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Saúde

Pesquisas recentes revelam que dormir mal pode comprometer a cognição

Falta de sono também pode tornar as pessoas mais propensas à psicose, por exemplo, além de alterações cardíacas e nos ossos

 

Adotar bons hábitos ao ir para cama, como relaxar e se desligar de eletrônicos, ajuda na saúde global e qualidade de vida – (crédito: Image by tirachardz on Freepik)

 

O sono desempenha um papel crucial na manutenção da saúde geral, sendo essencial para a regeneração física, o equilíbrio mental e a função cognitiva. Enquanto dorme, o corpo realiza processos vitais, como reparação de tecidos, consolidação da memória e regulação hormonal, que são fundamentais para o bem-estar diário. A privação de sono está associada a uma série de problemas de saúde, incluindo aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, depressão e comprometimento do sistema imunológico. Além disso, estudos recentes revelam novos impactos de não dormir.

Uma equipe de pesquisa liderada pela Universidade da Califórnia Irvine, nos Estados Unidos, revelou a ligação entre a frequência de eventos de apneia do sono — quando a respiração é interrompida enquanto a pessoa dorme — durante o estágio de movimento rápido dos olhos (REM) e a gravidade do comprometimento da memória verbal em adultos com risco de Alzheimer.

No ensaio, publicado na revista Alzheimer’s Research & Therapy, foi observado que a apneia durante os estágios REM, em comparação com as fases não-REM, estava mais associada a um pior desempenho da memória. Segundo Bryce Mander, co-autor do estudo e professor associado de psiquiatria e comportamento humano na UC Irvine, “as características específicas da apneia do sono que estão associadas à memória são frequentemente ignoradas ou minimizadas clinicamente”, frisa, em nota.

O trabalho envolveu 81 adultos e idosos. Os participantes passaram por polissonografia — teste que registra atividades durante o sono — e avaliações de memória verbal. Os resultados mostraram que os eventos de apneia durante o REM são um fator crítico para o declínio da lembrança, especialmente em indivíduos com predisposição genética para Alzheimer.

Danilo Sguillar, otorrinolaringologista, médico do sono e membro do Departamento de Medicina do Sono da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, frisa que a relação entre apneia no sono REM e memória se dá, provavelmente, porque é durante o REM que ocorre o maior relaxamento da musculatura. “Com isso, há maiores chances de apneia do sono e consequente queda do oxigênio. Os estudos caminham para o entendimento do porquê a mulher ter mais apneia no sono REM. Os mecanismos ainda não estão totalmente esclarecidos.”

“Precisamos suspeitar de doenças do sono especialmente em idosos. Dessa forma, ao se estabelecer o diagnóstico, o médico direciona o tratamento no intuito de evitar consequências adversas”, completou o especialista.

Rafael Côrtes, cardiologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, detalha que, entre outras consequências, está o risco aumentado de entupimento de vasos do coração, arritmias e hipertensão, além da diabetes e dificuldade de perda de peso. “Estudos recentes sugerem que indivíduos com duração de sono inferior a seis horas por noite têm um risco 20% maior de infarto comparados àqueles que dormem o período recomendado. É imperativo que nos concentremos em estratégias integradas que promovam um sono adequado como um fator de risco modificável.”

O trabalho destacou ainda que mulheres são mais propensas a eventos de apneia no sono REM, o que poderia contribuir para o maior risco de Alzheimer.

Outra investigação mostrou os impactos mentais de problemas ao dormir. Pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, revelaram que crianças que sofrem de falta crônica de sono podem ter um risco maior de psicose no início da vida adulta.

A equipe avaliou dados sobre a duração do sono noturno de um grande estudo que envolveu mais de 12 mil crianças com idades entre seis meses e sete anos e quase 4 mil jovens com 24 anos. Eles descobriram que os pequenos que dormiam menos horas tinham duas vezes mais probabilidade de desenvolver um transtorno psicótico no início da idade adulta e quase quatro vezes mais probabilidade de ter um episódio psicótico.

