Mundo
Em meio a novas tensões raciais, Pence promete lei e ordem
Vice-presidente de Donald Trump no EUA fala na convenção republicana e tenta associar democratas ao caos e à anarquia
A terceira noite da convenção republicana aconteceu com o pano de fundo de um novo acirramento das tensões raciais nos Estados Unidos.
O principal discurso foi feito pelo vice-presidente Mike Pence. Ele repetiu temas ouvidos nas duas noites anteriores: somente Donald Trump será capaz de impedir que o caos tome conta das ruas das cidades americanas.
“O presidente Trump e eu sempre vamos apoiar o direito de protestar pacificamente, mas o que vemos é violência e saques. A violência tem de acabar.”
O tema da lei e da ordem é uma das bandeiras da campanha de reeleição de Trump e deve voltar a ganhar importância depois do mais recente caso de violência policial contra um homem negro, ocorrido na noite de domingo.
Jacob Blake foi alvejado com sete tiros pelas costas por um policial branco quando tentava entrar em seu carro, na cidade de Kenosha, estado de Wisconsin. Blake está internado em estado grave e perdeu o movimento das pernas.
Menos de três meses depois dos protestos que chacoalharam o país após o assassinato de George Floyd, existe o temor de que uma nova onda de manifestações tome as ruas americanas.
A estratégia de Trump e do Partido Republicano tem sido destacar os atos isolados de violência e associar o democrata Joe Biden a uma suposta “anarquia”.
Pence repetiu a afirmação de que Biden é a favor de cortar verbas da polícia, apesar de o democrata já ter se posicionado contra a ideia.
“A população sabe que não temos de escolher entre apoiar a polícia e estar ao lado dos afro-americanos para melhorar suas vidas, sua educação, seus empregos e sua segurança.”
Outro argumento repetido várias vezes nos últimos dias é que Biden tem um projeto de governo “socialista”. “Ele é um cavalo de Troia da esquerda radical”, afirmou Pence. “Biden vai nos colocar no caminho do socialismo e do declínio.”
Falando ao vivo do Forte McHenry, palco de uma batalha da Guerra de Secessão e objeto de um poema que serviu de inspiração para o hino nacional dos Estados Unidos, Pence perguntou: “Se Biden for eleito, a América continuará sendo a América?”
O vice também tentou defender a atuação do governo federal no combate à pandemia. Mas várias de suas afirmações foram falsas ou enganosas. Ele afirmou que Trump estabeleceu parcerias com os governadores. Na realidade, durante passou boa parte da crise em guerra aberta contra os líderes estaduais, especialmente os do partido da oposição.
O vice também afirmou que a decisão de proibir a entrada de viajantes da China “salvou inúmeras vidas”. Não há como determinar quantas vidas foram salvas por essa medida, mas sabe-se, por exemplo, que no epicentro de Nova York o coronavírus foi trazido da Europa.
Até ontem, o total de vítimas de Covid-19 nos Estados Unidos ultrapassava 179 000, como quase 6 milhões de casos registrados.
Tensões raciais
Na tarde de ontem, o time de basquete Milwaukee Bucks (que é de Wisconsin) não entrou na quadra para disputar uma partida dos playoffs da NBA contra o Orlando Magic.
A decisão foi tomada pelos jogadores. A liga suspendeu as três partidas que estavam marcadas para ontem. A NBA é considerada a liga esportiva mais progressista do país.
Na retomada da temporada, interrompida por causa da pandemia, os times estão usando uniformes com slogans do movimento Black Lives Matter, que pede o fim da violência policial contra a população negra.
Três jogos de beisebol previstos para ontem também foram adiados por causa das tensões raciais. “Respeitamos a decisão de diversos atletas de não jogar. A Major League Baseball se mantém unida por mudanças em nossa sociedade e somos aliados na luta para acabar com o racismo e a injustiça”, afirmou um comunicado da liga. A WNBA, liga profissional feminina, também cancelou as partidas de ontem.
O incidente envolvendo Jacob Blake foi gravado por um homem que estava numa casa, do outro lado da rua. O vídeo foi amplamente divulgado. Blake estaria tentando separar uma briga entre duas mulheres quando a polícia chegou.
