Economia
Os riscos de uma recessão global e como isso pode mexer com o Brasil
Sinais negativos nas maiores economias do mundo e guerra comercial estão gerando tensão nos mercados e o Brasil não ficou de fora
São Paulo – Dólar acima dos 4 reais. Bolsa abaixo dos 100 mil pontos. O cenário assustador no mercado brasileiro é em grande parte reflexo de uma tensão global.
Todas as principais bolsas do mundo acumulam quedas em agosto até agora, indo de -1,79%, no índice chinês Shangai até -6,09% no índice FTSE 100, do Reino Unido.
Além dos fatores internos, o temor é que uma nova recessão esteja no horizonte. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu sua estimativa do PIB global para 2019 de 3,3% para 3,2%. O número fica perigosamente perto dos 3%, abaixo do qual se configura uma recessão.
Sinais vermelhos estão se acendendo em várias economias. Um dos mais relevantes é a inversão, no último dia 14, na curva dos juros dos títulos da dívida pública de curto e longo prazo dos Estados Unidos.
Em condições normais, é de se esperar que o retorno de um investimento mais longo seja maior do que o retorno de um investimento mais curto. Se o prêmio do título de curto prazo supera o do longo prazo, isso significa que há um cálculo de que o crescimento vai ser mais baixo no futuro.
A inversão da curva assusta porque também antecedeu as últimas sete recessões americanas: a última foi há 12 anos, um ano antes da quebradeira financeira que gerou a crise de 2008, mas já houve alarmes falsos.
Vários especialistas apontam a atual guerra comercial entre EUA e China, as duas maiores economias do planeta, como um dos principais fatores para a falta de confiança.
O Federal Reserve ressaltou nessa semana que a incerteza comercial, junto com o fraco crescimento mundial, pode levar a uma desaceleração da economia americana.
Isso já está acontecendo na China, que anunciou o ritmo de crescimento mais baixo dos últimos 27 anos. O país está consumindo e exportando menos em parte por causa do conflito com os americanos.
Na Europa, os dirigentes discutem possíveis estímulos à atividade. A intenção foi confirmada pela ata do Banco Central Europeu (BCE) da reunião de julho divulgada na quinta-feira (22).
A Alemanha, maior economia da Europa e conhecida pela obsessão com um orçamento equilibrado, está dando sinais de que vai abrir os cofres diante do risco de já ter entrado em recessão. O resultado do segundo trimestre sai na terça-feira.
“A Alemanha é uma máquina exportadora e, entre os países da Europa, é o que mais está sofrendo com a desaceleração do comércio”, diz o professor de macroeconomia do Insper Gino Olivares.
Risco de recessão
A avaliação de que uma desaceleração mais intensa está na esquina é controversa. O Itaú Unibanco avalia o risco de uma recessão global como baixo pois, se de um lado há uma comércio mais fraco, de outro há sinais positivos, como um mercado de trabalho muito aquecido nos EUA.
“Isso significa que o consumidor norte-americano vai segurando as pontas”, disse o economista-chefe da instituição, Mário Mesquita a jornalistas nessa semana.
“Mesmo na Alemanha, onde o setor de manufaturas também está contraindo há alguns meses, o de serviço se mantém razoavelmente bem”, acrescenta Gino Olivares.
Ele também não acredita que o mundo viverá uma recessão no médio prazo. As expansões acabam, explica Olivares, quando existe um fator que dispara um ajuste.
“Na maioria dos casos, esse fator é a inflação”, diz ele. Mas quase todos os países do mundo estão com a inflação baixa; as exceções pontuais, como Argentina e Venezuela, são aqueles com crises internas.
Dentre os países que praticam meta de inflação o único que ainda não cortou os juros recentemente foi a Colômbia, que deve anunciar corte até o fim do ano.
A inflação baixa traz uma preocupação pelo outro lado: uma década de juros baixos depois, o arsenal dos bancos centrais já foi utilizado e a inflação nunca subiu muito, o que é inédito. Há uma ansiedade sobre qual é o poder de fogo restante para a política monetária no caso de um tombo mais sério.
E o Brasil com isso?
Por ser um grande exportador de commodities, como soja e minério de ferro, o Brasil também sofre com a desaceleração do comércio. A China é o principal destino dos envios brasileiros e em segundo lugar vêm os EUA.