A autora principal, Isabel Morales-Muñoz, comentou que é normal crianças sofrerem de problemas de sono em diferentes momentos da infância. “Mas também é importante saber quando pode ser a hora de procurar ajuda. Às vezes, o sono pode tornar-se um problema persistente e crônico, e é aqui que vemos ligações com doenças psiquiátricas na idade adulta”, afirma, em nota.

A equipe analisou a saúde geral do sistema imunológico das crianças para ver se deficiências nessa questão poderiam ser responsáveis por algumas das associações entre falta de sono e psicose. Isso foi testado aos nove anos, por meio dos níveis de inflamação em amostras de sangue. Os resultados mostraram que um sistema imunológico enfraquecido poderia explicar parcialmente as ligações entre falta de sono e psicose.

Camila Ferrari, neuropsicóloga especialista em neurociência aplicada à educação na clínica Neurodesenvolvendo, em Brasília, detalha que um bom padrão de sono é um dos pilares para o desenvolvimento correto. “Uma criança que dorme bem tem mais chances de manter o humor estável, emoções reguladas, atenção plena e sucesso na inibição de respostas comportamentais inadequadas.”

Segundo a especialista, também já é conhecida a relação entre o sono e o córtex pré-frontal, área do cérebro responsável pela flexibilidade cognitiva e raciocínio. “A criança que dorme bem tem mais chances de ser um adulto com o aparato emocional, cognitivo e comportamental com prontidão para enfrentar os desafios da vida e ter sucesso.”

Apesar da associação robusta entre falta de sono na infância e psicose, a equipe reconheceu que outros fatores correlatos ao sono infantil e à condição precisam ser explorados.

Osteoporose

Por volta dos 20 anos, as pessoas atingem o pico de densidade mineral óssea, um dos principais determinantes do risco de fraturas mais tarde na vida. Posteriormente, a densidade óssea permanece estável por algumas décadas até que, na transição da menopausa, as mulheres têm uma perda óssea acelerada. Homens também sofrem declínios à medida que envelhecem.

Christine Swanson, autora principal do trabalho e membro do Departamento de Medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, apontou que, assim como a densidade óssea, os padrões para dormir mudam ao longo dos anos.

Swanson explicou que os genes que controlam o relógio interno, o ciclo circadiano (variação nas funções biológicas), estão presentes em todas as células ósseas, e que a reabsorção e formação dos ossos seguem um ritmo diário. Esse padrão sugere a importância da regularidade para o metabolismo ósseo. “Essa ritmicidade é provavelmente importante para o metabolismo ósseo normal e sugere que o sono e os distúrbios circadianos podem afetar diretamente a saúde óssea”, afirmou, em nota.

Para investigar essa relação, a equipe avaliou como os marcadores da renovação óssea respondiam à falta de sono e à perturbação circadiana. Os participantes do estudo viveram em um ambiente controlado, sem saber que horas eram, e foram submetidos a um “dia” de 28 horas. “Essa interrupção circadiana foi projetada para simular o estresse sofrido durante o trabalho noturno rotativo e é aproximadamente equivalente a voar quatro fusos horários para oeste diariamente durante três semanas”, detalhou Swanson.

Os resultados mostraram alterações prejudiciais na renovação óssea em resposta ao sono e ao ciclo circadiano perturbados. O declínio nos marcadores de formação de ossos foi maior em indivíduos mais novos. As mulheres jovens apresentaram aumentos significativos no marcador de reabsorção óssea. Se a formação diminui enquanto a reabsorção se mantém ou aumenta, pode haver perda óssea, osteoporose e maior risco de fraturas.

