Tecnologia
Coronavírus: países adotam aplicativos para rastrear contaminados
A questão ética é: como proteger a privacidade das pessoas?
Quando o distanciamento social entra em vigor, a prioridade número 1 é conter a disseminação do novo coronavírus. Quando ele começa a ser relaxado, o foco muda: torna-se crucial a testagem em massa — 150 testes para cada 100 000 pessoas, segundo estudo da Universidade Harvard —, que permitirá rastrear a evolução da doença em tempo real. Para pôr em prática um monitoramento de tal dimensão, os países em fase de retomada de atividades estão usando em paralelo aplicativos instalados em smartphones capazes de identificar tanto quem esteve em alguma “zona vermelha”, como são chamados os focos de contágio, quanto quem esteve próximo de alguém que testou positivo para o vírus e alertar as autoridades. Ao redor do planeta, ao menos 29 países já oferecem aplicativos desse tipo, com comprovados bons resultados e um efeito colateral: as questões éticas em torno do possível acesso de governos e empresas a dados particulares dos cidadãos e a categorização — e eventual discriminação — das pessoas, separadas em imunizadas e em passíveis de contágio.
O projeto de maior amplitude une os concorrentes Google e Apple no desenvolvimento conjunto de uma ferramenta de rastreamento. Donos dos sistemas operacionais instalados em 99% dos celulares do mundo, os arquirrivais estão produzindo uma rede de troca de dados fornecidos voluntariamente pelos usuários que possibilite o envio de alertas sobre risco de contágio. Na primeira fase, neste mês, o processo será via aplicativo. No segundo semestre, uma plataforma vai integrar automaticamente os sistemas. Os desenvolvedores garantem que é o dono do celular quem ativa a tecnologia, que ele pode se registrar sob pseudônimo e que a ferramenta não usa dados de GPS, que seguem o deslocamento de pessoas. Mesmo assim, uma pesquisa mostrou que três em cada cinco americanos manifestam receio de aderir à novidade.
Mais arredios ainda às brechas na privacidade praticadas pelos gigantes da tecnologia, os governos da Europa estão optando por aplicativos em que cada etapa é decidida pelo usuário. Ele faz o download, e o celular passa a registrar e armazenar todos os contatos com quem mantiver proximidade inferior a 2 metros por pelo menos cinco minutos (padrão estabelecido pela OMS) e que tenha baixado o programa. Se o proprietário do celular ficar doente, ele mesmo notifica o aplicativo, que envia alertas a quem esteve perto dele. A mensagem pede que os afetados façam o teste e se isolem em casa. Noruega, República Checa e Áustria estão entre os que preferiram o serviço colaborativo, também oferecido na Austrália. Ainda não há previsão de uso no Brasil.
O ponto mais sensível do monitoramento em massa é o destino das informações coletadas. Uma opção é reuni-las em um servidor central, como fará o Reino Unido, que em breve lançará nacionalmente seu aplicativo. Lá, o material captado ficará armazenado no sistema público de saúde, o NHS, e nenhum outro setor terá acesso ao banco de dados, que será inutilizado quando a crise acabar. “Seguiremos as mais rigorosas normas da ética e da segurança”, disse o ministro da Saúde, Matt Hancock — uma garantia encarada com ceticismo pelos britânicos. Alemanha, Itália, Suíça e Estônia adotaram a descentralização, ou seja, toda informação coletada permanecerá no celular do usuário, sem transferência para servidores — método endossado em carta assinada por 300 acadêmicos de 26 nacionalidades, preocupados com qualquer possibilidade de governos ou empresas reaproveitarem dados acumulados em servidores externos para vigiar e discriminar sem justificativa aceitável. “Na luta contra a pandemia, os celulares passaram a transmitir informação delicada e pessoal”, observa Itziar de Lecuona, professora de bioética da Universidade de Barcelona. “Infelizmente, não existe um sistema totalmente seguro para impedir abusos.”