“Só a perspectiva de menor crescimento mundial já influencia o preço dos insumos e a quantidade que é exportada”, explica Mauro Rochlin, economista e professor dos MBAs da FGV.
O segundo tipo de impacto que o Brasil sofre com a desaceleração é por meio do fluxo de capitais estrangeiros.
“Estamos falando tanto do capital que é direcionado para o setor produtivo, quanto do capital financeiro, como o dinheiro que entra na bolsa de valores”, diz Rochlin.
O desafio brasileiro, segundo Gino, é que o Estado está sobrecarregado financeiramente e endividado e portanto precisaria ter seu crescimento puxado pelo investimento privado, que dá sinais de fraqueza.
Com restrição ao gasto, o Itaú acredita que o Banco Central do Brasil ainda tem espaço para reagir a uma crise externa reduzindo os juros.
“Não acho que estamos em uma crise internacional, mas isso pode acontecer, e o BC já tem condições de reagir a uma piora no ambiente externo, o que ele já começou a fazer”,diz Mesquita.
Na semana passada, em evento do Santander com empresários, Guedes também reforçou que o Brasil está preparado para a turbulência global.
“Durante os últimos 15 anos o mundo estava crescendo aceleradamente e nós não estávamos participando disso. Agora pode ser o contrário”, disse o ministro.
“Nós não devemos temer o efeito contágio, o Brasil tem uma dinâmica própria. É uma ventania que incomoda um pouquinho”, completou.
O termo gerou comparações imediatas com a “marolinha” citada por Lula quando estourava a crise mundial em 2008. Se agora é vento ou furacão, só tempo dirá.
Economia
Carteira de dividendos: veja os papéis mais recomendados para julho
A Petrobras foi a empresa mais indicada pelas instituições financeiras consultadas pela CNN para compor a carteira de melhores pagadoras de dividendos em julho.
O levantamento considerou as avaliações de Santander, Empiricus, XP, Guide, Ativa e BTG Pactual.
Os papéis mais recomendados foram:
- 5 recomendações: Petrobras;
- 4 recomendações: Banco do Brasil, CPFL e Vale;
- 3 recomendações: BB Seguridade, Eletrobras e Itaú.
Após um impasse sobre o pagamento ou não de dividendos extraordinários, o conselho de administração da Petrobras aprovou em abril o repasse de 50% do valor total, referente ao exercício de 2023.
Com a distribuição, a equipe de analistas do Santander avalia manter o peso dos papéis da estatal em sua carteira. Já o BTG, optou por ampliar sua exposição à estatal.
“Embora a companhia esteja sinalizando maiores investimentos, a verdadeira questão para nós é se esse aumento em potencial poderia sacrificar a capacidade da empresa de distribuir dividendos substanciais, e acreditamos que não”, aponta a equipe do BTG em relatório.
Momento de incertezas
O Ibovespa encerrou o pregão de sexta-feira (28), o último de junho, em queda de 0,32% no dia. Apesar de ter acumulado alta de 1,47% no mês, o índice caiu 7,66% no primeiro semestre deste ano.
O que se avalia é que as incertezas se mantém e o mercado seguirá se pautando por elas.
“O cenário local segue girando em torno da dificuldade do governo em convencer o mercado quanto ao seu comprometimento fiscal”, aponta a Ativa Investimentos em relatório.
O governo trabalha com a meta de zerar o déficit neste ano e no próximo — após alterar a meta de 2025, o que não foi favorável para a imagem de responsabilidade fiscal.
Apesar de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assegurar que o arcabouço será cumprido, o mercado vê o déficit primário em 0,7% do Produto Interno Bruto neste ano.
Lula se reuniu nesta quarta-feira (3) com ministros da área econômica do governo. Após o encontro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o presidente mantém seu compromisso com as contas públicas.
“A primeira coisa que o presidente determinou é ‘cumpra-se o arcabouço fiscal’. Não há discussão sobre esse respeito. Em 2024, 2025, 2026, o compromisso nosso é de cumprimento das leis complementares de finanças públicas”, comentou Haddad.
Segundo o chefe da equipe econômica, o governo realiza desde março um estudo entre os ministérios buscando despesas que podem ser cortadas. De acordo com Haddad, foram identificados R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias, cujo corte, segundo o ministro, já foi autorizado pelo presidente.
O economista-chefe da XP Inc., Caio Megale, apontou em entrevista ao WW de terça-feira (2) que além da questão fiscal, outro imbróglio do cenário doméstico também segue na mira do mercado: a questão monetária.
