Tecnologia
Os desafios do 5G: como a tecnologia precisa evoluir para alcançar seu potencial
O 5G já é uma realidade em algumas partes do mundo, mas ainda há muito a se resolver antes que a tecnologia seja o que promete ser
O 5G pode ainda ser um sonho um pouco distante no Brasil, já que os primeiros leilões das frequências destinadas à tecnologia só acontecerão em 2020, e a previsão de início da operação comercial é só para 2021, mas em alguns lugares do mundo elas já são realidade. É o caso, por exemplo, da Coreia do Sul, onde o Olhar Digital teve a oportunidade de experimentar o 5G.
É indiscutível que, onde a internet móvel de quinta geração foi ativada, a qualidade da conexão, quando disponível, disparou. Mas isso não significa que esta primeira fase da tecnologia esteja livre de problemas e desafios que precisam ser contornados para que todo o potencial da tecnologia seja alcançado.
Altas frequências
O Santo Graal do 5G para a indústria de tecnologia são as mmWave, ou, em bom português, as ondas milimétricas. São frequências de ondas altíssimas, que superam os 24 GHz e estão muito além do espectro utilizado hoje para o 4G (no Brasil, a frequência de 4G mais alta é de 2,5 GHz, para referência).
O motivo pelo qual essas frequências são desejáveis são, em especial, o fato de haver muito poucas aplicações que façam uso dessas ondas nesse espectro, o que reduz interferência e torna sua implementação menos burocrática, já que não é necessário “limpar” uma faixa para dedicá-la ao 5G como aconteceu, por exemplo, com o 4G de 700 MHz no Brasil, que dependeu da eliminação do sinal de TV analógica. A outra razão é desempenho: é possível alcançar melhores resultados nas ondas milimétricas.
No entanto, quem já ouviu falar sobre as vantagens de liberar a faixa de 700 MHz para o 4G deve se lembrar que sua principal vantagem é alcance e penetração em paredes pelo fato de ser uma frequência baixa. As frequências muito altas do 5G terão os problemas opostos: dificuldades de penetração através de objetos sólidos e baixíssimo alcance.
Para se ter uma ideia do problema, as ondas milimétricas têm dificuldade até mesmo de atravessar a sua mão, o que significa que a forma como você segura o celular pode afetar o sinal do 5G. Se você estiver dentro de um shopping, por exemplo, a recepção pode ser simplesmente impossível, e as empresas precisarão de muito mais antenas para cobrir a mesma área coberta pelo 4G.
A indústria têm algumas soluções para isso, no entanto. Primeiro: o 5G não será restrito às ondas milimétricas; as operadoras também trabalham nas frequências “sub-6”, que operam em menos de 6 GHz, que torna o funcionamento um pouco mais próximo do 4G convencional. Isso facilita a cobertura mais ampla, mas acarreta também uma perda de qualidade de conexão.
Assim, outras alternativas têm sido projetadas para lidar com as restrições das ondas milimétricas. Lugares fechados podem usar captadores de sinal em sua parte externa e retransmiti-lo internamente, o que pode ser uma solução para lidar com a dificuldade de penetração em ambientes internos.
Há outras tecnologias em desenvolvimento para driblar as dificuldades das ondas milimétricas. A indústria está criando suas ferramentas que permitem, por exemplo, que o sinal 5G seja rebatido para vários pontos de retransmissão, como se fosse refletido por espelhos. Assim, é possível evitar obstáculos no caminho entre o usuário e a antena, permitindo menos interferência e melhor qualidade de conexão
Dificuldades com equipamento
Aqui não estamos falando da dificuldade em cobrir uma região com 5G, mas em equipar um aparelho para que ele possa se conectar a uma rede 5G. E isso ficou bastante evidente em uma apresentação de Junehee Lee, chefe de estratégia de tecnologia da Samsung, que relatou a dificuldade de criar um smartphone 5G.
Ele deixa claro que um aparelho preparado para o 5G seria necessariamente grande e grosso para abrigar todo o equipamento necessário para conectar o dispositivo às novas redes móveis. Para piorar, o dispositivo ainda consumiria quantidades altíssimas de energia, sugando a bateria do aparelho rapidamente.
Por este motivo, a Samsung criou um celular especificamente dedicado para quem quer conectividade 5G: o Galaxy S10 5G. Ele dribla as dificuldades mencionadas acima sendo enorme, com tela de 6,7 polegadas e pesando quase 200 gramas. Isso tudo para abrigar os componentes necessários para o 5G e uma bateria grande de 4.500 mAh.
