Brasil
Estado e Prefeitura do Rio só receberam 20% dos respiradores para covid-19
Com a suspensão de três contratos, estado do Rio terá que recomeçar do zero o processo de compra enquanto pacientes com coronavírus aguardam leito na UTI
Dois meses e meio após a notificação dos primeiros casos de covid-19 no Brasil, o estado e a prefeitura do Rio receberam só 20,9% (378) dos 1.806 respiradores que encomendaram, com os quais esperam evitar o colapso da rede de saúde durante a pandemia de coronavírus. Esse patamar só foi atingido nos últimos dois dias, com a chegada de 306 aparelhos em dois voos fretados pelo município vindos da China. A situação do governo fluminense, no entanto, é mais delicada, sem perspectivas otimistas a curto prazo. Os 52 ventiladores pulmonares que chegaram até agora serão devolvidos, após a Secretaria estadual de Saúde (SES) rescindir os três contratos para a aquisição de mil desses equipamentos — sob investigação do Ministério Público do Rio (MPRJ) por possível sobrepreço.
Enquanto centenas de pessoas com covid-19 aguardam por um leito de UTI, onde os respiradores são tão cruciais para manter o paciente vivo, o estado terá que recomeçar do zero o processo de compra, com a formação de uma força-tarefa para analisar os contratos emergenciais e evitar fraudes, afirmou esta semana o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos. Segundo o órgão, os aparelhos que venham a ser adquiridos buscarão atender à demanda, mas ainda não há detalhes, como a quantidade ou quando os novos contratos serão assinados.
Estaca zero
Por enquanto, a rede pública estadual conta com os 904 ventiladores mecânicos que já tinha antes da pandemia, além de equipamentos doados pelo governo federal e por empresas. Foram 134 entregues pelo Ministério da Saúde, 90 deles que chegaram no último sábado, e 20 cedidos pelo Banco Itaú. “A SES destaca que conta ainda com o apoio da iniciativa privada, que construiu e está gerindo os hospitais de campanha Lagoa-Barra, no Leblon, na Zona Sul, e Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. As duas unidades funcionarão com capacidade máxima de 400 leitos, sendo 150 deles de UTI”, afirma a secretaria em nota.
As suspeitas de fraude que recaem sobre as transações do estado, contudo, não são o único obstáculo para que os equipamentos cheguem a pacientes que lutam contra a doença. Imbróglios judiciais e atrasos nas entregas são outros empecilhos. Para contorná-los, assim como já tinham feito governos como o do Maranhão, a prefeitura do Rio está mandando aviões buscar material na China. Serão seis voos fretados da companhia Latam, para transportar um total de 160 toneladas de respiradores, monitores, bombas de infusão e outros itens médicos para o combate à Covid-19. O custo do transporte teria ficado em US$ 980 mil (cerca de R$ 5,7 milhões).
O primeiro aterrissou anteontem no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Era uma aeronave modelo Boeing 777 de passageiros, adaptada para o transporte de cargas, tanto na cabine quanto no porão, com objetivo de maximizar sua capacidade. De acordo com a prefeitura, junto com 152 respiradores, nele veio um milhão de equipamentos de proteção individual (EPIs), entre máscaras, luvas, capotes e óculos. Foram 18 mil quilômetros e cerca de 46 horas, passando por três fusos horários, de Cantão, na China, até o Rio, com escala em Amsterdã, na Holanda. Uma rota escolhida para evitar escalas em países onde houve confisco desse tipo de material.
Já o segundo voo, com mais 154 ventiladores mecânicos, chegou no início da noite de ontem. Os aparelhos dessas duas remessas serão distribuídos para o Hospital municipal Ronaldo Gazolla (201 deles), o hospital de campanha do Riocentro (80), a Coordenadoria de Emergência Regional (CER) Leblon (20) e o Hospital Pedro II (cinco). Com isso, afirma o prefeito Marcelo Crivella, todos os 500 leitos para Covid-19 do Riocentro e os 381 do Ronaldo Gazolla estarão em pleno funcionamento em até dez dias. Hoje, desses 881 leitos, apenas cemestão abertos na unidade da Barra e 230 na de Acari, onde os novos respiradores substituirão outros mais antigos, que tinham sido emprestados pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ.
Os 306 respiradores fazem parte de um lote de 726 unidades encomendadas no final do ano passado à empresa chinesa Mindray, por US$ 12 mil cada um (o equivalente a R$ 69,5 mil a preços atuais), num contrato global de US$ 8,712 milhões (R$ 50,5 milhões). Segundo a Secretaria municipal de Saúde, desse total, outros 20 aparelhos também já tinham chegado ao Rio. A previsão é de que os 400 que faltam desembarquem na cidade no fim deste mês.
Derrota na Justiça
No âmbito da capital, há ainda 80 respiradores da empresa Magnamed, de São Paulo, esses envolvidos numa disputa judicial com derrotas para o município até agora. A prefeitura, que teve uma liminar revogada no último dia 24 de abril, pede à Justiça a apreensão dos equipamentos, para garantir que eles sejam recebidos. Segundo afirma Crivella, os aparelhos seriam destinados a ambulâncias do Samu do estado que fazem as transferência de pacientes. Mas a empresa alega que administração municipal não cumpriu os prazos para realização do contrato e, por isso, não tem o dever de entregar os aparelhos.
As questões judiciais do estado são mais graves. Os mil respiradores que o governo tinha comprado já durante a pandemia eram previstos em três contratos com dispensa de licitação que, juntos, somavam aproximadamente R$ 183,5 milhões do Fundo Estadual de Saúde (FES). De acordo com dados do painel de compras emergenciais para fazer frente ao novo coronavírus, cada um dos aparelhos teria custado entre R$ 169,8 mil e R$ 198 mil, dependendo do fornecedor, valor muito mais alto que o pago pela prefeitura que fez a encomenda antes da pandemia. Dessa quantia, segundo o painel do estado, R$ 14,99 milhões já tinham sido, inclusive, pagos a duas das empresas. Valores que levantaram as suspeitas do Ministério Público.
Antes da pandemia, além dos 904 respiradores informados pelo estado, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde , a rede federal no Rio contava com 926 respiradores. Já as unidades administradas pelo município do Rio tinham mais 853 aparelhos do tipo. Em 17 cidades fluminenses, no entanto, não havia respirador algum na rede pública
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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