Mundo
Opositor de Putin, Alexei Navalny morreu na prisão, diz serviço penitenciário da Rússia
O opositor russo Alexei Navalny morreu na prisão, informaram as agências russas nesta sexta-feira, 16. A informação foi confirmada pelo serviço penitenciário da região de Yamalo-Nenets, onde cumpria pena de 19 anos.
“Navalny sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência. A equipe médica chegou imediatamente e uma equipe de ambulância foi chamada. Foram realizadas medidas de reanimação que não produziram resultados positivos. Os paramédicos confirmaram a morte do condenado. As causas da morte estão sendo apuradas”, disse o comunicado oficial.
Em 11 de janeiro, Navalny apareceu em imagens pela primeira vez desde que foi transferido para uma colônia penal em Kharp, no Ártico russo, em dezembro. Na época, a equipe do crítico do Kremlin ficara três semanas sem notícias dele, e pouco se sabia sobre o estado de saúde do detento.
Há pouco mais de um mês, ele participou via videoconferência de uma audiência da Suprema Corte, que ocorria em Moscou e avaliava as queixas do opositor às condições de sua detenção na Sibéria.
A colônia penal para a qual foi transferido, apelidada de “Lobo Polar”, é um estabelecimento herdado do Gulag soviético. Ao tribunal, Navalny disse que era submetido a temperaturas “congelantes”, que chegavam a 32 graus negativos.
— A cela de punição costuma ser um lugar muito frio — afirmou ele. — Você sabe por que as pessoas escolhem um jornal lá [um dos itens que podem receber na cela]? Para se cobrirem. Porque com um jornal, posso dizer a vocês, juízes, é muito mais quente dormir, por exemplo, do que sem ele. E então você precisa de um jornal para não congelar.
— É impossível comer em 10 minutos — relatou à Corte. — Se você comer todos os dias em 10 minutos, [fazer] esta refeição se tornará um processo bastante complexo.
Apesar das queixas, Navalny parecia estar de bom humor. Ele chegou a brincar, durante a audiência, que ainda não havia recebido nenhuma correspondência de Natal por estar “muito longe”.
A meses da eleição presidencial no país, Navalny foi levado para a colônia penal número 3, na localidade de Kharp, anunciou a porta-voz do ativista, Kira Yarmish, na rede social X (antigo Twitter), na última semana de dezembro. Na ocasião, Navalny disse estar “bem”. A viagem até sua nova prisão durou 20 dias e foi “bastante cansativa”, declarou ele na rede X.
Até o início de dezembro, ele estava detido na colônia da região de Vladimir, a 250 quilômetros de Moscou.
Navalny, um ativista anticorrupção e um dos principais adversários políticos do presidente Vladimir Putin, cumpre pena de 19 anos de prisão por “extremismo”. Ele foi detido em janeiro de 2021 ao retornar à Rússia, depois de se recuperar na Alemanha de um envenenamento que, segundo ele, foi planejado pelo Kremlin.
Kharp, uma pequena cidade de 5 mil habitantes, situa-se em Yamalia-Nenetsia, uma região remota no norte da Rússia. A localidade fica além do Círculo Polar Ártico e abriga várias colônias penais. Um dos principais colaboradores de Navalny, Ivan Zhdanov, afirmou que esta é “uma das colônias mais remotas” da Rússia. As condições lá são “difíceis”, escreveu na rede X.
“As condições lá são duras, com um regime especial na zona de permafrost” e muito pouco contato com o mundo exterior, disse Jdanov. O permafrost é uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada.
Cadeia para ‘penas perpétuas’
De acordo com o veredito de “extremismo” pronunciado contra ele, o opositor tem de cumprir a pena em uma colônia de “regime especial”. Nessa categoria, a mais gravosa na Rússia e normalmente destinada aos condenados à prisão perpétua ou aos detentos mais perigosos, as condições de detenção são mais duras.
“Desde o início, ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, especialmente antes da eleição presidencial”, prevista para março de 2024, acrescentou Zhdanov.
De acordo com a agência Reuters, a nova prisão de Navalny é conhecida como colônia “Polar Wolf” (“Lobo Polar”) e considerada uma das prisões mais difíceis de se ficar na Rússia. Os invernos são rigorosos, e a previsão é que as temperaturas caiam a cerca de 28 graus Celsius negativos na próxima semana.
Localizada às margens do rio Sob, a Polar Wolf é uma das sete colônias de trabalho corretivo de segurança máxima operadas pelo Serviço Penitenciário Federal para condenados à prisão perpétua, status este que ganhou em 2004, segundo o site Atlas News. O portal afirma ainda que a prisão é composta por “caldeira, padaria, usina a diesel, cantina e departamentos de produção para os presos fazerem blocos de concreto e brita”.
Ainda segundo o site, há também oficinas de marmoraria, costura, alfaiataria e carpintaria. Os condenados podem receber um pacote por ano e podem passear em uma pequena jaula uma vez por dia durante 90 minutos.
“[Os detidos] Possuem cama, mesa, criado-mudo, prateleira fechada onde podem guardar alimentos, prateleira para produtos de higiene pessoal, caixa d’água, cabide e vaso sanitário. Os presos não podem deitar na cama durante o dia e não podem conversar com outros presos. Todos os movimentos são realizados algemados”, descreve o portal.
A prisão foi fundada em 1960 como parte do sistema de campos de trabalhos forçados soviéticos, de acordo com o jornal Moskovsky Komsomolets, destaca a Reuters.
As transferências de um centro penitenciário para outro na Rússia podem levar várias semanas em viagens de trem, com várias etapas. E as famílias dos detentos não recebem informações durante o período.
A falta de notícias sobre Navalny gerou preocupação em vários países ocidentais e na ONU.
O movimento de Navalny foi minado de maneira metódica pelas autoridades russas nos últimos anos, com vários de seus colaboradores e aliados sendo presos, ou indo para o exílio.
As autoridades iniciaram novos processos judiciais por “vandalismo” contra o opositor, o que pode resultar em mais três anos de detenção.
Nesse cenário, com a oposição quase inexistente e a repressão intensa a qualquer voz crítica, Putin aspira sem problemas a um novo mandato de seis anos na Presidência da Rússia nas eleições de março de 2024.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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