Brasil
“Nosso maior desafio não é a falta de médico, mas a aglomeração das pessoas”, diz médico no RS
Casas, hospitais, estradas, empresas, pessoas, animais – tudo foi impactado pela enchente história do Rio Grande do Sul. Mais de 400 municípios foram afetados e mais de 100 pessoas morreram. A calamidade pública atingiu praticamente todo o estado gaúcho que conta hoje com a ajuda não apenas do governo estadual e federal, mas também de empresas e civis para passar por essa situação de calamidade pública – segundo o governador Eduardo Leite, estima-se um valor inicial de 19 bilhões de reais para reconstruir o estado.
Uma das áreas que mais vai necessitar desse apoio será a área da saúde. O hospital privado Mãe de Deus, em Porto Alegre, foi um dos hospitais alagados. Henri Siegert Chazan, presidente do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre, quando soube que o hospital Mãe de Deus estava sendo invadido pela água, pegou emprestado de um amigo um jipe antigo do exército americano e foi até o local ajudar no resgate.
“Vi soldados do Exército Brasileiro retirarem os 300 pacientes que estavam internados neste hospital que foram transportados em caminhões”, disse o executivo que comentou que chegou a ver a retirada também de medicamentos oncológicos que estavam em uma geladeira desligada. “Muitos pontos de energia foram desligados na cidade, por uma questão de segurança, afinal, o que víamos era água para todo o lado”.
Neste momento de crise, os hospitais cancelaram todas as cirurgias que não são de emergência e estão recebendo água de caminhão, afirma Chazan. “Na enchente, a ironia é que estamos sem água”, diz. “Nos hospitais a água que chega é somente para os pacientes, já os médicos, por exemplo, não podem tomar banho no local, o que era de costume em plantões”.
Diferente de catástrofes como em Brumadinho ou em um estado de guerra, as pessoas não estão chegando nos hospitais com ferimentos muito graves.
“Por isso, não estamos precisando tanto de médicos para casos de emergência. O que mais a população está precisando agora são de psiquiatras e psicólogos”, diz Chazan.
Fernando Uberti, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, é psiquiatra e reforça que a maior preocupação da saúde não está sendo a quantidade de médicos e sim no cuidado onde elas estão hoje.
“Como sindicato, mobilizamos a nossa rede de voluntários, que conta com médicos e estudantes de medicina para captação de doações de medicamentos, produtos de higienes e insumos médicos”, diz o médico que afirma que o ponto de coleta está funcionando 24 horas no estacionamento do sindicato e mais de mil médicos se cadastraram para o trabalho social na região.
Os desafios da área da saúde gaúcha
No primeiro momento, Uberti comenta que o foco estava nas doações e no trabalho voluntário e depois sentiram a dificuldade nos atendimentos médicos nos abrigos, uma vez que as aglomerações podem gerar diferentes doenças.
“Em articulação com a prefeitura de Porto Alegre, assumimos os fluxos dos médicos em 27 abrigos. Ficamos responsáveis por gerenciar as escalas, os insumos, o atendimento clínico e pediátrico”, diz. “Temos muitas crianças nos abrigos e aqui já está com baixa temperatura, e já sabemos que crianças apresentam mais doenças respiratórias, por isso estamos atuando nos abrigos para não sobrecarregar os hospitais”.
Desde quarta-feira, 8, o médico comenta que estão oferecendo tele consultas com psiquiatras e infectologistas, como um suporte aos médicos que estão nos abrigos. “Vamos precisar muito de psicólogos, pediatras e infectologistas, principalmente por causa do risco de dengue e leptospirose”, afirma.
Esse suporte está sendo realizado em Porto Alegre, mas mais de 400 cidades estão com pessoas desabrigadas, dormindo em abrigos. “Nas outras regiões, ainda não conseguimos chegar, por que grande parte das estradas foram destruídas, por isso, todo o apoio com a logística e doações é bem-vindo.”
Pelo ponto de vista econômico, Chazan como representante dos hospitais privados, reforça a necessidade de apoio a essa classe.
“Os hospitais públicos têm verba do governo federal, mas os hospitais privados e clínicas, que atendem só convênios e saúde suplementar, vão ter zero de faturamento por 1 e 2 meses, e essas empresas vão quebrar. Precisamos que os planos de saúde considerarem a relação econômica desses prestadores de serviço que vão fazer falta do futuro”.
Os medicamentos vêm do alto
Com estradas destruídas pelas enchentes, Porto Alegre está recebendo os medicamentos por doações com helicópteros, assim como a cidade de Canoas. Além do governo federal e prefeitura, empresários e pessoas físicas estão ajudando com as doações de remédios.
“Acabou de decolar do âmbar aqui de Porto Alegre o helicóptero do Neymar, que veio carregado de medicamentos. Não sei onde compraram, mas agora estão indo realizar doações em Guaíba”, afirma Chazan que reforça que as doações que mais precisam agora são de uso contínuo.
“As pessoas saem de casa correndo, e por isso esquecem os remédios de pressão, colesterol e até psiquiátricos”, diz o vice-presidente que comenta que também estão precisando de doação de fraldas, lenço umedecido e absorventes. “Não tem água para banho em muitos abrigos e esses insumos ajudam as pessoas a terem um pouco de dignidade.”
Para ajudar no transporte das doações, Chazan conta que estados estão ajudando muito com o envio de helicópteros.
“Ontem mesmo tinha aqui um helicóptero de Santa Catarina ajudando com as distribuições de remédios e comidas. Também têm helicópteros grandes e pequenos de São Paulo. Um avião de Minas Gerais transportou hoje centenas de antenas de comunicação via satélite que foram doadas por meio do Instituto Cultural Floresta. A chegada dessas antenas foi muito significante, afinal, não tem como coordenar auxílio sem comunicação”, diz o presidente do sindicato que reforça que não encontrou mais botes e jet ski à venda.
“Muitas pessoas de outros estados compraram e vieram ajudar com os resgates de pessoas e animais aqui no Sul. É impressionante ver esse voluntariado espontâneo. É uma situação que nos faz crescer como ser humano e que nos dá esperança de um dia retomar a vida normalmente.”
Para ajudar com doações e ou trabalho voluntário na região do Rio Grande do Sul, veja aqui as ONGs que estão ajudando localmente.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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