Brasil
Maior parte do Plano de Segurança, lançado há um ano, ficou apenas no papel
No momento em que o governo federal faz uma intervenção no Rio e anuncia um Ministério da Segurança, o primeiro plano para a área completa um ano, com poucos resultados visíveis. Lançado em janeiro de 2017, como resposta a uma série de chacinas no sistema penitenciário, o Plano Nacional de Segurança tinha metas ambiciosas, como a redução de 15% na superlotação dos presídios, que estão longe de serem cumpridas. Sobre outras não há dados oficiais. E há as que foram abandonadas ou reformuladas. O Ministério da Justiça vê avanços, mas fala em revisão e aperfeiçoamento.
Por meio da Lei de Acesso à Informação, o jornal O Estado de S. Paulo acompanhou dez das mais importantes metas traçadas pelo então ministro Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Dessas, o governo diz ter cumprido uma, ao produzir estatística nacional para mensurar a atividade da polícia judiciária. Mas, como não há divulgação, não foi possível avaliá-la.
De seis metas não cumpridas, três sequer saíram do papel ou foram abandonadas, e três começaram a ser executadas, mas estão longe do que foi proposto originalmente. Sobre outras três, não há dados oficiais que permitam o acompanhamento do cumprimento. Em pelo menos uma – a redução na superlotação -, a meta é considerada improvável de ter sido atingida, já que apenas 4% da verba liberada aos Estados pelo Fundo Penitenciário foi gasta.
Rio
Entre os objetivos está o que previa a chegada do Plano a todas as capitais até o fim de 2017, com a redução de 7,5% dos homicídios. Houve resultados em Porto Alegre e Aracaju. Já no Rio e em Natal, o índice cresceu. Em Natal, o número de mortos passou de 581 para 622 entre 2016 e 2017, e no Rio Grande do Norte os registros saltaram 20%. A promessa era de que, após chegar às capitais, o plano beneficiaria as regiões metropolitanas dessas cidades em 2018.
No Rio, o Plano só chegou em agosto, mas em 2017 o número de homicídios chegou a 6.731, ante os 6.262 do ano anterior. A taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes chegou a 40, a maior desde 2009.
Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Isabel Figueiredo critica a falta de direção na política para a área. “Nenhum vento ajuda o barco que não sabe para onde quer ir. Fica à deriva. O governo propõe respostas imediatas para crises que são, na verdade, não respostas. Passou da hora de se pensar apenas em sensação de segurança e discutir Segurança propriamente dita.” Para ela, vários Estados enfrentam grave situação, e não apenas o Rio, alvo de intervenção federal.
“Supondo que dê tudo certo no Rio, ainda tem o Ceará, o Rio Grande do Norte. Está na hora de discutir o desenho constitucional da Segurança, sua estrutura e seu financiamento. O que se continua fazendo é responder a crises.”
Só no papel
Três metas ficaram no papel ou foram abandonadas. O Plano previa, por exemplo, a implementação de 27 núcleos de inteligência, o que não aconteceu. A pasta diz que está estruturando cinco centros regionais para, depois, avaliar a necessidade de núcleos estaduais. O governo desistiu também de revisar a matriz nacional curricular das academias de polícia. “Temos a informar que esta ação surgiu a pedidos dos diretores das Academias de Polícia Civil, porém, após contato com a área, verificou-se que a Matriz Nacional Curricular existente ainda é atual”, afirmou à reportagem Ana Paula Garutti, diretora substituta do Departamento de Ensino, Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal, da Secretaria Nacional de Segurança.
Coordenador científico do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador de políticas nacionais na área, Sérgio Adorno diz que o plano “não foi efetivamente executado”. “Quando foi lançado, já parecia uma colcha de retalhos com baixas chances de ser executado.”
Ele lembra que analisou os planos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. “Eram projetos fortes, claros e orgânicos, com linhas de ação definidas. Eles avaliavam iniciativas para a redução da violência, de homicídios, e tinham políticas sociais, com promoção de garantias e direitos, além de reformas da polícia e no sistema penitenciário.”
‘Resultados positivos’
O Ministério da Justiça enumerou o que chamou de “resultados positivos diferentes nos Estados onde (o plano) atuou”: redução de homicídios em 25% em Sergipe, 15% no Rio Grande do Sul e 2% no Rio Grande do Norte, além da redução de 30% no roubo de carga no Rio.
A pasta, no entanto, não informou a qual período se refere a comparação, já que, por exemplo, entre 2016 e 2017 os homicídios aumentaram 20%, e não diminuíram, no Rio Grande do Norte, chegando ao patamar histórico de 2,4 mil casos.
Para o ministério, o trabalho desenvolvido “rendeu ótimas avaliações dos governos estaduais” que solicitaram a continuidade das operações, renovadas por mais 180 dias, a partir de 1.º de janeiro de 2018. “Além da revisão do plano, o Ministério da Justiça está avaliando os resultados alcançados nos Estados onde ocorreram operações com o apoio do governo federal, de forma que as estratégias possam ser aperfeiçoadas”, informou em nota. “Importante destacar também os investimentos (entre doações, capacitações e operações) realizados em todo o País por meio dos Fundos Nacionais Penitenciário (Funpen) e de Segurança Pública (FNSP).”
Consulta
A pasta destacou que foi realizada em dezembro do ano passado e janeiro uma consulta pública sobre a Política Nacional de Segurança Pública, “que deverá ser publicada em breve”.
“Ela reunirá, pela primeira vez, um conjunto de princípios, diretrizes e objetivos de Segurança Pública a serem implementados pelos três níveis de governo de forma integrada e coordenada, visando à manutenção da ordem pública, à garantia da incolumidade das pessoas e do patrimônio e ao enfrentamento à criminalidade em todas as suas formas”, disse o ministério.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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