Tecnologia
Em pauta, o amplo universo dos NFTs
Ainda embrionária, experimental e desbravadora, a indústria dos NFTs se destaca cada vez mais e ganhou uma conferência própria em Miami. Descubra o que foi tratado na NFT Week Miami
Por Marcos Freitas
Em um mundo de mudanças constantes, Miami tem buscado se posicionar na vanguarda tecnológica e empresarial, visando se tornar um polo de inovação e negócios. Foi com esse objetivo em mente que a cidade passou a promover neste mês o Tech Month. O período foi escolhido para celebrar ideias disruptivas que têm o potencial de alavancar a humanidade para um futuro mais próspero.
Seguindo essa pauta, nasceu a primeira edição da NFT Week Miami, feira voltada para a mais nova febre do momento: NFTs. NFTs, ou tokens não fungíveis, são tokens digitais que representam itens que não podem ser substituídos. Para fins de comparação, cédulas de dinheiro são itens fungíveis – uma nota de dez reais pode ser substituída por outra nota da mesma quantia, sem distinção de valor.
Já os NFTs garantem através da criptografia que cada item é único e insubstituível; uma tecnologia capaz de revolucionar toda e qualquer indústria que tem a necessidade de propriedades únicas – artes, música, podcasts, imóveis, entre outras.
Apesar desse potencial, o evento foi uma representação do momento que vive a indústria de NFTs, ainda embrionária, experimental e desbravadora. Diferente do mercado já amadurecido de criptomoedas ou da indústria estabelecida de finanças tradicionais, o ecossistema de NFTs ainda é um laboratório de possibilidades, sem direção clara ou unânime.
As palestras expuseram um leque de vertentes onde a tecnologia de NFTs pode ser aplicada além do uso mais comum, a arte. Empreendedores apresentaram ideias para otimizar uma série de áreas como o setor imobiliário (tanto no mundo real quanto no metaverso); ferramentas de recrutamento e busca de talentos; novas formas de capitalização societária; o engajamento e a participação entre artistas e seus fãs; acesso à investimentos alternativos através de NFTs fracionados; a reestruturação no modelo de negócio de indústrias como a da música, de podcasts e filmes.
Nesse novo universo digital o céu não é o limite. A flexibilidade desse ecossistema vem permitindo a criação de economics com o potencial de soma positiva – não só do ponto de vista monetário, mas na agregação de valor como um todo.
Ainda que seja difícil prever a direção na qual a indústria está caminhando, um tema ecoou durante todos os dias de conferência: o senso de comunidade. Seres humanos são criaturas sociais, é natural então que a habilidade de pertencer e se identificar com um grupo seja uma prioridade comportamental nossa. O mundo dos NFTs potencializa esse senso ao extremo, permitindo que cada indivíduo encontre, engaje e participe ativamente de comunidades que expressem sua personalidade única.
Um exemplo é o Knight of Degen, comunidade de NFTs que foi criada a partir do desejo de unir aficionados por esportes e apostas. O projeto iniciou apenas com um grupo de Discord – sala virtual de bate-papo onde membros compartilhavam sugestões de apostas e notícias esportivas. Rapidamente a comunidade evoluiu para estabelecer uma DAO (decentralized autonomous organization), organização decentralizada com uma hierarquia achatada, onde o poder de decisão é dividido entre os membros.
Com a nova estrutura organizacional, o grupo preparou um pool de recursos para investimentos esportivos. Dentre eles, o KoD (Knights of Degen) fundou um dos doze times profissionais na nova liga estado-unidense de futebol americano FCF (Fan Controlled Football). O que iniciou como um grupo de fãs unidos por um sentimento em comum, tornou-se uma organização institucionalizada que permitiu o engajamento ativo naquilo que seus membros mais amam: esportes.
Outro case que exemplifica o potencial da tecnologia de NFTs, é a Scoutible. Fruto do cérebro de cientistas de Harvard aliados à musculatura financeira do bilionário Mark Cuban, a Scoutible veio para competir com o Linkedin de forma mais eficiente, intuitiva e… divertida. Em seu metaverso gamificado o projeto toma proveito de uma economia de incentivos positivos através do conceito earn-to-learn, onde participantes participam de uma aventura digital, ganhando pontos (tokens) enquanto completam tarefas.