Leonardo Bandeira, diretor do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia ressalta que é importante manter as recomendações dadas para evitar outros problemas de saúde que a privação de sono pode desencadear. “Esse é mais um problema. Então, é preciso criar medidas para ter uma boa noite de sono, tanto em quantidade de sono, quanto em qualidade. Fazer a chamada higiene do sono.”

Bandeira Salienta que quem não dorme bem vai ter mais cansaço e maior irritabilidade. “Quem passa pela privação de sono têm mais depressão, ansiedade e piora as relações interpessoais.

Em xeque

“Os mecanismos biológicos que ligam o sono inadequado à saúde cardiovascular têm a ver com as alterações decorrentes de um desequilíbrio do sistema que regula os batimentos do nosso coração, o funcionamento dos órgãos internos, regula a pressão e influencia no ajuste fino da frequência do coração e também nos mecanismos de dilatação e de estreitamento dos vasos cardíacos. O sono inadequado e situações de estresse exagerado do sistema nervoso afetam o ritmo circadiano e isso pode comprometer o equilíbrio desse sistema e aumentar a chance de problemas cardiovasculares como descompensação de hipertensão arterial, infarto agudo e arritmias.”

Alexsandro Fagundes, cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Arritmia Cardíaca

Risco de osteoporose

Por volta dos 20 anos, as pessoas atingem o pico de densidade mineral óssea, um dos principais determinantes do risco de fraturas mais tarde na vida. Posteriormente, a densidade óssea permanece estável por algumas décadas até que, na transição da menopausa, as mulheres têm uma perda óssea acelerada. Homens também sofrem declínios à medida que envelhecem.

Christine Swanson, autora principal do trabalho e membro do Departamento de Medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, apontou que, assim como a densidade óssea, os padrões para dormir mudam ao longo dos anos.

Swanson explicou que os genes que controlam o relógio interno, o ciclo circadiano (variação nas funções biológicas), estão presentes em todas as células ósseas, e que a reabsorção e formação dos ossos seguem um ritmo diário. Esse padrão sugere a importância da regularidade para o metabolismo ósseo. “Essa ritmicidade é provavelmente importante para o metabolismo ósseo normal e sugere que o sono e os distúrbios circadianos podem afetar diretamente a saúde óssea”, afirmou, em nota.

Para investigar essa relação, a equipe avaliou como os marcadores da renovação óssea respondiam à falta de sono e à perturbação circadiana. Os participantes do estudo viveram em um ambiente controlado, sem saber que horas eram, e foram submetidos a um “dia” de 28 horas. “Essa interrupção circadiana foi projetada para simular o estresse sofrido durante o trabalho noturno rotativo e é aproximadamente equivalente a voar quatro fusos horários para oeste diariamente durante três semanas”, detalhou Swanson.

Os resultados mostraram alterações prejudiciais na renovação óssea em resposta ao sono e ao ciclo circadiano perturbados. O declínio nos marcadores de formação de ossos foi maior em indivíduos mais novos. As mulheres jovens apresentaram aumentos significativos no marcador de reabsorção óssea. Se a formação diminui enquanto a reabsorção se mantém ou aumenta, pode haver perda óssea, osteoporose e maior risco de fraturas.

Leonardo Bandeira, diretor do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia ressalta que é importante manter as recomendações dadas para evitar outros problemas de saúde que a privação de sono pode desencadear. “Esse é mais um problema. Então, é preciso criar medidas para ter uma boa noite de sono, tanto em quantidade de sono, quanto em qualidade. Fazer a chamada higiene do sono.”

Bandeira Salienta que quem não dorme bem vai ter mais cansaço e maior irritabilidade. “Quem passa pela privação de sono têm mais depressão, ansiedade e piora as relações interpessoais.

