Mundo
Fome dispara no mundo e ONU aponta soluções; veja destaques do Brasil e outros países
A fome avançou rapidamente nos países mais pobres, segundo relatório de grupos de agricultura e alimentação da ONU
A fome aumentou em todo o mundo nos últimos dois anos, e a situação não está perto de melhorar, aponta novo relatório de braços de agricultura, alimentação e saúde da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta quarta-feira, 6.
Entre 702 e 828 milhões de pessoas foram afetadas pela fome no mundo em 2021, segundo o estudo.
“São números deprimentes para a humanidade. Continuamos nos afastando da nossa meta de acabar com a fome até 2030”, disse em nota o Presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, Gilbert F. Houngbo.
No Brasil, o número de pessoas em insegurança alimentar grave (que inclui situações de fome) supera 15 milhões de pessoas. No índice de subalimentação da ONU, anteriormente usado para calcular o “Mapa da Fome” (veja abaixo), o Brasil chegou a seu pior cenário desde 2010.
Os índices de fome devem seguir altos nos próximos anos com a guerra na Ucrânia e a inflação global, e a ONU aponta que são necessárias políticas para baratear alimentos saudáveis e ampliar o acesso a eles. Veja abaixo os principais destaques do relatório da ONU e as citações sobre o Brasil.
Fome sobe de forma sistemática no mundo
O contingente de pessoas afetadas pela fome nos dados de 2021 tem 46 milhões de pessoas a mais do que em 2020, o equivalente a uma população inteira da Argentina ou da Espanha que passou a conviver com a fome no último ano.
As regiões mais afetadas seguem sendo África, Ásia e América Latina.
Os motivos para a piora no cenário incluem os problemas econômicos gerados pela pandemia. Se o combate à fome já era um desafio antes, a situação se intensificou com questões como o aumento da cotação de grãos e outros itens essenciais no mercado internacional, além dos gargalos na cadeia de suprimentos que têm gerado inflação em todo o mundo.
Para além das pessoas com fome, a insegurança alimentar grave ou moderada também subiu e atinge uma em cada três pessoas no mundo (29% da população), um total de 2,3 bilhões de pessoas.
Só o grupo com insegurança alimentar grave é de 924 milhões de pessoas (12% da população mundial).
No ritmo atual, a projeção é que 670 milhões de pessoas (ou 8% da população mundial) ainda enfrentarão fome em 2030, mesmo passada quase uma década, segundo o relatório.
Se confirmado, o número será na prática um retrocesso aos patamares de 2015, quando foi lançado o objetivo de acabar com a fome e a insegurança alimentar até 2030.
Enquanto isso, no curto prazo, o cenário de fome no mundo pode ainda piorar com a guerra na Ucrânia e seus efeitos, diz o diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos da ONU, David Beasley. Para ele, o mundo está diante de uma “catástrofe iminente”.
“Há um perigo real de que esses números subam ainda mais nos próximos meses. Os aumentos globais de preços de alimentos, combustíveis e fertilizantes que estamos vendo como resultado da crise na Ucrânia ameaçam empurrar os países ao redor do mundo para a fome”, disse Beasley em nota sobre o relatório.
“O resultado será a desestabilização global, a fome e a migração em massa em uma escala sem precedentes. Temos que agir hoje para evitar essa catástrofe iminente.”
Brasil tem 15 milhões em insegurança alimentar grave
O Brasil chegou a 15,4 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, o equivalente a 7,3% da população no cálculo de prevalência da ONU.
A organização aponta que a situação vem piorando. Em 2014, quando o Brasil atingiu um de seus melhores patamares, a insegurança alimentar grave afetava 3,9 milhões de pessoas, ou 1,9% da população.
Se incluída também a população com insegurança alimentar moderada, são 61,3 milhões de pessoas, quase um terço da população brasileira (29%) sendo forçada a reduzir a alimentação algumas vezes durante o ano por falta de recursos.
De “volta” ao Mapa da Fome
A ONU deixou de usar o chamado “Mapa da Fome” como métrica de divulgação específica. Se fosse o caso, o Brasil teria voltado a partir de 2018 ao grupo de países onde a fome é um problema estrutural, do qual saiu em 2014.
Para “sair” do mapa – não ter mais o país pintado com cores quentes -, era preciso ter menos de 2,5% da população em situação de subalimentação (no índice Prevalence of Undernourishment, ou PoU, em inglês).