A ideia é que os participantes aprendam (e se capacitem) para se tornarem mais qualificados no ambiente profissional, e conheçam mais sobre si mesmos. Adicionalmente o projeto oferece a habilidade de networking para que empresas conheçam profissionais que se destacam nas habilidades que as empresas buscam, e vice-versa.
Por fim, o empreendedor e influenciador Tai Lopez foi ao palco com o seu sócio Alex Mehr para falar sobre o futuro do mercado imobiliário – dentro e fora do metaverso. Segundo Lopez, é estimado que o setor imobiliário representa pelo menos 50% do PIB global, logo, é um mercado com uma abundância constante de oportunidades. Sua empresa vem investindo fortemente na compra de terras digitais em diversos metaversos (universos digitais) assim como em tecnologias que auxiliam no registro digital de títulos imobiliários através de NFTs. Lopez acredita que essa tecnologia vai otimizar a interação em mercados locais, principalmente em áreas remotas com pouca infraestrutura organizacional. Como transparência e imutabilidade são características intrínsecas dessa tecnologia, não é difícil ver o potencial disruptivo nesse mercado.
Em suma, a conferência nos trouxe um leque extenso de possibilidades para esse novo universo. É perceptível que os NFTs ainda estão em uma fase primitiva. O que é inegável é a capacidade revolucionária que essa tecnologia possui. Com o crescimento veloz, interesse extenso e os rios de investimento inundando essa indústria, é tangível ver NFTs integrados de forma mundana no nosso dia a dia dentro dos próximos 3 ou 5 anos. Uma vez que essa tecnologia foi lançada ao mundo não há mais volta, nos resta aguardar os próximos capítulos.
Tecnologia
“Brainrot”, você tem isso? Conheça esse efeito colateral da vida digital
Termo descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido
Se você leu meu texto sobre a slopficação da internet, talvez agora você fique um pouco mais assustado. Senta que lá vem a história…
Se você é millennial, como eu, e tinha uma certa esperança que a próxima geração seria melhor e daria conta de um monte de coisas que não conseguimos, bem… nascer e crescer imerso em redes sociais parece que não está fazendo muito bem, pelo menos na construção de gosto e o que se escolhe consumir online.
Entender minimamente a GenZ (Geração Z) e a Geração Alpha tem consumido boa parte do tempo das minhas pesquisas online. Sacar os movimentos e tentar entrar na cabeça dos jovens é interessante e surpreendente, já que os valores e gostos são completamente diferentes. E olha que pra muita coisa eu sou mais Z que Y.
Mas vamos para o que interessa. Você já ouviu ou viu, em algum lugar, termos como:
- Skibidi Toilet
- Level Five Gyat
- Rizz
- Fanum Tax
- Only in Ohio
- Sigma Looksmaxxing
- Grimace Shake
Parece erro, palavras sem sentido, mas eles têm aparecido com frequência em uma série de conteúdos virais, mais especificamente memes, e que têm sido atribuídos ao tal do “brainrot”. Se você perguntar para o Google Tradutor, não vai conseguir nada. Já para o ChatGPT, ele traz uma luz. Olha só:
Acho que, com isso, você já consegue ir sacando o que é “brainrot”. Apesar desse termo ser antigo (usado desde 2004), é agora que ele está bombando em redes sociais muito usadas por jovens da GenZ, como o TikTok.
E não é pouco dizer que esses jovens internautas estão obcecados com a tal “brain rot” ou “brainrot”. Tanto que a própria viralização do termo explica muito o que estamos vivendo nos tempos atuais: “doomscrolling“, essa rolagem infinita nos nossos feeds, e também nosso estado online crônico.
Traduzido por “podridão cerebral”, “apodrecimento do cérebro” ou até “cérebro apodrecido”, o termo, ou condição, descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido, que podem afetar negativamente as habilidades cognitivas e a capacidade de pensar criticamente.
Longe de ser um termo médico ou científico, é simplesmente um efeito colateral do nosso comportamento online, principalmente em redes sociais, frequentemente motivado por um desejo compulsivo de se manter atualizado, principalmente com eventos negativos, mesmo quando isso pode ser emocionalmente desgastante ou prejudicial para a saúde mental.
Basicamente, estamos gastando mais tempo e literalmente nos entregando e absorvendo grandes quantidades de informações irrelevantes e de baixa qualidade.
