Conecte Conosco

Brasil

Covid-19: Saiba onde estão os maiores desertos vacinais do país

Levantamento explica também as causas que fazem esses municípios manterem taxas tão baixas de imunização

Campanha de vacinação contra covid-19 (Stephane Mahe/Reuters)

A previsão do tempo hoje em São Felix do Xingu, no Pará, é de tempestade. Nada fora do padrão para a região. Anomalia é outro tipo de tempestade estacionada lá desde o ano passado: o da baixa cobertura vacinal, retrato da desigualdade no acesso à imunização contra a covid-19 no Brasil.

O município é o com menor percentual de população vacinada do Brasil, 15,5% com primeira dose, situação que se mantém desde novembro.

É um microcosmo da desigualdade vacinal, cujo epicentro é a Amazônia Legal. Num momento em que estados do Centro-Sul avançam na vacinação de crianças e no reforço e já se fala até de quarta dose, estão na Amazônia Legal nove dos dez municípios com menor percentual de aplicação da primeira dose do Brasil, mostra um levantamento feito pelo Globo.

O levantamento se baseou em informações dos 5.570 municípios mais o Distrito Federal compiladas pelo Observatório da Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 6 de fevereiro, a partir da base de dados do Ministério da Saúde.

A tempestade perfeita é gerada pela combinação de falta de planejamento nacional para distribuição e operacionalização da aplicação das vacinas em regiões de população dispersa e acesso historicamente difícil, falta de campanhas de informação e negacionismo.

O resultado é a criação de desertos vacinais, onde a população desprotegida alimenta bolsões para perpetuação da pandemia, surtos e abre caminho para o surgimento de novas variantes do coronavírus.

O denominador comum de todos os municípios com baixa vacinação é o baixo IDH, além dos fatores já mencionados.

— São lugares quase sempre remotos, mas a covid-19 chegou em todos eles. Então, a vacina tem que chegar. Cada município tem suas peculiaridades, em alguns as falhas operacionais são mais importantes, em outros o negacionismo antivacina pesa mais — afirma Diego Xavier, pesquisador do Observatório Covid-19/Fiocruz.

Numa Nota Técnica de dezembro do Observatório da Covid-19/Fiocruz, portanto, antes do apagão de dados do Ministério da Saúde, a Região Norte já figurava como a menos vacinada do Brasil. A nota mostrava que só 16% dos municípios brasileiros tinham vacinação com esquema completo acima de 80%. No Sul do país, 30% dos municípios apresentam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo, na região Sudeste 27,2%, no Centro-Oeste 11,8%, no Nordeste 2,7% dos municípios e na Região Norte apenas 1,1%.

Diego Xavier diz que desde então a situação pouco mudou e a tendência continua a mesma. São Paulo tem o maior percentual de população vacinada, 85% dos habitantes receberam a primeira dose, 80% a segunda e 35% foram imunizados com a terceira dose, segundo boletim da Fiocruz. Já o Amapá está no fim da fila. Tem o menor percentual de vacinação com a primeira dose (58,9%), só 42,9% com segunda dose e pífios 5,1%, com a terceira.

Xavier acrescenta que dezembro de 2021 e janeiro de 2022 foram os meses com a menor quantidade de doses enviadas pelo Ministério da Saúde, superando apenas os dois primeiros meses de imunização desde o início da campanha.

— Temos padrões de vacinação da Europa e da África dentro do Brasil — diz Xavier.

A epidemiologista Carla Domingues, que esteve à frente do Programa Nacional de Imunizações (PNI) por oito anos (2011-2019), considera preponderantes para a criação de desertos vacinais a falta de planejamento do Ministério da Saúde, que não organizou a distribuição de imunizantes de acordo com as necessidades regionais, a falta de informação qualificada oficial para a população e o negacionismo do governo federal, que amplificou o movimento antivacina.

— A falta de comunicação oficial deixou muita gente apavorada, com um medo infundado que jamais existiu. E, pior, o Ministério da Saúde, ao abrir as portas para o movimento antivacina, empoderou o discurso negacionista e enfraqueceu a proteção da população contra a covid-19. Isso é um estrago de impacto de longo prazo para a saúde pública. Não há boletins oficiais, não há meta. Ao contrário, há desinformação oficial — salienta Domingues.