“Essa transição para o próximo presidente [do BC] é uma espada, de fato, na cabeça. A gente não sabe exatamente quem vai ser a próxima ou o próximo presidente, qual vai ser a visão de política monetária que essa pessoa vai ter na hora de conduzir a taxa de juros, de tomar as decisões”, pontuou Megale.
“Acho que dar uma clareza e maior transparência de como vai ser a gestão da política monetária depois da transição do Roberto Campos e medidas efetivas no sentido de controlar as despesas do lado fiscal, eu acho que é o que vai trazer uma tranquilidade [para o mercado].”
Economia
Venda de veículos eletrificados cresce 146% no primeiro semestre de 2024
Entre janeiro e junho, comercialização de automóveis registrou cerca de 79 mil vendas, de acordo com relatório da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE)
O comércio de automóveis movidos a eletricidade segue em crescimento no Brasil. No primeiro semestre de 2024, a venda de veículos leves eletrificados alcançou um total de 79.304 unidades em todo o país. Somente no último mês de junho, foram registrados 14.396 novos emplacamentos, o que representa a terceira melhor marca para um mês de toda a série histórica.
O número maior de vendas na metade inicial do ano indica um crescimento de 146% em relação ao primeiro semestre de 2023, e de 288% na comparação com o mesmo período de 2022. Além dos automóveis totalmente elétricos, também são incluídos na estatística os veículos parcialmente eletrificados – ou híbridos. Os dados foram levantados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e divulgados nesta quarta-feira (3/7).
Com o avanço do número de vendas, a ABVE estima que o Brasil já atingiu a marca de 300 mil veículos comercializados desde o início da série histórica do levantamento, em 2012. Além disso, a previsão da associação para 2023 é que mais de 150 mil automóveis desta categoria sejam vendidos até o fim do ano em todo o território nacional, o que indica um crescimento de cerca de 60%.
No Brasil, ainda predominam os veículos elétricos plug-in, que se consolidaram no mercado nacional e representaram 69% de todas as vendas no primeiro semestre. Dentro desta categoria, estão incluídos os tipos BEV (totalmente elétricos) e PHEV (elétricos híbridos). Na sequência, os HEV convencionais (elétricos não plug-in a gasolina ou diesel) ficaram com 9,3% da parcela total de eletrificados vendidos.
Preocupação para o setor
Mesmo diante de um aumento das vendas, o setor de veículos elétricos está preocupado com o reajuste da tributação dos produtos. Desde a última segunda-feira (1º/7), passou a vigorar uma resolução que aumenta a alíquota para a importação de elétricos importados, de 10% para 18%. Em julho de 2025, sobe para 25%, até atingir 35% no ano seguinte.
“Temos ouvido notícias preocupantes sobre a antecipação da alíquota de 35% do Imposto de Importação de veículos elétricos, que estava prevista pelo Governo Federal somente para julho de 2026. Entendemos que, a se confirmar, essa antecipação configuraria uma lamentável quebra das regras estabelecidas há apenas seis meses pelo próprio governo”, avalia o presidente da ABVE, Ricardo Bastos.
Além disso, a associação teme a inclusão dos veículos elétricos no Imposto Seletivo, que é chamado popularmente de “imposto do pecado”. A lei foi estabelecida pela emenda constitucional da reforma tributária, aprovada no ano passado, com o objetivo de sobretaxar bens considerados danosos à saúde e ao meio ambiente.
Na avaliação da ABVE, a inclusão dos veículos eletrificados no IS “não faria sentido”, visto que esse tipo de automóvel emite menos gases de efeito estufa e reduz o nível de ruído nas cidades do país. “Eles são fatores decisivos para melhorar a qualidade de vida e diminuir as mortes associadas à poluição nas grandes cidades”. “Não nos parece cabível que esses veículos venham a ser taxados como se fossem produtos que fazem mal à saúde ou ao meio ambiente, o que absolutamente não é o caso”, conclui o presidente da associação.
Economia
Produção industrial cai 0,9% em maio, diz IBGE
No acumulado do ano, houve avanço de 2,5%
A produção industrial brasileira caiu 0,9% em maio em relação a abril. É o segundo recuo consecutivo, apontando retração de 1,7% no período. Com o resultado, o setor perdeu o ganho acumulado entre fevereiro e março deste ano (1,1%).
