Brasil
Em SP, ao menos seis pessoas morrem em casa por dia
Maioria das vítimas com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus que morreram em casa, sem ter acesso à assistência médica, era idosa
Apesar da predominância de mortes em domicílio entre os mais velhos, foram registrados ainda 41 óbitos em domicílio cujas vítimas tinham idades entre 50 e 59 anos, 20 mortes entre pessoas de 40 a 49 anos, e 11 entre menores de 40 anos – incluindo duas crianças. Uma morte não teve a idade declarada.
Quanto à região da cidade, os distritos com o maior número de mortes em casa foram Cidade Ademar, na zona sul, e Pirituba, zona norte, ambos com 11 ocorrências cada. Aparecem em seguida, com dez óbitos cada, os distritos de Capão Redondo, Cidade Dutra Grajaú (todos na zona sul), Cangaíba (zona leste) e Vila Medeiros (zona norte).
“As mortes em casa que a gente atende são todas na periferia. Você quase não vê isso acontecer em bairros de classe média-alta porque é uma população que tem mais acesso a um médico e está mais atenta aos primeiros sinais da doença. Já as classes mais pobres são as que estão mais expostas e que encontram o serviço de saúde mais saturado”, contou ao Estadão um médico do Samu que diz estar atendendo mais casos do tipo nos últimos dois meses.
O profissional, que não quis ter o nome divulgado, relatou que as equipes do serviço de emergência já estavam habituadas, antes da pandemia, a atender algumas mortes em domicílio, principalmente no início da manhã. “Antes, geralmente eram idosos que tinham morte súbita enquanto dormiam e, quando o familiar ia acordá-lo, percebia que havia algo errado. Agora, continuam sendo principalmente idosos, mas atendemos mortes em domicílio o dia todo”, diz.
O médico socorrista conta que são duas as situações mais comuns que explicam as frequentes mortes por covid-19 nas residências: ou o paciente buscou uma unidade de saúde e, por não apresentar inicialmente tanta gravidade, acabou liberado a voltar para casa ou ele nem chegou a ter tempo de buscar assistência porque teve uma piora repentina.
“A família geralmente relata que a pessoa já estava apresentando tosse, febre baixa e prostração (fraqueza), mas como eram sintomas leves, ainda não tinha ido ao médico. Só que é muito comum a pessoa estar com manifestações leves e ter uma súbita descompensação. De repente, ela afunda de vez”, alerta o especialista.
Ele diz que isso é comum entre os idosos, que já têm uma prevalência maior de doenças crônicas que agravam um eventual quadro de infecção pelo coronavírus. “Se o idoso já tem uma patologia e pega covid-19, o vírus descompensa as doenças de base e evolui muito mais rápido e de forma menos favorável”, diz o médico. “A chance dessa pessoa ter uma morte súbita em domicílio é maior. Se ela retardar um pouquinho a ida ao pronto-socorro, pode piorar repentinamente. Mas também não foram poucas as situações em que a família conta que o paciente tinha procurado o serviço médico. A verdade é que os hospitais acabam internando só os casos graves.”
Cartórios
Dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que reúne números de cartórios, mostram que o fenômeno não é exclusivo da cidade de São Paulo. No mesmo período analisado (16 de março a 21 de maio), o País teve aumento de 15,8% no número de mortes em domicílio em relação ao registrado em 2019, considerando todas as causas, não só as respiratórias. O número de ocorrências do tipo passou de 36.263 em 2019 para 41.995 neste ano.
Manaus
Após ligar dois dias seguidos solicitando uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Rosinha Alves perdeu a tia Maria Portella, de 61 anos, que estava com suspeita de covid-19. Em Manaus, esse não é o primeiro relato de morte em casa por falta de estrutura no serviço de atendimento.
A família mora na comunidade São João, localizada na BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, cujo hospital mais próximo é o Delphina Aziz, que tornou-se referência no tratamento do coronavírus no Estado. Maria Portella começou a manifestar sintomas como febre, dor no corpo e diarreia no dia 20 de abril. Ela chegou a ter uma melhora na sexta-feira, dia 24, mas no dia seguinte ficou debilitada.
“Sábado (dia 25) ela ficou ruim mesmo, tossia demais e acabava desmaiando. Antes de ela sentir falta de ar pela primeira vez, eu já tinha ligado e disseram que não tinha ambulância. Liguei no domingo, 26, quando ela piorou mesmo e disseram: ‘Não podemos fazer nada, procure o pronto-socorro mais perto’. Eu disse: ‘Moça, a senhora sabe onde a gente mora? A gente mora na BR-174, a gente não tem dinheiro para alugar carro’”.