Pioneiros na utilização do rastreamento on-line, China, Coreia do Sul e Hong Kong impuseram pouca, ou nenhuma, trava ao controle estatal. O Partido Comunista chinês ordenou aos moradores de ao menos 200 cidades que instalassem no celular o que está sendo chamado de “passaporte da imunidade”: um QR code que armazena resultados de testes e acompanha interações e movimentos de pessoas, exibindo as cores verde (deslocamento livre), laranja (quarentena de sete dias) ou vermelha (quarentena de duas semanas). Se algum cidadão tiver contato com um infectado, seu movimento entre bairros ou no transporte público será automaticamente bloqueado por mais ou menos tempo, dependendo da data do encontro.
Em Hong Kong, quem chega do exterior é obrigado a usar um bracelete que define o prazo de seu confinamento. Na Coreia do Sul, até transações com cartão de crédito integram o banco que coleta dados do rastreamento. Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu trava uma batalha com a Suprema Corte para permitir que os serviços de inteligência utilizem os dados que possuem para rastrear infectados. Na Polônia, quem testar positivo não só terá sua localização controlada, como precisará enviar selfies rotineiras para provar que de fato está em reclusão. “Abusos só serão contidos quando houver um protocolo internacional que proteja a privacidade pós-Covid-19”, diz Yves-Alexandre de Montjoye, especialista em segurança digital do Imperial College, em Londres. Com a melhor das intenções, o fantasma do Grande Irmão passou a rondar a humanidade.
Tecnologia
“Brainrot”, você tem isso? Conheça esse efeito colateral da vida digital
Termo descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido
Se você leu meu texto sobre a slopficação da internet, talvez agora você fique um pouco mais assustado. Senta que lá vem a história…
Se você é millennial, como eu, e tinha uma certa esperança que a próxima geração seria melhor e daria conta de um monte de coisas que não conseguimos, bem… nascer e crescer imerso em redes sociais parece que não está fazendo muito bem, pelo menos na construção de gosto e o que se escolhe consumir online.
Entender minimamente a GenZ (Geração Z) e a Geração Alpha tem consumido boa parte do tempo das minhas pesquisas online. Sacar os movimentos e tentar entrar na cabeça dos jovens é interessante e surpreendente, já que os valores e gostos são completamente diferentes. E olha que pra muita coisa eu sou mais Z que Y.
Mas vamos para o que interessa. Você já ouviu ou viu, em algum lugar, termos como:
- Skibidi Toilet
- Level Five Gyat
- Rizz
- Fanum Tax
- Only in Ohio
- Sigma Looksmaxxing
- Grimace Shake
Parece erro, palavras sem sentido, mas eles têm aparecido com frequência em uma série de conteúdos virais, mais especificamente memes, e que têm sido atribuídos ao tal do “brainrot”. Se você perguntar para o Google Tradutor, não vai conseguir nada. Já para o ChatGPT, ele traz uma luz. Olha só:
Acho que, com isso, você já consegue ir sacando o que é “brainrot”. Apesar desse termo ser antigo (usado desde 2004), é agora que ele está bombando em redes sociais muito usadas por jovens da GenZ, como o TikTok.
E não é pouco dizer que esses jovens internautas estão obcecados com a tal “brain rot” ou “brainrot”. Tanto que a própria viralização do termo explica muito o que estamos vivendo nos tempos atuais: “doomscrolling“, essa rolagem infinita nos nossos feeds, e também nosso estado online crônico.
Traduzido por “podridão cerebral”, “apodrecimento do cérebro” ou até “cérebro apodrecido”, o termo, ou condição, descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido, que podem afetar negativamente as habilidades cognitivas e a capacidade de pensar criticamente.
Longe de ser um termo médico ou científico, é simplesmente um efeito colateral do nosso comportamento online, principalmente em redes sociais, frequentemente motivado por um desejo compulsivo de se manter atualizado, principalmente com eventos negativos, mesmo quando isso pode ser emocionalmente desgastante ou prejudicial para a saúde mental.
Basicamente, estamos gastando mais tempo e literalmente nos entregando e absorvendo grandes quantidades de informações irrelevantes e de baixa qualidade.
Sem entrar nas questões neurodegenerativas, não precisamos de muito para entendermos que, ao consumirmos conteúdos piores, ficaremos piores. Ou seja, nossos cérebros vão trabalhar com o que recebem. Se consumimos porcarias, vamos pensar em porcarias. Simples assim.