A prevalência de subalimentação, no entanto, é usada até hoje pela ONU para definir o número de pessoas com fome no mundo – uma condição em que “o consumo habitual de alimentos de um indivíduo é insuficiente para fornecer a quantidade de energia dietética necessária para manter uma vida normal, ativa e saudável”.
O Brasil voltou a ter prevalência de subalimentação de 2,6% no biênio 2018-2020, e o número subiu para 4,1% da população no biênio 2019-2021 (nos dados do relatório divulgado hoje). O número atual no Brasil é o pior desde o período 2008-2010.
O economista e diretor do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, Daniel Balaban, já alertava também que a situação no Brasil vinha piorando desde antes da pandemia, com o empobrecimento da população. “A pandemia não é a culpada pela volta da fome no Brasil. Apenas acelerou o processo”, disse no ano passado.
Hoje, a ONU segue divulgando dois mapas, e o Brasil não está com a situação da fome equacionada em nenhum deles. Há o mapa com prevalência de índice de subalimentação, o antigo “Mapa da Fome” (onde o Brasil está pintado por ter mais de 2,5% de subalimentação; no caso do Brasil, 4,1%); e o com prevalência de insegurança alimentar grave ou moderada (onde o Brasil também está pintado, por ter mais de 9,9% de prevalência; no caso do Brasil, 29%). Ambas métricas fazem parte dos indicadores de desenvolvimento sustentáveis medidos pela ONU.
Como países podem buscar soluções contra a fome
O relatório aponta que uma das prioridades no combate à fome — não só para ampliar o acesso a alimentação a todos, mas para ampliar o acesso a uma alimentação mais saudável — deve ser a redefinição de políticas agrícolas por parte dos governos. A estratégia, de acordo com a ONU, deve ser pensada acordo com as necessidades específicas de cada lugar, que podem ser diferentes.
O apoio mundial ao setor alimentício agrícola foi de quase US$ 630 bilhões entre 2013 e 2018, segundo o relatório. No entanto, a maior parte desse investimento vai diretamente para agricultores — seja via políticas comerciais, como proteção de importações, ou via subsídios.
Embora essa estratégia faça sentido em alguns países, a ONU aponta que governos devem pensar também que muitas políticas em vigor deixam de lado parte dos agricultores, sobretudo os que produzem itens não valorizados no mercado internacional, mas que são importantes para a segurança alimentar da população. Frutas, legumes e verduras, por exemplo, costumam ser menos apoiados, sobretudo em países de baixa renda, ao contrário de grãos, açúcar e carnes, valorizados no mercado internacional.
Uma das possibilidades, segundo o relatório, é usar parte desses recursos também para subsídios diretos aos consumidores em grupos cuja renda ainda não alcança o mínimo necessário para uma alimentação saudável.
“Com as ameaças de uma recessão global iminente, e as implicações que isso tem sobre as receitas e despesas públicas, uma forma de apoiar a recuperação econômica envolve a redefinição do apoio alimentar e agrícola para alimentos nutritivos direcionados onde o consumo per capita ainda não corresponde aos níveis recomendados para dietas saudáveis”, diz a ONU em nota sobre o relatório.
“As evidências sugerem que, se os governos repensarem o destino dos recursos que estão usando para incentivar a produção, o fornecimento e o consumo de alimentos nutritivos, eles contribuirão para tornar as alimentações saudáveis mais baratas, mais acessíveis e equitativas para todas as pessoas.”
Qual é a diferença entre fome e insegurança alimentar?
- A fome é definida pela ONU como “privação de comida”, levando a “uma sensação desconfortável ou dolorosa causada pela energia insuficiente da dieta”. No relatório, o termo fome é sinônimo de “má alimentação crônica” e medido pela prevalência de subalimentação (índice PoU, na sigla em inglês).
- A insegurança alimentar grave pode incluir algumas situações de fome durante o ano, indicando que as pessoas desse grupo viveram momentos em que “experimentaram fome e, no extremo, ficaram sem comida por um dia ou mais”.
- A insegurança alimentar moderada indica uma “falta de acesso consistente” aos alimentos. Nesse grupo, “as pessoas enfrentam incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos e foram forçadas a reduzir, algumas vezes durante o ano, a qualidade e/ou quantidade de alimentos que consomem por falta de dinheiro ou outros recursos”, segundo a ONU.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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