O vídeo mostra uma discussão entre os policiais e Blake, que tenta entrar em seu carro – onde estavam seus três filhos, de 3, 5 e 8 anos. Depois de abrir a porta do motorista, um dos policiais o agarra pela camiseta e abre fogo à queima-roupa.
Na noite do próprio domingo, quando o vídeo começou a circular nas redes sociais, manifestantes foram às ruas da cidade para protestar. Desde então, houve confrontos com a polícia de Kenosha, quebra-quebra e carros incendiados.
Na madrugada de ontem, duas pessoas foram mortas a tiros. Kyle Rittenhouse, um adolescente de 17 anos foi preso, suspeito da autoria de pelo menos um dos crimes.
Em contas de redes sociais associadas a Rittehnouse, ele se declarou apoiador de Donald Trump e postou a frase “Blue Lives Matter”, um movimento que defende a polícia (o uniforme dos policiais nos Estados Unidos costuma ser azul).
Também há posts de Rittenhouse posando junto a armas e vídeos do jovem praticando tiro ao alvo. Numa entrevista em vídeo publicada no Twitter por um jornalista do site Daily Caller, ele diz que sua missão “é proteger” os negócios do vandalismo e a população.
A lei do estado de Illinois, onde mora o rapaz, proíbe que menores de 18 anos tenham armas de fogo.
A conivência de Trump com grupos civis armados é amplamente documentada. Depois dos distúrbios de Charlotteville, há três anos, ele afirmou que havia “gente muito boa” entre os milicianos supremacistas brancos que marcharam na cidade.
Em abril deste ano, dezenas de homens portando armas de guerra invadiram a assembleia legislativa de Michigan demandando a reabertura do estado. Trump postou mensagens pedindo a “libertação” de Michigan.
E, em junho, quando casos isolados de violência foram registrados nos protestos por justiça racial, ele afirmou que “quando começam os saques, começa os tiros”. A mensagem, considerada uma incitação à violência, foi amplamente condenada pela oposição e por defensores dos direitos civis.
Vozes femininas
Outro tema da noite de ontem foram as mulheres. Kayleigh McEnany (porta-voz da Casa Branca), Karen Pence (mulher do vice-presidente, Mike Pence) e Kellyanne Conway (assessora de Trump) deram depoimentos sobre o respeito que o presidente tem pelas mulheres.
Trump “confia e faz confidências às mulheres”, afirmou Conway. “Ele me ajudou a destruir uma barreira [para as mulheres] na política.”
Conway foi uma das diretoras da campanha vencedora em 2016 e está na Casa Branca desde o início do mandato de Trump, no papel de assessora especial.
Considerada uma das pessoas mais próximas do presidente – e uma sobrevivente, dada a alta rotatividade dos assessores mais próximos de Trump –, Conway anunciou sua demissão no fim de semana passado, para dedicar mais tempo à família.
Com diversas mulheres escaladas para falar na primeira hora da noite de ontem, a tentativa da campanha Trump era conquistar o voto feminino. O candidato democrata tem uma vantagem de mais de 20 pontos percentuais entre as eleitoras.
A avaliação é que o presidente seria misógino (dados os vários comentários sexistas e ofensivos feitos por ele) e grosseiro. Muitas mulheres, apesar de alinhadas politicamente com Trump, se recusam a votar no presidente.
O voto feminino é essencial para as aspirações de qualquer candidato a presidente dos Estados Unidos. As mulheres compõem 53% do eleitorado
Trump fala hoje
O presidente encerra a convenção democrata na noite de hoje. Ainda não foram divulgados detalhes sobre os temas que Trump pretende abordar.
Uma das grandes expectativas é se e como ele vai se referir ao caso de Kenosha. Nos primeiros dias dos protestos pela morte de Floyd, em junho, Trump disse: “Sou seu presidente da lei e da ordem”. Ele também pediu que a polícia “dominasse as ruas”.
Ao equiparar as manifestações – em sua imensa maioria pacíficas – com anarquia e ameaças à segurança dos “cidadãos de bem”, Trump tinha dois objetivos: falar de um tema caro à sua base e ao mesmo tempo desviar o assunto da pandemia.
Até a noite de ontem, Trump não havia se manifestado em relação ao sete tiros disparados contra Blake. Mas, no Twitter, o presidente afirmou estar enviando forças federais para “restaurar a lei e a ordem” em Kenosha.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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