E tem muita gente online falando que já está com “brainrot” só de ter recebido ou passado por certos conteúdos, justamente porque estão muitos expostos a eles. E assim como os “slops” causam uma certa confusão mental, os conteúdos associados ao brainrot também, desassociando imagens ou conceitos de seus contextos reais.
Um exemplo é a imagem de um soldado da Segunda Guerra Mundial com um olhar atordoado, que faz parte da pintura de Tom Lea “That 2,000 Yard Stare“, que é usado em muitos conteúdos meméticos, e que TikTokers dizem ser brainrot.
Popularização e perigos
Fazendo uma pesquisa rápida no Google Trends, percebemos que tivemos uma procura maior do termo em 2005 e 2010, mas, a partir da segunda metade de 2023 até agora, o termo explodiu. E é interessante notar que esses picos estão muito associados à cultura gamer e a jogos que contribuíram com seu uso ao longo da década de 2010.
Inclusive, “brainrot” é uma doença que os jogadores podem contrair no jogo de “2011 The Elder Scrolls V: Skyrim“. Em 2007, ano que muita gente considera o surgimento do termo, ele aparece em posts no X, nos quais os usuários descreviam reality shows de namoro, videogames e certos comportamentos, como brainrot.
Um artigo recente do NYT, Jessica Roy relata como alguns usuários do TikTok até começaram a criar paródias de pessoas que parecem “ter” essa condição, ajudando, assim, na popularização, ridicularização e adoção do termo. E, apesar de não ser um elogio falar que alguém tem brainrot, algumas pessoas demonstram um leve orgulho ao admitir a condição.
Em um quiz recente do BuzzFeed, dava até pra saber se “o seu cérebro está 1000% cozido”. Outra leva de vídeos fala que quanto mais gírias da internet uma pessoa usa, mais brainrot ela tem.
E apesar do humor que tudo isso traz, existe um lado bem ruim. Sabe quando a gente fica obcecado por algo e vê aquilo em todo lugar, ou quando gostamos tanto de um personagem ou uma celebridade e começamos a ficar parecidos com elas? Bem, consumir conteúdos de baixa qualidade pode nos deixar menos preparados a certaz situações e “menos inteligentes”, como colocam os jovens com brainrot. Muitos compartilham nas redes seu medo de ficaram “burros”.
Há muitos pesquisadores que estão se debruçando nesse tema, como o neurocientista Michel Desmurget, que tem um livro bastante controverso, assim como outros que se adentram nesse tema, “A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas crianças”.
Esse medo de ficarmos piores cognitivamente é real, porque somos o que comemos e consumimos. A “Geração Touch” e as “crianças de iPad” certamente carregam consequências disso, tanto pela tela e o aumento de miopia, muita quantidade de luz azul, que traz alterações no sono, e por aí vai, até o que é visto, assistido e lido.
Em toda a história da humanidade, acompanhamos as consequências boas e ruins das mais diversas tecnologias que foram sendo introduzidas nas nossas vidas, e se tratando de internet, hoje e sempre, independente da tecnologia em si, sabemos que “gostamos” de certos conteúdos justamente pelo modo como nosso próprio cérebro funciona.
Nem vou entrar nessa discussão, porque isso daria um outro texto, mas, no caso dos memes, eles são divertidos, rola uma conexão emocional positiva com eles, e isso dá uma ajudinha na disponibilidade de dopamina no nosso cérebro. É entretenimento puro e viciante.
Por isso mesmo, existem muitos pesquisadores interessados no assunto, tanto que, nos Estados Unidos, diversas instituições de saúde já estão estudando isso como um distúrbio. No artigo no NYT, é citada a pesquisa do Hospital Infantil de Boston, que chama essa condição de “Uso Problemático de Mídia Interativa”. E ela mostra que, conforme passamos muito tempo online, mudamos nossa percepção do espaço físico para o online, e isso tem consequências.
E a GenAI nessa história?
Brainrot está na moda hoje em dia, assim como a GenAI (inteligência artificial generativa). Mas será que a IA está ajudando a nos levar a um estado de brainrot generalizado?
