Mundo
Macron e Le Pen dão a largada na campanha de 2º turno na França
Após uma campanha de primeiro turno quase inexistente, Macron visita redutos eleitorais de Le Pen. Há somente duas semanas até a votação em 24 de abril
Se uma das principais críticas dos eleitores na França foi a quase inexistência de campanha no primeiro turno, a reta final da eleição no país promete ser muito mais movimentada. A agenda eleitoral do presidente Emmanuel Macron e de sua concorrente, Marine Le Pen, tem novos eventos nesta terça-feira, 12, e seguirá com atividades diárias até a votação no segundo turno, em 24 de abril.
Macron, que só fez um evento de campanha no primeiro turno – o que analistas afirmam ter dado espaço a Le Pen -, tentará tirar o atraso visitando hoje redutos eleitorais da opositora.
O presidente passa nesta terça-feira por áreas do leste do país, após já ter visitado eleitores no norte na segunda-feira, 11. Em ambas as regiões, a abstenção foi alta (acima de um terço) e os que votaram preferiram Le Pen e, em segundo, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
Já Le Pen visitou ontem fazendeiros na região de Borgonha, onde discutiu o alto custo de vida e a inflação, temas que foram prioritários na campanha no primeiro turno. Nesta terça-feira, ela fará um pronunciamento onde prometeu detalhar sua “visão para revitalizar a democracia” na França.
Macron e Le Pen se enfrentam em duas semanas após terem sido os melhores colocados na eleição do último domingo, 10.
- Macron, do partido centrista Em Marcha (fundado por ele próprio), liderou com 27,8% dos votos.
- Le Pen, do ultradireitista Reunião Nacional, teve 23,2%.
- Jean-Luc Mélenchon, do esquerdista França Insubmissa, teve 22,0%.
Corrida contra o relógio
Entre os apertos de mão, fotografias comendo croissant e visitas a áreas diversas da França antes do segundo turno, os candidatos terão dois desafios principais: angariar votos dos oponentes já eliminados (somados, são 49%) e convencer mais eleitores a irem às urnas, após a abstenção recorde no fim de semana (dos quase 49 milhões de eleitores aptos, mais de 26% não votaram).
Em 2017, última eleição, Macron e Le Pen já haviam disputado o segundo turno. Na ocasião, o atual presidente venceu com folga, tendo mais de 66% dos votos.
Desta vez, a missão de Macron para seguir no cargo será mais difícil. As primeiras pesquisas dão cenário de somente 53% dos votos para Macron e 47% para Le Pen, na média, e muitas sondagens colocam a liderança do atual presidente somente dentro da margem de erro.
Há uma rejeição constante dos franceses a políticos que já estão no cargo, e Macron, se vitorioso, seria o primeiro presidente reeleito em duas décadas. Em 2017, o mandatário se vendeu na campanha como figura de novidade e renovação, o que o levou à vitória, mas, em 2022, ele chega ao pleito com alta rejeição acumulada.
Educado nas melhores faculdades da França e ex-banqueiro, Macron é visto como elitista e descolado dos anseios da população. O presidente defende reformas impopulares (como a idade mínima para aposentadoria aos 65 anos) e teve a imagem impactada por protestos como os dos “coletes amarelos” em 2018.
Um de seus trunfos recentes na campanha, as negociações com Vladimir Putin sobre a guerra na Ucrânia, não é mais prioridade para o eleitor.
Enquanto isso, Le Pen tem moderado o discurso, feito campanha com crianças e idosos no interior e tentado imprimir uma nova imagem de conciliação e simpatia, o que a fez reduzir parte da rejeição que trazia anteriormente. A candidata da extrema-direita também cresceu nas pesquisas ao se colocar como porta-voz de temas como o custo de vida, a inflação e os salários, que se somam a suas tradicionais pautas conservadoras, com posições anti-imigração e anti-União Europeia.
A frente ampla contra os Le Pen
Apesar da tentativa da candidata da Reunião Nacional de mostrar moderação, uma frente democrática contra Le Pen se formou logo após os resultados.
Partidos diversos declararam apoio a Macron, como o Partido Socialista (centro-esquerda tradicional) e o Republicanos (centro-direita tradicional), além dos ambientalistas e dos comunistas.
“Vou votar em Macron para evitar a chegada de Le Pen ao poder e o caos resultante”, disse a direitista Valérie Pécresse, dos Republicanos. Dos principais candidatos, só Éric Zemmour, também de extrema-direita, apoia Le Pen.
Movimento parecido já havia ocorrido em 2017 e sobretudo em 2002, quando o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, foi ao segundo turno de forma inédita. Le Pen “pai” saiu massacrado pelo conservador Jacques Chirac, que contou com apoio de rivais da esquerda e teve mais de 80% dos votos.
Desta vez, mesmo Mélenchon, que pertence a uma ala mais radical da esquerda e é critico ferrenho de Macron, disse que “não deve ser dado um voto sequer a Le Pen” – embora não tenha citado diretamente o nome do atual presidente.
Mas o cenário fica indefinido porque seu eleitorado – que votou em propostas como aposentadoria aos 60 anos, menor jornada de trabalho e energias renováveis – pode não necessariamente transferir os votos para Macron, a quem este grupo rejeita.
Eleitores de Mélenchon com menor escolaridade e mais pobres tendem a transferir mais votos para Le Pen, como mostram as pesquisas até o momento.
Segundo pesquisa Ifop nesta segunda-feira, 44% dos eleitores de Mélenchon sequer planejam votar. Os que vão às urnas estão divididos em 33% para Macron e altíssimos 22% para Le Pen. Caberá a Macron convencê-los do contrário nas próximas duas semanas, começando agora.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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