Brasil
Operação de retirada de garimpeiros começa hoje; invasores já tentam sair
Polícia investiga denúncia de morte de três indígenas e de um garimpeiro dentro da reserva da Terra Indígena Yanomami
A véspera da operação para retirada do garimpo da Terra Indígena Yanomami pelo governo federal foi marcada pela denúncia de mortes de três indígenas e de um garimpeiro na reserva, apesar da expectativa do ministro da Justiça, Flávio Dino, de que o processo seja pacífico.
A Polícia Federal enviou equipes à reserva e encontrou um jovem indígena morto e outro ferido por garimpeiros na região de Homoxi, informou ontem a ministra do Povos Indígenas, Sonia Guajajara, em coletiva em Roraima. A ministra foi informada de outros dois assassinatos, na região de Parima
Segundo contou Guajajara, o morto e o ferido receberam tiros no abdômen. Os dois são da região de Haxiú. Testemunhas da comunidade contaram que as mortes ocorreram de sexta para sábado e em um conflito com garimpeiros, segundo a ministra
O ferido foi levado no helicóptero da FAB para um hospital em Boa Vista. A PF vai abrir inquérito para apurar as causas do homicídio e da tentativa de homicídio e quem são os autores dos crimes, informou Guajajara.
“Foi encontrado um corpo no meio dos garimpeiros e mais um ferido. O corpo foi entregue para a família para fazer o ritual fúnebre próprio da cultura, e o ferido está sendo removido para o atendimento de saúde. É uma situação de urgência e emergência permanente”, disse a ministra.
Guajajara disse que os corpos dos outros dois assassinados na região de Parima permanecem na área, que é de mata fechada, o que exige a ajuda dos ianomâmis para ser alcançada.
Também no Homoxi, teria sido assassinado Ernandes Belo da Silva, levado para o Instituto Médico-Legal de Boa Vista ontem. Uma enteada de Ernandes disse que ele foi morto pelos ianomâmis no sábado. A causa da morte foi anemia provocada por hemorragia
O líder Júnior Hekurari Yanomami contou que tentou ir domingo aos locais onde teria havido as mortes, mas não conseguiu pousar, tamanha a concentração de garimpeiros.
“Nosso medo é de que os corpos sejam queimados antes da chegada das autoridades. Ou pelos garimpeiros, ou mesmo pelos ianomâmis, já que há esse ritual depois de 72 horas da morte”, disse Hekurari.
Rotas da FAB
A Força Aérea Brasileira determinou ontem a criação de três corredores aéreos para a saída voluntária de garimpeiros da terra ianomâmi. A decisão, na prática, libera voos privados para buscar os garimpeiros.
Os corredores vão durar uma semana, segundo a FAB, e terão uma largura de cerca de 11 quilômetros. A medida atende a reivindicações de garimpeiros que já procuram deixar a reserva e do próprio governo de Roraima. A abertura foi anunciada depois de o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, ter negado, em coletiva na tarde de ontem, em Brasília, ajuda da FAB para transportar os invasores.
“Todos que cometeram crimes como genocídio, crimes ambientais, o próprio garimpo, financiamento de garimpo, assim como lavagem de dinheiro, e que estão sendo investigados, continuarão a ser. São caminhos que seguem paralelamente. De um lado nós temos a desintrusão, a desocupação das terras indígenas. De outro, temos a investigação”, detalhou Dino na coletiva.
O ministro disse que o governo federal estima que até 80% dos garimpeiros deixarão a Terra Indígena Yanomami até o início das operações de retirada. Segundo Dino, boa parte dos cerca de 15 mil já começaram a se retirar
“A nossa previsão é de que esse fluxo de saída aumente nos próximos dias”, afirmou o ministro.
O governo pretende enviar ao menos 500 homens de diversas forças, incluindo a Polícia Federal, as Forças Armadas e a Força Nacional, para a operação de retirada do garimpo.
O governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), havia informado no domingo que pediu ajuda do governo federal para ajudar a saída dos garimpeiros. Em nota, o governo de Roraima definiu os invasores como “trabalhadores que se encontram em área de garimpo e que escolheram sair daquela região de forma espontânea e pacífica”.
Homens e mulheres do garimpo publicaram pedidos de socorro nas redes sociais para deixar a terra ianomâmi. Em um vídeo, mulheres disseram que precisam enfrentar 30 dias andando para deixar o território e precisam pagar até R$ 15 mil para sair por um voo clandestino de helicóptero, depois do fechamento do espaço aéreo na terra ianomâmi na semana passada. Segundo a Folha de S. Paulo, parte dos garimpeiros tenta chegar à Venezuela, e há movimentos de fuga até para a Guiana, mais distante da reserva.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acusou ontem o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro de atuar para dizimar os ianomâmis.
“Todo o levantamento dos últimos 30 dias é para dar conta de uma atrocidade contra a população indígena brasileira, que ao longo desses quatro anos foi completamente abandonada. Foi um processo induzido do governo Bolsonaro para tentar eliminar essa população”, afirmou Marina, durante a posse do novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Pistas clandestinas
Um levantamento do projeto MapBiomas, que mapeia a cobertura terrestre do Brasil, mostrou que a reserva ianomâmi é uma das que mais abrigam pistas de pouso irregulares: 75, dentro do território ou nos seus limites.
O projeto identificou 2.869 pistas na Amazônia, mais do que o dobro do que consta nos registros da Agência Nacional de Aviação Civil. Além disso, 804 (28%) estão em área protegida.
Segundo relatório divulgado ontem, mais de um terço das linhas de pouso em terras indígenas ou unidades de conservação aparecem perto (a menos de 5 km) de áreas de garimpo.
Das pistas em áreas protegidas, 520 estão em terras indígenas e 498, em unidades de conservação, como parques ou reservas. As regiões onde o garimpo mais alimentou a construção de linhas de pouso irregulares foram o sudoeste do Pará, o norte de Mato Grosso e o nordeste de Roraima, onde ficam os ianomâmis.
“O garimpo na Amazônia ocorre em áreas densamente povoada por árvores”, explica o geólogo César Diniz, que liderou o trabalho.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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