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O que explicaria o interesse da Alemanha em adquirir blindados e munições do Brasil para a Ucrânia?

Uma coisa é fato: a história da diplomacia brasileira sempre teve como norte a negociação e o diálogo diante de conflitos — em outros tempos nem tão remotos assim, tentava, inclusive, agir como uma mediadora para que países chegassem a um denominador comum em suas resoluções.

© AP Photo / Andreas Beil

 

No caso específico da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, o Brasil reforçou a postura neutra, realçada com a solidariedade do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), à Rússia uma semana antes do lançamento da ação.
No entanto, a atitude menos previsível por parte das relações exteriores do atual governo brasileiro fez com que dúvidas surgissem, nos últimos anos, entre alguns líderes mundiais e suas respectivas nações — caso da Alemanha, cuja relação com o Brasil entrou em franco desgaste durante a administração Bolsonaro. As críticas do país europeu em relação aos desmatamentos na Amazônia e ao modo como o governo brasileiro geriu a crise da COVID-19 estiveram entre os principais motivos do desentendimento.
Daí a estranheza diante da revelação feita pela imprensa internacional e amplamente repercutida em território nacional de que a Alemanha está, supostamente, recorrendo ao Brasil para conseguir blindados alemães antiaéreos Flakpanzer Gepard e, sobretudo, munições para esses tanques, a fim de abastecer militarmente as fileiras das tropas ucranianas.
Tanque antiaéreo Gepard 1A2 é demonstrado em 15 de junho de 2009, em uma apresentação de desempenho do Exército alemão na área de treinamento militar em Munster, na Alemanha.  - Sputnik Brasil, 1920, 29.04.2022
Segundo a imprensa, a quantidade de armamentos e munições do mesmo tipo doados por Berlim a Kiev teria capacidade para cerca de risíveis 20 minutos de combate.
O modelo dos anos 1970, que deixou de operar na Alemanha no ano de 2010, foi adquirido pelo Brasil em 2013, quando 34 tanques Gepard versão 1A2 foram incorporados ao arsenal nacional para garantir a segurança durante três eventos de escala mundial: a Jornada Mundial da Juventude, que teve a presença do papa Francisco, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014.
O que se sabe é que, depois desse prolífico calendário internacional, o Brasil tentou se desfazer da compra por considerar as máquinas obsoletas (e até conseguiu vender algumas para o Catar, que realiza a próxima Copa do Mundo em novembro deste ano).
Por meio de nota, as Forças Armadas brasileiras disseram que não foram oficialmente contatadas para uma eventual aquisição de munição.

Entretanto, a partir da estranha revelação vêm duas perguntas: o que o Brasil teria a ganhar com isso? O que estaria por trás desse suposto interesse?
A Sputnik Brasil conversou com a professora Isabela Gama, especialista em teoria das relações internacionais e em segurança e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), na tentativa de entender esse movimento inesperado por parte da Alemanha.
Caso o pedido seja feito, ela acredita que seja improvável a cessão de armamentos por parte do Brasil a fim de municiar as tropas ucranianas.

“Nos últimos anos, a política externa brasileira tenta se manter neutra quando o assunto é um conflito. É claro que nos últimos anos do governo de Jair Bolsonaro algumas questões da política externa brasileira ficaram um pouco confusas para serem analisadas de forma mais precisa. Mas, dado que até o momento o Brasil não se posicionou com relação a esse pedido de maneira formal, acho improvável dado o histórico do país de não se envolver”, avalia Gama.

Fato é que se o Brasil decidisse enviar esses blindados e essas munições, isso seria uma grande surpresa que contrariaria a postura tradicional da política externa brasileira.
Peça antiaérea autopropulsada Flakpanzer Gepard com dois canhões automáticos de 35 milímetros - Sputnik Brasil, 1920, 29.04.2022
Apesar da improvável cessão de material bélico à Ucrânia, algumas possibilidades geopolíticas podem ser consideradas a partir das supostas intenções da Alemanha em relação ao Brasil. Isso porque a operação especial russa na Ucrânia se tornou também, para muitos, uma disputa de narrativas.
“É preciso ver como isso vai ser retratado dentro de países europeus, assim como dentro do Brasil. O movimento me parece uma forma de explorar um pouco algumas questões que o Brasil vem tendo e também explorar uma tentativa nossa de sermos aceitos dentro da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico]”, pontua a professora.

Então quais são as hipóteses?

Há muito o que se escrutinar nesse cenário insólito, ainda mais considerando o distanciamento entre o Brasil e a Alemanha nesses últimos anos.

“Essa questão de a Alemanha ter procurado justamente o Brasil é estranha. Mas, analisando um pouco mais de perto, alguns anos atrás, quando o Brasil comprou os blindados Gepard da Alemanha, logo depois tentou revender esses blindados porque são basicamente sucata. É um modelo muito antigo que a Alemanha já deixou de usar, e o Brasil começou a tentar revendê-lo. Conseguiu vender alguns para o Catar, mas ainda temos muitos aqui. É um gasto a mais para os militares. É possível que isso seja uma questão de que o Brasil tem blindados dos quais está tentando se livrar há alguns anos. Então talvez eles queiram se livrar agora. É uma possibilidade simples, um pensamento lógico [por parte da Alemanha], de estar precisando dos blindados e de munições, de o Brasil não os estar utilizando, então é um ganho para os dois lados”, reflete a especialista.

Tanque de canhão antiaéreo Gepard 1A2 dispara durante um exercício de campo na área de treinamento em Bergen, Alemanha, em 15 de junho de 2009. - Sputnik Brasil, 1920, 29.04.2022
Por outro lado, a Romênia, que é um Estado-membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), também possui esse blindado e suas respectivas munições.
Sendo geograficamente mais próximo tanto da Alemanha quanto da Ucrânia, qual o motivo de esse país não ter sido acionado?
Eis um mistério que paira no ar, mas que pode também carregar nuances geopolíticas que afetariam o BRICS, grupo geoeconômico do qual Brasil e Rússia fazem parte.

“Vir até o Brasil para fazer esse pedido continua soando estranho quando pensamos somente em termos logísticos. Por que não negociar com a Romênia, que é mais próxima de ambos os países? O que a Alemanha quer negociar com o Brasil pode ser uma aproximação maior ou pode ser simplesmente uma tentativa política, não só logística, de alienar a Rússia. Porque caso o Brasil coopere nesses esforços de guerra do Ocidente, ao lado dele, para serem usados contra a Rússia, isso geraria um problema dentro do BRICS. Seria mais uma tentativa do Ocidente de isolar a Rússia, trazendo o Brasil para mais perto, tendo em vista que Bolsonaro apoiou a Rússia em fevereiro, declarando seu apoio”, aponta a pós-doutoranda da ECEME.

Porém é impossível esquecer a crise pela qual passa a Europa, sobretudo em relação à pressão dos Estados Unidos para que os países adotem o estrangulamento das importações do petróleo, do carvão e, principalmente, do gás russos — recursos dos quais a Alemanha, mas também boa parte dos países do continente, é altamente dependente.
É exatamente daí que vem a pergunta que não quer calar:

“Como a Alemanha vai se dar ao luxo de entrar em uma possível recessão reforçando a ajuda à Ucrânia se depende tanto da Rússia? São muitas questões que estão imbricadas dentro de um cenário muito complexo. Talvez exista um componente não apenas logístico como também político, uma agenda política dentro desse pedido da Alemanha ao Brasil”, conclui Gama.

Mundo

Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

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Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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