Do porco ao jacaré

São Félix do Xingu costuma ser mais conhecida pela combinação explosiva de pecuária e desmatamento. Tem o maior rebanho bovino do país, estimado em 2,4 milhões de cabeças. E, não por coincidência, é o município brasileiro que mais emite gases do efeito estufa, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.

Em sua maior parte, emissões decorrentes do desmatamento e da pecuária, espalhados por um território de 84.212,903 Km2, — é o sexto maior município do Brasil em área. Mas seus 135.732 habitantes estão dispersos numa das menores densidades demográficas do país, de apenas 1,08 hab/km2. Dois terços deles são indígenas, que vivem em aldeias onde a covid-19 grassa e a vacina não alcança.

— Infelizmente, é uma situação dramática. O gado está vacinado, protegido contra a febre aftosa. A população humana, não. É o retrato perfeito da desigualdade. A população indígena, quilombola e ribeirinha era grupo prioritário, mas isso nunca passou de ficção. Não houve planejamento e empenho das autoridades, principalmente federais. Ao contrário. Primeira dose na casa dos 15% é o atestado do descaso com a saúde da população — destaca a sanitarista Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Evelin Plácido, coordenadora da área técnica de imunização do Projeto Xingu, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e presidente da regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Imunização, afirma que aldeias inteiras e profissionais de saúde estão com covid-19, o que dificulta ainda mais uma situação que já era grave.

Plácido enfatiza que não houve planejamento na distribuição e se enviou em barcos sem refrigeração a vacina da Pfizer que precisa de uma cadeia fria delicada. Foram distribuídos refrigeradores solares pelo território, mas os barcos, muitas vezes, não têm nem geladeira de isopor.

— A vacina precisa viajar por até 15 dias em barcos precários, não há equipes suficientes, os poucos profissionais que estão lá estão sobrecarregados e quando chegam às aldeias muitas vezes ainda enfrentam o negacionismo de pastores de algumas denominações neopentecostais. Dizem que ‘é a Besta que está na vacina’ — frisa Plácido.

Ela lembra que existia algum negacionismo em 2009, na ocasião da vacinação contra a gripe H1N1, mas ela foi vencida com o apoio das autoridades de saúde. Hoje esse apoio desapareceu. Na época, pastores diziam aos indígenas que eles virariam porcos se tomassem a vacina. Com a covid-19, o bicho, a exemplo do que afirmou o presidente Jair Bolsonaro, mudou para jacaré.

O negacionismo evangélico ganhou força ao passo que a assistência à saúde de indígenas e ribeirinhos diminuiu.

— Oferecer toda a infraestrutura fluvial, aérea e terrestre coube aos municípios, que já não a tinham antes e agora então têm menos ainda. A covid-19 escancarou e agravou um problema que já existia — diz Plácido.

Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, secretário executivo do Conselho Missionário Indígena (Cimi), observa que há muitas aldeias não vacinadas, não apenas na região do Araguaia-Xingu, mas em todo o país. Segundo ele, a situação só no está pior porque agentes de saúde indígena têm se desdobrado para ir às aldeias esclarecer os povos indígenas e vaciná-los.

— Temos um problema muito grave que é o risco de a covid-19 dizimar povos isolados. Eles podem desaparecer com um surto e nada é feito para evitar — adverte Oliveira.

Há ainda a questão de infraestrutura para o lançamento de dados, acrescenta Xavier. Muitos municípios não lançam adequadamente as informações nas bases de dados do SUS.

— Porém, todas as questões têm solução. Mas não se vê movimentação para isso — Xavier.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde de São Félix do Xingu não respondeu aos pedidos de entrevista do Globo.

Brasil

Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos

Por

Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva

Joédson Alves/Agência Brasil

Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.

A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.

O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.

“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.

Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.

Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.

Agência o Globo

Continuar Lendo

Brasil

Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta

Por

Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida

 

Plenário da Câmara dos Deputados durante a promulgação da reforma tributária ( Roque de Sá/Agência Senado)

 

Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.

Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.

Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.

“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.

Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.

Entenda o contexto

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.

O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.

O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.

O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.

Agência o Globo

Continuar Lendo

Brasil

Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias

Por

Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado em Brasília, em 25/05/2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.

O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.

Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.

Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.

“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.

A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.

Agência Brasil

Continuar Lendo

Trending

Avenida Agamenon Magalhães, 444
Empresarial Difusora – sala 710
Caruaru – PE

Redação: (81) 2103-4296
WhatsApp: (81) 99885-4524
jornalismo@agrestehoje.com.br

comercial@agrestehoje.com.br

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados