Mundo
Cristãos na Terra Santa sofrem ataques da extrema direita
O desprezo acumulado sobre a minoria cristã não é novidade na fervilhante Cidade Antiga, um foco de tensões que o governo israelense anexou em 1967
O chefe da Igreja Católica Romana na Terra Santa alertou em uma entrevista que a ascensão do governo de extrema direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu piorou a vida dos cristãos no berço do cristianismo.
O influente patriarca latino nomeado pelo Vaticano, Pierbattista Pizzaballa, contou à Associated Press que a comunidade cristã da região, que existe há 2.000 anos, vem sofrendo crescentes ataques, e o governo mais à direita da história de Israel encoraja os extremistas, que atacam o clero e vandalizam lugares religiosos num ritmo cada vez mais acelerado.
O aumento dos incidentes contra os cristãos coincide com um momento em que o movimento colonizador israelense, estimulado por seus aliados no governo, está aproveitando para expandir suas atividades na capital disputada.
“A frequência desses ataques, as agressões, se tornou algo novo” disse Pizzaballa, durante a semana da Páscoa, em seu escritório escondido entre as passagens calcáreas do Bairro Cristão da Cidade Antiga. “Essas pessoas se sentem protegidas (…) que a atmosfera cultural e política atual pode justificar, ou tolerar, ações contra os cristãos.”
As preocupações de Pizzaballa parecem se contrapor ao declarado compromisso de Israel com a liberdade de culto, consagrado na declaração que marcou a fundação do país, 75 anos atrás. O governo israelense enfatizou que prioriza a liberdade religiosa e as relações com as igrejas, que têm fortes vínculos com o exterior.
“O compromisso de Israel com a liberdade religiosa sempre foi importante para nós”, diz Tania Berg-Rafaeli, diretora do departamento de religiões mundiais no Ministério das Relações Exteriores de Israel. “É o caso de todas as religiões e minorias que têm livre acesso aos locais sagrados.”
Mas os cristãos dizem que as autoridades não protegem seus locais de ataques direcionados. E as tensões aumentaram depois que uma operação da polícia israelense no complexo da sagrada Mesquita de Al-Aqsa despertou indignação entre os muçulmanos, e um conflito regional duas semanas atrás.
Para os cristãos, Jerusalém é onde Jesus foi crucificado e ressuscitou. Para os judeus, é a antiga capital, que abriga dois templos judaicos bíblicos. Para os muçulmanos, é onde o profeta Maomé ascendeu ao céu.
O desprezo acumulado sobre a minoria cristã não é novidade na fervilhante Cidade Antiga, um foco de tensões que o governo israelense anexou em 1967. Muitos cristãos se sentem espremidos entre judeus e muçulmanos, israelenses e palestinos.
Mas, atualmente, o governo de extrema direita de Netanyahu inclui lideranças colonialistas em posições importantes – como o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que foi condenado criminalmente em 2007 por incitação de racismo anti-árabe e apoio a um grupo judeu militante.
Sua influência fortaleceu os colonizadores israelenses que buscam consolidar o controle dos judeus sobre a Cisjordânia ocupada e Jerusalém oriental, alarmando as lideranças eclesiásticas que veem essas iniciativas – incluindo o plano do governo de criar um parque nacional no Monte das Oliveiras – como uma ameaça à presença cristã na cidade sagrada. Os palestinos reivindicam Jerusalém oriental como capital do estado que esperam ter.
“Os elementos de direita estão empenhados em judaizar a Cidade Antiga e outras terras, e sentimos que nada os impede agora”, disse Don Binder, pastor da Catedral Anglicana de São Jorge, em Jerusalém. “As igrejas têm sido o principal obstáculo.”
Atualmente, há cerca de 15.000 cristãos em Jerusalém, a maioria palestinos, mas já foram 27.000 – antes que as dificuldades posteriores à guerra no Oriente Médio em 1967 estimulassem muitos do grupo tradicionalmente próspero a emigrar.
2023 está a caminho de se tornar o pior ano para os cristãos em uma década, segundo Yusef Daher, do Centro Interigrejas, grupo que faz uma coordenação entre as denominações.
Agressões físicas e assédio aos membros do clero muitas vezes não são objeto de denúncia, de acordo com o centro. A organização documentou pelo menos sete casos graves de vandalismo contra propriedades da igreja entre janeiro e meados de março – um aumento acentuado em comparação com os seis casos contra os cristãos registrados durante todo o ano de 2022. Lideranças da igreja culpam os extremistas israelenses pela maioria dos incidentes, e dizem temer um aumento ainda maior.
