Brasília
O genro de Silvio Santos e a imparcialidade da imprensa
Alguns analistas creditam a escolha de Fábio Faria à intenção manifestada por Bolsonaro de apaziguar os ânimos e obter estabilidade parlamentar
Uma das manchetes de ontem foi a nomeação do deputado Fabio Faria para um ministério ressuscitado, o das Comunicações. Amigo do presidente Jair Bolsonaro e de sua família, Faria é conhecido por ser genro de Silvio Santos, o dono da terceira maior cadeia de televisão do país, o SBT. A nomeação de amigos para o governo é coisa corriqueira no Brasil e praxe desde os tempos de Dom Pedro I. Portanto, não seria algo que chama necessariamente a atenção.
Duas questões, no entanto, podem ser levantadas quando se olha para a indicação do jovem deputado.
A primeira é a proximidade entre o futuro ministro e um dos concessionários de TV. Isso afetará sua atuação na Esplanada dos Ministérios? Ainda é cedo para falar, mas pode-se dizer de saída que é uma situação indesejável em termos de governança.
Não é a primeira vez, contudo, que algo do gênero acontece – Antônio Carlos Magalhães, durante o governo Sarney, ocupou o mesmo ministério e era dono da repetidora que usava os sinais da Rede Globo de Televisão na Bahia. Talvez, na época, o conflito de interesses fosse até maior. Como o Ministério também controlava a Embratel, todas decisões sobre o tráfego de sinais de satélite – algo imprescindível para a atividade televisiva – passavam pelo gabinete de ACM.
Fábio Faria, apesar da pouca idade, é considerado um político jeitoso, daqueles que apararam arestas e se aproximam de desafetos. Sob seu guarda-chuva também estarão Correios e a Empresa Brasileira de Comunicação, que deverão ter seus comandos (hoje na mão de generais) passados para nomes indicados pelo Centrão.
O segundo ponto nos leva diretamente à questão da imparcialidade, que pode ser dividida em dois segmentos.
Essa discussão começa com o julgamento da imparcialidade do ministro junto a questões importantes ao setor, especialmente quando os interesses de seu sogro estiverem em jogo. Sabe-se igualmente que o presidente Bolsonaro está sempre à turras com a cobertura jornalística da TV Globo.
Pergunta-se: o que vai acontecer quando os objetivos das emissoras da família Marinho e de Silvio Santos estiverem em conflito? Como Faria vai decidir? Vamos dizer que ele, teoricamente, escolha o lado do SBT. Mesmo que sua avaliação seja correta e técnica, porém, sempre haverá a desconfiança de que a decisão foi maculada pelo vínculo familiar entre apresentador e ministro.
Outro lado que surge dessa discussão gira em torno do conceito de imparcialidade em si, já que a isenção de Fábio Faria pode ser fatalmente questionada pelos jornalistas e, como bônus, ele terá também abaixo de si a Secretaria de Comunicação do Governo. Talvez em função de seu perfil diplomático, o novo ministro possa ajudar nessa área, na qual o governo vem se estranhando com os profissionais de jornalismo desde seu início.
Em diversas ocasiões, Bolsonaro disse que faltava retidão à imprensa, citando nominalmente jornais e emissoras. O próprio secretário de Comunicação do Governo, Fabio Wajgarten, bateu nessa mesma tecla. Quando a Folha de S. Paulo, por exemplo, questionou sua participação acionária em uma empresa que atuava junto a emissoras de TV, mesmo estando ele na Secom, Wajgarten afirmou que a reportagem não era “justa” – ou seja, reclamou de parcialidade.
Como jornalista, eu me pergunto: existe matéria justa? Existe imparcialidade total?
Na terceira temporada da série “The Crown”, da Netflix, há uma passagem na qual a atriz Olivia Colman, que faz a Rainha Elizabeth, diz que ser soberana de uma nação é o pior emprego do mundo. “É preciso ser neutro o tempo todo e a neutralidade é não é uma característica humana”, afirma a personagem. Não se sabe se a Elizabeth de carne e osso falou isso em algum momento da vida, mas os roteiristas da série forjaram uma frase que representa bem a dificuldade que os jornalistas têm de encarar em seu dia a dia.
Como lutar com a própria parcialidade na hora de escrever, deixando de lado as suas crenças pessoais e detendo-se somente aos fatos? É difícil. Tem alguma dúvida? Tente fazer isso por um dia inteiro. Em todas suas conversas, não assuma um lado ou não julgue. Ou melhor, não emita opinião sobre nada. Garanto: medir cada palavra antes de dizê-las não será uma experiência das mais gratificantes.
