Brasil
O que está por trás da falta de matéria-prima para vacinas, que ameaça imunização no Brasil
Especialistas alertam que a vacinação contra a covid-19 pode ser interrompida em pouco tempo por falta total de imunizantes
As dificuldades na importação de doses e de insumos para produzir vacinas são uma grande ameaça à campanha de imunização brasileira, iniciada neste domingo, 17, em São Paulo. Para especialistas, há risco real de a vacinação contra a covid-19 ser interrompida em pouco tempo, por falta total de imunizantes.
O plano de imunização começou com apenas seis milhões de doses da Coronavac, importadas da China. Outros dois milhões de doses do imunizante de Oxford, produzidas na Índia, já deveriam ter chegado. Mas, depois de dois adiamentos, o governo desistiu de fixar nova data para receber o produto. O volume disponível não é suficiente nem mesmo para vacinar os profissionais de saúde, que somam cinco milhões de pessoas no Brasil.
O Instituto Butantan tem 4,8 milhões de doses em fase final de produção, mas aguarda nova autorização da Anvisa para uso emergencial. O pedido foi feito ontem. O órgão não recebeu novas remessas do Insumo Farmacêutico Ativo, o princípio ativo da vacina, importado da China.
“Temos um carregamento de matéria-prima pronto lá na China para ser despachado”, afirmou o presidente do Butantan, Dimas Covas. “Estamos aguardando apenas a autorização do governo chinês para poder trazer e, assim, iniciar a 2ª etapa de produção. Mas dependemos da matéria-prima para poder continuar esse processo.” Segundo ele, o problema é de ordem burocrática, sem detalhar.
O Butantan tem capacidade para fabricar um milhão de doses por dia, segundo Covas. Mas, para isso, depende de insumos feitos pelo laboratório chinês Sinovac que precisam ser importados. “A capacidade de produção foi atingida, mas precisamos dessa matéria-prima”, disse Covas. A instituição estimar que ainda demore dez meses para ter capacidade de produzir a vacina sem depender de insumos importados. Uma nova fábrica do Butantan está em construção na zona oeste de São Paulo.
Covas não informou quantas doses poderão ser feitas com a matéria-prima que aguarda importação. “Mil litros (da matéria-prima) dão origem a um milhão de doses”, disse.
Oxford
Já Fiocruz nem começou a sua produção. A instituição ainda não recebeu nenhuma remessa do IFA para a vacina de Oxford/AstraZeneca. O produto também vem da China. Em nota, a instituição informou que a chegada dos insumos em janeiro ainda está dentro do calendário contratual.
Por contrato, se a AstraZeneca não entregar o princípio ativo, deve fornecer as vacinas prontas. A farmacêutica diz que continua trabalhando na liberação dos lotes de IFA, na China. Segundo Pazuello, o governo chinês não está sendo célere na liberação da burocracia para a exportação das substâncias.
Sobre a importação de dois milhões de doses prontas do imunizante de Oxford, plano que o governo previa executar no fim de semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse ontem que ainda não havia recbido “resposta positiva” sobre a compra. Sem citar uma data, ele disse que teve “sinalização” de que o embarque vai se resolver nesta semana.
Especialistas concordam que, independentemente do ritmo, foi muito importante ter começado a campanha de imunização, ainda que com muito poucas doses disponíveis.
“Certas estratégias não podem ser postergadas. Estamos no auge do número de novos casos e óbitos, qualquer estratégia com evidência científica deve ser implementada, mesmo que o ritmo da vacinação não seja o ideal”, afirmou o chefe do setor de infectologia da Unesp, Alexandre Naime Barbosa. “Esse é o preço que estamos pagando pela falta de planejamento por parte do governo federal.”
Especialistas destacam que o governo não levou adiante as negociações com a Pfizer e a Moderna para a compra de imunizantes. Lembram também que, num primeiro momento, o País não quis entrar no consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a compra de vacinas e, por fim, quando decidiu participar, foi com apenas 10% das doses. Segundo explicou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, é uma tradição brasileira fazer esse tipo de compra em pool. É uma forma a ganhar preferência dos fabricantes.
“Isso tudo nos coloca numa condição extremamente fragilizada, sobretudo diante do aumento de demanda global para todas essas fábricas, como a da Índia, que estão com um cronograma altamente apertado em razão das próprias demandas internas e de outras externas”, resume o virologista Flávio Guimarães, da UFMG.
“Mais do que nunca, vejo como alternativa a continuação do investimento brasileiro num imunizante nacional; temo que o fornecimento externo não vá oferecer a cobertura que precisamos” afirma ele.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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