Uma dificuldade similar foi vista com a Motorola, que preferiu não lançar um celular 5G, e optou apenas por criar um acessório Moto Snap que habilita o Moto Z para conectar-se ao 5G. O componente também torna o celular consideravelmente mais pesado e volumoso, tornando seu uso mais inconveniente.
Isso é algo que deve se resolver com o passar do tempo, com a miniaturização dos componentes e um aumento de sua eficiência, mas em um primeiro momento os usuários dos primeiros celulares 5G precisarão encarar esses transtornos comuns entre os “early-adopters”.
Interferência
Essa é uma preocupação que tem ganhado corpo nos últimos meses, com uma expansão do 5G em vários pontos do mundo. A NASA e a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA) alertam que existe um risco de que o uso das ondas milimétricas para o 5G, mais especificamente na frequência de 24 GHz, pode afetar equipamentos de previsão de tempo, o que pode dificultar a detecção de situações extremas como furacões e fazer com que o alerta aos potenciais afetados pela tempestade demore mais a ser emitido, arriscando vidas de pessoas em nome de uma internet mais rápida.
A explicação é que a frequência de 24 GHz é muito próxima da frequência usada por satélites para observar o vapor d’água e prever mudanças no tempo. Isso poderia afetar a preparação em caso de eventos mais extremos.
É importante notar que esse problema só se aplica às ondas milimétricas. O espectro sub-6 não corre risco de interferir em equipamentos de previsão do tempo, por operar em frequências muito mais baixas.
Franquias e modelo de negócios
Por fim, o problema mais óbvio em um primeiro momento. A BBC recentemente fez uma transmissão ao vivo no dia do lançamento das redes 5G na região de Londres e uma coisa ficou muito clara: o modelo de negócio do 4G não vai funcionar com o 5G. Isso porque em apenas um dia de testes, o repórter relatou que já havia estourado seu plano de dados.
Isso é algo que o Olhar Digital também experienciou em nossos testes na Coreia do Sul. Não, o nosso plano de dados não chegou a estourar, mas bastou pouco mais de uma hora com um aparelho 5G na mão para receber um alerta de que mais de 6 GB de dados haviam sido consumidos.
Acontece que a altíssima velocidade do 5G tem como propósito habilitar novos usos que consumam muito mais dados, como aplicações de realidade aumentada. Afinal de contas, para ver vídeos em uma resolução aceitável no YouTube ou na Netflix por streaming, que são algumas das aplicações que mais sugam dados dos usuários hoje em dia, a velocidade do 4G já é suficiente.
Assim, ou os planos precisam ser muito mais generosos do que são atualmente ou as franquias precisarão ser totalmente abolidas para que o 5G se justifique.
Tecnologia
“Brainrot”, você tem isso? Conheça esse efeito colateral da vida digital
Termo descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido
Se você leu meu texto sobre a slopficação da internet, talvez agora você fique um pouco mais assustado. Senta que lá vem a história…
Se você é millennial, como eu, e tinha uma certa esperança que a próxima geração seria melhor e daria conta de um monte de coisas que não conseguimos, bem… nascer e crescer imerso em redes sociais parece que não está fazendo muito bem, pelo menos na construção de gosto e o que se escolhe consumir online.
Entender minimamente a GenZ (Geração Z) e a Geração Alpha tem consumido boa parte do tempo das minhas pesquisas online. Sacar os movimentos e tentar entrar na cabeça dos jovens é interessante e surpreendente, já que os valores e gostos são completamente diferentes. E olha que pra muita coisa eu sou mais Z que Y.
Mas vamos para o que interessa. Você já ouviu ou viu, em algum lugar, termos como:
- Skibidi Toilet
- Level Five Gyat
- Rizz
- Fanum Tax
- Only in Ohio
- Sigma Looksmaxxing
- Grimace Shake
Parece erro, palavras sem sentido, mas eles têm aparecido com frequência em uma série de conteúdos virais, mais especificamente memes, e que têm sido atribuídos ao tal do “brainrot”. Se você perguntar para o Google Tradutor, não vai conseguir nada. Já para o ChatGPT, ele traz uma luz. Olha só:
Acho que, com isso, você já consegue ir sacando o que é “brainrot”. Apesar desse termo ser antigo (usado desde 2004), é agora que ele está bombando em redes sociais muito usadas por jovens da GenZ, como o TikTok.
E não é pouco dizer que esses jovens internautas estão obcecados com a tal “brain rot” ou “brainrot”. Tanto que a própria viralização do termo explica muito o que estamos vivendo nos tempos atuais: “doomscrolling“, essa rolagem infinita nos nossos feeds, e também nosso estado online crônico.