Como percebemos a falta de equidade em um texto? Na maioria esmagadora dos casos, isso ocorre quando não concordamos com o que está escrito. Percebemos rapidamente se uma notícia é enviesada quando ela vai contra nossos valores, opiniões e conceitos. Só que, muitas vezes, também achamos o mesmo de uma reportagem direta e imparcial – mas cuja pauta pode nos incomodar.
Há muitos que clamam por uma imprensa neutra, mas no fundo querem textos mais parecidos com suas próprias opiniões (não são todos que pensam assim, evidentemente). Essencialmente, isso não é buscar a tal neutralidade; é mudar o sinal da subjetividade.
Isso pode ser visto no comportamento de Bolsonaro e de seus auxiliares mais, digamos, ideológicos. A reclamação não é exatamente por isenção. É por um noticiário favorável. Curiosamente, acusa-se a imprensa de ter sido dócil nos governos do Partido do Trabalhadores porque recebia verbas da Secom (vamos deixar de lado os blogs que eram patrocinados pelo PT e nos concentrar nos grandes veículos). Mas o fato é que inúmeros órgãos de imprensa que hoje batem na administração de Bolsonaro fustigaram os petistas, em especial Dilma Rousseff.
Um argumento que se utiliza muito nas redes sociais junto aos críticos do atual governo é utilizar duas perguntas em sequência: e se fosse o PT? E se Fernando Haddad tivesse vencido as eleições? Vamos, então, utilizar a mesma lógica: imagine que estamos no ano de 2014 e Dilma resolvesse escolher o genro de um dos irmãos Marinho para ocupar o ministério das Comunicações. O que o então deputado Jair Bolsonaro iria pensar dessa nomeação?
Alguns analistas creditam a escolha de Fábio Faria à intenção manifestada por Bolsonaro de apaziguar os ânimos e, juntamente com a estabilidade parlamentar obtida com a adesão do Centrão, obter um cenário político menos turbulento. Se isso for verdade, a sociedade – que não aguenta mais solavancos – agradece encarecidamente. E continuará suas discussões sobre a imparcialidade da imprensa com muito mais tranquilidade.
Motoristas que passaram pelo local estranharam a fumaça preta que sai das torres, que se trata, na verdade, de uma simulação de incêndio
Uma fumaça no Congresso Nacional assustou os brasilienses nesta sexta-feira (21/6). Quem passou pelo local, observou uma fumaça preta saindo pelas torres do órgão e se preocupou. Vídeos gravados pelos moradores da capital mostram o momento, confira:
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A fumaça se trata, na verdade, de um procedimento para exercício de enfrentamento de emergência, realizado pela Seção de Prevenção e Combate contra Incêndios do Departamento de Polícia Legislativa (Seprin/Depol) no Anexo I.
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) confirmou que a fumaça se trata da simulação.
A data da simulação não foi incialmente anunciada e terá duração de aproximadamente duas horas. A energia do edifício foi desligada e não é autorizada movimentação de veículos no estacionamento até o término da ação.
Brasília
Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS
Crédito extraordinário foi autorizado por meio de medida provisória
A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.
A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.
No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.
>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:
– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)
– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)
– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)
– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)
– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)
– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)
– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)
– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).
De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.
No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.
Por Agência Brasil
Brasília
Senador abastece carros da família com verba pública; gasto por mês daria para cruzar 4 vezes o país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) manteve perfil discreto desde que assumiu o cargo por ser suplente de Major Olímpio (do antigo PSL), que morreu em 2021 durante a pandemia vítima de Covid-19. Ele tem chamado atenção no meio político, porém, pela prestação de contas com combustíveis e seu périplo por restaurantes caros de São Paulo.
Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que gastos de mais de R$ 336 mil abasteceram carros de Giordano, de seu filho e também de uma empresa da família. Com o combustível em preços atuais, o total seria o suficiente para dar 17 voltas na Terra. A média mensal de gastos com o item, de cerca de R$ 9.000, possibilitaria cruzar o país, em uma linha reta do Oiapoque ao Chuí, quatro vezes por mês.
O senador diz não haver irregularidade nos gastos e que não utiliza toda a verba disponibilizada. Ele ainda justifica o uso de veículos particulares para economia e afirma que o STF (Supremo Tribunal Federal) já arquivou questionamento sobre gasto de combustível. A apuração, porém, não esmiuçava todos os detalhes dos gastos do senador ao longo de três anos.
Os dados no site do Senado apresentam limitações por misturar despesas com locomoção, hospedagem, combustível e alimentação uma minoria de senadores traz um detalhamento ampliado, o que não ocorre nos dados relativos a Giordano. Nessa categoria mais ampla, Giordano tem o sexto maior gasto desde que assumiu, com um total de R$ 515 mil. A reportagem localizou R$ 336 mil em despesas exclusivamente com postos de gasolina por meio da análise do nome dos estabelecimentos, que é de longe o maior entre senadores por São Paulo.
