Mundo
O que é o Islã? Muçulmanos e pesquisador explicam pilares da religião
Crença em Allah, jejum e oração guiam ensinamentos disseminados pelo profeta Muhammad. Sheik e professores de cultura islâmica também falam sobre uso do hijab, casamento e fé.
Oração, jejum e a crença em um único deus formam a base do Islã, uma das religiões que mais crescem no mundo em número de fiéis. Os ensinamentos estão contidos no Alcorão, o livro sagrado que reúne as revelações divinas ao profeta Muhammad (Maomé), ainda no século VII.
Apesar da ascensão no número de seguidores, o desconhecimento sobre as tradições, regras e as crenças islâmicas ainda persiste no Ocidente. Para explicar os principais conceitos, o G1 ouviu um sheik – líder religioso –, um pesquisador de cultura e religião na área de relações internacionais e uma professora muçulmana, que dá aulas sobre língua árabe e cultura islâmica.
Mohammad Zedan, de 71 anos, lidera uma mesquita na Asa Norte, em Brasília. Ele explica que são cinco os pilares do Islã:
- A profissão da fé, com um Deus único e absoluto (Allah), e Muhammad é seu profeta;
- Orações 5 vezes ao dia: às 5h30, 12h, 15h30, 16h, 19h30;
- Jejum no mês do Ramadã;
- Caridade;
- Peregrinação à Meca, se o fiel tiver condições financeiras.
Além disso, o professor-adjunto Erwin Pádua Xavier, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), destaca que a base da religião é o monoteísmo. “Acredita-se na supremacia e na unidade de Deus. Não se concebe Deus como trindade, mas como fonte indivisível da criação”, explica.
“Qualquer muçulmano abomina atos terroristas. Somos obrigados a respeitar outras etnias e religiões. Isso de sair matando porque a mulher não usou roupa coberta, não existe, isso não é prática entre muçulmanos e nem no Alcorão”, diz.
Mulheres no Islã
Para a pesquisadora, existe “muita confusão” no mundo ocidental sobre o entendimento do modo como o Islã orienta as mulheres, principalmente em relação aos trajes.
As regras do Alcorão orientam que as muçulmanas cubram pernas, braços, o tronco e a cabeça, esta, com uso do hijab (véu). No entanto, segundo Maha, não existe uma determinação sobre uso da burca, que cobre olhos, boca e nariz.
“Não podemos usar roupas com as pernas de fora ou mostrar os seios. A beleza da mulher chama a atenção do homem, e o Islã nos vê como uma joia”, explica. “Não somos uma mercadoria para sermos exposta na rua para quem quiser.”
“Não é uma repressão. A mulher muçulmana gosta de se proteger e se cobrir”, explica Maha.
Por causa dessas tradições religiosas e culturais, a professora – que nasceu no Egito – diz ainda que o uso dos trajes, hijab (véu) e roupas modestas, são um modo de “liberdade de expressão e de praticar nossa cultura“.
“Muitos países ocidentais não aceitam nossa cultura e nos obrigam a aceitar a deles. Não podem haver dois pesos e duas medidas.”
O professor de relações internacionais Erwin Xavier, também explica que, apesar das regras impostas pelo Alcorão, ainda no século VII, na região da península arábica, o Islã surgiu com uma série de tradições mais progressista para a época.
“Antes, a mulher era considerada uma propriedade trocada entre famílias, mas o Islã estende para elas uma série de direitos. A religião proibiu o infanticídio feminino, por exemplo. Antes, simplesmente por nascer menina, a criança podia ser enterrada viva ou jogada no rio”, diz.
Oração 5 vezes ao dia
A primeira oração, das cinco diárias que devem ser realizadas pelos fieis da religião islâmica, se chama Farj e inicia ainda na alvorada, às 5h30. A última, o Ishaa, deve ser feita à noite, às 19h, sempre em direção à Meca, na Arábia Saudita – uma das cidades sagradas, onde nasceu o profeta Maomé.
Para quem vê de fora, a obrigação pode ser difícil de conciliar com os afazeres, rotina e trabalho. No entanto, Maha explica que algumas orações podem ser “puladas” e feitas “assim que possível”, em caso excepcional.
“A primeira oração eu faço ao acordar, então, ainda estou em casa. A segunda, na hora do almoço. A terceira, dá para pegar uma pausa no trabalho, entrar no banheiro, lavar as mãos e os pés (ablução) e ir até um cantinho para rezar. Você coloca um tapete e reza. As demais, já estarei em casa”, conta.
Além disso, a professora de cultura islâmica explica que as mulheres, em especial, não são obrigadas a ir todas as vezes à mesquita. “Todo o planeta, para Deus, é uma mesquita“, afirma.
Casamento e família
A poligamia é permitida em alguns países onde a população segue o Islamismo. A prática, no entanto, não é difundida em todos os segmentos da religião.
Os religiosos ouvidos explicam que as orientações sobre casamento e família também estão no Alcorão, o livro sagrado. “Na época, o profeta Muhammad tratou de todas as questões: casamento, herança, tudo… O Alcorão é um livro religioso e jurídico”, explica Maha.
“Naquela época que ele recebeu a missão, os homens tinham 500 mulheres, outros 40. Então, o profeta limitou isso, porque o homem não vai conseguir realizar justiça com três ou quatro esposas. Jamais vai ter condições de manter tantas casas assim”, explica Maha.
“A única determinação é que os homens sejam fieis, jamais trair, nem com a palavra. A mulher deve dar apoio ao marido. Pode trabalhar, e não é obrigada a bancar nada, nem os gastos dela. O homem deve cobrir todas as necessidades da esposa.”
Na mesma linha, o professor Erwin afirma que o Islã proíbe casamentos forçados. “A mulher tem que consentir licitamente para se casar”, diz. “E, no geral, a religião autoriza o casamento do homem com até quatro mulheres, mas orienta que o ideal é a monogamia”.
Islã x islamismo x muçulmanos
Um estudo do Pew Research de 2017 estimou que, até o fim do século, o Islã deve ultrapassar o cristianismo e se tornar a religião com o maior número absoluto de fiéis do planeta.
O pesquisador da universidade de Uberlândia explica que, atualmente, a maioria dos fiéis não está no Oriente Médio, mas em países como Índia, Paquistão e Bangladesh.
“Somente neste subcontinente são cerca 700 milhões de muçulmanos.”
Ainda sobre o assunto, Erwin detalha a diferença entre os termos “Islã”, “Islamismo” e “muçulmano”.
- Islã: nome que se dá à religião. Na tradução do árabe, faz referência a “paz e entrega”.
- Islamismo: nome da religião, mas sufixo “ismo” também pode se referir à ideologia política.
- Muçulmano: vem do árabe “muslim”, aquele que que se entregou e segue as leis divinas.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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