Brasília
Falta de oxigênio na gestação pode ser uma das causas da esquizofrenia
Células do cérebro ficam deficitárias e são responsáveis pelo metabolismo do sistema nervoso central
São Paulo – A falta de oxigênio no período que antecede o parto – condição que pode afetar filhos de gestantes acometidas por um distúrbio de pressão arterial denominado pré-eclâmpsia – tem sido apontada como uma das causas da esquizofrenia.
Em artigo publicado na revista Scientific Reports, pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) descreveram de que modo esse fenômeno – chamado no jargão científico de hipóxia – afeta o tipo celular mais abundante do cérebro: o astrócito.
Por meio de experimentos com ratos, os cientistas descobriram que a baixa oxigenação causa, nessas células cerebrais, alterações no funcionamento da mitocôndria – considerada uma das organelas mais importantes por produzir grande parte da energia celular.
Conduzido com apoio da FAPESP, o trabalho abre caminho para a busca de intervenções capazes de frear o processo que leva à disfunção mitocondrial, evitando que o cérebro de bebês seja afetado no caso de pré-eclâmpsia.
“Começamos o estudo pelos astrócitos por serem as células mais abundantes do sistema nervoso central e também por metabolizarem o neurotransmissor glutamato, um dos mais relacionados com a esquizofrenia. Agora, estamos verificando o efeito da hipóxia nos neurônios. Queremos entender qual é o sinal que um tipo de célula manda para outro. O objetivo final é evitar o dano cerebral”, disse Tatiana Rosado Rosenstock, professora da FCMSCSP e coordenadora do estudo.
Com formato que lembra o de uma estrela, os astrócitos são as células mais prevalentes da glia – conjunto celular que corresponde a aproximadamente 90% do cérebro, enquanto os neurônios compõem os outros 10%.
As células da glia, que também incluem os oligodendrócitos e as micróglias, são responsáveis pelo metabolismo do sistema nervoso central, fornecendo nutrientes para os neurônios e contribuindo para a manutenção das sinapses.
Três modelos
Durante o mestrado de Luiz Felipe Souza e Silva, bolsista da FAPESP, o grupo da Santa Casa estudou o efeito da falta de oxigênio em astrócitos de ratos formassem três modelos diferentes.
Primeiro, submetendo as células a uma câmara de hipóxia, na qual todo o oxigênio é retirado do meio; em seguida, acrescentando ao meio de cultura a substância cloreto de cobalto, capaz de mimetizar bioquimicamente a falta de oxigênio.
Por fim, foram analisados astrócitos de uma linhagem de ratos naturalmente hipertensa (SHR), cujos filhotes sofrem hipóxia durante a gestação. Os animais dessa linhagem apresentam comportamentos equivalentes aos sintomas de esquizofrenia em humanos, que cessam após a administração de antipsicóticos.
Entre as variáveis alteradas nas células submetidas à hipóxia – nos diferentes modelos – chamou a atenção dos pesquisadores o balanço de cálcio.
Para produzir energia, a mitocôndria precisa de uma condição de equilíbrio entre cargas elétricas positivas e negativas em seu interior. Como o cálcio tem carga positiva, variações na quantidade desse íon provocam um desequilíbrio que, em última instância, leva à morte celular.
Em comparação com astrócitos normais, os que foram submetidos à hipóxia apresentaram nível mais baixo de cálcio no citosol, espaço entre a membrana externa e as outras partes internas da célula.
“Isso indica que as mitocôndrias dessas células passaram a captar mais cálcio [deixando uma quantidade menor no citosol, portanto] na tentativa de se proteger. Contudo, muito cálcio dentro da organela altera o potencial da membrana mitocondrial, o transporte de elétrons e, consequentemente, a produção de energia”, explicou a pesquisadora.
Além disso, a falta de oxigênio casou desequilíbrio na chamada homeostase redox, processo pelo qual a célula combate o estresse oxidativo (desequilíbrio entre moléculas oxidantes e antioxidantes) – fenômeno que pode levar à morte celular.
Segundo os pesquisadores, o aumento do estresse oxidativo também decorre da alteração na quantidade de cálcio.