Coração em xeque

“Os mecanismos biológicos que ligam o sono inadequado à saúde cardiovascular têm a ver com as alterações decorrentes de um desequilíbrio do sistema que regula os batimentos do nosso coração, o funcionamento dos órgãos internos, regula a pressão e influencia no ajuste fino da frequência do coração e também nos mecanismos de dilatação e de estreitamento dos vasos cardíacos. O sono inadequado e situações de estresse exagerado do sistema nervoso afetam o ritmo circadiano e isso pode comprometer o equilíbrio desse sistema e aumentar a chance de problemas cardiovasculares como descompensação de hipertensão arterial, infarto agudo e arritmias.”

Alexsandro Fagundes, cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Arritmia Cardíaca

Epilepsia

A apneia do sono e os baixos níveis de oxigênio ao dormir estão associados à epilepsia de início tardio, afirma um estudo liderado pela Universidade Johns Hopkins, nos EUA, e publicado na revista Sleep. Para o trabalho, a equipe analisou dados de sono de mais de 1.300 participantes e descobriu que aqueles com saturação de oxigênio abaixo de 80% durante o sono tinham três vezes mais probabilidade de desenvolver epilepsia. A apneia do sono também dobrou esse risco. O estudo sugere que a exposição crônica a pouco oxigênio pode causar alterações cerebrais que aumentam o risco da condição. Embora ainda não se saiba se o tratamento da apneia pode reduzir as chances do problema.

Saúde

Cientistas descobrem gene que pode estar associado à longevidade

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Estudo reforça descobertas anteriores de que a genética pode ser fator para o envelhecimento saudável e melhor qualidade de vida

 

Estudo descobriu gene que pode estar associado a uma melhor qualidade de vida e ao envelhecimento saudável
Cecilie_Arcurs/GettyImages

 

Cientistas descobriram um novo gene que pode controlar o envelhecimento e o tempo de vida de células. O achado, publicado na revista médica Journal of Clinical Investigation em junho, reforça descobertas anteriores de que a genética está relacionada à longevidade e ao envelhecimento saudável.

estudo, realizado por pesquisadores italianos, descobriu que a sequência de DNA humano C16ORF70 codifica uma proteína chamada Mytho. Essa proteína pode estar relacionada a uma melhor qualidade de vida e pode atuar na remoção de proteínas e organelas danificadas, melhorando a homeostase (habilidade dos organismos de manterem seu meio interno estável) celular, segundo os cientistas.

Em outras palavras, a ativação do Mytho pode estimular um envelhecimento saudável e levar à longevidade, já que ela promove a autofagia, um processo de “autodigestão” das células, essencial para combater o acúmulo de danos celulares naturais do envelhecimento.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas realizaram pesquisas computacionais para identificar genes no genoma humano que poderiam ter relevância nos mecanismos que controlam a qualidade das proteínas e das organelas. “Entre os vários candidatos, a equipa focou-se num gene que se destacou por ser extremamente conservado entre diferentes espécies animais, desde humanos a vermes, chamado C16ORF70/Mytho”, explica Anais Franco Romero, co-autor do estudo.

Por meio de experimentos de manipulação genética, realizados em vermes da espécie Caenorhabditis elegans (comumente utilizados em estudos sobre genética, por terem diversos genes em comum com os humanos), os pesquisadores demonstraram que a inibição desse gene causa a senescência celular precoce (fase em que as células param de se replicar) e o encurtamento da vida útil. Por outro lado, a ativação do gene melhora a qualidade de vida e permite um envelhecimento saudável.

“Depois de anos de estudos, conhecemos algo sobre o nosso genoma, mas a função da maior parte do nosso código genético ainda é desconhecida”, sublinha Marco Sandri, professor do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade de Pádua e pesquisador principal do Instituto Veneto de Medicina Molecular (VIMM).

“Um exemplo são os genes que codificam proteínas, dos quais mais de 5.000 de um total de 20.000 são completamente desconhecidos. Por isso, nos últimos anos temos utilizado recursos e energia para caracterizar este mundo desconhecido do nosso DNA”, completa.

