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Papa volta a enviar perito para apurar abusos

Papa Francisco defendeu o bispo Juan Barros Madrid, acusado de acobertar crimes de outro religioso, Fernando Karadima

Angelo Carconi/EFE

Preocupado – e até irado, por ter sido enganado em alguns casos, como dizem assessores próximos -, Papa Francisco nomeará, nesta quinta-feira (14),  uma nova comissão de peritos para investigar abusos na Igreja. Nesta quarta-feira, 13, uma nova operação policial contra 14 sacerdotes mirou o Tribunal Eclesiástico de Santiago. Enquanto isso, quase 2 mil casos de denúncias contra o clero por abuso sexual se acumulam no Vaticano, sem definição.

Procurado para falar sobre o assunto, oficialmente o Vaticano afirma que continua trabalhando nos casos do Chile e destaca a nova comissão que será enviada para “investigar e aprofundar as investigações sobre os abusos”. Nesta quarta, a polícia fez uma operação policial em Santiago para obter documentos da Igreja na investigação de abusos sexuais ocorridos por anos em Rancagua (a 80 km ao sul de Santiago). Ali, 14 padres são acusados de envolvimento em abusos sexuais em uma escola.

As denúncias de abuso datam de 2007 e há poucas provas a respeito – por isso, a busca e apreensão envolvem até o Tribunal Eclesiástico. “Ninguém está à margem da lei”, afirmou o fiscal regional de O’Higgins, Emiliano Arias. O caso voltou a público na semana passada e, preventivamente, a Santa Sé suspendeu os 14 religiosos.

Ainda em Santiago, como enviado do papa para acompanhar a situação naquele país, o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, defendeu colaboração da Igreja com a sociedade civil. “O abuso de menores não é somente um delito canônico, também é um delito civil.” Como resposta conjunta, será aberto um escritório somente para receber denúncias de abuso.

Escândalo

A discussão sobre o tema foi ampliada este ano. Em janeiro, Francisco defendeu o bispo Juan Barros Madrid, acusado de acobertar crimes de outro religioso, Fernando Karadima. Antes, em 2015, ele já havia escolhido Barros para liderar uma importante diocese no país e passou a insistir que não existiam provas contra ele.

Karadima foi quem supostamente abusou do chileno José Andres Murillo, ainda em sua infância. Outra vítima, o britânico Peter Saunders contou à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo que, ainda em 2015, levou o caso para a atenção do Vaticano. “A resposta que eu recebi dos cardeais era que o papa não teria tempo em sua agenda para avaliar uma situação em um lugar obscuro do mundo”, disse. “Esse tal lugar obscuro do mundo hoje está causando um problema enorme”, completou.

Em maio, o líder da Igreja mudaria seu tom. O que causou isso foi o resultado de uma investigação que Francisco encomendou em total sigilo e resultou em 2,3 mil páginas de uma detalhada avaliação. Ao concluir a leitura do informe, o papa enviou carta aos bispos sul-americanos, descrevendo sua “dor e vergonha”.

Dentro do Vaticano, aliados do papa insistem à reportagem que ele foi enganado. Tal ira foi traduzida em um comunicado em que reconheceu que cometeu “sérios erros de avaliação e de percepção sobre a situação, especialmente por causa da falta de informação verdadeira e equilibrada”. Em público, ele pediria perdão pelos “graves erros” – que levariam à renúncia coletiva dos bispos chilenos. Três renúncias foram aceitas nesta semana: Juan Barros, de Osorno, Gonzalo Duarte e Cristian Caro de Puerto Montt.

Orgulho

Conforme a reportagem apurou, apenas em 2012, último ano antes da posse de Francisco, a Santa Sé recebeu informações sobre 612 casos de abusos – 418 deles eram contra crianças. Nos anos entre 2006 e 2012, 3 mil casos contra o clero foram apresentados à cúpula da Igreja. Em 2014, no segundo ano de Francisco, muitos começaram a ver uma resposta para a questão dos abusos. Uma das vítimas de abusos por padres na adolescência, o britânico Peter Saunders contou à reportagem que se sentiu orgulhoso da Igreja quando Francisco decidiu criar uma comissão a respeito. E ainda mais impressionado quando o Vaticano o convidou a fazer parte da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores. “Eu sinceramente acreditei que algo seria feito”, disse.

“Mas eu fazia muitas perguntas e, um dia depois de um ano e meio, questionei o Vaticano sobre o que exatamente que havíamos avançado”, afirmou ele. No dia 16 de fevereiro de 2015, Saunders foi convidado a se retirar da comissão, sob o pretexto que ele deveria “refletir melhor” sobre como iria ajudar nos trabalhos. “Até aquele momento, o papa nunca tinha ido a uma reunião da comissão e, em uma das oportunidades que eu tive, o questionei sobre sua ausência.”

Quanto ao trabalho da Comissão para a Proteção de Menores, o Vaticano indica que, em seus primeiros quatro anos, o órgão “trabalhou com mais de 200 dioceses e comunidades religiosas no mundo para criar uma consciência e educar pessoas sobre a necessidade de proteção em casas, paróquias, escolas, hospitais e outras instituições”. Para a entidade, introduzir uma cultura de prevenção continua sendo “o objetivo e maior desafio”.

Punições

O que incomoda ainda as vítimas é que as punições não têm sido exemplares. Em 2014, Silvano Tomassi, embaixador do Vaticano na ONU, declarou que a Santa Sé investigou 3,4 mil casos entre 2004 e aquele ano – e 848 padres foram destituídos. Mas outros 2,5 mil apenas foram enviados a mosteiros para que tenham uma vida de “oração e penitência”.

Para o francês François Devaux, também vítima de abuso sexual em sua infância em uma Igreja de Lyon, a estimativa é de que entre 4% e 5% dos padres no mundo podem estar envolvidos em algum tipo de crime. Na Austrália, os dados oficiais de uma investigação apontaram para 7% dos padres.

A avaliação de Devaux é de que a pressão popular tem obrigado o Vaticano a reagir. “Mas pedimos medidas urgentes”, disse. “Não queremos destruir a Igreja. A questão agora é como o papa vai lidar com o que ele mesmo reconheceu ser um problema”, completou

O chileno José Andres Murillo, um dos que denunciaram a situação em seu país ao papa Francisco e foi vítima de abusos, confirmou à reportagem a resistência que ainda existe dentro do Vaticano para tratar do assunto. “Em um encontro que tive com o papa, eu sugeri que ele olhasse o que estava ocorrendo também na África. Mas ele me disse que não achava que ali era um problema grande. Eu lhe disse: o senhor está errado.”

Lição

Murillo ainda rejeita a tese de que Francisco não tinha informação sobre o que ocorria no Chile. “É impossível. Eu mesmo lhe entreguei tudo.” Mas a esperança, interna e mesmo entre as vítimas, é que o caso sirva de “lição” ao papa e o ajude a mudar de uma forma permanente sua convicção.

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Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

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Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Mundo

Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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