Ainda segundo Rosinha, a atendente a teria chamado de ignorante. “É por que não é parente seu, senhora, a titia está morrendo”, ela lembra ter respondido. Maria pediu para a irmã lhe abanar e ficou apontando para os peitos, já que não consegui falar. Três horas depois, ela morreu.
Além da dor da perda, a família também teria que lidar com as dificuldades para o sepultamento. A ambulância chegou a ser enviada à comunidade após a morte de Maria e os profissionais orientaram a família a registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia próxima.
“A ambulância veio e disse ‘vá na delegacia e faça um BO’. Só isso. Fui no 19º DIP (Distrito Integrado de Polícia) e mandaram eu procurar o SOS funeral. Fui e disseram que iam remover o corpo a meia-noite de domingo, dia 26. Não vieram. Quando deu 14h da segunda, o corpo ainda estava aqui. Procurei a imprensa e vieram remover às 22h da segunda-feira. Isso por causa da reportagem, se não, nem tinham vindo”, disse.
Para Rosinha, se a ambulância tivesse sido enviada quando solicitada, talvez sua tia ainda estivesse viva, já que ela não fumava, não fazia uso de bebidas alcoólicas e nem possuía problemas de saúde.
Dados
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), apenas em Manaus, de abril a até o início do mês de junho foram registrados 980 óbitos em domicílio, sendo 538 de casos confirmados de covid-19 e 91 suspeitos. Maio foi o mês com número mais expressivo de morte por coronavírus, registrando 348. Os dados para o interior do Estado não foram informados.
Há também casos de pessoas que preferiram ficar em casa em vez de buscar atendimento, como o seu Raimundo Gama Leandro, que faleceu aos 93 anos, com suspeita de covid-19. Segundo o neto, Daniel Oliveira, o avô apresentava uma gripe que o fez definhar com o passar do tempo. O idoso estava sendo acompanhado por um dos filhos, que é enfermeiro, e pediu para não ser levado ao hospital porque não queria morrer sozinho. No dia da sua morte, 20 de abril, ele chegou a gravar um vídeo para família.
“Minhas filhas, eu estou muito ruim, eu não consegui dormir essa noite. Minhas filhas, venham para cá, estou precisando de vocês, eu estou muito mal e acho que não passo dessa noite. Por favor, venham para cá”, disse Raimundo na gravação, conforme relembra Daniel. “Veio um problema respiratório durante a noite, ele passou a noite inteira acordado, de manhã ainda gravou o vídeo e às 20h, ele morreu. Ele falou que não queria morrer sozinho, ele queria morrer em casa”, acrescentou o neto.
Colapso
Em paralelo à superlotação de leitos clínicos e de UTI, que chegou a acumular mais de 1.300 pessoas internadas na capital, a repentina piora de doentes crônicos em isolamento domiciliar comprometeu o pronto-atendimento de inúmeras vítimas fatais.
Com o sistema de saúde à beira do colapso durante semanas, o Samu de Manaus, que recebia média de dez chamados por dia, passou a atender mais de 50 ocorrências diárias.
A grande maioria dos casos eram de parada cardiorrespiratória, segundo o diretor médico do Samu, Domício Melo. “O solicitante informava que o paciente estava inconsciente e sem respirar. Outro fator é que, normalmente, não informam qualquer fato que possa relacionar com covid-19”, descreveu.
O rápido agravamento de uma gripe pegou de surpresa a família de Damião Antonio da Silva, de 80 anos. Muito debilitado, o aposentado, que era diabético e tinha problemas cardíacos, morreu nas primeiras horas do dia 21 de abril. Foi atendido pelo Samu cerca de 1h30 depois, segundo a sobrinha Leydianne Silva, de 31. “Ficamos tristes porque não teve um exame minucioso. No laudo dizia que foi de causa natural”, disse.
No período de pico da pandemia, a diretora da Fundação de Vigilância Sanitária (FVS) do Amazonas alertou que muitos pacientes chegavam nas unidades de saúde em estágio muito avançado da doença, sem possibilidade de tratamento. “Começa com sintomas de febre, respiratórios, tosse seca e vão avançando, principalmente em pacientes hipertensos, diabéticos, ou que tenham outras comorbidades, como doenças cardíacas, pulmonares ou mesmo que sejam obesos”.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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