Traduzido por “podridão cerebral”, “apodrecimento do cérebro” ou até “cérebro apodrecido”, o termo, ou condição, descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido, que podem afetar negativamente as habilidades cognitivas e a capacidade de pensar criticamente.
Longe de ser um termo médico ou científico, é simplesmente um efeito colateral do nosso comportamento online, principalmente em redes sociais, frequentemente motivado por um desejo compulsivo de se manter atualizado, principalmente com eventos negativos, mesmo quando isso pode ser emocionalmente desgastante ou prejudicial para a saúde mental.
Basicamente, estamos gastando mais tempo e literalmente nos entregando e absorvendo grandes quantidades de informações irrelevantes e de baixa qualidade.
Sem entrar nas questões neurodegenerativas, não precisamos de muito para entendermos que, ao consumirmos conteúdos piores, ficaremos piores. Ou seja, nossos cérebros vão trabalhar com o que recebem. Se consumimos porcarias, vamos pensar em porcarias. Simples assim.
E tem muita gente online falando que já está com “brainrot” só de ter recebido ou passado por certos conteúdos, justamente porque estão muitos expostos a eles. E assim como os “slops” causam uma certa confusão mental, os conteúdos associados ao brainrot também, desassociando imagens ou conceitos de seus contextos reais.
Um exemplo é a imagem de um soldado da Segunda Guerra Mundial com um olhar atordoado, que faz parte da pintura de Tom Lea “That 2,000 Yard Stare“, que é usado em muitos conteúdos meméticos, e que TikTokers dizem ser brainrot.
Popularização e perigos
Fazendo uma pesquisa rápida no Google Trends, percebemos que tivemos uma procura maior do termo em 2005 e 2010, mas, a partir da segunda metade de 2023 até agora, o termo explodiu. E é interessante notar que esses picos estão muito associados à cultura gamer e a jogos que contribuíram com seu uso ao longo da década de 2010.
Inclusive, “brainrot” é uma doença que os jogadores podem contrair no jogo de “2011 The Elder Scrolls V: Skyrim“. Em 2007, ano que muita gente considera o surgimento do termo, ele aparece em posts no X, nos quais os usuários descreviam reality shows de namoro, videogames e certos comportamentos, como brainrot.
Um artigo recente do NYT, Jessica Roy relata como alguns usuários do TikTok até começaram a criar paródias de pessoas que parecem “ter” essa condição, ajudando, assim, na popularização, ridicularização e adoção do termo. E, apesar de não ser um elogio falar que alguém tem brainrot, algumas pessoas demonstram um leve orgulho ao admitir a condição.
Em um quiz recente do BuzzFeed, dava até pra saber se “o seu cérebro está 1000% cozido”. Outra leva de vídeos fala que quanto mais gírias da internet uma pessoa usa, mais brainrot ela tem.
E apesar do humor que tudo isso traz, existe um lado bem ruim. Sabe quando a gente fica obcecado por algo e vê aquilo em todo lugar, ou quando gostamos tanto de um personagem ou uma celebridade e começamos a ficar parecidos com elas? Bem, consumir conteúdos de baixa qualidade pode nos deixar menos preparados a certaz situações e “menos inteligentes”, como colocam os jovens com brainrot. Muitos compartilham nas redes seu medo de ficaram “burros”.
Há muitos pesquisadores que estão se debruçando nesse tema, como o neurocientista Michel Desmurget, que tem um livro bastante controverso, assim como outros que se adentram nesse tema, “A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas crianças”.
Esse medo de ficarmos piores cognitivamente é real, porque somos o que comemos e consumimos. A “Geração Touch” e as “crianças de iPad” certamente carregam consequências disso, tanto pela tela e o aumento de miopia, muita quantidade de luz azul, que traz alterações no sono, e por aí vai, até o que é visto, assistido e lido.
Em toda a história da humanidade, acompanhamos as consequências boas e ruins das mais diversas tecnologias que foram sendo introduzidas nas nossas vidas, e se tratando de internet, hoje e sempre, independente da tecnologia em si, sabemos que “gostamos” de certos conteúdos justamente pelo modo como nosso próprio cérebro funciona.
Nem vou entrar nessa discussão, porque isso daria um outro texto, mas, no caso dos memes, eles são divertidos, rola uma conexão emocional positiva com eles, e isso dá uma ajudinha na disponibilidade de dopamina no nosso cérebro. É entretenimento puro e viciante.
