Mundo
O que Boris Johnson pensa sobre Irã, Trump, Huawei e Brexit
Novo primeiro ministro britânico ameaça um Brexit sem acordo até a data limite de 31 de outubro
Ex-secretário das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson foi eleito líder do governista Partido Conservador nesta terça-feira e tomará posse como primeiro-ministro quando Theresa May entregar o cargo, na quarta-feira.
Como a campanha pela liderança foi praticamente dominada pela saída britânica da União Europeia, Johnson não revelou muito sobre políticas firmes, mas abaixo estão algumas de suas posições em temas centrais.
Irã
Johnson disse que, embora o acordo nuclear de 2015 esteja parecendo “cada vez mais frágil” e seja preciso encontrar maneiras de deter o “comportamento perturbador” do Irã, o caminho certo a seguir é engajar-se com os iranianos e tentar persuadi-los a não buscar um programa de armas nucleares.
Até agora ele deu poucos sinais de se aproximar da abordagem mais rígida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizendo, em vez disso, que concorda com a postura adotada por países europeus para incentivar uma volta à diplomacia. Ele disse que atualmente não apoiaria uma ação militar.
Hong Kong
Quando protestos irromperam na ex-colônia britânica no início deste mês em repúdio a um projeto de lei de extradição, e houve a seguir uma guerra de palavras entre o Reino Unido e a China, Johnson disse à Reuters que o povo de Hong Kong está “no seu direito de estar muito cético, muito apreensivo” com a legislação.
Huawei
Uma decisão final sobre a inclusão ou não da chinesa Huawei na rede de telecomunicações 5G britânica travou com a saída de May. Johnson disse que, embora possa haver benefícios consideráveis dos investimentos de outros países, não comprometeria a infraestrutura de segurança nacional de sua nação.
Relacionamento com os EUA
Johnson está determinado a manter um relacionamento forte com os EUA, e a mídia britânica noticiou que ele cogita uma visita a Trump no início de seu governo.
A relutância em antagonizar Trump ficou evidente no começo deste mês, quando ele preferiu não defender o embaixador do Reino Unido em Washington depois que memorandos diplomáticos nos quais o enviado Kim Darroch descreveu o governo Trump como “inepto” foram vazados a um jornal.
Economia
Johnson prometeu gastar bilhões de libras em serviços públicos, infraestrutura e cortes de impostos, além de elevar os gastos com educação, transporte, banda larga superveloz e policiamento e defender o fim do congelamento salarial do setor público.
Ele disse que utilizará a “brecha fiscal” de 27 bilhões de libras que se acumulou nas finanças públicas, referindo-se à diferença entre a meta do governo para o déficit orçamentário e seu tamanho projetado.
Johnson afirmou haver espaço para cortar impostos e prometeu elevar o nível sobre o qual a taxa de imposto de renda mais elevada incide. Ele também disse que o país deveria cortar os impostos corporativos, mas indicou que as gigantes de internet podem ser forçadas a pagar mais.
Brexit
O futuro primeiro-ministro Boris Johnson faz uma aposta arriscada para o Brexit, prometendo uma saída do Reino Unido da União Europeia por cima, apesar da recusa de Bruxelas de renegociar o acordo de divórcio concluído por Theresa May.
O líder conservador ameaça um Brexit sem acordo até a data limite de 31 de outubro, mas ao mesmo tempo quer acreditar na possibilidade de encontrar um terreno comum.
Em um mundo ideal, Boris Johnson gostaria de obter um novo tratado de retirada no lugar do acordo negociado pela primeira-ministra Theresa May, rejeitado três vezes pelo Parlamento britânico.
Mas admite que isso está quase fora de alcance, dado o recesso parlamentar deste verão e o estabelecimento de novas equipes em Londres e Bruxelas.
Haveria apenas algumas semanas em setembro e outubro para negociar, o que parece muito pouco, já que o atual acordo foi o resultado de 17 meses de difíceis discussões que resultaram em um texto de 585 páginas.
A União Europeia repetiu diversas vezes que está pronta apenas para mudanças na declaração política sobre a futura relação entre as partes, que acompanha o tratado de retirada.
A outra possibilidade prevista por Boris Johnson seria fazer com que o Parlamento ratificasse apenas as “melhores partes” do acordo de Theresa May.
Essa opção incluiria os pontos menos polêmicos, como os direitos dos cidadãos europeus, questões de segurança e de cooperação diplomática.
E excluiria o chamado “backstop”, a rede de segurança que visa impedir o regresso de uma fronteira dura entre a República da Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte.
Johnson está apostando em uma estratégia de “ambiguidade construtiva”, particularmente sobre o pagamento de 39 bilhões de libras que Londres deve à UE no âmbito do Brexit.
Este montante poderia servir como meio de pressão para obter de Bruxelas um acordo de “status quo” que permita renovar as regras comerciais existentes até à assinatura de um novo acordo.
A fim de evitar o retorno de uma fronteira na Irlanda durante este período transitório, Johnson mencionou certas soluções tecnológicas ou isenções.
Ele garante que tudo pode ser resolvido “bem antes” das próximas eleições legislativas no Reino Unido, marcadas para maio de 2022.
Um “plano C” seria buscar mais clemência dos líderes europeus. Mas Bruxelas não pretende fazer concessões muito amplas para evitar um precedente aos olhos de outros eurocéticos do continente.
É por isso que a ameaça de um “no deal”, ou Brexit sem acordo, faz todo o sentido.
Este cenário temido pelos meios econômicos terá, de fato, consequências muito mais graves para o Reino Unido do que para o continente, que tem uma economia muito maior e mais diversificada.
Essa solução também pode colocar em risco o acordo de paz na Irlanda do Norte, que encerrou décadas de violência, sem contar que será um fracasso diplomático retumbante para o Reino Unido.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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