Sem entrar nas questões neurodegenerativas, não precisamos de muito para entendermos que, ao consumirmos conteúdos piores, ficaremos piores. Ou seja, nossos cérebros vão trabalhar com o que recebem. Se consumimos porcarias, vamos pensar em porcarias. Simples assim.
E tem muita gente online falando que já está com “brainrot” só de ter recebido ou passado por certos conteúdos, justamente porque estão muitos expostos a eles. E assim como os “slops” causam uma certa confusão mental, os conteúdos associados ao brainrot também, desassociando imagens ou conceitos de seus contextos reais.
Um exemplo é a imagem de um soldado da Segunda Guerra Mundial com um olhar atordoado, que faz parte da pintura de Tom Lea “That 2,000 Yard Stare“, que é usado em muitos conteúdos meméticos, e que TikTokers dizem ser brainrot.
Popularização e perigos
Fazendo uma pesquisa rápida no Google Trends, percebemos que tivemos uma procura maior do termo em 2005 e 2010, mas, a partir da segunda metade de 2023 até agora, o termo explodiu. E é interessante notar que esses picos estão muito associados à cultura gamer e a jogos que contribuíram com seu uso ao longo da década de 2010.
Inclusive, “brainrot” é uma doença que os jogadores podem contrair no jogo de “2011 The Elder Scrolls V: Skyrim“. Em 2007, ano que muita gente considera o surgimento do termo, ele aparece em posts no X, nos quais os usuários descreviam reality shows de namoro, videogames e certos comportamentos, como brainrot.
Um artigo recente do NYT, Jessica Roy relata como alguns usuários do TikTok até começaram a criar paródias de pessoas que parecem “ter” essa condição, ajudando, assim, na popularização, ridicularização e adoção do termo. E, apesar de não ser um elogio falar que alguém tem brainrot, algumas pessoas demonstram um leve orgulho ao admitir a condição.
Em um quiz recente do BuzzFeed, dava até pra saber se “o seu cérebro está 1000% cozido”. Outra leva de vídeos fala que quanto mais gírias da internet uma pessoa usa, mais brainrot ela tem.
E apesar do humor que tudo isso traz, existe um lado bem ruim. Sabe quando a gente fica obcecado por algo e vê aquilo em todo lugar, ou quando gostamos tanto de um personagem ou uma celebridade e começamos a ficar parecidos com elas? Bem, consumir conteúdos de baixa qualidade pode nos deixar menos preparados a certaz situações e “menos inteligentes”, como colocam os jovens com brainrot. Muitos compartilham nas redes seu medo de ficaram “burros”.
Há muitos pesquisadores que estão se debruçando nesse tema, como o neurocientista Michel Desmurget, que tem um livro bastante controverso, assim como outros que se adentram nesse tema, “A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas crianças”.
Esse medo de ficarmos piores cognitivamente é real, porque somos o que comemos e consumimos. A “Geração Touch” e as “crianças de iPad” certamente carregam consequências disso, tanto pela tela e o aumento de miopia, muita quantidade de luz azul, que traz alterações no sono, e por aí vai, até o que é visto, assistido e lido.
Em toda a história da humanidade, acompanhamos as consequências boas e ruins das mais diversas tecnologias que foram sendo introduzidas nas nossas vidas, e se tratando de internet, hoje e sempre, independente da tecnologia em si, sabemos que “gostamos” de certos conteúdos justamente pelo modo como nosso próprio cérebro funciona.
Nem vou entrar nessa discussão, porque isso daria um outro texto, mas, no caso dos memes, eles são divertidos, rola uma conexão emocional positiva com eles, e isso dá uma ajudinha na disponibilidade de dopamina no nosso cérebro. É entretenimento puro e viciante.
Por isso mesmo, existem muitos pesquisadores interessados no assunto, tanto que, nos Estados Unidos, diversas instituições de saúde já estão estudando isso como um distúrbio. No artigo no NYT, é citada a pesquisa do Hospital Infantil de Boston, que chama essa condição de “Uso Problemático de Mídia Interativa”. E ela mostra que, conforme passamos muito tempo online, mudamos nossa percepção do espaço físico para o online, e isso tem consequências.
E a GenAI nessa história?
