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PF busca formas de se tornar mais independente de pressões políticas

Diretor-geral está na linha de tiro do presidente Jair Bolsonaro, em meio à animosidade criada com a corporação, mas o alvo é o ministro Sérgio Moro, que vê o poder minado por intrigas palacianas

Um dos objetivos da corporação é o aumento no número de equipes voltadas para o combate ao crime organizado
(foto: Ed Alves/CB/D.A Press)

Salvador e Brasília — Poucos minutos depois das 8h da última quinta-feira, o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, saiu do elevador em direção ao carro descaracterizado que o levaria do hotel a um shopping na capital baiana. O delegado de classe especial evitou educadamente os jornalistas e seguiu para a principal atividade do dia: uma palestra sobre o combate à corrupção. O discurso era o mais aguardado daquela manhã, afinal, a cabeça do homem estava a prêmio em Brasília, por obra e graça do presidente Jair Bolsonaro.
Valeixo, de maneira fria, limitou-se a analisar a evolução do trabalho técnico da Polícia Federal, a partir do uso da tecnologia dos inquéritos. Não fez qualquer referência à tensão evidente entre os delegados que acompanhavam a palestra. Qualquer palavra sobre a crise sem precedentes que atinge a corporação poderia ser mal interpretada a 1.500km dali, no Palácio do Planalto. Uma confidência havia sido feita antes: “Quem me chamou para o cargo foi o ministro Sérgio Moro. Se ficar preocupado com uma exoneração, não faço o meu trabalho”. Valeixo é apenas uma peça, um marisco, na briga entre o rochedo e o mar, ou melhor, entre Bolsonaro e Moro.
Enfraquecido desde a publicação de supostas das mensagens trocadas com integrantes da força-tarefa em Curitiba, Moro vê o poder minado por intrigas palacianas. Por tabela, Valeixo, o indicado do juiz para o comando da PF, acabou na linha de tiro. Desde a semana retrasada, a tensão entre a Polícia Federal e o Planalto só aumenta. Uma declaração de improviso de Bolsonaro pegou de surpresa os delegados. “Vou mudar, por exemplo, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Motivos? Gestão e produtividade”, disse. Um dia depois, Bolsonaro aumentou o tom, mas teve de recuar.

Tuitada

Os movimentos de Bolsonaro, entretanto, continuaram com uma tuitada na quarta-feira, deixando apreensiva a cúpula da corporação. O presidente, tal qual um incendiário, foi ainda mais fundo. Disse “confiar plenamente” nos ministros, mas que a escolha do diretor-geral da PF é de competência exclusiva dele. Desde a publicação, técnicos do Ministério da Justiça e delegados da PF aguardam a saída de Moro e, por tabela, a queda de Valeixo.
“Um segundo, deixa eu olhar aqui no celular se o DG (diretor-geral) caiu”, disse um delegado lotado na Bahia, num misto de brincadeira e apreensão, durante o Simpósio Nacional de Combate à Corrupção, promovido em Salvador, no fim da semana passada. As consequências da saída de Valeixo são imprevisíveis, principalmente por não existir um nome para substituí-lo, o que deixa a PF em alerta sobre a interferência de Bolsonaro na corporação em escalas grandiosas. “O problema hoje é que estamos lidando com um governante imprevisível, capaz de dar qualquer declaração. É quase impossível traçar um plano de preservação”, ressaltou um delegado lotado no Rio de Janeiro.
Um integrante do alto escalão na Esplanada dos Ministérios, ainda assustado com as declarações de Bolsonaro sobre interferência na PF, afirmou ao Correio que é preciso uma mudança de rota. “Isso não vai dar certo. Alguém precisa convencer o presidente a maneirar o discurso. Abrir uma guerra com a PF não é a ação mais inteligente.” A dificuldade é a escalada das declarações de Bolsonaro, cada vez mais agressivas, que podem levar a relação com os policiais a um caminho sem volta. “Ainda não chegamos a esse ponto, mas é preciso entregar as armas e manter o diálogo.”

