Brasil
Em relato à PGR, Ricardo Salles tenta implicar Ramos, chefe da Casa Civil
Ministro do Meio Ambiente relata à Procuradoria-Geral da República a participação em três reuniões com madeireiros e parlamentares e que um desses encontros ocorreu a pedido do general, então titular da Secretaria de Governo e hoje na Casa Civil
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, relatou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a participação em três reuniões com madeireiros, parlamentares e autoridades para tratar da Operação Handroanthus, que resultou em apreensão recorde de madeira ilegal e, também, na notícia-crime enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o aliado do presidente Jair Bolsonaro. Segundo Salles, uma dessas reuniões se deu a pedido do ministro Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Secretaria de Governo e hoje chefe da Casa Civil.
Os encontros foram citados e detalhados em documento datado de 3 de maio, encaminhado ao Ministério Público Federal para rebater a notícia-crime que imputou a Salles supostos crimes de obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. Um trecho do texto foi citado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no pedido de abertura de inquérito contra o ministro do Meio Ambiente, sendo o arquivo juntado aos autos da investigação.
No documento, Salles relatou que solicitação de reunião feita “pessoalmente” por Eduardo Ramos indicava que o encontro contaria com a participação da Secretaria de Governo, dos Ministérios da Justiça e do Meio Ambiente, da Procuradoria do Estado de Roraima, de senadores e deputados federais, além de “demais órgãos de governo”.
A reunião se deu em 25 de março, na sede da pasta chefiada por Salles, tendo o ministro anexado ao documento enviado à PGR as fotos da reunião, assim como uma lista dos participantes. A lista de presença aponta a presença de representantes do setor madeireiro, além de proprietários de fazendas.
Salles ressaltou que estavam na reunião o número 2 do Ministério da Justiça, o secretário-executivo Tercio Issami Tokano, e dois delegados chefes da Polícia Federal. Ainda segundo o ministro, após a reunião que ficou decidido por “consenso” que uma delegação composta por parte dos presentes iria à Amazônia.
De acordo com Salles, o grupo buscava “conhecer de perto a realidade dos fatos narrados, com vistas a responder politicamente ao reclamo do setor produtivo que deixou claro se sentir perseguido e desconsiderado pela forma como acreditam que vinham sendo tratados pelo delegado Saraiva”.
“Foi portanto, nesse espírito público, transparente e institucional que transcorreram não apenas a reunião em Brasília, como as duas viagens acordadas ao estado do Pará”, disse à PGR.
A reunião mencionada por Salles foi caracterizada na notícia-crime enviada por Saraiva ao Supremo como um encontro “entre ministros e parlamentares para realizar a defesa dos interesses dos madeireiros”.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, a solicitação de reunião feita pessoalmente por Ramos se deu dias depois de Salles ser procurado pelo senador Telmário Motta — que também foi citado na notícia-crime do ex-chefe da PF no Amazonas Alexandre Saraiva, sendo o pedido de inquérito contra o parlamentar arquivado — para tratar da operação contra extração de madeira ilegal. Salles diz que o parlamentar foi acompanhado do secretário-executivo do Ministério da Justiça, sendo que ambos foram encaminhados “pela assessoria da Casa Civil”.
Outros encontros
O titular do Meio Ambiente também mencionou que antes dos dois encontros foi solicitada audiência ao ministério pelo senador Jorginho Mello (PL-SC) e a deputada federal Caroline de Toni (PSL-SC), que foram acompanhados por empresários de Santa Catarina, proprietários de terras no Pará nas quais desenvolvem atividade de manejo florestal. Os madeireiros teriam mencionado a operação conduzida por Saraiva, alegando que o delegado “estaria procrastinando o andamento do feito propositalmente, com vistas a deliberadamente prejudicar todo o setor madeireiro local”.
Em nota, a Casa Civil afirmou que é papel do ministro “articular audiências com os mais diversos representantes do Poder Executivo federal solicitadas pelos poderes e também por outras instituições externas ao governo”. “Nesse caso específico, na condição de ministro da Segov, Luiz Eduardo Ramos recebeu pedido de parlamentares de Roraima para expor ao Ministério do Meio Ambiente as demandas do estado relacionadas àquela pasta”, afirma o texto. (Colaborou Luiz Calcagno)
Ministro poderá depor à PGR
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a um pedido do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e permitiu que ele preste depoimento diretamente à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a acusação de acobertar tráfico de madeira na Amazônia.
No despacho, Moraes destacou, no entanto, que “no decorrer da investigação e a seu critério”, a Polícia Federal poderá ouvir o titular do Meio Ambiente. “Não há óbice, cumpre ressaltar, à eventual iniciativa da Procuradoria-Geral da República no sentido de ouvir o requerente, se assim entender pertinente, em atendimento à sua função institucional constitucionalmente definida”, frisou.
No pedido encaminhado ao STF, os advogados Roberto Podval e Daniel Romeiro, que representam Salles no caso, alegaram que o depoimento vai contribuir para que “os fatos sob investigação possam ser cabalmente esclarecidos o mais rápido possível” e pediram que o interrogatório seja conduzido pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e por um representante da Polícia Federal.
Salles foi alvo de busca e apreensão e teve seus sigilos bancário e fiscal quebrados no âmbito da Operação Akuanduba, aberta no último dia 19, para investigar supostos crimes contra a administração pública — corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando — envolvendo agentes públicos e empresários do ramo madeireiro.
A PF apontou “fortes indícios” de envolvimento de Salles na facilitação ao contrabando de madeira, incluindo operações financeiras “suspeitas” envolvendo o escritório de advocacia dele em São Paulo. O titular do Meio Ambiente nega irregularidades.
O advogado Roberto Podval destacou que o cliente quer ser ouvido. “Isso (o despacho de Moraes) deve estar sendo encaminhado para o MPF (Ministério Público Federal) e deve-se marcar uma data. Ele está sangrando na imprensa porque ninguém quer ouvi-lo. Para nós, é absolutamente indiferente se ele será ouvido pelo Aras, por procuradores ou pela Polícia Federal”, argumentou.
Militante do meio ambiente, o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) acompanha o trabalho de Salles desde o início da gestão. Ele destacou que o ministro atuou no desmonte do sistema de fiscalização ambiental e atrapalhou o combate ao desmatamento em campo e administrativamente, dificultando, por exemplo, a aplicação de multas a infratores. “A gente sempre desconfiou de muitos outros casos ao longo de toda a gestão dele. A troco de que você desmonta um setor de fiscalização, de licenciamento, de comando e controle? Isso só beneficia quem está fazendo coisa errada”, apontou.
No caso do inquérito, no entanto, Agostinho vê a situação como mais grave. “Nesse caso específico das madeiras, tem uma materialidade mais clara. Ele estava lá. Afastou delegados (da Polícia Federal). Se reuniu com deputados que defendem os madeireiros”, frisou. (Com Agência Estado)
Mal-estar
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao autorizar o cumprimento das diligências contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, determinou que só depois da realização das ações fosse “dada ciência” do caso à Procuradoria-Geral da República (PGR). A situação causou mal-estar com o órgão e, desde então, a cúpula do Ministério Público Federal (MPF) tenta tirar Moraes da investigação.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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