Brainrot está na moda hoje em dia, assim como a GenAI (inteligência artificial generativa). Mas será que a IA está ajudando a nos levar a um estado de brainrot generalizado?
Se o uso preguiçoso da GenAI pode nos fazer desenvolver menos algumas habilidades ao longo do tempo, não há dúvida. É como foi com a nossa memória, tanto que hoje não guardamos o número do celular de quase ninguém. Claro que nesse cas,o é reversível, podemos treinar e melhorar, graças a neuroplasticidade cerebral.
Mas, assim como a internet está se “slopificando”, ou seja, sendo tomada por conteúdos sem valor sendo gerados sinteticamente, nós também poderemos acabar nos deparando cada vez mais com esse conteúdo, e (por que não?) aumentando o brainrot, assim como nos enganando cada vez mais por conteúdos falsos. As consequências de longo prazo não sabemos, e muito estudo ainda será feito, mas, com certeza, uma coisa pode alimentar a outra.
Deveríamos nos preocupar com o “brainrot”?
Em certo sentido, sim, embora devamos ser cautelosos ao soar o alarme sobre o que impulsiona ou leva ao “brainrot”. É muito fácil referir-se a praticamente qualquer coisa como causadora de “brainrot”, se formos pensar.
A cultura da internet sempre traz questões e termos interessantíssimos que podem nos fazer pensar e desenvolver muitas teorias e conceitos. Brainrot ainda é uma expressão que carece de rigor científico, principalmente para descrever ou quantificar a saúde mental real. Mesmo assim, não significa que devemos ignorar ou minimizar as preocupações que estão no cerne desse termo.
Tecnologia
Tik Tok planeja lançar o Whee, plataforma de fotos ‘cópia’ do Instagram
Na plataforma, será possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos
O TikTok está trabalhando em seu próprio Instagram, afirmou o site Android Police na terça-feira, 18. O aplicativo, chamado Whee, tem como objetivo o compartilhamento de fotos com melhores amigos – uma mistura da rede de Mark Zuckerberg com o BeReal, de fotos instantâneas e não editadas. O app, que já pode ser utilizado em alguns países, ainda não chegou ao Brasil.
De acordo com as imagens vistas pelo Android Police, o Whee é um app separado do TikTok, mas também mantido pela ByteDance. Na plataforma, é possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos.
Configurações básicas como curtidas e comentários também estão presentes, em um layout bastante parecido com o do Instagram.
“Capture e compartilhe fotos da vida real que somente seus amigos podem ver, permitindo que você seja mais autêntico”, afirma a descrição do Whee no Google Play, loja de apps do Android. “Whee é o melhor lugar para amigos próximos compartilharem momentos da vida”, completam.
O TikTok e a ByteDance ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o aplicativo, mas já é possível encontrar a nova rede social em alguns países em celulares com sistema operacional Android.
Tecnologia
YouTube testa recurso que introduz “notas” de contexto em vídeos
Testes começarão nos Estados Unidos e serão feitos, inicialmente, com usuários e criadores selecionados
O YouTube anunciou, nesta segunda-feira (17), que permitirá em breve que os usuários adicionem “notas” que fornecerão contexto sobre alguns de seus vídeos. Os testes fazem parte de um novo recurso que inicialmente será lançado nos Estados Unidos.
A plataforma convidará alguns usuários e criadores de conteúdo, como parte da fase inicial de teste, para escrever notas destinadas a fornecer “contexto relevante, oportuno e fácil de entender” sobre os vídeos.
As notas, por exemplo, poderão esclarecer quando uma música é uma paródia, apontar quando uma nova versão de um produto que está sendo analisado estiver disponível ou informar aos espectadores quando imagens antigas são erroneamente apresentadas como eventos atuais.
A rede social X, antigo Twitter, possui um recurso semelhante chamado Notas da Comunidade, que permite que colaboradores selecionados adicionem contexto às publicações, incluindo tags como “enganoso” e “fora de contexto”.
O recurso de notas no YouTube será, inicialmente, disponibilizado em dispositivos móveis para usuários nos Estados Unidos e em inglês. Nessa fase, avaliadores externos classificarão a utilidade das notas, o que ajudará a treinar os sistemas, antes de um possível lançamento mais amplo, disse o YouTube.
*Com reportagem de Yuvraj Malik, em Bengaluru
CNN Brasil
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