Segundo os pesquisadores, o gene está presente no DNA de todos os humanos e de outros seres vivos também, desde pequenos organismos, como os vermes utilizados no estudo, até animais silvestres. Os resultados do estudo sugerem que a ativação do Mytho poderá ser usada, futuramente, em intervenções específicas para promover a longevidade. No entanto, mais estudos são necessários para compreender como realizar essa expressão e entender se o Mytho poderia estar envolvido em outras funções relacionadas à longevidade.

Queijo pode colaborar com envelhecimento saudável e feliz, diz estudo

CNN

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Saúde

Genética pode influenciar se café é bom ou ruim para saúde, diz estudo

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Pesquisadores também descobriram que variantes genéticas relacionadas ao maior consumo de café estão associadas ao maior risco de desenvolver obesidade

 

Estudo analisou dois bancos de dados para avaliar relação entre genética, consumo de café e saúde
Stefania Pelfini, La Waziya Photography/GettyImages

 

Um novo estudo aponta que a genética pode influenciar tanto na quantidade de café consumido por uma pessoa, quanto na possibilidade de esse consumo trazer efeitos positivos ou negativos à saúde. O trabalho foi publicado na revista Neuropsychopharmacology, em junho.

Apesar de não responder com certeza à pergunta: “O café é bom ou ruim?”, a pesquisa revela conexões importantes entre genética, consumo de café e a sua relação com a obesidade. Os pesquisadores também descobriram ligações entre o consumo da bebida e condições de saúde mental, apesar de serem relações menos diretas.

A quantidade de café ou cafeína que uma pessoa consome pode ser parcialmente herdada dos pais. Segundo pesquisas anteriores, realizadas com gêmeos, características relacionadas à cafeína são de 36% a 58% hereditárias. Essa foi uma das questões abordadas pelo atual estudo.

“Tínhamos bons motivos para suspeitar, a partir de artigos anteriores, que havia genes que influenciavam a quantidade de café que alguém consome”, afirma Abraham Palmer, um dos principais autores do estudo e professor do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da UC San Diego, em comunicado à imprensa.

“Portanto, não ficamos surpresos ao encontrar evidências estatísticas de que essa é uma característica hereditária em ambas as coortes que examinamos. Em outras palavras, as variantes genéticas específicas que você herda de seus pais influenciam a quantidade de café que você provavelmente consumirá”, completa.

Relação entre genética, café e obesidade

Para entender se o café é bom ou não para a saúde — e como a genética pode determinar isso –, os pesquisadores realizaram um “estudo de associação do genoma inteiro” (GWAS), que analisa genomas completos dos participantes para identificar as variantes genéticas associadas a uma determinada característica. Para fazer esse estudo, a equipe coletou dados genéticos e informações sobre o consumo de café auto-relatado.

Para juntar todos esses dados, os pesquisadores utilizaram dois bancos de dados e compararam suas informações: 23andMe, com 130.153 participantes dos Estados Unidos, e do UK Biobank, com 334.649 participantes do Reino Unido. Em ambas as pesquisas, os cientistas encontraram evidências de uma disposição genética para o consumo de café e identificaram genes específicos que influenciam o consumo de café e a rapidez em que a cafeína é metabolizada.

Além disso, os pesquisadores descobriram que os participantes que carregam variantes genéticas relacionadas ao maior consumo de café tinham maiores chances de desenvolverem obesidade. No entanto, isso não significa que quem toma bastante café será obeso, mas, sim, que os fatores genéticos que influenciam no consumo de café também podem influenciar no desenvolvimento da doença.

Relação entre café e saúde mental foi menos clara

Por outro lado, quando os pesquisadores analisaram a relação entre consumo de café e doenças psiquiátricas, os resultados foram menos claros.

