitações por misturar despesas com locomoção, hospedagem, combustível e alimentação –uma minoria de senadores traz um detalhamento ampliado, o que não ocorre nos dados relativos a Giordano. Nessa categoria mais ampla, Giordano tem o sexto maior gasto desde que assumiu, com um total de R$ 515 mil. A reportagem localizou R$ 336 mil em despesas exclusivamente com postos de gasolina por meio da análise do nome dos estabelecimentos, que é de longe o maior entre senadores por São Paulo.

Pelo mesmo recorte, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL), por exemplo, gastou por volta de R$ 10 mil em postos de gasolina e centros automotivos nos últimos três anos. Já Mara Gabrilli (PSD) gastou R$ 26 mil. No caso de Giordano, a maioria das notas está concentrada no Auto Posto Mirante (R$ 183 mil), zona norte da capital paulista, região do escritório político e empresas da família do senador. Outro posto, o Irmãos Miguel consta de reembolsos que somam por volta de R$ 122 mil. O estabelecimento fica na cidade de Morungaba, de menos de 14 mil habitantes, no interior de São Paulo.

O lugar abriga o Hotel Fazenda São Silvano, do qual Giordano é dono. O senador não detalhou por qual motivo concentra tamanho gasto em combustível na cidade. A Folha de S.Paulo também encontrou gastos em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Todas registradas em finais de semana, quatro notas, totalizam gastos de R$ 1.200 no Auto Posto Ipiranguinha, que fica na rodovia Oswaldo Cruz –a reportagem localizou ação judicial do ano passado que cita um imóvel do filho de Giordano, Lucca, em condomínio a cerca de 2 km do local.

Em um dos domingos em Ubatuba, em janeiro de 2023, também foi registrado um gasto R$ 255 com um pedido de um abadejo para dois. Na época desse gasto, o Senado estava em recesso. A reportagem encontrou diversos gastos com refeições aos finais de semana, mesmo durante a pausa do Legislativo. As despesas do senador com alimentação chamam a atenção pela predileção por restaurantes caros, conforme foi revelado pelo Metrópoles.

Em março, há uma nota fiscal de R$ 681 da churrascaria Varanda Grill, na região da Faria Lima, que incluiu dois carrés de cordeiro por R$ 194 cada. Em 2022, o ressarcimento foi de R$ 810 na churrascaria Rodeio, em Cerqueira Cesar, com direito a uma picanha para dois no valor de R$ 385. A lista traz locais como Fogo de Chão, Outback, Jardim Di Napoli e Almanara.

A exigência não vai apenas para os pratos. Uma nota fiscal do restaurante Cervantes traz R$ 144 apenas em seis unidades de água, das marcas premium San Pellegrino e Panna. Em 2018, Giordano declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral. Desafeto de Ricardo Nunes (MDB), Giordano levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas na política.

O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.

 

SENADOR DIZ QUE USA CARROS PARTICULARES PARA ECONOMIZAR

O senador Giordano afirma que os os gastos já foram analisados pelo Senado, pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, sendo que os dois últimos arquivaram procedimento preliminar “por entenderem que não há qualquer ilegalidade nos apontamentos realizados”.

O MPF havia pedido à corte que intimasse o senador após apurar gasto de R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um só dia. O arquivamento aconteceu após explicação de que esse tipo de gasto se referia a 15 dias ou mais, e não a uma única visita.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, aceitou o argumento e ressaltou que os gastos não ultrapassam o limite mensal de R$ 15.000 para este tipo de item. Giordano diz que cota parlamentar contempla também de sua assessoria quando em atividade e afirma que “utiliza e disponibiliza para seus assessores, quando em apoio à atividade parlamentar, os veículos que possui”. Ele afirmou ainda que assessores utilizam, se necessário, os próprios veículos para deslocamentos no âmbito da atividade também.

A resposta aconteceu após a reportagem enviar quatro placas de veículos à assessoria de Giordano, no nome dele, do filho e de empresa da família, que constavam das notas. Ele justifica o uso dos automóveis para “evitar a ampliação do uso da verba de gabinete com aluguéis de veículos” e que os gastos nos postos citados ocorrem por questões logísticas. “Vale ressaltar que este parlamentar não utiliza toda a verba disponibilizada, tendo mensalmente sobras acumuladas”, afirma, em nota.

O senador ainda afirmou que atividade parlamentar não se restringe a dias úteis, “estando o parlamentar em contato constante com sua base para atender às demandas postas”. Giordano também afirmou que os gastos com alimentação ocorrem no exercício de atividades parlamentares e que as refeições mencionadas estão ligadas ao cumprimento do mandato, estando em conformidade com a lei.

A reportagem localizou recibos com placas de veículos em nome do filho do senador, Lucca Giordano, de empresa da família e do próprio parlamentar as notas citam o senador como cliente. A maioria dos comprovantes, porém, não especifica o carro abastecido.

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