Por isso mesmo, existem muitos pesquisadores interessados no assunto, tanto que, nos Estados Unidos, diversas instituições de saúde já estão estudando isso como um distúrbio. No artigo no NYT, é citada a pesquisa do Hospital Infantil de Boston, que chama essa condição de “Uso Problemático de Mídia Interativa”. E ela mostra que, conforme passamos muito tempo online, mudamos nossa percepção do espaço físico para o online, e isso tem consequências.
E a GenAI nessa história?
Brainrot está na moda hoje em dia, assim como a GenAI (inteligência artificial generativa). Mas será que a IA está ajudando a nos levar a um estado de brainrot generalizado?
Se o uso preguiçoso da GenAI pode nos fazer desenvolver menos algumas habilidades ao longo do tempo, não há dúvida. É como foi com a nossa memória, tanto que hoje não guardamos o número do celular de quase ninguém. Claro que nesse cas,o é reversível, podemos treinar e melhorar, graças a neuroplasticidade cerebral.
Mas, assim como a internet está se “slopificando”, ou seja, sendo tomada por conteúdos sem valor sendo gerados sinteticamente, nós também poderemos acabar nos deparando cada vez mais com esse conteúdo, e (por que não?) aumentando o brainrot, assim como nos enganando cada vez mais por conteúdos falsos. As consequências de longo prazo não sabemos, e muito estudo ainda será feito, mas, com certeza, uma coisa pode alimentar a outra.
Deveríamos nos preocupar com o “brainrot”?
Em certo sentido, sim, embora devamos ser cautelosos ao soar o alarme sobre o que impulsiona ou leva ao “brainrot”. É muito fácil referir-se a praticamente qualquer coisa como causadora de “brainrot”, se formos pensar.
A cultura da internet sempre traz questões e termos interessantíssimos que podem nos fazer pensar e desenvolver muitas teorias e conceitos. Brainrot ainda é uma expressão que carece de rigor científico, principalmente para descrever ou quantificar a saúde mental real. Mesmo assim, não significa que devemos ignorar ou minimizar as preocupações que estão no cerne desse termo.
Tecnologia
Tik Tok planeja lançar o Whee, plataforma de fotos ‘cópia’ do Instagram
Na plataforma, será possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos
O TikTok está trabalhando em seu próprio Instagram, afirmou o site Android Police na terça-feira, 18. O aplicativo, chamado Whee, tem como objetivo o compartilhamento de fotos com melhores amigos – uma mistura da rede de Mark Zuckerberg com o BeReal, de fotos instantâneas e não editadas. O app, que já pode ser utilizado em alguns países, ainda não chegou ao Brasil.
De acordo com as imagens vistas pelo Android Police, o Whee é um app separado do TikTok, mas também mantido pela ByteDance. Na plataforma, é possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos.
Configurações básicas como curtidas e comentários também estão presentes, em um layout bastante parecido com o do Instagram.
“Capture e compartilhe fotos da vida real que somente seus amigos podem ver, permitindo que você seja mais autêntico”, afirma a descrição do Whee no Google Play, loja de apps do Android. “Whee é o melhor lugar para amigos próximos compartilharem momentos da vida”, completam.
O TikTok e a ByteDance ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o aplicativo, mas já é possível encontrar a nova rede social em alguns países em celulares com sistema operacional Android.
Tecnologia
YouTube testa recurso que introduz “notas” de contexto em vídeos
Testes começarão nos Estados Unidos e serão feitos, inicialmente, com usuários e criadores selecionados
O YouTube anunciou, nesta segunda-feira (17), que permitirá em breve que os usuários adicionem “notas” que fornecerão contexto sobre alguns de seus vídeos. Os testes fazem parte de um novo recurso que inicialmente será lançado nos Estados Unidos.
A plataforma convidará alguns usuários e criadores de conteúdo, como parte da fase inicial de teste, para escrever notas destinadas a fornecer “contexto relevante, oportuno e fácil de entender” sobre os vídeos.
As notas, por exemplo, poderão esclarecer quando uma música é uma paródia, apontar quando uma nova versão de um produto que está sendo analisado estiver disponível ou informar aos espectadores quando imagens antigas são erroneamente apresentadas como eventos atuais.
A rede social X, antigo Twitter, possui um recurso semelhante chamado Notas da Comunidade, que permite que colaboradores selecionados adicionem contexto às publicações, incluindo tags como “enganoso” e “fora de contexto”.
O recurso de notas no YouTube será, inicialmente, disponibilizado em dispositivos móveis para usuários nos Estados Unidos e em inglês. Nessa fase, avaliadores externos classificarão a utilidade das notas, o que ajudará a treinar os sistemas, antes de um possível lançamento mais amplo, disse o YouTube.
*Com reportagem de Yuvraj Malik, em Bengaluru
CNN Brasil
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