“Essa escalada trará cada vez mais violência”, disse Pizzaballa. “Criará uma situação muito difícil de corrigir.”
Em março, dois israelenses invadiram a basílica ao lado do Jardim de Getsêmani, onde se diz que a Virgem Maria teria sido enterrada. Eles atacaram um padre com uma barra de metal antes de serem presos.
Em fevereiro, um religioso judeu americano arrancou do pedestal uma representação de Cristo de 3 metros de altura e a espatifou no chão, golpeando seu rosto com um martelo dezenas de vezes, na Igreja da Flagelação da Via Dolorosa, pela qual Jesus teria arrastado sua cruz a caminho da crucificação. “Sem ídolos na cidade sagrada de Jerusalém!”, ele gritou.
Os armênios encontraram pichações de ódio nos muros de seu convento. Clérigos de todas as denominações contam já terem sofrido perseguição e agressão, e terem até recebido cusparadas em seu caminho até a igreja. Em janeiro, religiosos judeus derrubaram e vandalizaram 30 sepulturas marcadas com cruzes de pedra em um cemitério cristão histórico na cidade. Dois adolescentes foram presos e denunciados por causar danos e insultar a religião.
Mas os cristãos alegam que a polícia israelense não vem levando a sério a maioria dos ataques. Em um dos casos, George Kahkejian de 25 anos, conta que foi espancado, preso e detido por 17 horas, no começo deste ano, depois que uma multidão de colonizadores judeus escalou seu convento cristão armênio para rasgar a bandeira. A polícia não fez comentários imediatos.
“Percebemos que a maioria dos incidentes em nosso bairro permanecem impunes”, reclamou o padre Aghan Gogchian, chanceler do Patriarcado Armênio. Ele manifestou sua decepção com a frequente insistência das autoridades em alegar que os casos de profanação e ameaça não estariam ligados ao ódio religioso, mas à doença mental.
A polícia israelense diz ter “investigado minuciosamente (os incidentes) independentemente da origem ou da religião”, e ter realizado “prisões rápidas”. O município de Jerusalém está aumentando a segurança para as procissões da Páscoa ortodoxa, que ocorrerão em breve, e criando um novo departamento de polícia para lidar com ameaças por motivação religiosa, disse o vice-prefeito, Fleur Hassan-Nahoum.
A maioria das principais autoridades israelenses permaneceu em silêncio quanto aos atos de vandalismo, enquanto as medidas do governo – como uma proposta de lei criminalizando o proselitismo cristão e planos para transformar o Monte das Oliveiras em parque nacional – provocaram revolta não apenas na Terra Santa.
Netanyahu prometeu impedir o avanço do projeto de lei, após pressão de indignados cristãos evangélicos dos Estados Unidos. Os evangélicos, que estão entre os maiores defensores de Israel, consideram o estado judeu o cumprimento de uma profecia bíblica.
Enquanto isso, as autoridades de Jerusalém confirmaram que estão avançando com o polêmico plano de zoneamento para o Monte das Oliveiras – um local sagrado de peregrinação com dezenas de igrejas históricas. As lideranças cristãs temem que a criação do parque possa impedir seu crescimento e invadir suas terras. Os assentamentos judaicos que abrigam mais de 200.000 israelenses já circundam a Cidade Antiga.
A Autoridade de Parques Nacionais de Israel prometeu a adesão das igrejas e disse que espera que o parque “preserve áreas valiosas como áreas abertas”.
Pizzaballa discorda. “É uma espécie de confisco”, diz.
As tensões latentes na comunidade chegaram ao auge durante os rituais ortodoxos de Páscoa, quando a polícia de Israel anunciou cotas rígidas para os milhares de peregrinos que participariam do rito do “Fogo Sagrado” na Igreja do Santo Sepulcro.
Alegando preocupações de segurança quanto às tochas acesas sendo levadas em meio a grandes multidões na igreja, as autoridades limitaram a cerimônia de sábado a 1.800 pessoas. Os padres, que viram a polícia abrir os portões sem restrições para os judeus que celebraram a Páscoa judaica, que este ano coincidiu com a cristã, alegaram discriminação religiosa.
Recentemente, o bispo Sani Ibrahim Azar, da Igreja Evangélica Luterana em Jerusalém, disse que tem dificuldade em encontrar respostas quando seus fiéis perguntam por que deveriam arcar com o duro preço de viver na Terra Santa. “Há coisas que nos deixam preocupados com nossa própria existência”, diz. “Mas, sem esperança, cada vez mais de nós iremos embora.”
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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