Curiosamente, a hipóxia aumentou a quantidade de mitocôndrias no interior dos astrócitos. Entre outros fatores que evidenciaram o fenômeno, os pesquisadores detectaram maior expressão do gene Pgc1-α, importante para a biogênese mitocondrial.
“Em uma situação de estresse, a célula aumenta o número de mitocôndrias na tentativa de obter mais energia. Mas a disfunção celular é tão grande que, ainda assim, a produção energética não é compensada”, disse Rosenstock.
O grupo estuda agora formas de melhorar a função mitocondrial tanto em astrócitos como em neurônios.
“Se a hipóxia gera um problema na mitocôndria, talvez um dia possamos melhorar a função mitocondrial em casos de pré-eclâmpsia e evitar a esquizofrenia. Por enquanto, a melhor forma de evitar a hipóxia no feto é fazer um bom acompanhamento pré-natal, evitando distúrbios de pressão arterial”, disse a pesquisadora.
O artigo Mitochondrial Dysfunction and Changes in High-Energy Compounds in Different Cellular Models Associated to Hypoxia: Implication to Schizophrenia (doi: 10.1038/s41598-019-53605-4), de Luiz Felipe Souza e Silva, Mariana Dutra Brito, Jéssica Mayumi Camargo Yuzawa e Tatiana Rosado Rosenstock, pode ser acessado aqui.
Motoristas que passaram pelo local estranharam a fumaça preta que sai das torres, que se trata, na verdade, de uma simulação de incêndio
Uma fumaça no Congresso Nacional assustou os brasilienses nesta sexta-feira (21/6). Quem passou pelo local, observou uma fumaça preta saindo pelas torres do órgão e se preocupou. Vídeos gravados pelos moradores da capital mostram o momento, confira:
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A fumaça se trata, na verdade, de um procedimento para exercício de enfrentamento de emergência, realizado pela Seção de Prevenção e Combate contra Incêndios do Departamento de Polícia Legislativa (Seprin/Depol) no Anexo I.
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) confirmou que a fumaça se trata da simulação.
A data da simulação não foi incialmente anunciada e terá duração de aproximadamente duas horas. A energia do edifício foi desligada e não é autorizada movimentação de veículos no estacionamento até o término da ação.
Brasília
Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS
Crédito extraordinário foi autorizado por meio de medida provisória
A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.
A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.
No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.
>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:
– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)
– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)
– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)
– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)
– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)
– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)
– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)
– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).
De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.
No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.
Por Agência Brasil
Brasília
Senador abastece carros da família com verba pública; gasto por mês daria para cruzar 4 vezes o país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) manteve perfil discreto desde que assumiu o cargo por ser suplente de Major Olímpio (do antigo PSL), que morreu em 2021 durante a pandemia vítima de Covid-19. Ele tem chamado atenção no meio político, porém, pela prestação de contas com combustíveis e seu périplo por restaurantes caros de São Paulo.
Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que gastos de mais de R$ 336 mil abasteceram carros de Giordano, de seu filho e também de uma empresa da família. Com o combustível em preços atuais, o total seria o suficiente para dar 17 voltas na Terra. A média mensal de gastos com o item, de cerca de R$ 9.000, possibilitaria cruzar o país, em uma linha reta do Oiapoque ao Chuí, quatro vezes por mês.
O senador diz não haver irregularidade nos gastos e que não utiliza toda a verba disponibilizada. Ele ainda justifica o uso de veículos particulares para economia e afirma que o STF (Supremo Tribunal Federal) já arquivou questionamento sobre gasto de combustível. A apuração, porém, não esmiuçava todos os detalhes dos gastos do senador ao longo de três anos.
Os dados no site do Senado apresentam limitações por misturar despesas com locomoção, hospedagem, combustível e alimentação uma minoria de senadores traz um detalhamento ampliado, o que não ocorre nos dados relativos a Giordano. Nessa categoria mais ampla, Giordano tem o sexto maior gasto desde que assumiu, com um total de R$ 515 mil. A reportagem localizou R$ 336 mil em despesas exclusivamente com postos de gasolina por meio da análise do nome dos estabelecimentos, que é de longe o maior entre senadores por São Paulo.
