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Da Itália às Malvinas: quando os gols de Maradona reverberaram na política

Estrela do Napoli e da seleção Argentina, Maradona liderou vitórias que são lembradas mesmo fora de campo. O ídolo morreu hoje aos 60 anos

Maradona em gol contra a Inglaterra na Copa de 1986: considerado o “gol do século” (Juha Tamminen/Reuters)

Ao longo da carreira, Maradona liderou seus times a títulos memoráveis — que incluíram uma Copa do Mundo com a Argentina e os títulos italianos com o Napoli. A morte do craque faz o esporte relembrar suas maiores vitórias, e algumas delas que reverberaram, também, para fora do campo e refletiram o mundo de sua época.

Um dos mais lembrados é o bicampeonato argentino na Copa do Mundo de 1986. Naquela Copa sediada no México, liderada por atuações brilhantes de Maradona, a seleção da Argentina terminou vencendo a Alemanha Ocidental na final.

Mas um dos jogos mais marcantes aconteceu nas quartas-de-final, quando a Argentina bateu a Inglaterra por 2×1, partida que viria a ter dois dos gols mais famosos da história das Copas.

O jogo aconteceu quatro anos depois da Guerra das Malvinas entre Argentina e Reino Unido (chamada de Falklands War entre os britânicos). O conflito foi rápido, entre abril e junho de 1982, e terminou com vitória acachapante do Reino Unido — morreram 649 soldados argentinos e três civis, mais que o dobro de britânicos.

“Em um país marcado por tantas divisões políticas e polarizações, as Malvinas são uma das poucas causas verdadeiramente nacionais. A noção de que os ingleses usurpam um território argentino, que o país tem seus direitos soberanos violados por uma potência estrangeira, é profundamente arraigada na sociedade até hoje, e certamente o era com muito mais força na década de 1970/80”, explica o internacionalista e especialista em Argentina e América Latina Matheus de Oliveira Pereira, do programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, da Unesp.

“O que é curioso é que mesmo havendo um amplo reconhecimento de que a decisão de ir à guerra foi um equívoco [por parte do governo militar argentino], uma missão suicida, a derrota militar não esmoreceu o apelo popular da causa — daí a magnitude política do famoso 2×1 contra os ingleses na Copa do México”, diz o pesquisador.

É nesse contexto que Inglaterra e Argentina se enfrentaram nos gramados em 1986. Primeiro, o 1×0 veio com o gol conhecido como “A mão de Deus”, em que Maradona empurra a bola para as redes com a mão. Em entrevista anos mais tarde, o craque diz “eu estava esperando que meus colegas fossem me abraçar, e ninguém veio… Eu disse ‘venham me abraçar, ou o árbitro vai anular o gol’”, brincou.

Depois, veio o antológico gol em que o argentino sai driblando todo o time inglês. O feito, já no segundo tempo, praticamente confirma a vitória da Argentina e leva à euforia o Estádio Azteca, repleto de argentinos no México. Anos depois, esse gol seria escolhido como “o gol do século” e o mais bonito da história das Copas em votação da FIFA pela internet.

Uma das narrações mais famosas do tento, de Victor Hugo Morales, pergunta aos gritos: “De que planeta você veio? Para deixar pelo caminho tantos ingleses…”. O britânico Gary Lineker ainda marcou o gol de honra inglês aos 81 minutos, mas não havia mais tempo para uma virada.

“Quando Maradona faz aquele gol contra a Inglaterra, na verdade sintetiza toda a revanche que a Argentina esperava dar para a Inglaterra desde as Malvinas. E ele não tinha o menor pudor em esconder isso ou em dissimular esse tipo de conquista”, diz a professora Katia Rubio, da Faculdade de Educação da USP e que estuda a relação entre esporte, história e política.

“Para além de atleta, Maradona foi como poucos um grande porta-voz da Argentina. E não só da Argentina do futebol, da Argentina como um todo, do ponto de vista cultural. Não é à toa que o povo argentino tem pelo Maradona tamanho respeito e admiração.”

Katia Rubio, pesquisadora e professora sobre esporte na USP

O arquipélago das Malvinas, que fica na área oceânica argentina, estava desde o século 19 sob comando britânico, mas era reivindicado pelos argentinos como parte de seu território. No Reino Unido, a vitória na Guerra das Malvinas fortaleceu o governo conservador da premiê Margaret Thatcher, que venceria novamente as eleições no ano seguinte.

O confronto, aliás, recebeu outra dose extra de atenção neste mês de novembro, quando a Netflix divulgou a quarta temporada da série The Crown, que retrata justamente o período do confronto (no Google Trends, as buscas por “Guerra das Malvinas” mais que triplicaram na semana passada).

Na carreira de Maradona, outro feito lembrado para além dos gramados é o título italiano com o Napoli, time do sul da Itália. Um ano depois da vitória com a Argentina na Copa, Maradona levaria o Napoli a conquistar o Campeonato Italiano de 1987.

Há duas peculiaridades sobre o time do Napoli na época: o clube não era, nem de longe, visto como o favorito na Itália, e não estava entre as maiores forças da Europa. Mas, ainda assim, conseguiu bater nomes como a poderosa Juventus, então do craque Michael Platini.

Dentre os jogos que entraram para a história estão as vitórias lideradas por Maradona contra a Juventus. Naquele 1987, a Juventus termina o campeonato atrás do Napoli, em segundo, seguida pela Inter, em terceiro. Uma temporada antes, em 1985, Maradona seria ainda responsável por encerrar um jejum de sete anos sem vitória do Napoli sobre a Juve, com um gol de falta que ficou conhecido como “gol impossível”.

Fora de campo, a vitória do Napoli contra a Juventus teve ainda outro simbolismo político. Historicamente, há uma rivalidade na Itália entre o Norte “rico” e o Sul, visto como mais pobre e de economia mais agrícola e menos industrial. Como reflexo desse contexto econômico, os times do Norte, como Juventus, Milan e Inter de Milão, também dominam o futebol local e costumam ter maiores orçamentos. O abismo entre as duas regiões permanece até hoje na economia italiana.

Maradona, por sua vez, havia chegado ao Napoli anos antes, em 1984, tendo sido inclusive cortejado pela própria Juventus. Após o feito de 1987, o argentino venceria novamente o título italiano com o Napoli na temporada 1989/90, quando jogou ao lado dos brasileiros Alemão e Careca. Naquela conquista, outra vitória lembrada até hoje é contra o Milan por 2×0, na casa do adversário, e cujos pontos seriam decisivos na conquista do título rodadas depois. Com o Napoli, Maradona também foi campeão duas vezes da Supertaça da Itália, uma vez da Taça da Itália e uma vez da Liga Europa, e é tido como um dos maiores ídolos da história do clube.

As vitórias “do Sul sobre o Norte” contribuíram para o apelido de “Dios” de Maradona também no futebol italiano.

Não são raros os momentos em que o esporte ultrapassa as competições e reflete o contexto geopolítico de suas épocas, para o bem ou para o mal. Na história do esporte, há uma dezena desses episódios: do uso propagandista das Olimpíadas por Hitler na Alemanha nazista aos boicotes mútuos entre União Soviética e Estados Unidos durante a Guerra Fria.

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Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

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Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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