No acumulado nos últimos 12 meses, houve crescimento de 1,3%, o que acabou por reduzir a intensidade no ritmo de evolução se comparado ao resultado do mês anterior. Os dados foram anunciados nesta quarta-feira (3), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Os números fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta quarta-feira (3) pelo órgão, que mostrou ainda avanço de 2,5% no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024, se comparado ao mesmo período do ano anterior.
Influências
Nessa comparação, entre as atividades, as principais influências positivas na totalidade da indústria foram anotadas por produtos alimentícios (5,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,1%), indústrias extrativas (2,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8%).
O gerente da pesquisa, André Macedo, disse que, em maio de 2024, a indústria apresentou “predominância de resultados negativos de forma geral”, com recuo na margem e na comparação com maio de 2023.
Houve, ainda, interrupção da trajetória ascendente no índice de média móvel trimestral e perda de intensidade no ritmo de expansão no acumulado do ano e dos 12 meses anteriores.
Nesse mês, a indústria intensificou a queda que já tinha sido registrada no mês anterior, e entre os fatores que explicam esse resultado, estão as chuvas no Rio Grande do Sul, que tiveram um impacto local maior, mas também influenciaram o resultado negativo na indústria do país, informou o texto publicado pelo IBGE.
Conforme a pesquisa, 16 das 25 atividades investigadas tiveram recuo em maio de 2024. Veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,7%) e produtos alimentícios (-4,0%) foram as duas maiores influências negativas para o resultado geral da indústria em maio.
O gerente afirmou, também, que esses dois setores foram prejudicados pelas enchentes do Rio Grande do Sul. No setor de veículos automotores, a paralisação das plantas industriais locais provocou impactos diretos e indiretos. Por causa do mau tempo, tanto as montadoras de veículos, quanto as fábricas de autopeças pararam com as produções e isso afetou também o abastecimento para a produção de bens finais no restante do país.
“Houve, por exemplo, a concessão de férias coletivas em uma planta industrial em São Paulo como forma de mitigar os efeitos das paralisações ocorridas em unidades produtoras de peças no Rio Grande do Sul”, completou.
Greve
Macedo acrescentou que a paralisação decorrente de greve em outra montadora e a base de comparação elevada também contribuíram para a queda de dois dígitos na atividade. Em abril, o setor de veículos registrou crescimento de 13,8%.
A atividade de produtos alimentícios, que responde por cerca de 15% da produção industrial do país, teve em maio o segundo mês seguido de queda. A perda acumulada no período é de 4,7%.
“A retração no processamento da cana-de-açúcar, por conta da condição climática menos favorável na segunda quinzena de maio, provocou uma queda pontual na produção do açúcar. Já entre os impactos negativos que podem ter a ver com as chuvas no Rio Grande do Sul estão as carnes de aves, de bovinos e de suínos e os derivados da soja, que são produtos que têm grande peso no setor”, explicou.
Outros setores que recuaram e influenciaram o resultado negativo do mês foram os de produtos químicos (-2,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,3%), produtos do fumo (-28,2%), metalurgia (-2,8%), máquinas e equipamentos (-3,5%), impressão e reprodução de gravações (-15,0%) e produtos diversos (-8,5%).
Os principais impactos positivos no resultado geral da indústria foram as indústrias extrativas (2,6%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,9%). De acordo com Macedo, esses segmentos têm grande peso e evitaram uma queda maior no resultado da indústria.
“O crescimento do setor extrativo veio após uma queda no mês anterior, ou seja, tem o efeito de uma base de comparação mais negativa. Também houve aumento na extração dos dois principais produtos, o petróleo e o minério de ferro”, afirmou.
As atividades de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (3,7%), produtos têxteis (2,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (1,5%), produtos de borracha e de material plástico (0,5%), outros equipamentos de transporte (0,2%), móveis (0,2%) e celulose, papel e produtos de papel (0,1%) também tiveram desempenho favorável.
“Ainda na comparação com abril, as quatro grandes categorias econômicas recuaram: bens de consumo duráveis (-5,7%), bens de capital (-2,7%), bens intermediários (-0,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%)”, pontuou o IBGE.
O recuo de 1,0% na comparação de maio de 2024 com maio do ano anterior teve influência dos resultados negativos de duas das quatro grandes categorias econômicas, 14 dos 25 ramos, 43 dos 80 grupos e 50,4% dos 789 produtos pesquisados, finalizou o IBGE.
Agência Brasil
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