Pelo mesmo recorte, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL), por exemplo, gastou por volta de R$ 10 mil em postos de gasolina e centros automotivos nos últimos três anos. Já Mara Gabrilli (PSD) gastou R$ 26 mil. No caso de Giordano, a maioria das notas está concentrada no Auto Posto Mirante (R$ 183 mil), zona norte da capital paulista, região do escritório político e empresas da família do senador. Outro posto, o Irmãos Miguel consta de reembolsos que somam por volta de R$ 122 mil. O estabelecimento fica na cidade de Morungaba, de menos de 14 mil habitantes, no interior de São Paulo.
O lugar abriga o Hotel Fazenda São Silvano, do qual Giordano é dono. O senador não detalhou por qual motivo concentra tamanho gasto em combustível na cidade. A Folha de S.Paulo também encontrou gastos em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Todas registradas em finais de semana, quatro notas, totalizam gastos de R$ 1.200 no Auto Posto Ipiranguinha, que fica na rodovia Oswaldo Cruz a reportagem localizou ação judicial do ano passado que cita um imóvel do filho de Giordano, Lucca, em condomínio a cerca de 2 km do local.
Em um dos domingos em Ubatuba, em janeiro de 2023, também foi registrado um gasto R$ 255 com um pedido de um abadejo para dois. Na época desse gasto, o Senado estava em recesso. A reportagem encontrou diversos gastos com refeições aos finais de semana, mesmo durante a pausa do Legislativo. As despesas do senador com alimentação chamam a atenção pela predileção por restaurantes caros, conforme foi revelado pelo Metrópoles.
Em março, há uma nota fiscal de R$ 681 da churrascaria Varanda Grill, na região da Faria Lima, que incluiu dois carrés de cordeiro por R$ 194 cada. Em 2022, o ressarcimento foi de R$ 810 na churrascaria Rodeio, em Cerqueira Cesar, com direito a uma picanha para dois no valor de R$ 385. A lista traz locais como Fogo de Chão, Outback, Jardim Di Napoli e Almanara.
A exigência não vai apenas para os pratos. Uma nota fiscal do restaurante Cervantes traz R$ 144 apenas em seis unidades de água, das marcas premium San Pellegrino e Panna. Em 2018, Giordano declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral. Desafeto de Ricardo Nunes (MDB), Giordano levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas na política.
O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.
SENADOR DIZ QUE USA CARROS PARTICULARES PARA ECONOMIZAR
O senador Giordano afirma que os os gastos já foram analisados pelo Senado, pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, sendo que os dois últimos arquivaram procedimento preliminar “por entenderem que não há qualquer ilegalidade nos apontamentos realizados”.
O MPF havia pedido à corte que intimasse o senador após apurar gasto de R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um só dia. O arquivamento aconteceu após explicação de que esse tipo de gasto se referia a 15 dias ou mais, e não a uma única visita.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, aceitou o argumento e ressaltou que os gastos não ultrapassam o limite mensal de R$ 15.000 para este tipo de item. Giordano diz que cota parlamentar contempla também de sua assessoria quando em atividade e afirma que “utiliza e disponibiliza para seus assessores, quando em apoio à atividade parlamentar, os veículos que possui”. Ele afirmou ainda que assessores utilizam, se necessário, os próprios veículos para deslocamentos no âmbito da atividade também.
A resposta aconteceu após a reportagem enviar quatro placas de veículos à assessoria de Giordano, no nome dele, do filho e de empresa da família, que constavam das notas. Ele justifica o uso dos automóveis para “evitar a ampliação do uso da verba de gabinete com aluguéis de veículos” e que os gastos nos postos citados ocorrem por questões logísticas. “Vale ressaltar que este parlamentar não utiliza toda a verba disponibilizada, tendo mensalmente sobras acumuladas”, afirma, em nota.
O senador ainda afirmou que atividade parlamentar não se restringe a dias úteis, “estando o parlamentar em contato constante com sua base para atender às demandas postas”. Giordano também afirmou que os gastos com alimentação ocorrem no exercício de atividades parlamentares e que as refeições mencionadas estão ligadas ao cumprimento do mandato, estando em conformidade com a lei.
A reportagem localizou recibos com placas de veículos em nome do filho do senador, Lucca Giordano, de empresa da família e do próprio parlamentar as notas citam o senador como cliente. A maioria dos comprovantes, porém, não especifica o carro abastecido.
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