Pelo mesmo recorte, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL), por exemplo, gastou por volta de R$ 10 mil em postos de gasolina e centros automotivos nos últimos três anos. Já Mara Gabrilli (PSD) gastou R$ 26 mil. No caso de Giordano, a maioria das notas está concentrada no Auto Posto Mirante (R$ 183 mil), zona norte da capital paulista, região do escritório político e empresas da família do senador. Outro posto, o Irmãos Miguel consta de reembolsos que somam por volta de R$ 122 mil. O estabelecimento fica na cidade de Morungaba, de menos de 14 mil habitantes, no interior de São Paulo.
O lugar abriga o Hotel Fazenda São Silvano, do qual Giordano é dono. O senador não detalhou por qual motivo concentra tamanho gasto em combustível na cidade. A Folha de S.Paulo também encontrou gastos em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Todas registradas em finais de semana, quatro notas, totalizam gastos de R$ 1.200 no Auto Posto Ipiranguinha, que fica na rodovia Oswaldo Cruz a reportagem localizou ação judicial do ano passado que cita um imóvel do filho de Giordano, Lucca, em condomínio a cerca de 2 km do local.
Em um dos domingos em Ubatuba, em janeiro de 2023, também foi registrado um gasto R$ 255 com um pedido de um abadejo para dois. Na época desse gasto, o Senado estava em recesso. A reportagem encontrou diversos gastos com refeições aos finais de semana, mesmo durante a pausa do Legislativo. As despesas do senador com alimentação chamam a atenção pela predileção por restaurantes caros, conforme foi revelado pelo Metrópoles.
Em março, há uma nota fiscal de R$ 681 da churrascaria Varanda Grill, na região da Faria Lima, que incluiu dois carrés de cordeiro por R$ 194 cada. Em 2022, o ressarcimento foi de R$ 810 na churrascaria Rodeio, em Cerqueira Cesar, com direito a uma picanha para dois no valor de R$ 385. A lista traz locais como Fogo de Chão, Outback, Jardim Di Napoli e Almanara.
A exigência não vai apenas para os pratos. Uma nota fiscal do restaurante Cervantes traz R$ 144 apenas em seis unidades de água, das marcas premium San Pellegrino e Panna. Em 2018, Giordano declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral. Desafeto de Ricardo Nunes (MDB), Giordano levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas na política.
O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.
SENADOR DIZ QUE USA CARROS PARTICULARES PARA ECONOMIZAR
O senador Giordano afirma que os os gastos já foram analisados pelo Senado, pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, sendo que os dois últimos arquivaram procedimento preliminar “por entenderem que não há qualquer ilegalidade nos apontamentos realizados”.
O MPF havia pedido à corte que intimasse o senador após apurar gasto de R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um só dia. O arquivamento aconteceu após explicação de que esse tipo de gasto se referia a 15 dias ou mais, e não a uma única visita.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, aceitou o argumento e ressaltou que os gastos não ultrapassam o limite mensal de R$ 15.000 para este tipo de item. Giordano diz que cota parlamentar contempla também de sua assessoria quando em atividade e afirma que “utiliza e disponibiliza para seus assessores, quando em apoio à atividade parlamentar, os veículos que possui”. Ele afirmou ainda que assessores utilizam, se necessário, os próprios veículos para deslocamentos no âmbito da atividade também.
A resposta aconteceu após a reportagem enviar quatro placas de veículos à assessoria de Giordano, no nome dele, do filho e de empresa da família, que constavam das notas. Ele justifica o uso dos automóveis para “evitar a ampliação do uso da verba de gabinete com aluguéis de veículos” e que os gastos nos postos citados ocorrem por questões logísticas. “Vale ressaltar que este parlamentar não utiliza toda a verba disponibilizada, tendo mensalmente sobras acumuladas”, afirma, em nota.
O senador ainda afirmou que atividade parlamentar não se restringe a dias úteis, “estando o parlamentar em contato constante com sua base para atender às demandas postas”. Giordano também afirmou que os gastos com alimentação ocorrem no exercício de atividades parlamentares e que as refeições mencionadas estão ligadas ao cumprimento do mandato, estando em conformidade com a lei.
A reportagem localizou recibos com placas de veículos em nome do filho do senador, Lucca Giordano, de empresa da família e do próprio parlamentar as notas citam o senador como cliente. A maioria dos comprovantes, porém, não especifica o carro abastecido.
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