“Olhe para a genética da ansiedade, por exemplo, ou bipolaridade e depressão: no conjunto de dados do 23andMe, elas tendem a ser geneticamente correlacionados de forma positiva com a genética do consumo de café”, explicou Hayley H. A. Thorpe, autora principal do estudo e pesquisadora do Departamento de Anatomia e Biologia Celular da Schulich School of Medicine and Dentistry da Western University em Ontário. “Mas então, no UK Biobank, você vê o padrão oposto, onde eles são geneticamente correlacionados de forma negativa. Isso não era o que esperávamos”.

Os pesquisadores têm algumas teorias do porquê surgiram diferenças nos resultados. O primeiro fator poderia estar nas perguntas realizadas aos participantes por cada pesquisa. A 23andMe, por exemplo, perguntava: “Quantas porções de 5 onças (tamanho de uma xícara) de café com cafeína você consome por dia?”, enquanto na UK Biobank, a pergunta era: “Quantas xícaras de café você bebe por dia? (Inclua café descafeinado)”.

Além disso, as pesquisas não incluíram diferentes preparações de café. “Sabemos que, no Reino Unido, eles geralmente têm uma preferência maior por café instantâneo, enquanto o café moído é preferido nos EUA”, opinou Thorpe. Os pesquisadores também observaram que os norte-americanos têm preferência por bebidas açucaradas, como frappucinos.

Em outras palavras, isso significa que, mesmo se duas pessoas tivessem genes idênticos relacionados ao consumo de café, seus hábitos poderiam ser diferentes se tivessem nascido no Reino Unido ou nos Estados Unidos. Ou seja, o ambiente em que uma pessoa está inserida também pode ter um efeito em como ela age.

Apesar dos achados, os pesquisadores ressaltam a necessidade de serem feitos mais estudos para desvendar as relações entre genética e ambiente, focando não apenas na ingestão de café/cafeína, mas também em outras questões de uso de substâncias.

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Saúde

Metade das malformações vasculares é diagnosticada de forma errada

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Erro pode atrasar tratamento e expor paciente a riscos desnecessários

 

National Cancer Institute/Unsplash

 

A maioria dos casos de malformação vascular é diagnosticada erroneamente como hemangiomas, que são tumores vasculares da infância. O diagnóstico errado causa atrasos no tratamento adequado e, às vezes, exposição dos pacientes a medicações e cirurgias desnecessárias.

Por isso, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular-Regional São Paulo (Sbacv-SP) alerta sobre a dificuldade, o desafio e a necessidade de uma avaliação correta desses casos, que fazem parte de um grande grupo de doenças subdivido em tumores e malformações vasculares. Estima-se que as malformações vasculares acometam 1% da população e os hemangiomas, de 4% a 5% dos recém-nascidos.

“As anomalias vasculares são pouco abordadas durante as graduações na área da saúde. Portanto, a maioria dos médicos, enfermeiros e fisioterapeutas nunca se deparou com essas doenças e pode ter dificuldade em diagnosticá-las e classificá-las adequadamente. Qualquer mancha visível com coloração avermelhada ou arroxeada já é chamada de hemangioma pelo público leigo e, muitas vezes, até por profissionais da saúde. É fácil confundir quando não se tem nenhum conhecimento prévio sobre o assunto, mas um olhar mais cuidadoso pode revelar informações importantes para um diagnóstico correto”, explicou a cirurgiã vascular e vice-diretora científica da Sbacv-SP, Luísa Ciucci Biagioni.

As duas anomalias têm características, evolução e tratamento muito diferentes e, por isso, é essencial saber classificá-las. Enquanto os hemangiomas são tumores benignos mais comuns na infância e proliferam desde as primeiras semanas de vida, com crescimento rápido nos primeiros meses e diminuindo sexto ao 12º mês de vida. As malformações vasculares são estruturas malformadas, não tumorais, que se desenvolvem no período embrionário e crescem junto com o indivíduo.