Suspeitas

Entre os policiais federais e a própria cúpula do governo, há uma busca pelo interlocutor de Bolsonaro que está insuflando o presidente contra a corporação. Uma das suspeitas iniciais levantadas estaria no filho Eduardo Bolsonaro, escrivão da PF, uma categoria francamente distante da dos delegados. Os policiais mais experientes, porém, apontam para uma segunda hipótese: a de um delegado interessado no jogo de poder desenvolvido no Máscara Negra, como é chamado o prédio da sede da PF em Brasília. E tudo teria começado pelo desejo expressado pelo superintendente do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi.
Durante os últimos meses, Saadi expressou, em vários momentos, a vontade de deixar o cargo e voltar para Brasília. A troca natural seria por Carlos Henrique Souza, lotado em Pernambuco, que, não era segredo para ninguém na corporação, desejava voltar para o Rio de Janeiro, onde já tinha atuado. Paralelo a tal acerto, grupos de delegados se movimentaram para emplacar nomes próprios, distante do que foi acertado com Valeixo. “Essas brigas sempre existiram na PF, não é novidade, mas elas só ocorrem quando há espaço de poder a ser ocupado”, destacou um delegado lotado em Brasília. O fato é que Moro ficou fragilizado mais rápido do que se esperava, abrindo janelas para substituições nas superintendências.
Enquanto a tensão se mantém em alta, Valeixo é aconselhado a não abandonar o cargo, o que representaria uma vitória para Bolsonaro na tentativa de interferência na PF. Ruim com ele, pior sem ele, é a lógica de parte dos delegados, que tenta fazer gestões no Congresso para aprovar um projeto que dê mais autonomia e fixe um mandato para o diretor-geral. Mas as especulações maiores são centradas no tempo que Moro ainda vai resistir na Esplanada. Para uma parcela significativa dos delegados, o ministro está sendo esculachado por Bolsonaro. A partir daqui, entretanto, as opiniões divergem em duas ações diversas de redução de danos: a manutenção no cargo pela inexistência de plano B para o momento e a saída do posto a partir de um pedido formal e uma entrevista coletiva para se explicar à população. Nenhuma das alternativas é totalmente boa para Moro. Todos voltam a concordar.

A corporação

Estrutura
» 10 mil integrantes
» Desses, 5,7 mil são agentes
» 600 em formação
» Número desejado: 15 mil
» 27 superintendências
Orçamento
» R$ 1,3 bilhão
Principais competências
» Polícia marítima, aérea e de fronteiras
» Segurança do presidente e ministros de Estado
» Combate ao tráfico de drogas
» Proteção da segurança nacional
» Atuar em crimes contra a organização do trabalho
Combate à corrupção
» Apoio técnico e científico aos estados e DF
» Coordenação de serviços de identificação
Fonte: Decreto 73.312/73, Federação Nacional dos Policiais Federais

Plano estratégico

Dentro da Polícia Federal existe opinião unânime de que a corporação precisa de mais independência em relação ao Poder Executivo. Os delegados e agentes confiam no ministro Sérgio Moro, mas mantêm receio em relação ao temperamento do presidente Jair Bolsonaro. As declarações recentes, em que ele deixa claro quem manda no governo, ressaltaram a necessidade de uma mobilização interna para garantir a continuidade do trabalho realizado até agora e conquistar outros objetivos, como um aumento no número de equipes voltadas para o combate ao crime organizado.
Uma das medidas é conseguir apoio do Congresso Nacional para que o diretor-geral da corporação tenha um mandato. A ideia é que seja definido um tempo de estabilidade, em que o presidente não poderia, por iniciativa individual, trocar o comando da corporação. Na semana passada, a Proposta de Emenda à Constituição 420, que prevê autonomia para a PF, ganhou um relator. O deputado João Campos (PRB-GO), delegado da Polícia Civil, é quem vai avaliar a proposta. Mas a aceitação da medida dentro da corporação não é unânime.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Luis Boudens, criticou as declarações do presidente e destaca que a PF está subordinada diretamente ao Ministério da Justiça. “Desde o início, nós achamos que houve um atropelo quando ele (Bolsonaro) fez um anúncio da troca na superintendência do Rio. O delegado daquela unidade já tinha intenção de voltar a Brasília para contribuir com essa proposta do governo. Ele trabalhou muito tempo no setor de recuperação de ativos. A mudança já estava definida havia dois meses”, frisou. “A forma como ele anunciou, dizendo que foi uma iniciativa dele, gerou mal-estar. Esse tipo de comentário não pode ser feito em público, tem de ser discutido internamente, com o ministro da Justiça, a quem a PF responde imediatamente.”

Boudens reprova a proposta de emenda à Constituição. “Essa PEC tem a bandeira de autonomia, mas não é. Retira o controle externo da atividade policial. Só interessa a um pequeno grupo na PF. Tem um corporativismo. O ideal seria um projeto de lei que garanta um funcionamento da polícia. Esperamos que seja rejeitada.”

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Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos

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Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva

Joédson Alves/Agência Brasil

Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.

A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.

O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.

“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.

Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.

Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.

Agência o Globo

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Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta

Por

Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida

 

Plenário da Câmara dos Deputados durante a promulgação da reforma tributária ( Roque de Sá/Agência Senado)

 

Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.

Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.

Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.

“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.

Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.

Entenda o contexto

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.

O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.

O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.

O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.

Agência o Globo

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Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias

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Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado em Brasília, em 25/05/2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.

O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.

Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.

Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.

“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.

A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.

Agência Brasil

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