Brasil
Mais 80 agentes da Força Nacional devem reforçar saída de garimpeiros de Terra Indígena Yanomami
Ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, destaca o risco de escassez de alimentos e diz que garimpeiros podem roubar cestas básicas enviadas aos indígenas
O primeiro dia da operação do governo federal para retirada do garimpo da Terra Indígena Yanomami foi de pouca ação de agentes de segurança e aumento de tensão. Garimpeiros não conseguem deixar o território por viagens aéreas, apesar de a Força Aérea Brasileira ter autorizado voos para este fim, em corredores especiais no espaço aéreo da terra indígena, fechado na semana passada. Depois de confirmadas as mortes de um ianomâmi e de um garimpeiro na reserva, no fim de semana (além de outro indígena ser resgatado ferido pela Polícia Federal), representantes dos invasores e dos povos originários temem mais violência, se a retirada não for agilizada.
— Tem um indígena no Hospital Geral de Roraima que contou que ia para a comunidade e os garimpeiros atiraram nele. Houve troca de tiros. A situação de conflito deve piorar — afirmou o presidente da Urihi, Júnior Hekurari Yanomami.
— Vai haver conflito — prevê o líder do Movimento Garimpo Legal, Jailson Mesquita. — Há quase 20 mil pessoas lá (invasores na reserva ianomâmi). Como vão sair, se só cabem cinco em cada avião, e não tem mais avião pequeno aqui em Roraima, pois os donos de garimpo retiraram todos? Isso vai terminar em tragédia, se nada for feito.
A Polícia Militar montou barreiras em estradas no interior de Roraima para recolher armas e carregamentos de cassiterita, metal que é tão procurado quanto o ouro na terra ianomâmi, de garimpeiros que eventualmente tivessem saído da reserva por terra. Ao mesmo tempo, agentes da Polícia Federal e da Força Nacional se instalaram em um quartel de Surucucu, base do governo na reserva ianomâmi.
A expectativa é de que hoje cheguem ao estado mais 80 homens da Força Nacional, com o ministro da Defesa, José Múcio, e o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), que ontem estava em Brasília. Os agentes devem reforçar imediatamente a retirada dos garimpeiros em comunidades indígenas na operação.
Enquanto o contingente total de 500 agentes previstos não chega a Roraima, garimpeiros fecharam pistas de pouso clandestinas que poderiam usar para deixar a reserva, descontentes com os preços de até R$ 15 mil que são cobrados por proprietários de helicópteros para fazer o voo de volta, e com a perspectiva de responderem na Justiça pela invasão. A revolta e a movimentação de outros invasores que tentam sair da reserva a pé aumenta o temor com a segurança dos ianomâmis.
Pedido de proteção
O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, disse ontem, em Boa Vista, que deve pedir a inclusão de líderes ianomâmis em um programa de proteção do governo federal.
— Tivemos lideranças se sentindo ameaçadas — afirmou Tapeba, para quem somente com a saída do garimpo ilegal será possível aumentar o socorro médico aos ianomâmis. — A terra ianomâmi virou um campo de concentração. Estamos aguardando a reforma da pista (da base de Surucucu) para construir o novo hospital de campanha. Não temos condições de mandar equipes para a área. Apesar de a situação de desnutrição ser grave, só será possível reabrir unidades de saúde com saída de garimpeiros.
— Estamos recebendo muitas ameaças de morte dos garimpeiros. É importante que as lideranças sejam protegidas, somos a voz do povo ianomâmi — alertou Júnior Yanomami. — Estamos recebendo informações de ianomâmi assassinados e não temos como confirmar.
Entenda: Metade das pistas de pouso da Amazônia não tem registro, e terra indígena mais afetada é a Yanomami
A PF ainda investiga a morte de mais dois indígenas no fim de semana, denunciada por líderes da etnia. Os corpos estariam em uma área de difícil acesso.
Vídeos divulgados por garimpeiros em redes sociais mostram pessoas fechando pistas de pouso clandestinas na região de Homoxi. Mesquita, do Movimento Garimpo Legal, disse que foi criado um centro de apoio para ajudar a retirar quem estiver na terra indígena. Mas considera que não será um processo rápido ou mesmo pacífico.
— Eles (os garimpeiros) se agruparam próximo da pista de pouso, fecharam o local e esperam ajuda. Não têm comida, nem há como retirar ninguém em uma semana com avião pequeno.
Disputa por comida
Em entrevista na Globonews, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, explicou que muitos invasores estão deixando os garimpos menores e indo para os maiores, onde há maior estrutura e oferta de comida. A situação aumenta a pressão sobre os indígenas, que, segundo ela, já estão ficando sem alimentos.
— Há informações de indígenas de que eles (garimpeiros) podem inclusive já se apropriar das cestas básicas enviadas à região. A situação é de urgência — reconheceu Guajajara.
Outra preocupação é com a disseminação de doenças após a saída dos invasores. Há muitos garimpeiros com malária ou doenças sexualmente transmissíveis.
— Em Boa Vista, há a preocupação em articular ações de saúde para evitar que doenças sejam disseminadas. O Ministério da Saúde está trazendo essa situação para discutir um plano de ações emergenciais, envolvendo outros órgãos — disse.
Guajajara acrescentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Antonio Denarium estudam uma ação para recompor a renda de garimpeiros ilegais.
Em Brasília, Denarium reuniu-se ontem com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar da criação de um programa social para os garimpeiros. O encontro confirmou a criação de uma comissão de senadores para acompanhar a crise na terra ianomâmi. A comissão será inicialmente formada pelos três senadores de Roraima: Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Hiran Gonçalves (PP-RR) e Chico Rodrigues (PSB-RR).
Denarium propôs criar novas áreas de mineração, fora de áreas indígenas, para serem exploradas por cooperativas de garimpeiros.
— Ilegais ou não, são pessoas que precisam ser retiradas. Vão ficar sem emprego e sem fonte de renda — alertou Mecias, que esteve no encontro.
Para o senador, os “verdadeiros donos de garimpo” não estão na terra ianomâmi, e restaram apenas trabalhadores que buscam sustentar as famílias:
— Estão sem meios de sair. Pessoas morrendo de fome nas estradas, outras são assassinadas.</
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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