“Estima-se que de 5% a 10% dos hemangiomas da infância possam ter complicações como crescimento desproporcional, feridas, sangramento e infecções. A maior parte deles cresce e involui lentamente dos 8 aos 12 meses. Podem deixar uma pequena cicatriz, com ou sem vasinhos residuais. Os hemangiomas congênitos raramente podem evoluir com complicações como inchaço, sangramento, dor local, consumo leve de plaquetas. Na maioria das vezes, não desaparecem espontaneamente e podem necessitar de cirurgias para ressecção”, explicou Luísa.

Segundo a médica, as malformações vasculares são caracterizadas por vários tipos de lesões, desde pequenas manchas capilares até lesões mais extensas que atingem todo o corpo. As malformações menores e mais localizadas, com fluxo lento, como as capilares, linfáticas e venosas, são facilmente tratadas e raramente causam complicações. Às vezes, podem estar acompanhadas de outras deformidades, como hipertrofia do membro, alterações musculares e esqueléticas e alterações neurológicas ou oculares. Quando extensas, podem ter complicações como infecção, sangramento, tromboembolismo venoso, prejuízo na locomoção e dor crônica.

No caso dos hemangiomas, as lesões são abauladas, com coloração rosa ou avermelhada (aspecto de morango), apresentando vasos finos na superfície e, às vezes, um círculo pálido ao redor. Eles acometem principalmente meninas, em uma proporção de quatro para um, sendo mais frequentes na região da face e do tronco. Os mais extensos podem deixar cicatrizes esbranquiçadas na pele e vasinhos superficiais. A maioria dos pacientes com hemangioma infantil não desenvolve comprometimentos significativos. Apenas uma pequena parte apresenta problemas como úlceras, sangramentos ou infecções. As lesões próximas ao olho ou nas pálpebras, ponta do nariz e região genital podem apresentar maior taxa de complicações, como prejuízo no desenvolvimento das estruturas locais e ulcerações.

“O diagnóstico correto é fundamental para que a família e o paciente comecem a compreender a condição e para que o médico possa traçar um planejamento adequado de tratamento, que pode variar da observação clínica até uma intervenção com cirurgia ou embolizações. Muitos pacientes são submetidos a tratamentos inadequados. Às vezes, há sequelas e complicações graves, como sangramentos e lesão de estruturas saudáveis, como nervos e músculos,” esclareceu a especialista.

Causas e tratamento

A médica explicou que a maior parte das malformações vasculares é causada por uma mutação nos genes que regulam a comunicação no interior da célula e o desenvolvimento de vasos sanguíneos e ou linfáticos. A mutação acontece por volta da quarta semana de vida do embrião e não é herdada dos pais, com apenas 5% das malformações sendo causadas por herança familiar.

Já os hemangiomas da infância não têm uma causa exata descrita na literatura médica, mas algumas teorias tentam explicar seu surgimento, como migração de células placentárias para o feto e migração de células endoteliais progenitoras após situações de estresse com baixa oxigenação.

De acordo com Luísa, os tratamentos são feitos de acordo com o tipo de lesão e os sintomas apresentados pelos pacientes, com o uso de medicações específicas para controle do crescimento dos hemangiomas da infância e uso de laser nos casos de lesão residual. Para as malformações, o tratamento podem ser com embolizações, cirurgias, medicações específicas para o controle de complicações, fisioterapia e uso de terapia compressiva para reduzir o edema e a dor, entre outros procedimentos.

Luísa Biagioni informou que, após avaliação clínica e exames complementares, as prioridades de tratamento são definidas em conjunto com a família e o paciente. “Para algumas condições, optamos apenas pelo acompanhamento clínico, enquanto para outras usamos terapias com medicamentos analgésicos, anticoagulantes ou terapias específicas. Lesões menos graves podem ser tratadas por cirurgiões especializados em problemas vasculares. Já para malformações vasculares como venosas, linfáticas ou arteriovenosas, podemos recorrer a tratamentos percutâneos ou endovasculares.”

Agência Brasil

 

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