Brasil
Parecer técnico do TCU vê erros no Auxílio Brasil, com inclusão indevida de beneficiário
Documento, que será submetido ao plenário da corte, aponta pagamento indevido a 3,5 milhões de famílias incluídas em agosto e vê fins eleitoreiros na medida. Bolsa Família é mais eficiente, diz
O Auxílio Brasil criado pelo presidente Jair Bolsonaro em substituição ao Bolsa Família não passou no crivo da aérea técnica do Tribunal de Contas da União (TCU). Ao analisar o programa pela primeira vez, os auditores concluíram que o benefício no valor de R$ 600 não ajuda a reduzir a pobreza e a desigualdade. Ao contrário, privilegia famílias com apenas uma pessoa, em detrimento dos lares com crianças e adolescentes.
O alerta ocorre no momento em que o futuro governo negocia com o Congresso a aprovação da “PEC de transição” para dar continuidade ao pagamento do benefício em seu valor atual, que passou a ser de R$ 600, e não mais de R$ 400, em agosto, às vésperas das eleições. O adicional de R$ 200 tem previsão de recursos orçamentários somente até o fim deste mês.
O parecer da equipe técnica, ao qual O GLOBO teve acesso, aponta pagamentos indevidos na inclusão de 3,5 milhões de famílias em agosto, sob o pretexto de zerar a fila, mas que no fundo tinha por objetivo impulsionar a campanha de Bolsonaro na disputa pelo segundo mandato. O relatório ainda será submetido ao plenário do TCU.
A quantidade de famílias beneficiadas pelo Auxílio Brasil aumentou de 18,02 milhões em março deste ano para 21,13 milhões em outubro. No entanto, as análises realizadas estimam, de maneira conservadora, que o universo de famílias elegíveis era menor, de 17,62 milhões de famílias, segundo o relatório.
Os auditores alertam que o Cadastro Único, base de dados utilizada pelo Ministério da Cidadania para autorizar os pagamentos, não foi atualizado devidamente após a pandemia. Durante o período de isolamento social necessário para conter o surto do coronavírus, a visita de assistentes sociais aos domicílios ficou suspensa.
O Auxílio Brasil foi criado em agosto de 2021 e começou a rodar em novembro. O volume de pagamentos fiscalizados somou R$ 114,2 bilhões, com previsão de chegar a R$ 153,8 bilhões no próximo ano, mantidas as condições atuais.
Um dos principais problemas do programa é que o auxílio de R$ 600 atende a diferentes famílias pelo mesmo valor, independentemente do número de membros – o mesmo critério do Auxílio Emergencial pago durante a pandemia da Covid.
Ineficiência do programa
Os técnicos apontam que a piora na gestão do cadastro levou a uma fragmentação das famílias com o objetivo de obter maior rendimento do programa.
“A maior evidência é a duplicação da quantidade de famílias unipessoais beneficiárias desde 2020”, diz o documento, acrescentado que os dados populacionais do IBGE não confirmam esse tipo de mudança no perfil da população brasileira.
De acordo com o relatório, a suspensão das revisões e averiguações no Cadastro desde a pandemia até fevereiro deste ano ainda não foram retomadas integralmente. Com isso, o nível de atualização desse cadastro caiu de 85,3% em janeiro de 2019 para 58,3% em outubro de 2021.
‘Menos eficiente que o Bolsa Família’
O universo de famílias com apenas uma pessoa chegou a 4,92 milhões – o que representa 24,4% do total. Com duas pessoas, 5,35 milhões (26,5%). Famílias com três pessoas, 5,03 milhões (24,9%); com quatro pessoas, 2,92 milhões (14,5%) e com cinco pessoas ou mais, um grupo de 1,02 milhões (6%). O universo de família com mais de seis pessoas foi de 747 mil, ou 3,7% do total.
Segundo o relatório, o benefício de R$ 400 somado aos R$ 200 acabou por gerar maior desigualdade de renda per capita entre os beneficiários do Auxílio Brasil.
Os técnicos usaram como referência a linha de pobreza adotada pelo Banco Mundial (renda per capita de US$ 5,50 por dia) para estimar o impacto do programa. Considerando os R$ 600 de valor de benefício, o custo para a reduzir a pobreza no país em um ponto percentual foi estimado em R$ 1,72 bilhão por mês.
Se fosse adotado o desenho do Bolsa Família, este custo seria menor, de R$ 1,43 bilhão.
“Conclui-se que o Auxílio Brasil é menos eficiente no combate aos índices de pobreza do que o Bolsa Família”, diz o parecer.
Erro na inclusão das famílias
Em comparação com os pagamentos do Bolsa Família de 2019 até 2021 e do Auxílio Brasil no mesmo ano, as estimativas indicam que, em 2022, houve uma inversão no foco do programa.
Enquanto até dezembro de 2021 o número de beneficiários era menor do que o público-alvo estimado, havendo um possível erro de exclusão de famílias elegíveis, a partir de fevereiro de 2022, a quantidade de beneficiários superou a estimativa de famílias elegíveis, “indicando a ocorrência de possíveis erros de inclusão indevida”.
Os técnicos apontam ainda que dois benefícios criados pelo Auxilio Brasil, o Criança Cidadã, que prevê valor adicional famílias com crianças pequenas, e o Bônus de Inclusão Produtiva Urbana, uma espécie de porta de saída para estimular a formalização dos beneficiários, não saíram do papel.
Além de dar continuidade ao benefício de R$ 600, o futuro governo pretende incluir na “PEC de transição” pagamento de um valor adicional de R$ 150 para famílias com crianças de até seis anos de idade.
A área técnica do TCU recomenda que o Ministério da Cidadania faça um redesenho do programa para que o auxílio alcance as famílias em situação de vulnerabilidade. Sugere ainda que feita uma investigação dos problemas para focalizar o programa e a regularização da gestão de qualidade do Cadastro Único.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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