Se o uso preguiçoso da GenAI pode nos fazer desenvolver menos algumas habilidades ao longo do tempo, não há dúvida. É como foi com a nossa memória, tanto que hoje não guardamos o número do celular de quase ninguém. Claro que nesse cas,o é reversível, podemos treinar e melhorar, graças a neuroplasticidade cerebral.
Mas, assim como a internet está se “slopificando”, ou seja, sendo tomada por conteúdos sem valor sendo gerados sinteticamente, nós também poderemos acabar nos deparando cada vez mais com esse conteúdo, e (por que não?) aumentando o brainrot, assim como nos enganando cada vez mais por conteúdos falsos. As consequências de longo prazo não sabemos, e muito estudo ainda será feito, mas, com certeza, uma coisa pode alimentar a outra.
Deveríamos nos preocupar com o “brainrot”?
Em certo sentido, sim, embora devamos ser cautelosos ao soar o alarme sobre o que impulsiona ou leva ao “brainrot”. É muito fácil referir-se a praticamente qualquer coisa como causadora de “brainrot”, se formos pensar.
A cultura da internet sempre traz questões e termos interessantíssimos que podem nos fazer pensar e desenvolver muitas teorias e conceitos. Brainrot ainda é uma expressão que carece de rigor científico, principalmente para descrever ou quantificar a saúde mental real. Mesmo assim, não significa que devemos ignorar ou minimizar as preocupações que estão no cerne desse termo.
Tecnologia
Tik Tok planeja lançar o Whee, plataforma de fotos ‘cópia’ do Instagram
Na plataforma, será possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos
O TikTok está trabalhando em seu próprio Instagram, afirmou o site Android Police na terça-feira, 18. O aplicativo, chamado Whee, tem como objetivo o compartilhamento de fotos com melhores amigos – uma mistura da rede de Mark Zuckerberg com o BeReal, de fotos instantâneas e não editadas. O app, que já pode ser utilizado em alguns países, ainda não chegou ao Brasil.
De acordo com as imagens vistas pelo Android Police, o Whee é um app separado do TikTok, mas também mantido pela ByteDance. Na plataforma, é possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos.
Configurações básicas como curtidas e comentários também estão presentes, em um layout bastante parecido com o do Instagram.
“Capture e compartilhe fotos da vida real que somente seus amigos podem ver, permitindo que você seja mais autêntico”, afirma a descrição do Whee no Google Play, loja de apps do Android. “Whee é o melhor lugar para amigos próximos compartilharem momentos da vida”, completam.
O TikTok e a ByteDance ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o aplicativo, mas já é possível encontrar a nova rede social em alguns países em celulares com sistema operacional Android.
Tecnologia
YouTube testa recurso que introduz “notas” de contexto em vídeos
Testes começarão nos Estados Unidos e serão feitos, inicialmente, com usuários e criadores selecionados
O YouTube anunciou, nesta segunda-feira (17), que permitirá em breve que os usuários adicionem “notas” que fornecerão contexto sobre alguns de seus vídeos. Os testes fazem parte de um novo recurso que inicialmente será lançado nos Estados Unidos.
A plataforma convidará alguns usuários e criadores de conteúdo, como parte da fase inicial de teste, para escrever notas destinadas a fornecer “contexto relevante, oportuno e fácil de entender” sobre os vídeos.
As notas, por exemplo, poderão esclarecer quando uma música é uma paródia, apontar quando uma nova versão de um produto que está sendo analisado estiver disponível ou informar aos espectadores quando imagens antigas são erroneamente apresentadas como eventos atuais.
A rede social X, antigo Twitter, possui um recurso semelhante chamado Notas da Comunidade, que permite que colaboradores selecionados adicionem contexto às publicações, incluindo tags como “enganoso” e “fora de contexto”.
O recurso de notas no YouTube será, inicialmente, disponibilizado em dispositivos móveis para usuários nos Estados Unidos e em inglês. Nessa fase, avaliadores externos classificarão a utilidade das notas, o que ajudará a treinar os sistemas, antes de um possível lançamento mais amplo, disse o YouTube.
*Com reportagem de Yuvraj Malik, em Bengaluru
CNN Brasil
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