Brasil
Governo do Amazonas prepara recurso em defesa da Zona Franca de Manaus
Até a definição se o artigo 15 da Lei Complementar nº 24 foi recepcionado pela Constituição ou não, a ZFM continuará a viver de sobressaltos
A decisão da Câmara Superior do Tribunal de Impostos e Taxas (TIT) de São Paulo — última instância da esfera administrativa — favorável ao cancelamento de créditos de ICMS de produtos produzidos pela Zona Franca de Manaus (ZFM) vai provocar uma avalanche de ações na Justiça, prevê a tributarista Paloma Rosa, do escritório Vieira Rezende Advogados. “Empresas, associações e entidades representantes de contribuintes atingidos pela decisão vão recorrer, de forma individual ou coletiva, abrindo inúmeros novos processos judiciais”, avalia.
Em sessão no dia 24, por nove votos a sete, o TIT considerou legais as autuações fiscais lavradas pela fiscalização paulista, e a tese agora será aplicada a todos os demais casos sobre o assunto levados à esfera administrativa. São 47 processos ao todo, que somam débitos perto de R$ 2 bilhões, segundo a Secretaria de Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo.
Os conselheiros consideraram que não se pode permitir o uso de créditos de benefícios fiscais não autorizados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), como estabelecem os artigos 1º e 8º da Lei Complementar nº 24, de 1975, apesar de o artigo 15 da mesma lei assegurar que a medida não se aplica às indústrias instaladas ou que se instalarem na ZFM. A maioria dos integrantes do TIT, contudo, considerou que a determinação não foi recepcionada pela Constituição de 1988, a qual, com o fim de evitar a guerra fiscal de ICMS, proibiu a concessão de créditos sem a autorização prévia do Confaz.
A interpretação não é pacífica. Tanto que o governo do Amazonas contesta a tese e avalia que contraria “dispositivos constitucionais de garantia da ZFM”. A Secretaria de Fazenda do Estado do Amazonas e a Procuradoria-Geral do Estado já preparam um recurso judicial contra a decisão do TIT paulista, mas ainda decidem a qual foro recorrer, se ao Tribunal de Justiça de São Paulo ou ao Supremo Tribunal Federal.
Vice-presidente da Câmara, o deputado Marcelo Ramos (PSD-AM) não tem dúvidas: “Essa decisão é claramente inconstitucional e cabe ao governo do Amazonas tomar as providências judiciais”. Presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Wilson Périco é mais cauteloso e afirma que “seguramente buscaremos um caminho” para contestar a decisão do TIT paulista.
Qualquer recurso, contudo, vai levar anos até uma sentença definitiva, ressalta a tributarista Paloma Rosa. Os contribuintes que resolverem procurar o caminho da Justiça de forma individual terão de arcar com o custo da garantia em juízo, por meio de depósito do valor em discussão, de seguro fiança ou seguro garantia, a depender da decisão judicial. Eles devem entrar com recurso na Justiça paulista, antes de pensar em chegar ao STF.
O governo do Amazonas, por seu lado, pode recorrer novamente ao Supremo. Em 1990, entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 310) na Corte contra a decisão do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que retirou do modelo ZFM o direito de receber alguns produtos industrializados e semielaborados com incentivos do imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços (ICMS).
O Confaz, por meio dos Convênios 1, 2 e 6 de 1990, não reconheceu a excepcionalidade da ZFM de receber mercadorias com isenções fiscais. É o mesmo caso que se perpetua. A ADI 310 foi julgada pelo Supremo apenas em 2014 e o governo do Amazonas ganhou a causa.
Desde então, apenas São Paulo continua a recusar os créditos de ICMS dos produtos fabricados na ZFM não autorizados pelo Confaz. Em 2012, entrou com a ADI 4832 no Supremo defendendo a mesma tese aceita pela maioria dos juízes do TIT no dia 24 de março. O caso aguarda inclusão na pauta de julgamentos, estando concluso pela relatora, a ministra Rosa Weber, desde 2019. É uma esperança para os contribuintes atingidos agora pela decisão do TIT de São Paulo para encurtar o tempo de espera por uma sentença e evitar o custo judicial extra.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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