Mundo
O que esperar do debate entre os vices nas eleições americanas
A doença de Trump deve ser um dos principais temas do embate entre Mike Pence e Kamala Harris, hoje à noite
Só a promessa de civilidade já seria um bom motivo para acompanhar o debate, mas as notícias dos últimos dias certamente vão colocar ambos os candidatos sob os holofotes.
Pence assumiu os compromissos públicos de Trump. Apesar de seguir tuitando enquanto se recupera na Casa Branca, o presidente americano ainda não está curado da Covid-19 e não se sabe quando ele poderá voltar a participar de eventos públicos.
O vice certamente terá de responder perguntas sobre o comportamento de seu chefe e seus assessores mais próximos durante a pandemia. Desde a divulgação do diagnóstico de Trump, pelo menos 18 pessoas que estiveram perto do presidente também apresentaram resultados positivos. Além da primeira-dama Melania, a lista inclui cinco assessores presidenciais, três senadores e dois jornalistas.
Uma indicação do tom que pode se esperar dos republicanos foi dado por seus assessores. A comissão independente que organiza os debates decidiu instalar uma barreira de acrílico para proteger os candidatos e a moderadora, a jornalista Susan Page, do jornal USA Today.
“Se a senadora Harris quiser uma fortaleza à sua volta, que fique à vontade”, afirmou na terça-feira Katie Miller, uma porta-voz de Pence. Os candidatos estarão separados por uma distância de quatro metros. Ao contrário dos debates presidenciais, os vices tradicionalmente ficam sentados. Tanto Biden quanto Harris serão submetidos a testes rápidos antes do debate, e o uso de máscaras será obrigatório pelos assessores e familiares que estarão na plateia.
Pence também deve ser questionado sobre sua atuação no combate à pandemia: oficialmente, ele foi o responsável pela força-tarefa montada por Trump, apesar de o presidente ter aparecido quase todos os dias na TV no auge da crise. Os Estados Unidos registram mais de 7 milhões de infectados e pelo menos 208.000 mortos por complicações da Covid-19.
A resposta de Pence não deve ser muito diferente das oferecidas por Trump até aqui: o governo americano agiu rápido ao fechar as fronteiras com a China, providenciou equipamentos de proteção para médicos e enfermeiros e respondeu a todos os pedidos feitos pelos governadores.
Apesar dessa narrativa (que contém afirmações exageradas), a maioria dos americanos reprova a atuação do governo Trump na condução da pandemia, e a a doença do presidente trouxe a crise sanitária para o centro das atenções a menos de um mês da eleição.
Pence vai tentar pintar Kamala Harris como parte de uma suposta ameaça socialista. Quando disputava a candidatura presidencial, a senadora declarou-se a favor de propostas da ala mais à esquerda do Partido Democrata, como a cobertura de saúde gratuita para toda a população. Biden defende um misto de planos privados e públicos, mas essa mudança de Harris é um de seus potenciais flancos no debate.
A democrata também certamente será atacada por defender uma suposta “anarquia” nas ruas das grandes cidades americanas. Trata-se do argumento de Trump segundo o qual os democratas são coniventes com manifestações violentas e querem tirar recursos das polícias (o que Biden já negou repetidas vezes).
Contraste intenso
Pence e Harris são dois candidatos muito mais diferentes do que Trump e Biden, dois homens idosos (74 e 77 anos, respectivamente) e brancos.
Pence, 61, cresceu numa família católica de ascendência irlandesa e na universidade converteu-se evangélico. “Sou cristão, conservador e republicano, nesta ordem”, é um de seus bordões. O vice-presidente é um ferrenho opositor do direito ao aborto e acredita que casamento e a união de um homem e uma mulher.
Em 2015, quando era governador do estado de Indiana, Pence sancionou uma lei que na prática permitia que estabelecimentos comerciais se recusassem a atender clientes LGBTQ alegando violação de suas liberdades religiosas. Depois da enorme repercussão negativa, os legisladores do estado alteraram a lei.
Kamala Harris completa 56 anos no próximo dia 20 e é americana de primeira geração: seu pai imigrou da Jamaica, e sua mãe, da Índia. Harris é a primeira mulher não-branca a ser candidata a vice-presidente por um dos dois partidos que dominam a política americana.
No espectro político, pode-se dizer que Harris é um negativo de Pence. Ela começou sua carreira política como procuradora em San Francisco, uma das mais progressistas cidades americanas. Em questões sociais, ela defende uma agenda muito próxima da ala esquerda do Partido Democrata, incluindo o direito ao aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo.
É possível que o debate de hoje seja uma prévia do que se verá daqui quatro anos, qualquer que seja o resultado da eleição do mês que vem.
Caso Trump seja reeleito, é provável que Pence dispute a candidatura do Partido Republicano em 2024. O mesmo vale para Harris. Se eleito, Biden terá 82 anos em quatro anos, e muitos consideram pequenas as chances de que ele busque a reeleição. Harris, como vice, seria uma candidata natural.
Como assistir
O debate, que acontece em um auditório da Universidade de Utah, começa às 22h (horário de Brasília) e será transmitido no Brasil pelas TV Bandeirantes e pela CNN Brasil, com tradução simultânea. Também é possível acompanhar o debate via streaming, em sites como New York Times, CNN e Washington Post, entre outros.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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